O MITO


Um dos fenómenos mais curiosos da campanha e investidura do Bolsonaro foi o coro da multidão gritando MITO!MITO! MITO!
Será que eles sabiam o que estavam a gritar?
Em português de Portugal quando se utiliza a palavra MITO é para denunciar algo de falso, de hipócrita ,de personagem ou coisa que não são realmente verdadeiras.
O que – indo por este caminho – , transformava aquela gritaria numa manifestação do PT. dos comunistas e da pretalhada a gozar com o falso e mentiroso defensor do seu BOLSO na linha do seu papá Trump.
Para quem apreciar ir às origens Gregas da palavra e vários conceitos, eu escolhi o Mito Narcísico.
Na mitologia grega, um dos mais famosos mitos é o de Narciso, um jovem tão bonito que despertou o amor de Eco, uma bela ninfa. Narciso rejeitou esse amor, fazendo que a ninfa ficasse destruída com a rejeição. Como castigo, a deusa Nêmesis fez com que ele se apaixonasse pelo próprio reflexo no rio, de tal forma que Narciso morreu afogado.
Estejamos atentos ao percurso do Presidente capanga e militarão.
Pode ser que no fim não seja ele quem acabe por rir melhor.
Com a benção de Deus, claro!

Helder Costa, dramaturgo

Denmark, what’s up in digital media literacy education?

“The Scandinavian governments have been a major factor in moving generations towards digital communication.

For example, in Denmark as a citizen you must communicate with all official organs through digital channels. This has forced older generations to learn some basic skills, just to be able to read post from the hospital, for example, and has provided motivation for people to learn to help themselves.

Everyone should be able to participate in ever-changing modern society.

There are also more elderly people on social media channels such as Facebook, Instagram and Twitter taking part in the general discussion of the day.

It is necessary for all to use technology, especially communication technology and channels, which can give a strong voice to dedicated groups. It does not matter if it is a question of abusing women, beating children or not taking care of educating and caring for the older generation – everyone should be able to participate in ever-changing modern society.

Learning itself it is best done in small groups, in short sessions where you start by explaining that it is not dangerous to push the buttons and that talking together on a social media channel is essentially no different from talking on the phone or sending a postcard.

I have had very fulfilling experience of working with the group 65+, both women and men. When they realised how easy things were, they learned quickly and willingly. It is overcomplicating things that is the problem.

Learning itself it is best done in small groups, in short sessions where you start by explaining that it is not dangerous to push the button.

I have run courses at the Continuing Education Centre at the University of Iceland and Akureyri, for example, and I think it would be time to start producing online courses where learning would happen step-by-step. What is important is to “talk the same language” and not move too fast.

I have many personal stories as well. The best one is my mother. She turns 86 this year and communicates and participates on Facebook. Lace-making is one of her big passions. She started learning Spanish, using Duolingo, to be able to better understand her Spanish friends in the different lace-making groups she frequently visits on Facebook.

She also has her own YouTube channel where she has learned to create playlists for different interests, and she behaves like a teenager. She cannot go to sleep because she immerses herself in watching the videos. She has also become an excellent teacher for her 80+ friends, showing them how to use Facebook.”

Marianna Fridjonsdottir

  • is a producer, writer, director, channel executive and web entrepreneur;
  • has been in the media business for more than 45 years, active in television and web broadcasting and consulting and lecturing on web communications and social media;
  • is the founder of ToonTV, a non-violent children’s web channel. She comes from Iceland and lives in Copenhagen

Fonte: ELM Magazine, autora Marianna Fridjonsdottir, fotografia ELM Magazine

Aguda

Sou visitante regular da Aguda e gosto daquele lugar no litoral de Vila Nova de Gaia que não tem o ar aristocrático da Granja, nem parece inacabado, como Salgueiros. Há espaço suficiente para peões e bicicletas, as ruas são arborizadas e há passadiços ao longo da praia, bem como estruturas de valorização da natureza (sem tiques de novo-riquismo), equipamentos públicos e estabelecimentos privados.
Aprecio sobretudo a mistura: vivendas de classe média e alta, próximo de pequenas casas (incluindo em “ilhas”), mais modestas e quase sempre com azulejo na fachada. Além disso, sendo lugar de residência e pesca, a Aguda tem um centro, bem marcado pela rua pedonal que liga o quartel dos bombeiros à lota. Aqui, como na frente da praia, além das lojas – recomendo a peixaria! – há cafés e restaurantes e ótimas esplanadas voltadas à praia – experimente o fino da Kinita ao fim de tarde! – sem a pretensão das da Foz ou Leça.
Há sempre pessoas na rua – mais ao fim-de-semana, naturalmente –, cruzando-se pescadores e vendedores de rua, com alguns (poucos) estrangeiros, muitos residentes e também visitantes, como eu e até gente conhecida. Há ainda um espaço cultural com muitas atividades e uma exposição de fotos de pescadores para apreciar, bem junto do lugar na areia onde se consertam barcos e redes. Tudo se mistura. Na rua e na esplanada, como nos passadiços.
Há sinais (discretos) de elitização. Tinha de ser! Mas, o que mais lamento, é que o mar agora fique tão longe, depois da construção do molhe que levou à acumulação de areia (em excesso) do lado Norte e à escavação pelo lado Sul, de tal forma que dificulta a entrada e saída dos barcos. Falando do mar, se estiver maré baixa, não deixe de ver as rochas e a vida entre elas.
Gosto da Aguda.

Autor: José Alberto Rio Fernandes. Geógrafo. Professor catedrático. Presidente da APG – Associação Portuguesa de Geógrafos. (Reprodução de crónica)

MAUS FÍGADOS

Uma das consequências negativas da comunicação proporcionada pela Internet, em particular pelas redes sociais, prende-se com a facilidade com a qual cada um(a) emite opinião, sustentada ou não, refletida ou não, a qualquer momento, seja onde for que esteja, e sobre todo e qualquer assunto. Considero que a facilidade é globalmente positiva, embora proporcione também bastantes incompreensões e, muitas vezes, a circulação de boatos e de mentiras. É uma realidade que não mudará rapidamente, com a qual podemos ou não conviver. Penso, ao contrário de algumas pessoas, que sair daqui correndo a sete pés tem muito mais resultados negativos que positivos.

O ideal será encontrar um ponto de equilíbrio, aceitando que jamais podemos fazer-nos entender por toda a gente ou agradar a gregos e a troianos. Definindo então as nossas próprias regra, de forma a que nos sintamos confortáveis, circulando por este território com proveito. Fugir dos energúmenos e idiotas é uma regra básica: é gente com a qual a maioria de nós jamais conviveria na vida real e não vejo motivo para aceitar fazê-lo aqui. Lido muito bem com isso, ou não escrevesse de forma pública desde há 48 anos e não estivesse ativo na Internet desde 92. Em regra, nem olho para essa gente, e quando ela me impede o caminho, removo-a tranquilamente.

Já é muito mais complexo, e admito que difícil, conviver com pessoas que em regra podemos considerar cultas, educadas, inteligentes e, tantas vezes, disponíveis e respeitáveis nas áreas em que vivem e trabalham, e onde emitem opinião, mas que aqui se comportam como aqueles sujeitos pequeninos e tímidos, sempre a pedir desculpa por existir, que ao volante do automóvel se transformam em ferozes trogoloditas. Vemos então a facilidade com a qual essas pessoas, à menor divergência, ou ao mais pequeno erro, e sobretudo se o preconceito as cega, são capazes de insultar e caluniar outras sem sequer lhes darem o benefício da dúvida.

Não me queixo deste comportamento aplicado a mim mesmo, embora ocasionalmente ele tenha ocorrido, mas incomoda-me a forma como o vejo por aqui, tendo por alvo pessoas que conheço e respeito – mesmo divergindo delas algumas vezes -, na forma de ataques pessoais, ‘ad hominem’, lançados sem contemplações. Normalmente generalizam críticas a partir de preconceitos de natureza política, social ou cultural, e não consideram a complexidade humana: a dos outros e a nossa. Incluindo a faculdade de enganar-se ou de errar. Trata-se uma marca de desumanidade e de ignorância, que confunde assertividade com comportamento trauliteiro. Só faz mal ao fígado e à qualidade de existência. De todos e de cada um(a).

É claro que isto não exclui o combate a sério, também neste espaço, sobre causas e assuntos que valham mesmo a pena. O que me parece mal é quando a crítica é desnecessária ou conduzida de forma fútil e precipitada, por vezes até num tom de desnecessária violência, desviando-nos do que é importante – raramente a pessoa a ou b – e fazendo-nos gastar tempo, energia e paciência, tão precisos para as batalhas necessárias. E para viver a vida, já agora.

Autor: Rui Bebiano, Professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra; Investigador do CES – Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Publicado no facebook 13 de Agosto de 2018

Silly season

Será possivel dizer mais alguma coisa sobre o celebérrimo “caso Robles”?
O que eu percebi foi que ele não cometeu nenhuma ilegalidade, que é verdade que houve notícias falsas (até mais Fake news na linha Trump), que o negócio não existiu, que ele se demitiu e, outras consequências políticas.
CRIME? talvez investigar porque é que a Segurança Social fez uma venda tão ruinosa para os interesses da instituição.
Alguns analistas já começaram a elogiar a capacidade negocial de Robles com o lucro que poderia ter atingido. Infelizmente a vendedora falhou…
Será que Robles vai ser atraído para os braços da direita, desejosa de ter gente capaz de “arrebanhar” dinheiro em toda a parte? Não, evidentemente. Porque ele cometeu um verdadeiro CRIME que foi demitir -se. Não era digno para enfileirar ao lado da Mafia Cavaquista de eterna saudade, que nunca se demite e sempre fica impune. O que se aponta ao Robles é que quem faz a defesa da habitação para todos nunca poderá entrar nesses negócios. Até que enfim que estou de acordo. Porque muito simplesmente acabará de explicar porque motivo a direita nunca defende os interesses do povo, do PAÍS. Porque a sua ida para a “politica” é para negócios, falências fraudulentas, off-shores e etc. O lado cómico do assunto é ver e ouvir essa gente indignada e ferida na sua sensibilidade com o atrevimento do Robles. E o caso do BE? Tenho dúvidas se a Catarina devia fazer auto-crítica.
Mas isto não interessa, porque o jogo político a sério ainda não comecou.

Don’t forget….silly season….

Helder Costa, 4 de Agosto de 2018

Finlandeses

Eu já o disse, outros antes de mim também e espero que muitos mais no futuro: não há nenhum problema em ser do (ou morar no) “interior”, relativamente a ser ou viver de/em áreas metropolitanas, ou nos espaços de mistura e forte presença industrial, como entre Aveiro e Coimbra ou Braga e Amarante.

Carlos Lage retratou a questão de modo sugestivo, em forma de pergunta: “Porque persiste uma estranha miopia sobre o mundo do interior, quase sempre descrito com as mesmas palavras e conceitos, num enfadonho imobilismo mental, fazendo dele um retrato passadista que acentua o lado negativo e subestima os grandes avanços conseguidos?”

Sim, porquê? Porque pensamos em velhos e agricultura de subsistência e recusamos ver o presente, onde a modernidade se mistura e tanto mudou? Alguns querem até convencer-nos que se vive pior em lugares magníficos como Vila Flor ou Trancoso, do que nalguns lugares das maiores cidades do país.

Será que o problema maior não será uma visão cascaisocêntrica ou fozocêntrica que remete os habitantes do interior a uma condição caricatural? Será disso que estes se tentam libertar, imitando, a ver se fica tudo igual? Talvez.

Penso que o que faz falta é simples, obrigando apenas a perceber que espaços diferentes precisam de políticas diferentes. Porque o fecho dum posto de correio em Mondim de Basto é muito mais grave do que na Areosa; o acesso à saúde não pode ser pensado da mesma maneira em Matosinhos e Vimioso; nem Boticas ou Pinhel podem alimentar a ambição de ter muita gente, grandes prédios e filas de turistas.

Será que, de tanto se falar em desequilíbrio territorial, se pensa que o equilíbrio é possível, por isso vendo em menos gente menos desenvolvimento? Vão contar essa aos finlandeses…

Autor: José Alberto Rio Fernandes, 25 de Julho de 2018 | Coluna de opinião do JN

Professor Universitário, geógrafo e Presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos

Portugal exportador

Entre países, vender é essencial, para se poder comprar e suportar as funções essenciais do Estado orientadas para o bem-estar de todos, desejavelmente com maior coesão social e territorial.

Há uns séculos, o essencial da riqueza saia do solo e “exportar” significava ser-se capaz de colocar longe produtos da agricultura, da extração e algumas manufaturas. Depois, a indústria ganhou importância e ainda hoje é essencial, apesar de se ter verificado um significativo aumento dos serviços.

Desde a agricultura (pouco), da indústria (no essencial) e dos serviços (também), a exportação é vital para a nossa existência como país desenvolvido. Por isso se fala muito – e bem – de algumas empresas que se afirmam no mundo (como a Critical Software ou o CEEIA), ou da atração de outras tecnologicamente avançadas (como a Google). Neste papel de criação e reforço de empresas exportadores, o Estado tem um papel importante, mais ainda alguns empresários e investigadores.

Considerando a “geografia da exportação”, realçando aqui o que é também muitas vezes o resultado do esforço de municípios que olham muito além de obras e festas, ou quase só em mais turistas, importa sublinhar que os que mais exportam são Lisboa, Palmela e Vila Nova de Famalicão, o que é compreensível face à quantidade de empresas que têm sede na capital e à relevância da Ford-Volkswagen e da Continental, respetivamente. Todavia, o registo mais interessante é o dos que aumentam mais as exportações entre 2014 e 2017, a saber: Odemira, Bragança, Beja, Braga, Tábua, Gondomar, Abrantes, Alenquer, São João da Madeira e Vila Nova de Cerveira – perto e longe do mar e em contexto metropolitano ou não, note-se –, merecendo um sublinhado especial pelo volume da variação Braga, Palmela e Maia.

Crónica de José Albero Rio Fernandes para JN

Professor Catedrático FLUP. Presidente da Piedade Portuguesa de Geografia

11 de Julho de 2018

Brasil, de completamente imprevisível, o cenário passou a ser completamente inacreditável.

Essa greve dos caminhoneiros já entra para a história como a mais onerosa para o país. Nunca uma greve custou tanto em tão pouco tempo. E isso é fácil de explicar: um governo amador que mal consegue fazer a gestão básica dos modais públicos do país, não conseguiria mesmo administrar uma crise de verdade, com os agentes que escapam ao núcleo das chantagens comezinhas de Brasília.

As imagens de milhões de litros de leite sendo derramados por falta de transporte são muito fortes. Esse tipo de representação visual entra com muita força no imaginário popular. A primeira criatura a perceber isso atende pelo nome de Rede Globo. Ela sabe que a situação escapou ao controle e corre para obter o domínio simbólico deste princípio de catarse social.

Globo, a posse da narrativa simbólica

Este é o negócio principal da Rede Globo. Não é novela, não é futebol, não é reality show: é a posse da narrativa simbólica que organiza a vida social do país. Imagens adicionais chocantes como filas quilométricas de carros para abastecimento, supermercados vazios e racionados, caos no trânsito, desabastecimento generalizado, são a matéria-prima de um jornalismo que produz muita receita pressionando e protegendo governos, num morde-e-assopra visceral e chantagista.

O problema é que esse volume de imagens não é mais exclusividade desta ‘senhora’ de 55 anos que domina a receita publicitária no país. Elas ganham as redes e seguem um curso no limite do imponderável. A Globo, no mínimo, tem que lutar mais por essa propriedade visual.

Noves fora, a greve de caminhoneiros é um produto sensacional. Fosse no governo Dilma, já teríamos um milhão de manifestoches invadindo a Avenida Paulista com suas selfies insuportáveis ao ao lado de policiais, caminhoneiros e frentistas de postos de gasolina.

Criminosos, em geral, se respeitam

‘Pena’ que o governo de agora é o governo Temer. Com Temer, a Globo não sabe muito bem como proceder. Criminosos, em geral, se respeitam. A rigor, a Globo está acumulando energia para as eleições. Sabe que o candidato ideal ainda não apareceu e teme que ele não apareça nunca.

Mas o mais interessante dessa história toda é que o mercado entendeu o nível de submundo intelectual que habita o governo que ele patrocina com docilidade e esmero. Sem meias palavras: investidores ficaram de queixo caído com a desorganização do governo na gestão da política de preços da Petrobras, estopim evidente da greve.

Quando o investidor fica desconfiado, parceiro, é melhor pegar o banquinho e cair fora. Ainda mais em um governo que depende do investidor como o cachorrinho feliz depende do rabo. Eles estão chocados com a incompetência do governo. O valor dos prejuízos que essa greve imporá ao sistema é de difícil precisão. Mas é da ordem de um dígito gordo do PIB e isso já é consenso.

A paralisação de produção de veículos é o termômetro da catástrofe. Não tenho memória de um anúncio desse tipo, nem no regime militar, nem no governo Sarney, nem no desastroso segundo mandato de FHC, a referência histórica mais recente de catástrofe gerencial.

A realidade tomou um novo e desconhecido rumo

Investidores usaram uma palavra forte para a situação política do governo Temer: esfacelamento. Quando palavras assim aparecem de maneira espontânea, é porque realmente a realidade tomou um novo e desconhecido rumo.

A essa altura, o mercado, que pode ser tudo nesse mundo mas não é bobo, já deve estar fazendo contas. Deve estar lembrando de como Lula gerenciava crises desse tipo: com muita conversa e muita lábia – e relativa transparência.

Esse sentimento – do mercado – é muito perigoso para o golpe. E entendo que seja esse o cálculo que Lula faz e ninguém entende: mais cedo ou mais tarde, os investidores irão querer alguém com cérebro de volta ao poder.

Essa agenda de desinvestimento – que nome horrível –, de venda de ativos, de política suicida de preços é algo que corrói o próprio sistema por dentro. O mercado, por assim dizer e num espasmo de lucidez relativa, vai entendendo que sem um governo forte, a movimentação do capital não acontece.

O mercado é como o inconsciente

É meio paradoxal, mas o mercado é como o inconsciente: não tem vínculos morais com absolutamente nada, muito menos com princípios teóricos do neoliberalismo. O mercado quer dinheiro em movimento, fenômeno sem o qual não existe o lucro nem o acúmulo desse lucro.

Uma greve de caminhoneiros no Brasil tem a representação perfeita para esse dilema: é o transporte de riquezas que ficou estancado e em meros cinco dias arrasou a economia do país, com prejuízos incalculáveis.

Afora as coincidências terríveis (o nome do líder dos caminhoneiros é Dilmar, um piloto de Fórmula Truck) e as improvisações grotescas, essa greve marca o momento mais dramático do governo Temer. Nem o escândalo da JBS gerou tanta tensão e tanta insegurança na cúpula golpista Temer-Padilha-Moreira.

O desfecho ainda não está definido

A performance de Pedro Parente, Rodrigo Maia, Eduardo Guardia e demais agentes da subserviência confusa também mereceu o prêmio Framboesa de Ouro. Poucas vezes vi um governo bater tanta cabeça – nem nos ‘áureos’ tempos de FHC.

O desfecho desse capítulo do golpe ainda não está definido. O problema central é que o movimento grevista não tem um líder. A palavra dos negociadores do movimento vale tanto quanto a palavra do governo: nada. Isso deixa a conjuntura relegada a uma deriva inédita: de completamente imprevisível, o cenário passou a ser completamente inacreditável.

Gustavo Conde, Crónica sobre a greve dos caminhoneiros

Aprender na Rua

A Associação Portuguesa de Geógrafos organiza uns pequenos cursos a que chama “Aprender na Rua”. A sua terceira edição tratou da relação entre cidade e mar. Foi uma oportunidade para, em percursos a pé aos sábados de manhã, se ver fortalezas de defesa da costa (de Foz do Douro a Póvoa do Varzim); compreender a presença da pesca e o seu papel na urbanização do litoral; notar a enorme influência do comboio (em Espinho e Póvoa, sobretudo) e da industrialização e desindustrialização na evolução das cidades (como em Matosinhos); discutir as dinâmicas ligadas ao comércio e ao urbanismo (com a constituição de uma “rua central”, como ocorre com Senhora da Luz, Brito Capelo e Junqueira) e o predomínio da planta ortogonal no planeamento dos séculos XIX e XX (especialmente evidente em Espinho); considerar os efeitos do turismo desde há mais de 100 anos (com praias, casinos e restaurantes) e os sinais da recente gentrificação (residencial e funcional).

A última saída levou-nos à Afurada e Canidelo. A marina sobressai na ligação entre rio e mar, a par da regularização de ruas e criação de percursos pedonais, mas o que mais vale a pena apreciar é o velho lavadouro, a roupa a secar e a ribeira de Santarém (onde vi uma enguia), além da belíssima Baia de Sampaio. Aprecie também a aparente boa convivência entre residentes e visitantes, anunciando porventura um processo de mudança que atenta contra as rendas baratas, as lojas do “tem tudo” e o sossego dos que almoçam no passeio, ao lado da grelha. Talvez por isso – e pela brutalidade das construções que se adivinham em ambas margens –, senti já saudade do que vai desaparecer. Esperando, contudo, que o progresso chegue a todos, sobretudo quem lá mora há muito, e se evitem (ou minimizem) os efeitos duma transformação que não tem de ser descuidada.

Autor: José Alberto Rio Fernandes, 16 de maio 2018

 

24 de Março 2018

Hélder Costa |

Nos Estados Unidos, os sobreviventes do massacre de Parkland convocaram manifestações para combater o negócio criminoso das armas. Foi um apelo correspondido por milhões de pessoas de todos os cambiantes: idade, sexo, raça e diferentes opiniões políticas. Mas havia uma enorme maioria de jovens de 15, 16 anos confraternizando com ” Veteranos pela Paz” ,restos de soldados das inúmeras guerras que essa curiosa democracia espalha sistemáticamente pelo mundo.
Emma González, iniciou o seu discurso com um silêncio de 6 minutos e 20 segundos, o tempo que durou o massacre de 14 estudantes e 3 professores. Exigiu novos regulamentos para as armas, e afiançou que este acontecimento não era o fim da luta, era o princípio.
Coincidência curiosa Na mesma data em 1962 , milhares de jovens estudantes portugueses lutaram contra a ditadura fascista e a guerra colonial. Há dias, na casa do Alentejo um jantar comemorativo juntou cerca de 400 activistas dessa época. Foi um Encontro afectivo, libertário e esperançoso.
Todos esperamos que a luta se desenvolva e que crie condições políticas para que os Estados Unidos limpem o lixo e se transformem num país decente.; aliás, o Papa já apelou a que os jovens se mobilizassem, e Bernie SAnders e outros, também aderiram a essa revolta.
Que essa data passe a ser assinalada como a marca fundamental do tão esperado caminho para a PAZ.

Autor: Helder Costa /26 de março 2018

Hélder Costa frequentou a o Curso de Direito na Universidade de Coimbra, integrando o CITAC (Círculo de Inicição Teatral da Academia de Coimbra), foi presidente do Grupo Cénico de Direito, que recebeu menções honrosas no Festival Mundial de Teatro Universitário de Nancy- 1966/67; estudou no Institut d’Études Théatrales da Sorbonne e foi fundador do Teatro Operário de Paris, em 1970. Encenador e Director artístico do grupo A Barraca (Prémio UNESCO em 1992), tem encenado e dirigido espectáculos em Espanha, Brasil, Dinamarca e Moçambique. Tem participado em numerosas acções de formação, em congressos e festivais em muitos países da Europa, de África e da América Latina. É autor de uma vasta obra dramática.
Foto: fonte rua de baixo/entrevista