A TORRE DE BABEL

AGENDA | TEATRO | Hélder Mateus da Costa

Sempre estivemos cercados por tragédias desde os primeiros tempos da Humanidade – secas, inundações, guerras, ódios e fome – culpa do Homem ou de alguma entidade misteriosa ou divina?
Este é o ponto de partida para uma Comédia que demonstra e põe a ridículo os comportamentos que nos podem conduzir a uma Catástrofe.

A partir de 16 de Janeiro
De quintas a sábados às 21H30, domingos às 17H00

Reservas: bilheterira@abarraca.com

A Torre de Babel, teatro na A Barraca

Hélder Mateus da Costa | Texto e foto A Barraca | divulgação

Segundo a Bíblia, a Humanidade era uniforme a seguir ao Grande Dilúvio, e falavam um único idioma.Foram para o Oriente e decidiram construir uma cidade e uma torre muito alta para alcançar o céu.

Deus não gostou, misturou as suas vozes para que não se pudessem entender e dispersou-os por todo o mundo.

Surpreendidos e temerosos, os povos acobardaram-se e submeteram-se durante séculos à Fúria Divina.

Sem um ai, sem um queixume.

E aconteceu Portugal.

Invocando Deus, Deuses e implorando milagres, desfraldando bandeiras e brandindo a Cruz e a Espada, unimos o Oriente e o Ocidente.

Mas as catástrofes continuaram e perante o actual cataclismo, os países organizaram Abrigos para se defenderem e garantiram o Futuro.

Decidimos tratar esta tragédia em tom de sátira, linguagem que nos parece apropriada para o desvario humano e civilizacional que atravessamos.

Sucedem-se vários tipos de animação teatral e musical, o HUMOR é dominante, mas a comunicação internacional vai desaparecendo e o desespero instala-se.

Nesta distopia, o símbolo do ABRIGO- SALVADOR não funciona e termina em implosão.

Mas… renasce um forte sinal de esperança…

TEXTO E ENCENAÇÃO

Hélder Mateus da Costa

INFORMAÇÕES E RESERVAS 

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Zé do telhado em Lousada

Helder Costa, dramaturgo. Foto ACERT

Assisti ontem a um espectáculo de rua, muito especial.Mais 70 actores e figurantes e mais de 500 pessoas convenientemente sentadas e outras muitas de pé.
O tema era a vida do Zé do Telhado, o bandoleiro social que terá sempre uma eterna fama de justiceiro enquanto a sociedade continuar neste imobilismo anti -partilha e totalmente classista.
O espectáculo é magnifico, recheado de situações de verdadeiro risco artistico , com humor, inteligente e até sábio!
Parabens a toda esta produção – verdadeiro exemplo da necessria geminação entre a Arte e a acção Social.
Caminho justo porque se a Cultura não se interessa pela Sociedade, é natural que a Sociedade vire cotas à Cultura,
Parabens aos grupos Jangada e Trigo Limpo, com destaque para o encenador José Rui e Xico Alves, verdadeiro mestre de cerimonias no final apoteótico.
Neste tipo de espectáculos não é normal destacar actores.
Mas quero referir o Leite e a sua máscara de louco de bom senso, o que ficou muito bem ao actor em questão. .  

TEXTO TRIGO LIMPO – ACERT sobre a peça.

Ficha Técnica. Textos do autor e encenador

Coprodução Jangada Teatro com Trigo Limpo teatro ACERT

O texto teatral “Zé do Telhado” de Hélder Costa, criado pelo dramaturgo para o Teatro A Barraca em 1978, vai ser recriado num espetáculo teatral de rua que, desde o início do ano, está em preparação. Os ensaios estão a decorrer em Lousada, sendo a construção do engenho cénico e cenografia realizada na Oficina das Artes Criativas de Tondela.

Uma narrativa inovada para se adequar às características próprias de um espetáculo de rua. Uma viagem pela vida do herói popular Zé do Telhado e por um período conturbado da História de Portugal. As Guerras Liberais que, no século XIX, opuseram os dois irmãos, Pedro e Miguel, enquadram historicamente as aventuras do bando de Zé do Telhado, sendo a narrativa marcada pela interação constante entre os feitos do bando comandado por o nosso herói e uma corte corrupta que seguia cegamente as instruções de alemães, franceses e ingleses, enfim, duma certa Europa da época.

Camilo Castelo Branco conviveu de perto e foi amigo de Zé do Telhado quando, ambos, estiveram presos na Cadeia da Relação, no Porto. Os seus testemunhos no livro “Memória do Cárcere”, tal como outros factos históricos, representam uma visão fantástica sobre Portugal num período igualmente marcado pela Revolução da Maria da Fonte. Uma revisitação histórica conduzida pela linguagem teatral, comprovando paralelismos surpreendentes com a atualidade.

Uma produção teatral propiciadora de mais uma aventura criativa que se adapta à arquitetura dos locais públicos, envolvendo dezenas de criadores das duas companhias e de intérpretes teatrais e musicais convidados.

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Coprodução: Jangada Teatro e Trigo Limpo teatro ACERT
Texto: Hélder Costa
Versão Cénica e Encenação: José Rui Martins

Interpretação: António Leite, Bel Viana, Carla Campos, Daniel Silva, Diogo Freitas, Filipe Gouveia, Luiz Oliveira, Pedro Dias, Sónia Ribeiro, Vítor Fernandes e Xico Alves
Atores amadores: Ângela Mota, Albina Ribeiro, Américo Magalhães, Américo Pinto, Ana Peixoto, Antonina Neto, António Filipe Pinto, Bino Borges, Luís Falcão, Luís Peixoto, Manuela Teixeira, Nazaré Sousa, Ricardo Moreira, Rosa Magalhães, Samuel Pinto, Sandra Paiva, Tatiana Ferreira e Teresa Oliveira

Música: José Afonso
Direção Musical: Romeu Silva (Orquestra) e Tiago Sami Pereira (Precursões)
Músicos: Banda Musical de Lousada (1) e Lousad’arrufar (2)
Participação Especial: João Afonso (Voz)

Assistência de Encenação:  Pedro Sousa, Sónia Ribeiro, Xico Alves

Figurinos: Cláudia Ribeiro
Assistente de Figurinos e Aderecista: Filipe Pereira
Mestre Costureira: Alexandra Barbosa, Marlene Rodrigues
Assistente Aderecista: Cláudia Gomes

Cenografia: Sofia Silva e Zétavares
Execução de Cenografia: Oficina das Artes Criativas – ACERT

Assistência de Cena: Pedro Sousa
Desenho de Luz: Fernando Oliveira e Paulo Neto
Operação de Som: Fred Meireles Luís Viegas
Produção e Secretariado: Alejandrina Romero, Fred Meireles, Marta Costa e Susana Morais
Desenho Gráfico: Zétavares
Fotografia: Rui Coimbra
Vídeo: Maria Nunes
Serralharia: Araufer, António Viana, Filipe Lopes, Francisco Viana, Nuno Rodrigues, Samuel Ferreira
Carpintaria: Carmoserra
Equipamento Som e Luz: Audio Globo

(1) Carlos Carvalho, Cristina Baptista, Fábio Mota, Fábio Ribeiro, Gabriel Lopes, Inês Fernandes, Joana Ferreira, João Fernandes, João Neto, Paulo Mota e Sara Costa
(2) Ângela Botelho, António dos Santos, Beatriz Teixeira, Bruno Teixeira, Davide Teixeira, Eduardo Teixeira, Francisco Bragança, Guilherme Nunes, Inês Neto, João da Cunha, José da Cunha, José da Silveira, Judite Sampaio, Leandro Ribeiro, Liliana da Silva, Miguel Ribeiro, Miguel Teixeira, Tatiana Ferreira, Tiago Magalhães

Parceria e apoio especial à produção e comunicação: Câmara Municipal de Lousada

Agradecimentos
À Câmara Municipal de Tondela, Rosicar, Quinta de Lourosa e Viana & Filhos. A José Mário Carvalho, investigador de José Teixeira da Silva pela informação disponibilizada nos depoimentos publicados nos vídeos on-line e à equipa técnica da Audio Globo.

Patrocínios: Fepsa, Lameirinho, Quinta de Lourosa, Viana & Filhos Lda.


TEXTO DO AUTOR

O Regresso do Zé do Telhado

Quando existe um Herói popular – desses que era cantado nas feiras e nos mercados – célebre em papéis de cordel, histórias aos quadradinhos (hoje, diz-se banda desenhada, a BD), também em cinema e teatro, é natural que ele reapareça de vez em quando.
O meu primeiro contacto com este bandoleiro social foi através de um pequeno conto que a minha mãe me deu quando eu andava pelas primeiras letras, e tocou- me esse personagem parecido com os heróis do “Mundo de Aventuras”.
Os anos passaram e essa memória afectiva nunca desapareceu. E quando o Augusto Boal dirigia A BARRACA a seguir ao 25 de Abril, eu insistia que ele devia trabalhar com personagens portugueses…ele acabou por perder a paciência e desafiou-me a escrever a peça e depois se veria. Coisa que fiz em dois dias, aprovação e, felizmente, um grande êxito até assinalado com o grande prémio de teatro em Sitges, Barcelona.
Muitos anos depois, o grupo Jangada desafio-me para fazer a encenação desse texto e confesso que foi dos grandes prazeres que tive na minha carreira de encenador dada a qualidade, alegria e loucura do elenco.
E agora, mais uns anos e chega o desafio para esse herói popular ir abrilhantar as ruas de Lousada e Tondela! O êxito está garantido, é evidente.
E aí regressa um grande símbolo do imaginário popular, o Robin Hood português que foi militar ao serviço do Setembrista Sá da Bandeira (a quem salvou a vida e por isso conquistou a maior condecoração do Exército de Portugal), perseguido, exilado, e lutador que veio tirar aos ricos opressores miguelistas o pão que entregava ao povo.
Bem vindo, camarada Zé do Telhado!

Hélder Mateus da Costa
Junho 2019


TEXTO DO ENCENADOR

Nesta aventura criativa, o Trigo Limpo teatro ACERT percorreu afetuosamente trilhos e encontros que há muito desejava abraçar.
O primeiro deles, na companhia de Zé do Telhado, herói popular que, tal como os já visitados noutros espetáculos — João Brandão e Viriato — entram numa trilogia que tem consentido incursões dramatúrgicas pela história do imaginário português, explorando narrativas teatrais que têm o fantástico e o onírico como dialéticas imaginativas que se prestam a ter a rua como palco.

Por outro lado, um texto de Hélder Costa criado para “A Barraca” em 1978, permite um sinal de gratidão da Jangada Teatro e do Trigo Limpo teatro ACERT a um dramaturgo e a um grupo que, desde há muito, fazem parte de uma certa matriz criativa e afetiva das duas companhias que se associam para criar este espetáculo. Uma matriz que nada tem a ver com seguidismo artístico, mas que advém das referências que permitiram às duas companhias encontrar caminhos próprios desafiadores, na abordagem de dramaturgias originais. José Afonso, criou músicas originais para o espetáculo de A BARRACA. Mais de 40 anos depois, a música de cena criada pelo nosso querido músico, ganha atualidade pela “gentil” voz de João Afonso, pela mestria dos arranjos e originais do maestro Romeu Silva e a interpretação da sua distinta orquestra. Tiago Sami Pereira, o nosso “Homem do Bombo” criou com o “Lousada a Rufar”, momentos percussivos populares que, teatralmente, adquirem dimensão epopeica e humorística. Todos eles, são construtores de magias e andanças desafiantes que acarinham criativa e experimentalmente esta produção.


Uma vez mais, o Trigo Limpo teatro ACERT saboreia uma aventura comum com outro grupo com quem tem uma relação de partilha. A Jangada Teatro passa a figurar no altar teatral casamenteiro, tal como aconteceu com outras companhias, Mutumbela Gogo (Moçambique), Teatrosfera, Chévere (Galiza), Teatro de Montemuro, TAS, Theater tri-bühne (Alemanha), Fundação José Saramago, Flor de Jara (Espanha), entre outros. Este espetáculo é também um tributo aos atores Faria Martins e Xico Alves e a todos os “jangadenses”, num ano em que a companhia celebra 20 anos a resistir com paixão pelo teatro, revisitando inovadoramente um texto que marcou o seu histórico.
Por último, não pode deixar de referir-se a equipa de atrizes e atores amadores que, com ao seu profissionalismo — sim, porque profissionalismo, no teatro, não indica uma relação remuneratória, mas antes a qualidade do desempenho e dedicação —, se revelaram talentosamente na construção do espetáculo.
Este “José do Telhado”, nesta versão de teatro de rua, confirma, pela grande envolvência de artistas locais com o elenco da Jangada Teatro e as equipas do Trigo Limpo teatro ACERT que o teatro continua a ser uma arte confluente de diversas linguagens e um exercício que, para ser coerente e autêntico, deve ser resultante de uma relação coletiva de partilha.
Com assaltos e sobressaltos, com solidariedades e entreajuda permanentes, com uma intenção incessante de denúncia social, com irreverência e, sobretudo, com um desejo de que o público se reveja no sonho que juntos vivenciámos, respiramos nos trilhos nortenhos de Zé do telhado, procurando ser loucos como ele.

Sermos, enfim, todos Zé do Telhado!

José Rui Martins
Trigo Limpo teatro ACERT

A estreia de Babel, no Teatro A Barraca

Carlos Pereira Martins

Se fosse possivel  parar  a vida  tal qual a vivemos, com tudo  o que tem dentro, com tudo  o que a vida é  e a colocá-la  numa foto, num plano estático e horizontal como  uma radiografia ou  um negativo fotográfico, e de seguida trazê-la para um palco  para ser vista, talvez mesmo contemplada, e se fosse igualmente possivel  parar a representação desta peça, Babel, e com essa imagem e com tudo  o que esta peça tem dentro, com tudo  o que esta peça é, fazer  exactamente mesmo, colocá-la ao lado da imagem parada da vida,  então Babel seria a Vida e a Vida seria Babel.
Helder Mateus da Costa conseguiu com esta peça colocar em palco a VIDA, a vida que hoje viemos, não lhe faltando nada dos inumeros conteúdos que a vida actual ganhou.
Tem lá tudo, a  politica,  o social,  o religioso,  o economico, o drama e a comédia que temperam a vida realmente vivida. E tem  tudo  iso  muito bem embrulhado em musica e cantigas que semeiam alegria e riso no espírito de quem ouve e vê a peça.De “Sebastião come tudo, come tudo”  a John Lennon, passando  pelo Avé, a Internacional, Grandola e até o Hino do MFA, a musica toma um papel  importante.
Babel  está polvihada de risos e alegria.
Tem  a ansia  da humanidade em poder subir aos céus, se aproximar do poder e do saber, e a ira de quem o detém, não lho permitindo.E, por isso mesmo, Babel  ficou  comprometida, a Torre que se ergueria até aos céus ! Deus não deixou  e dividiu os homens para continuar a reinar. Afinal a tecnica vem já de há muito e configura saber divino.

Tem o  passado historico  e o presente.  Tem  Portugal que meteu mãos á obra e  fez pontes entre o ocidente e o oriente.Um grande puzzle  com  a multiplicidade de tudo o que variadas culturas encerram e a dificuldade de entre si se entenderem com linguagens diferentes e também variadas, mas que os portugueses foram aproximando e possibilitando leituras e entendimento.
Babel passa, nesta representação, por Washington e pelo Vaticano, pelo Japão e por Fatima mas também por Moscovo. Babel passa por todo o sitio onde a Vida tal como a temos vivido tem sido escrita. Relembra as tréguas e a guilhotina, deixa perceber a tirania e a falta de solidariedade, abre a janela para se perceber   a catastrofe do clima e o drama de quem é refugiado.
Babel atemoriza quando mostra o caricato e os perigos de lideranças que são actuais e a semelhança de figuras passadas com protagonistas que bem conhecemos. Veio á cena Rasputin  que se acreditou que seja parente de um conhecido interprete dos dias de hoje, neste mundo de familias, de mafias e de salteadores.

Babel é-nos apresentada a cada passo  por uma  jovem que ainda há pouco tempo deixava promessas de grandes voos na  equipa junior. Teresa Mello Sampayo que brilhou com a Pessimista brilha agora num projecto bem mais arrojado onde toma a condução dos espectadores do inicio ao fim da peça, interpreta, canta e encanta. E, ainda para mais, a sorte parece que por vezes se concentra em grandes doses, é bonita, alegre e simpatica   que  se farta ! 
Não terei dito tudo sobre Babel, isso seria impossivel mas o essencial terá sido abordado.
Essencial será deixar um convite para que partilhem  o texto.
Essencial ainda será  organizar autocarros de todo o país, que é pequeno e as distancias não são longas,  para que muitos mais tenham a possibilidade de assistir a este pedaço de vida, tal qual a temos vivido, com as tontarias, os alucinados, os temores mas  também com as alegrias e o riso  natural  que   tão completa representação  dos tempos que vivemos proporciona.
Babel  será, a meu ver,  uma obra prima de Helder Mateus da CostaQue só é possivel  pela  cumplicidade, o saber  e participação de Maria do Céu Guerra.Mas também de Adérito Lopes, da Patricia Frazão, do Carlos Sebastião, da Rita Soares, do João Maria Pinto, da Sónia Barradas, do Samuel Moura, da Teresa Mello Sampaio, do Sergio Moras, da Anita Ribeiro, da Clara Cunha, da Mar Ribeiro e do Francisco Gonçalves.

A todos eles, muitos parabéns e muito obrigado por serem tão bons!

Carlos Pereira Martins (Consumidor-militante  do que de muito bom se faz no meu país) | Publicado no blog Sociedade Civil Europa

Sobre um teatro de potencialidades

Autor: Wellington Oliveira

No dia 14 de Abril, no âmbito do 3° Encontro de Teatro Comunitário de Almada, Portugal, saí de Porto à Lisboa para assistir ao espetáculo Ensaio Sobre a Cegueira, do Projeto Teatro de Identidades, com direção de Rita Wengorovius. O espetáculo foi resultado de um processo artístico-pedagógico gerado pelo encontro de estudantes do Mestrado de Teatro e Comunidades, da Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, com idosos.

Os desafios deste tipo de práticas, referentes ao fato incluir idosos com limites físicos, quadros de saúde comprometidos pelo Alzheimer, entre outros reflexos típicos desta fase da vida, frequentemente colocam os trabalhos teatrais com este público no interior de uma armadilha que tende a vitimização e a reprodução de um olhar que não é o dos idosos. O que eu vi neste espetáculo foi justamente o contrário. O Ensaio sobre a Cegueira, inspirado na obra de Saramago, foi construído a partir das potencialidades de cada um dos idosos que estavam no palco. A profanação de muitas práticas teatrais com estes públicos, geralmente um teatro de limitações, ocorreu pela construção de um teatro de potencialidades.

Diálogo com os corpos

O maior feito deste espetáculo foi o olhar para cada um dos participantes, conseguindo superar o mero conteúdo e criar uma forma própria, através de cada uma das potencialidades daqueles corpos. A presença dos estudantes do Mestrado de Teatro em Comunidades foi essencial na cena, estabelecendo um contato de parceria com os idosos, sem incorrer no erro de se tornarem os protagonistas da ação cênica. Todo o roteiro e movimentação das cenas foram construídos em diálogo com os corpos, cuja coletividade se constituía por gestos, movimentos e ações conseguidas por todos. Para quem não decorava textos, a dramaturgia se compôs a partir de frases ditas pelos estudantes e repetidas pelos idosos, de forma que isto de fato fosse cena e fizesse sentido para além de um texto repetido só para estar na boca dos participantes.

A cegueira dos sentidos

A comicidade presente no espetáculo, muito bem explorada e apropriada por todos, brincava com as limitações e doenças típicas da velhice, tornando o espetáculo também um gesto de reconhecimento das identidades de todos e de um olhar para o envelhecimento como mais um processo da vida – fase pela qual todos vamos passar. Para além dos idosos, a cena recebeu um participante cego, agregando uma dimensão muito mais profunda ao trabalho e um olhar diferenciado para o título de Ensaio sobre a Cegueira, deslocando o sentido de uma cegueira visual para algo muito mais amplo: temos olhos, mas muitas vezes não enxergamos. Temos ouvidos, mas muitas vezes não somos capazes de ouvir. Temos tato, mas muitas vezes não sentimos o que tocamos. A cegueira dos sentidos, das nossas sensibilidades, da negação dos nossos processos de vida, entre outras coisas, era a Cegueira que este coletivo estava tratando na cena. Uma cena de potências, capaz de agregar todas aquelas humanidades e presenças, compreendendo a igualdade de cada um dentro das diferenças. E esse é um dos maiores desafios dos nossos tempos, poder falar de igualdade nas diferenças. Ter espaços capazes de agregar todas as identidades e pluralidades.

Agradeço a todos os envolvidos neste projeto pela experiência, pela recepção tão afetuosa e pela oportunidade de ver que é possível pensar um teatro em que caiba toda a gente.

Wellington Oliveira, Arte-educador, professor de teatro e encenador, Doutorando em Educação Artística na Universidade do Porto, Mestre em Artes pela Universidade de Brasília – Brasil.

Foto, créditos: Diego Ponce de Leon


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Encontros imaginários de 8 de Abril

As três figuras históricas e personagens deste encontro são apresentadas pela pluma de Helder Costa.

Bertrand Arthur William Russell, 3º Conde Russell OM FRS (RavenscroftPaís de Gales18 de Maio de 1872 — Penrhyndeudraeth, País de Gales, 2 de Fevereiro de 1970) foi um dos mais influentes matemáticosfilósofos e lógicos que viveram no século XX.. Até à sua morte, a sua voz deteve sempre autoridade moral, sendo um crítico influente das armas nucleares e da guerra no Vietnam. Recebeu o Nobel de Literatura de 1950, “em reconhecimento dos seus variados e significativos escritos, nos quais ele lutou por ideais humanitários e pela liberdade do pensamento“. Interpreta o militar de Abril Mário Tomé.

Katharine Houghton Hepburn (Hartford12 de Maio de 1907 — Old Saybrook29 de Junho de 2003) foi uma importante actriz dos Estados Unidos. A carreira de Hepburn é vista como uma das mais famosas de Hollywood e durou  mais de 60 anos. Ela trabalhou com diversos tipos de géneros da comédia ao drama e recebeu quatro prémios do Oscar de Melhor Actriz. Ela permaneceu ativa até a velhice e morreu em 2003, com 96 anos. Em 1999, ela foi nomeada pelo American Film Institute como a maior estrela feminina de todos os tempos. Interpretação de Isabel Tadeu, funcionária publica.

Leopoldo II (Bruxelas, 9 de abril de 1835 — Laeken17 de dezembro de 1909) foi o segundo rei dos belgas. O regime da colónia africana de Leopoldo II, o Estado Livre do Congo, sua propriedade privada, foi um dos escândalos internacionais mais infames da passagem do século XIX para o XX. Os países fecharam os olhos a essas atrocidades e estima-se  que o total de mortes tenha chegado a um número aproximado de 10 milhões. O Estado Livre do Congo incluiu uma área inteira hoje conhecida por República Democrática do Congo. Interpretação do gestor  Manuel Marcelino

RESERVAS – por este mail ou 213965360

Carlos Ribeiro / Caixa de Mitos 2 de abril19

Texto de Helder Costa