27 de Abril, 2024

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Zé do telhado em Lousada

Helder Costa, dramaturgo. Foto ACERT

Assisti ontem a um espectáculo de rua, muito especial.Mais 70 actores e figurantes e mais de 500 pessoas convenientemente sentadas e outras muitas de pé.
O tema era a vida do Zé do Telhado, o bandoleiro social que terá sempre uma eterna fama de justiceiro enquanto a sociedade continuar neste imobilismo anti -partilha e totalmente classista.
O espectáculo é magnifico, recheado de situações de verdadeiro risco artistico , com humor, inteligente e até sábio!
Parabens a toda esta produção – verdadeiro exemplo da necessria geminação entre a Arte e a acção Social.
Caminho justo porque se a Cultura não se interessa pela Sociedade, é natural que a Sociedade vire cotas à Cultura,
Parabens aos grupos Jangada e Trigo Limpo, com destaque para o encenador José Rui e Xico Alves, verdadeiro mestre de cerimonias no final apoteótico.
Neste tipo de espectáculos não é normal destacar actores.
Mas quero referir o Leite e a sua máscara de louco de bom senso, o que ficou muito bem ao actor em questão. .  

TEXTO TRIGO LIMPO – ACERT sobre a peça.

Ficha Técnica. Textos do autor e encenador

Coprodução Jangada Teatro com Trigo Limpo teatro ACERT

O texto teatral “Zé do Telhado” de Hélder Costa, criado pelo dramaturgo para o Teatro A Barraca em 1978, vai ser recriado num espetáculo teatral de rua que, desde o início do ano, está em preparação. Os ensaios estão a decorrer em Lousada, sendo a construção do engenho cénico e cenografia realizada na Oficina das Artes Criativas de Tondela.

Uma narrativa inovada para se adequar às características próprias de um espetáculo de rua. Uma viagem pela vida do herói popular Zé do Telhado e por um período conturbado da História de Portugal. As Guerras Liberais que, no século XIX, opuseram os dois irmãos, Pedro e Miguel, enquadram historicamente as aventuras do bando de Zé do Telhado, sendo a narrativa marcada pela interação constante entre os feitos do bando comandado por o nosso herói e uma corte corrupta que seguia cegamente as instruções de alemães, franceses e ingleses, enfim, duma certa Europa da época.

Camilo Castelo Branco conviveu de perto e foi amigo de Zé do Telhado quando, ambos, estiveram presos na Cadeia da Relação, no Porto. Os seus testemunhos no livro “Memória do Cárcere”, tal como outros factos históricos, representam uma visão fantástica sobre Portugal num período igualmente marcado pela Revolução da Maria da Fonte. Uma revisitação histórica conduzida pela linguagem teatral, comprovando paralelismos surpreendentes com a atualidade.

Uma produção teatral propiciadora de mais uma aventura criativa que se adapta à arquitetura dos locais públicos, envolvendo dezenas de criadores das duas companhias e de intérpretes teatrais e musicais convidados.

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Coprodução: Jangada Teatro e Trigo Limpo teatro ACERT
Texto: Hélder Costa
Versão Cénica e Encenação: José Rui Martins

Interpretação: António Leite, Bel Viana, Carla Campos, Daniel Silva, Diogo Freitas, Filipe Gouveia, Luiz Oliveira, Pedro Dias, Sónia Ribeiro, Vítor Fernandes e Xico Alves
Atores amadores: Ângela Mota, Albina Ribeiro, Américo Magalhães, Américo Pinto, Ana Peixoto, Antonina Neto, António Filipe Pinto, Bino Borges, Luís Falcão, Luís Peixoto, Manuela Teixeira, Nazaré Sousa, Ricardo Moreira, Rosa Magalhães, Samuel Pinto, Sandra Paiva, Tatiana Ferreira e Teresa Oliveira

Música: José Afonso
Direção Musical: Romeu Silva (Orquestra) e Tiago Sami Pereira (Precursões)
Músicos: Banda Musical de Lousada (1) e Lousad’arrufar (2)
Participação Especial: João Afonso (Voz)

Assistência de Encenação:  Pedro Sousa, Sónia Ribeiro, Xico Alves

Figurinos: Cláudia Ribeiro
Assistente de Figurinos e Aderecista: Filipe Pereira
Mestre Costureira: Alexandra Barbosa, Marlene Rodrigues
Assistente Aderecista: Cláudia Gomes

Cenografia: Sofia Silva e Zétavares
Execução de Cenografia: Oficina das Artes Criativas – ACERT

Assistência de Cena: Pedro Sousa
Desenho de Luz: Fernando Oliveira e Paulo Neto
Operação de Som: Fred Meireles Luís Viegas
Produção e Secretariado: Alejandrina Romero, Fred Meireles, Marta Costa e Susana Morais
Desenho Gráfico: Zétavares
Fotografia: Rui Coimbra
Vídeo: Maria Nunes
Serralharia: Araufer, António Viana, Filipe Lopes, Francisco Viana, Nuno Rodrigues, Samuel Ferreira
Carpintaria: Carmoserra
Equipamento Som e Luz: Audio Globo

(1) Carlos Carvalho, Cristina Baptista, Fábio Mota, Fábio Ribeiro, Gabriel Lopes, Inês Fernandes, Joana Ferreira, João Fernandes, João Neto, Paulo Mota e Sara Costa
(2) Ângela Botelho, António dos Santos, Beatriz Teixeira, Bruno Teixeira, Davide Teixeira, Eduardo Teixeira, Francisco Bragança, Guilherme Nunes, Inês Neto, João da Cunha, José da Cunha, José da Silveira, Judite Sampaio, Leandro Ribeiro, Liliana da Silva, Miguel Ribeiro, Miguel Teixeira, Tatiana Ferreira, Tiago Magalhães

Parceria e apoio especial à produção e comunicação: Câmara Municipal de Lousada

Agradecimentos
À Câmara Municipal de Tondela, Rosicar, Quinta de Lourosa e Viana & Filhos. A José Mário Carvalho, investigador de José Teixeira da Silva pela informação disponibilizada nos depoimentos publicados nos vídeos on-line e à equipa técnica da Audio Globo.

Patrocínios: Fepsa, Lameirinho, Quinta de Lourosa, Viana & Filhos Lda.


TEXTO DO AUTOR

O Regresso do Zé do Telhado

Quando existe um Herói popular – desses que era cantado nas feiras e nos mercados – célebre em papéis de cordel, histórias aos quadradinhos (hoje, diz-se banda desenhada, a BD), também em cinema e teatro, é natural que ele reapareça de vez em quando.
O meu primeiro contacto com este bandoleiro social foi através de um pequeno conto que a minha mãe me deu quando eu andava pelas primeiras letras, e tocou- me esse personagem parecido com os heróis do “Mundo de Aventuras”.
Os anos passaram e essa memória afectiva nunca desapareceu. E quando o Augusto Boal dirigia A BARRACA a seguir ao 25 de Abril, eu insistia que ele devia trabalhar com personagens portugueses…ele acabou por perder a paciência e desafiou-me a escrever a peça e depois se veria. Coisa que fiz em dois dias, aprovação e, felizmente, um grande êxito até assinalado com o grande prémio de teatro em Sitges, Barcelona.
Muitos anos depois, o grupo Jangada desafio-me para fazer a encenação desse texto e confesso que foi dos grandes prazeres que tive na minha carreira de encenador dada a qualidade, alegria e loucura do elenco.
E agora, mais uns anos e chega o desafio para esse herói popular ir abrilhantar as ruas de Lousada e Tondela! O êxito está garantido, é evidente.
E aí regressa um grande símbolo do imaginário popular, o Robin Hood português que foi militar ao serviço do Setembrista Sá da Bandeira (a quem salvou a vida e por isso conquistou a maior condecoração do Exército de Portugal), perseguido, exilado, e lutador que veio tirar aos ricos opressores miguelistas o pão que entregava ao povo.
Bem vindo, camarada Zé do Telhado!

Hélder Mateus da Costa
Junho 2019


TEXTO DO ENCENADOR

Nesta aventura criativa, o Trigo Limpo teatro ACERT percorreu afetuosamente trilhos e encontros que há muito desejava abraçar.
O primeiro deles, na companhia de Zé do Telhado, herói popular que, tal como os já visitados noutros espetáculos — João Brandão e Viriato — entram numa trilogia que tem consentido incursões dramatúrgicas pela história do imaginário português, explorando narrativas teatrais que têm o fantástico e o onírico como dialéticas imaginativas que se prestam a ter a rua como palco.

Por outro lado, um texto de Hélder Costa criado para “A Barraca” em 1978, permite um sinal de gratidão da Jangada Teatro e do Trigo Limpo teatro ACERT a um dramaturgo e a um grupo que, desde há muito, fazem parte de uma certa matriz criativa e afetiva das duas companhias que se associam para criar este espetáculo. Uma matriz que nada tem a ver com seguidismo artístico, mas que advém das referências que permitiram às duas companhias encontrar caminhos próprios desafiadores, na abordagem de dramaturgias originais. José Afonso, criou músicas originais para o espetáculo de A BARRACA. Mais de 40 anos depois, a música de cena criada pelo nosso querido músico, ganha atualidade pela “gentil” voz de João Afonso, pela mestria dos arranjos e originais do maestro Romeu Silva e a interpretação da sua distinta orquestra. Tiago Sami Pereira, o nosso “Homem do Bombo” criou com o “Lousada a Rufar”, momentos percussivos populares que, teatralmente, adquirem dimensão epopeica e humorística. Todos eles, são construtores de magias e andanças desafiantes que acarinham criativa e experimentalmente esta produção.


Uma vez mais, o Trigo Limpo teatro ACERT saboreia uma aventura comum com outro grupo com quem tem uma relação de partilha. A Jangada Teatro passa a figurar no altar teatral casamenteiro, tal como aconteceu com outras companhias, Mutumbela Gogo (Moçambique), Teatrosfera, Chévere (Galiza), Teatro de Montemuro, TAS, Theater tri-bühne (Alemanha), Fundação José Saramago, Flor de Jara (Espanha), entre outros. Este espetáculo é também um tributo aos atores Faria Martins e Xico Alves e a todos os “jangadenses”, num ano em que a companhia celebra 20 anos a resistir com paixão pelo teatro, revisitando inovadoramente um texto que marcou o seu histórico.
Por último, não pode deixar de referir-se a equipa de atrizes e atores amadores que, com ao seu profissionalismo — sim, porque profissionalismo, no teatro, não indica uma relação remuneratória, mas antes a qualidade do desempenho e dedicação —, se revelaram talentosamente na construção do espetáculo.
Este “José do Telhado”, nesta versão de teatro de rua, confirma, pela grande envolvência de artistas locais com o elenco da Jangada Teatro e as equipas do Trigo Limpo teatro ACERT que o teatro continua a ser uma arte confluente de diversas linguagens e um exercício que, para ser coerente e autêntico, deve ser resultante de uma relação coletiva de partilha.
Com assaltos e sobressaltos, com solidariedades e entreajuda permanentes, com uma intenção incessante de denúncia social, com irreverência e, sobretudo, com um desejo de que o público se reveja no sonho que juntos vivenciámos, respiramos nos trilhos nortenhos de Zé do telhado, procurando ser loucos como ele.

Sermos, enfim, todos Zé do Telhado!

José Rui Martins
Trigo Limpo teatro ACERT

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