Na Covilhã, as alturas vão dar às estrelas.

@ Praça das Redes | 4 de Julho | Com Rosa Macedo, coordenadora do Centro Qualifica Campos Melo da Covilhã

Rosa da montanha. É uma planta rara também conhecida por sol-da-montanha que, sendo rosa, apresenta-se alaranjada. A rosa-da-montanha gosta de declives pronunciados. Na Covilhã, as alturas vão dar às estrelas, o sobe e desce é estrutural nos percursos e, ir a uma Tertúlia Literária, não é pera-doce.

Vem isto a propósito da sessão comemorativa do Dia Mundial das Bibliotecas que a Rosa Macedo, coordenadora do Centro Qualifica da Escola Secundária Campos Melo nos relatou desta forma “organizámos uma Tertúlia Literária e uma sessão comemorativa do dia Mundial das Bibliotecas, com adultos em processo RVCC, formandos do curso EFA – Tipo C, Formadores, Mediadores, Técnicos ORVC e Coordenadora do CQ”.

Maria da Luz

Mas o movimento por ali não se fica pela conversa nas bibliotecas “também participámos num evento para comemoração do dia Mundial do Livro, com o apoio da professora Maria da Luz, da equipa da Biblioteca escolar” reforçou Rosa Macedo.

“A equipa” adiantou a coordenadora serrana, segura e até orgulhosa “como resposta à pandemia COVID-19, encetou todos os esforços, no sentido de garantir a continuidade da sua atividade, promovendo a ALV – Aprendizagem ao Longo da Vida. Continuámos a apoiar, todos os adultos que pretendem aumentar as suas qualificações, mas agora à distância, pois sabemos que a qualificação é a chave para um maior crescimento económico”.

Orquestra

E para finalizar a sua apreciação “continuamos a exercer todas as atividades que viabilizam a continuidade das inscrições, do encaminhamento para formação qualificante ou para o desenvolvimento de processos RVCC. Durante este período também houve lugar a sessões de certificação, utilizando recursos online”.

A equipa Qualifica é também orquestra. E não é por acaso que surge o “Duke”, não o de copas ou o de Edimburgo, mas  o Ellington, o compositor que foi o  primeiro músico de jazz a entrar para a Academia Real de Música de Estocolmo e, foi honoris causa nas mais importantes universidades do mundo e funcionou sempre com o coletivo orquestra. Rosa ataca e conclui “como dizia Duke Ellington, os problemas são oportunidades para se mostrar o que se sabe e eu, adianta RisaMacedo acrescentaria, para melhorarmos as competências, enfrentando com êxito os novos desafios.

© foto Rosa Macedo editada

O monge trapista e a Teams do arquipélago

Nostradamus açoriano que engole os sapos do vírus, o pivô da Valorizar convida-nos para o acompanharmos, num percurso vivido ao ritmo do Missão Impossível II, numa visita guiada aos Trabalhos de Hércules da COVID19-Açores. Informáticos instalam sistemas e infraestruturas de comunicação na noite de domingo, psicólogos alimentam linhas de apoio em regime de call-center, formadores dão peito às enxurradas de PRA e ficam sem mãos para medir as sessões de certificação a distância, novos GPS da qualificação emergem do nada, que mais pode acontecer?

“No início de março desse ano, num jantar em casa de amigos, falava-se de um vírus que vinha da China. Eu, do alto da minha sabedoria, sentenciei que não havia motivos para preocupação, o vírus, quando chegasse à Europa, encontraria uma população bem alimentada, com água canalizada e ótima rede de esgotos. Portanto, não faria grande mossa. Desde então, como penitência, tenho vivido silencioso como um monge trapista.

Sob o meu otimismo inicial caiu uma tempestade, poucos dias depois, que nos obrigou, não de um dia para o outro, mas antes da manhã (quando surgiu o primeiro caso nos Açores) para a tarde, a nos recolhermos em casa. Em termos profissionais não foi uma boa experiência, mas poderia ter sido muito pior.

Mãos à obra na DREQF

A Direção Regional do Emprego e Qualificação Profissional, onde trabalho, fez como os pescadores: aviou-se em terra. Somos, há anos, um serviço com certificação ISO, o que foi fundamental, pois com processo de trabalho bem mapeados tudo é mais fácil, estejamos a trabalhar no gabinete ou na nossa sala de jantar. A par da qualidade, investimos muito em tecnologia, criando uma rede informática sólida e bem desenhada. No momento de ir para casa, bastou levar os computadores, sabíamos o que tínhamos de fazer e acabamos por perceber que muito desse fazer já era imaterial. A cereja no bolo foi o Teams, fresco entre nós de poucas semanas, e que transformou os nossos esforços pessoais num trabalho de equipa.

Funcionário público

Outro facto importante foi descobrir que os momentos de crise revelam realmente o melhor de nós (se há um pior, ainda estou por encontrar). O corpo de trabalhadores tornou-se numa equipa esforçada, disponível e voluntária. Ninguém reclamou, todos cerraram os dentes e avançaram. Nunca tive tanto orgulho de ser funcionário público.

Foi um tempo de homens e mulheres bons. A equipa de informática da minha Direção Regional montou, quase da noite para o dia, um espaço, com a devida infraestrutura de comunicação, para funcionar uma das linhas de apoio telefónico COVID-19 do Governo dos Açores. Corrijo, não foi quase da noite para o dia, foi mesmo da noite para o dia…de um Domingo. Psicólogos voluntariaram-se para o trabalho, dentre eles dois da Rede Valorizar.

Intensidade redobra

Na Rede Valorizar temos dois grandes eixos de trabalho: os processos de RVCC e a formação. O RVCC não exigiu uma mudança profunda, pois já era realizado em boa parte a distância. O que mudou não foi a prática, mas a intensidade. Muitos dos nossos utentes também estavam confinados e, por conseguinte, passaram a dedicar-se com afinco aos seus portefólios. Foi uma enxurrada de PRAs. A pandemia, ironicamente, aumentou a produtividade dos grupos. As sessões de certificação a distância, via Teams, tornaram-se quase diárias. Pela primeira vez os formadores confessaram não ter mãos a medir. Temos 150 adultos em processo de RVCC.

Formação reformulada

A formação presencial é um desafio muito mais difícil e complexo, que foi sendo vencido como a sopa quente: pelas bordas. Novamente a nossa certificação da qualidade e as suas exigências em termos de desenho de projetos muito ajudaram.

Sabíamos, desde o início, o que não podíamos fazer. Formação a distância não poderia ser simplesmente formação mediada por um computador com câmara e acesso à Internet, era preciso dar um salto. O primeiro algo mais que criamos foi o que batizamos de Roteiro de Atividades, onde sintetizamos toda a planificação da formação, incluindo os seus conteúdos, objetivos, planificação, sessões síncronas e assíncronas, avaliação, … Um documento não para ser arquivado no dossiê técnico-pedagógico, mas uma ferramenta pronta para ser utilizada ativamente pelos formandos ao longo da formação, como se fosse um GPS da qualificação. O segundo passo foi reformular todos o material didático. A Rede Valorizar sempre teve manuais próprios, criados pelos seus formadores. Chegara a hora de desmontá-los e torna-los adaptados à formação a distância. Por fim, foi definir a plataforma que iríamos utilizar e, nesse aspeto, a palavra de ordem foi os formandos é que mais ordenam. Optamos, no geral, pelo Classroom e pelo Meet, mas há grupos que preferem o Teams, enquanto outros funcionam muito bem com o bom e velho e-mail.

Partilhar informação e equipamentos

Tudo que estamos a produzir vamos partilhando paulatinamente na nossa página do Facebook.

A primeira experiência piloto foi com o Inglês, mais precisamente as UFCD de LEI e LEC. Temos, presentemente, 88 formandos a distância, das ilhas São Miguel, Santa Maria, Faial, Pico, Graciosa e São Jorge. Mais 44 estão à espera do início de mais turmas. No dia 6 de julho iniciaremos as primeiras turmas de Cursos ABC para o 3.º ciclo. Não sabe o que é um Curso ABC? Precisa mesmo de nos visitar no Facebook.

Os adultos, desde que tenham competências digitais básicas, de uma maneira geral aderem bem à experiência. Competência digital e um toque da imprescindível criatividade lusitana. Temos uma mãe, por exemplo, com dois filhos, alunos dedicados da telescola, e apenas um computador em casa. As aulas de Inglês ela tem acompanhado pelo seu telemóvel, com sucesso, é preciso acrescentar.

Desafio

Mas se estamos a vencer algumas batalhas, outras são de resultado incerto. Os adultos com baixa escolaridade e sem competências digitais são um público difícil de atender por meio da formação a distância. Como é que se ensina alguém a ler e a escrever por meio de um computador, se este alguém nem sequer sabe usar um computador ou, não raramente, nem sequer tem um computador? Aceita-se sugestões”.

Reinventar a proximidade

@Praça das Redes | 1 de junho 2020 | com Rosa Vieira, EPATV

Quando começou a tempestade COVID-19 todos sentimos que não sabíamos o suficiente para enfrentar todos os desafios que surgiram com a nova situação de confinamento e com a reformulação do quadro profissional individual e das equipas de trabalho. Mas uma coisa é ter consciência dessa realidade, outra é escrever sobre ela. Na Comunidade de Prática que estruturámos para nos apoiarmos uns aos outros, na área da educação de adultos, fomos conversando sobre situações insólitas e exigentes que tivemos que ultrapassar. Vamos dar voz a quem as viveu na rubrica Histórias de Navegadores Confinados começando pela Rosa Vieira coordenadora do Centro Qualifica da EPATV em Vila Verde.

“Vivemos tempos novos. E os desafios também surgem à medida que somos confrontados com novas realidades. Considero-me uma pessoa com um nível de literacia digital bastante aceitável, mas, nos últimos dois meses, tive de reequacionar aprendizagens no campo das novas tecnologia

Março agitado

Como coordenadora do Centro Qualifica da Escola Profissional Amar Terra Verde, tornou-se forçoso agir perante o imprevisto. Entramos em confinamento. Não podemos parar. Março foi marcante e agitado. A equipa do Centro mobilizou-se para dar resposta aos adultos que queremos manter ativos no que respeita à sua aprendizagem ao longo da vida.

Ajuda mútua

Vamos trabalhar a partir de casa. Como comunicar constantemente de forma eficaz e motivadora? Vamos usar uma plataforma. Partilhamos conversas, trabalho e ajudamo-nos mutuamente a ultrapassar o confinamento.

O trabalho tem de continuar. Como vamos motivar os nossos adultos mantendo a proximidade: uma plataforma. Fazemos videoconferências e entramos nas suas casas. Os contextos de partilha são novos, mas eficazes. Os nossos espaços de trabalho e partilha são virtuais mas desafiadores. 

Computador por companhia

Sentimos necessidade de ver o mundo dos outros, de saber como fazem. Vamos unir-nos a outros profissionais. Vamos partilhar e aprender. Realizar um webinar! Que desafio. As plataformas digitais já estão entranhadas no nosso dia-a-dia. Nos últimos dois meses, não saímos da frente do computador, nosso mais presente instrumento de trabalho e companhia. 

Mas a oradora do webinar sou EU?! Falar não constitui problema, mas vou falar para uma câmara. Não vejo os rostos! Como avalio as suas reações? Como preparo uma apresentação cativante? A ausência de comunicação não verbal exige um esforço acrescido no tom de voz.  Eu falo muito com as mãos e, numa videoconferência sentada, não é confortável nem funciona bem perante a câmara. Conseguir manter o auditório atento à mensagem com estas condicionantes, exige ainda mais do palestrante. 

Convívio e conversa em falta

A verdade é que não foi tão difícil como esperava. Sentimos falta da presença física das pessoas, mas sentimos que estão lá. E, depois de trinta minutos de discurso, estamos esgotados. Sim, as conferências online são muito mais desgastantes.

Durante estes dois meses, acredito que me reinventei. Se, há uns meses, me perguntassem se me via a trabalhar a partir de casa: respondia que não. Tenho espirito de convívio, gosto de partilhar ideias e conversar. Sinto falta dos meus colegas de trabalho, de alguma agitação. Mas, na verdade, conseguimos reajustar-nos e reinventar novas formas (diferentes) de estar próximos. 

No fundo, é primordial que saibamos ajustar-nos para dar uma resposta à altura dos exigentes desafios com que nos deparamos!”

©foto Rosa Vieira