A máscara não se coloca nos olhos! Eleger a situação de pandemia como ponto fulcral das aprendizagens na educação de adultos.
Por que raio não é em torno das questões complexas e de difícil gestão, no plano pessoal, social e profissional, relacionadas com a pandemia de COVID-19 que se concretizam todas as aprendizagens na alfabetização e na educação não-formal e informal de adultos?
Podemos imaginar contexto de aprendizagem mais evidente e mais adequado para abordagens educativas, formativas e promotoras da cidadania que aquele que a pandemia de COVID-19 proporciona de forma espontânea e natural?
Outra abordagem pedagógica
Claro, todo e qualquer contexto de aprendizagem tem que resultar de processos de negociação e até de co-construção com os adultos envolvidos, mas está à vista que é preciso ADAPTAR URGENTEMENTE A ABORDAGEM PEDAGÓGICA a uma situação tão gravosa que condiciona e aflige as famílias, os cidadãos e os territórios locais no seu quotidiano.
Mas ao assumirmos simultaneamente que as dinâmicas da vida quotidiana podem constituir per si um quadro potencialmente relevante para as aprendizagens, podemos então combinar os acontecimentos da jornada do dia-a-dia com as ligações e com os riscos da COVID-19 desenhando um percurso de aprendizagem pragmático e claramente percetível por parte dos adultos.
Temas fulcrais
PODE, A PRÓPRIA PANDEMIA DE COVID-19 SER A BASE DE TODAS AS ATIVIDADES DE APRENDIZAGEM, nas ações relacionadas com a educação de adultos?
O contrário é que é absurdo, adultos que estão a viver um período absolutamente extraordinário, dramático e de alto risco que são envolvidos em temas de aprendizagem impingidos à força, como se nada estivesse a acontecer na vida quotidiana de quem participa em processos de alfabetização ou qualificação.
Que temas emergem como evidentes? Três exemplos apenas:
O tema do “viver juntos”
A consciência da importância dos comportamentos solidários em matéria de prevenção sanitária constrói-se na compreensão e na apropriação dos mecanismos do contágio e das formas de o contrariar com pleno conhecimento de causa. A resposta coletiva, como é caso do confinamento, deve ser associada a outras realidades históricas e a processos gregários no plano antropológico e sociológico. A solidariedade salva vidas e reforça a capacidade dos coletivos.
Os temas da saúde.
Afinal porque se fala de grupos de risco? Quem são? Porque o são? O prórpio/ria pertence a esse grupo? Que iniciativas podem ser levadas a cabo para contrariar uma fragilização face a situações críticas de saúde pública.
O tema da alimentação
A reformulação dos processos de abastecimento dos alimentos-base e a necessidade de reequilibrar a composição das refeições, nomeadamente com o consumo de produtos locais e da época.
Educação de adultos e desenvolvimento social
Estas abordagens estão focadas no quotidiano e nas questões concretas que a pandemia coloca.
Mas pode ainda haver outra abordagem que radica na resposta a uma interrogação central do desenvolvimento social:
PODE A EDUCAÇÃO DE ADULTOS CONTRIBUIR PARA AJUDAR A COMBATER A PANDEMIA E A REFORÇAR AS COMUNIDADES LOCAIS?
Ou seja, estabelecer como finalidade das atividades de educação de adultos o seu contributo para a resolução de problemas da sociedade e a mobilização dos recursos locais para reforçar as comunidades e o sentido da vida em coletivo.
Júlia Bentes | TORVC no Centro Qualifica da Escola Secundária José Saramago – Mafra | Editado CR
O ser humano aprendeu a dominar e a utilizar os recursos da natureza para seu proveito, muitas vezes de forma irresponsável, mas essa é outra reflexão. No meu percurso de vida, tenho sempre presente a admiração e entusiasmo com que me cruzava com moinhos de vento, em criança, a sul, no lugar onde cresci, pela magia daquele movimento e hoje em adulta, no oeste, reconheço a capacidade engenhosa do aproveitamento deste recurso, a energia do vento.
É esta capacidade de engenho e arte que hoje, perante uma necessidade emergente, se coloca nas nossas vidas/profissões. A educação e formação de adultos não é excepção.
Os obstáculos
Alguns de nós olham para estes desafios como “gigantes” (obstáculos) mas nem tudo são obstáculos, eles existem, é um facto, e por estes dias já os conseguimos nomear, no domínio físico: equipamentos obsoletos/pouco funcionais; dificuldade de acesso à internet; poucos conhecimentos no domínio das TIC (plataformas LMS, apps e software de recursos diversificados, entre outros). Também no domínio das relações sociais e humanas podemos nomear a dificuldade em quebrar a barreira da distância de modo a criar proximidade, confiança, espaço de abertura, empatia, competências fundamentais para a orientação e acompanhamento.
Empurrados à força
Uma das expressões mais ouvidas que se aplica a quase tudo atualmente é “não estávamos preparados!”. No entanto, na educação e formação, há muito tempo que alguns recursos/ferramentas (aplicações, software diversificado/open Source e LMS) já foram criadas, faltou a sua apropriação e aplicação, passo a passo. Agora, somos empurrados à força para aprender em ação.
É um exercício exigente mas também um daqueles fantásticos moinhos (oportunidade), na minha opinião, que pode permitir repensar a minha/nossa prática e melhorar o futuro desta profissão.
Repensar os materiais
Por estes dias, revisitamos materiais que temos aplicado e olhamos para eles de outro jeito. Estes materiais, pensados para trabalharmos com adultos numa dinâmica presencial, preparados para gerar interação, questionamento e provocar comunicação verbal e não verbal precisam ser repensados/adequados (com mais legibilidade, dinamismo e interatividade) a dinâmicas assíncronas e também a momentos síncronos. Refiro-me sobretudo a materiais de apoio aos processos de RVCC: orientações para o processo RVCC, apoio à construção da narrativa autobiográfica, apoio à descodificação de referenciais de competências e atividades de formação complementar.
Manter a ponte com os adultos
Questiono/questionamos que “novas” práticas de trabalho? Da intranet à drive/à cloud. Das reuniões presenciais a videoconferências. De documentos que se entregavam em mão a documentos partilhados.
Questiono/questionamos como manter aberta a ponte criada com os adultos, olhos nos olhos, antes do confinamento? Das sessões presenciais, individuais ou em grupo ao recurso a plataformas LMS, videoconferências, mensagens, telefonemas e claro, ao velho e bom e-mail.
Ainda estamos a aprender em ação mas acredito que alguns destes gigantes, por agora, vão transformar-se em moinhos e no futuro vamos manter alguns deles ativos.
Isabel Moio, TORVC Centro Qualifica do Agrupamento de Escolas de Pombal, Investigadora Doutorada Integrada do CEIS20-UC | GRUPOEDE | Editado CR|Praça das Redes | 22 de abril 2020
Os habituais pequenos grandes luxos da rotina foram-nos subtraídos num ápice. Sem nos dar tempo para estruturarmos adaptações que ainda não adivinhávamos. Estava instalada a incerteza, a insegurança, a dúvida. Ainda está. Enquanto trabalhadora-estudante, estava ciente de que também aqui seriam trilhados novos caminhos, para os quais a nossa cultura (ainda) não está formatada (nem preparada).
Alternativas de ensino-aprendizagem
Na Universidade de Coimbra, o despacho reitoral de 9 de março a informar a comunidade académica sobre a suspensão de todas as atividades letivas presenciais foi o passaporte para a edificação de alternativas de ensino-aprendizagem. Foi ainda, o anúncio para estudantes estrangeiros pegarem no seu passaporte real e nas suas malas para regressarem aos seus países de origem, onde também encontrariam uma novo dia-a-dia. As dinâmicas de vida estavam a sofrer mutações e o tempo estava desarrumado. Também ainda está.
Liberdade para conciliar as tarefas
Devido a horários e compromissos profissionais, mas também ao tempo das viagens (os contornos do Estatuto não são compatíveis com o tempo despendido em viagens, pois só nelas esgotar-se-iam as horas por lei permitidas para assistir a aulas), nunca me foi possível marcar presença nem em um quarto da componente letiva presencial. Nos novos moldes, tornou-se possível assistir a vídeos das aulas em horários que nos são mais favoráveis e temos uma maior liberdade para conciliar as tarefas académicas com as profissionais, sem que nenhuma seja prejudicada. Tal como ocorre nas espécies animais que estabelecem uma relação de mutualismo.
Relações interpessoais que se estreitam e fortalecem
Aulas que decorrem com naturalidade. Estudantes que têm intervenções pertinentes. Fóruns que provocam o sentido crítico. Solidariedade entre estudantes. Indiscutível (e ímpar) flexibilidade de um corpo docente que se desdobra em emails, vídeos, Zoom e aulas de dúvidas (que não constavam do horário académico, mas que atendem às necessidades de tod@s). Não foi do nada que se chegou a este patamar. Foram horas, dias e semanas de autoaprendizagem de ambas as partes: docentes e estudantes. Nunca foi tão fácil entrar em casas alheias e apesar do sabor agridoce disso, há relações interpessoais que se estreitam e fortalecem. Há palavras de solidariedade que chegam pela mesma via em que se reportam dúvidas e há retorno. Não, não estamos sós nem sozinhos.
Saldo positivo
Volvido um mês e meio, o saldo é(-me) francamente positivo, embora consciente de que o ensino-aprendizagem através de meios digitais não é equiparável à riqueza do contacto presencial (nem se poderiam comparar grandezas diferentes), por toda a experiência educativa transversal que proporciona.
Novas portas de acesso
Ao longo dos anos, tem aumentado o número de estudantes adultos não tradicionais no ensino superior. No entanto, não é importante apenas proporcionar-lhes uma porta de acesso, mas garantir também oportunidades de (maior) sucesso. Por isso, talvez esta seja uma das lições: a capacidade de, enquanto seres aprendentes, reinventarmo-nos e moldarmo-nos às condições que não está ao nosso alcance contrariar. E depois de a tempestade passar, quem sabe se esta não poderá precisamente ser uma das alternativas a considerar: garantir um regime não presencial que permita a trabalhadores-estudantes ter acesso à matéria-prima direta das aulas. Talvez seja o momento de também as Universidades se reinventarem.
Isabel Moio, TORVC Centro Qualifica do Agrupamento de Escolas de Pombal, Investigadora Doutorada Integrada do CEIS20-UC | GRUPOEDE
David LOPEZ Embaixador da EPALE em França “Educação Popular”, editado e traduzido por Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 21 de Abri l2020
Desde 16 de março de 2020, quando todos os centros de formação escolas, escolas secundárias, universidades e espaços abertos ao público foram fechados, muito rapidamente os operadores de formação e os responsáveis pela educação reorganizaram-se para divulgar através de meios digitais cursos, webinars e outras propostas nestes domínios.
1) ENCONTRAR SOLUÇÕES DIGITAIS IMEDIATAS… PARA MANTER AS PESSOAS LIGADAS
a) Educação formal
A ideia inicial era manter o contato, assegurar uma continuidade educativa. Não vou falar sobre escolas e do sistema de educação formal. Os professores tiveram que manter uma ligação ativa com os alunos para que eles “não perdessem” o contato com os programas. Esta situação revelou o que todos já sabiam. Há uma fratura entre vários setores da sociedade. As áreas rurais ou subúrbios desfavorecidos têm dificuldades de acesso a ferramentas digitais (problemas financeiros, culturais, espaço na habitação, cobertura da Internet, formação do utilizador). O próprio Ministro da Educação Nacional disse que entre 5 a 8% dos alunos “ficaram perdidos”. Sindicatos e profissionais acham que é muito mais.
b) Formação profissional e aprendizagem
Interessa-me particularmente a área da formação profissional e da Aprendizagem, o Ministério do Trabalho reagiu na semana seguinte criando uma página em seu site nacional.
O objetivo era fornecer ferramentas e recursos educativos para centros de formação e de Aprendizagem (centros dirigidos às pessoas que estão desempregadas, em reorientação vocacional ou na formação profissional inicial ou contínua). Três tipos de ferramentas foram disponibilizados “gratuitamente”, enquanto anteriormente alguns sites tinham acesso pago: a) soluções técnicas que permitem a disseminação de conteúdos e de atividades, (realizar cursos de formação e garantir as relações pedagógicas a distância), b) recursos de ensino à distância acessíveis para os dispositivos de formação e c) recursos para centros de Aprendizagem.
Essas propostas surgiram como resposta para que os objetivos de transformar a formação presencial em formação a distância, tanto quanto possível, de adiar os cursos que não podem ser realizados a distância, de acabar com o acolhimento presencial do público e de limitar reuniões com presença física evitando as deslocações dos funcionários das suas empresas, fossem atingidos.
c) educação popular
Todas as associações que atuam com um público de jovens ou adultos, sejam culturais, de interesse geral, educação ou formação ao longo da vida reagiram muito rapidamente, a fim de disponibilizar informações e ferramentas relacionadas com o seu setor. As associações culturais pediram a seus membros que criassem imagens, textos, podcasts. Outros distribuíram recursos para aprender, para reagir. O acesso gratuito foi um elemento importante para o acesso mais aberto possível. Alguns exemplos:
Essa nova situação sem precedentes coloca várias questões. Fazemos como se todos estivessem conectados atrás dos écrãs e com um domínio perfeito das ferramentas. No entanto, sabemos que nesses períodos difíceis em que o encontro físico com o outro é quase impossível, uma exclusão de fato vai acontecer (territórios, classes sociais, diferenças de idade). A primeira pergunta é, portanto: “Como não deixar de fora uma grande parte dos franceses?” O acesso é uma resposta, mas também a formação para o domínio das ferramentas como utilizadores.
A segunda questão relaciona-se com as pedagogias que foram implementadas. Desde março de 2020, as várias organizações estão a adaptar os conteúdos e os métodos para fazer a transição da formação presencial para o digital. No entanto, será necessário repensar as ferramentas digitais para formar e apoiar as pessoas de uma maneira diferente. Será necessário pensar em termos de conteúdo (eles serão os mesmos que os presenciais?), em termos de metodologias (duração das conexões, interação entre alunos e formadores), em termos de apoio (como encontrar uma resposta ativa e disponível para tratar perguntas deixadas em aberto? On-line? Off-line?)
CONCLUSÕES MUITO PROVISÓRIAS
A França, ao contrário de outros países, não está muito avançada nas aprendizagens em base digital, longe disso. Muitas vezes somos constrangidos por um modelo bastante padronizado de aprendizagem e de formação, focado no conteúdo e não no “aprender a aprender”. Se as novas pedagogias, que elas venham da educação formal, lazer educacional ou da formação profissional, têm mais de 150 anos em França, a sua tradução para a prática, em grande escala, praticamente não existe. Surgem aqui e ali experiências, maneiras de fazer as coisas e metodologias postas em prática.
O confinamento relacionado com o Coronavírus pode impulsionar um caminho para uma aprendizagem e formação digital. Mas isso deve ser feito de maneira inclusiva, para não criar novas pessoas excluídas: já havia territórios abandonados sem acesso ao digital, não devemos pois ter cidadãos abandonados e excluídos do digital.
Para fazer isso, na minha opinião, é necessário desmembrar os setores de educação e formação para aprender uns com os outros e criar juntos.
David LOPEZ Embaixador da EPALE em França “Educação Popular”, Presidente da Plataforma de Aprendizagem ao Longo da Vida (rede europeia) de 2011 a 2018, eleito para a Liga de Ensino Ille et Vilaine (França)
Jorge Diogo Oliveira, Coordenador do Centro Qualifica da Profisousa, 15 de Abril 2020 | Edição Carlos Ribeiro | Praça das Redes.
O Centro Qualifica da Profisousa, em Paços de
Ferreira, que desenvolve a sua intervenção territorial em todo o Tâmega Sousa, já
interagia com os adultos da região através de meios de comunicação muito
diversificados. Mas, como afirmou Jorge Oliveira recentemente a uma televisão
local, “nessa fase tudo começava com uma relação presencial, só posteriormente realizávamos
o acompanhamento a distância em várias modalidades. O nosso problema não é
tanto dar continuidade aos adultos que já estão em processo ou formação, as
dificuldades irão surgir com os novos participantes”. E aqui está uma excelente problematização de
um novo quadro de relacionamento que o Coordenador do Centro aqui nos apresenta.
Haverá sempre
“um antes e um depois” do Covid-19 – é o que me ocorre quando reflito acerca
das vicissitudes que vivemos hoje. Assim será também com o Centro Qualifica que
coordeno e com todos os outros, com as nossas equipas, com o trabalho que
desenvolvemos antes, durante e depois desta crise. Assim será com os formandos
e formandas, que apostam, ou pretendem vir a apostar, no aumento das suas
qualificações.
Experiência
com emigrante
O Centro Qualifica
da Profisousa procurou desde o início dar continuidade ao acompanhamento dos
candidatos em processos de RVCC neste formato a distância, com o mesmo rigor e
empenho com que sempre trabalhou. A transição fluiu com alguma naturalidade,
pois já era habitual a troca de documentos, orientações e informações por via
eletrónica. Também já estávamos a experienciar o acompanhamento a distância com
uma candidata que emigrou. Contudo, era apenas uma experiência, que não tinha
em vista a substituição de todo um processo.
Uma realidade
diferente
Até então não havia
algo que nos fizesse crer que seria assim do início até ao fim. Haveria de
chegar sempre o dia em que nos reuniríamos, presencialmente, sem “tropeções” pela
falta de sinal de internet, pela câmara que não funciona, pelo facto de o filho
precisar do computador à mesma hora que a mãe, porque tem uma aula síncrona… Hoje,
a realidade é diferente! Vivemos cada vez mais o momento presente, pois o
futuro é incerto, prevalecendo a esperança que em breve tudo voltará ao
“normal”.
Maior
autonomia e responsabilização
Não obstante as
dificuldades que a formação a distância possa apresentar, e embora surja para
muitos apenas como uma resposta em tempos crise, o seu potencial é inegável e
não estamos a fazer nada de novo: “a roda já foi inventada!” Esta experiência
forçada poderá levar a uma mudança de paradigma e justificar ser uma
alternativa a manter, para quem não tem tanta disponibilidade para se deslocar
às entidades promotoras de formação, pois confere uma maior autonomia aos
participantes, por um lado, e uma maior responsabilização sobre os processos
que abraçam, por outro.
Complementaridade
É preciso, pois,
muita disciplina de ambas as partes: do técnico/do formador e do formando. Na
minha opinião, mas é só a minha opinião (a opinião de quem prefere o contexto
de sala de formação), o espaço virtual não substitui nem pode substituir o
espaço físico. Porém, convivo plenamente com a sua complementaridade, se de
alguma forma for possível.
Trabalhar com
a diversidade
Do ponto de
vista de Isabel Amorim, TORVC no CQ da Profisousa, “o papel do técnico sempre se
caracterizou por uma flexibilidade e plasticidade notáveis. Sabemos que
trabalhamos com pessoas com pontos de partida, recursos, rotinas,
disponibilidades e aspirações diversas. Como já vem sendo habitual, temos de
adaptar e redirecionar a nossa ação e orientação no sentido de melhor
correspondermos à situação que o momento exige, assim como às projeções de
futuro dos nossos candidatos. A intervenção do TORVC deve, obviamente, manter a
proximidade, a disponibilidade e a empatia para com o candidato que orienta”.
Isabel Amorim – TORVC
Empoderamento
E Isabel Amorim destaca
“O empoderamento do candidato é muito importante, daí que devamos reforçar
sempre a sua autonomia, para que possa aceder às ferramentas necessárias e se
apropriar de forma significativa da construção do seu trabalho e da(s) mudança(s)
que pretende para si. Estas premissas são mantidas, agora, obrigatoriamente,
mediadas por outros meios e recursos mais tecnológicos.”
Acreditamos que
neste esforço conjunto continuaremos a assegurar um trabalho de confiança,
consistente e fidedigno no que toca à educação e formação de adultos.
Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 8 de abril 2020 |Com Susana Santos, Centro Qualifica da Lourinhã
O Centro Qualifica do
Agrupamento de Escolas da Lourinhã, com sede na Escola Secundária Dr. João Manuel
da Costa Delgado, assume como sua finalidade a qualificação de adultos nesta área
territorial da Região do Oeste e realiza um conjunto alargado de atividades de informação,
de aconselhamento e de encaminhamento para ofertas de educação e formação
profissional de adultos. Como os restantes Centros Qualifica do país arregaçou as
mangas e deu eco à palavra de ordem “Não vamos parar”.
Susana Santos, a coordenadora
do Centro, adiantou-nos que a equipa está a trabalhar a partir de casa e que as
ferramentas que facilitam o processo de organização entre os seus membros já
foram selecionadas. “A escolha recaiu sobre uma ferramenta que o Facebook
disponibiliza para as empresas, o Workplace, que tem chat, videochamadas
e envio de ficheiros. Trata-se de um dispositivo de fácil utilização que congrega
tudo aquilo que é essencial para a equipa trabalhar e cooperar”.
Avaliação positiva
A avaliação da utilização
realizada e os resultados obtidos é traduzida de forma clara e inequívoca “Estamos
a gostar muito de trabalhar com esta ferramenta”, declara Susana que transmite
também a opinião dos restantes elementos do grupo de trabalho.
Várias vantagens
“Quanto ao trabalho com os adultos e de forma mais específica com os que estão a fazer processo para obtenção de certificação de nível secundário, os grupos vão para Balanço de Competências a partir de 14 de Abril. Neste caso optámos pelo meet.google.com para organizar e dinamizar as atividades, trata-se de uma base acessível para todos os adultos que também tem a vantagem de facilitar chamadas como voz” conclui Susana Santos.
Contribuir
Desta conversa resulta mais um contributo para a seleção de potenciais ferramentas de trabalho e de cooperação, tema de importância maior nesta fase de adaptação às condições de funcionamento impostas pela COVID-19.
Carlos Ribeiro | Praça das redes | 7 de Abril de 2020 |
Susana Silva é categórica na afirmação que a participação no processo de RVCC no Centro Qualifica Arrábida está a ajudá-la a ultrapassar as dificuldades desta fase difícil dominada pelo COVID-19 e pelo confinamento. Desde logo porque não está isolada mas também porque a actividade para atingir as metas traçadas proporciona-lhe um sentido para o seu dia-a-dia a par de cuidar das suas filhas. O seu testemunho é o seguinte:
O processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências para mim está a permitir-me chegar mais além do alguma vez imaginei! Passei a encarar muito melhor e de forma mais consciente a importância da aprendizagem ao longo da vida.
Será que vai valer a pena?
Sabia que não ia ser fácil, mas era mesmo o que queria e disse para comigo mesma se queria ficar com as minhas filhas, teria que fazer tudo por tudo, para alcançar esta meta. Muitas vezes pensava ou dizia para comigo mesma, coisas do género, antes de iniciar esta etapa: “Será que vai valer a pena?” ou “Olha que não tens idade, vai demorar muito e no final não vai dar em nada…” Mas, o que é certo, é que ao longo do percurso tenho ganho outra perspetiva da vida.
Está a ajudar a ultrapassar esta fase
Para mim, iniciar e desenvolver o processo de RVCC tem-me ajudado, em cada problema, em cada dificuldade, ou até mesmo ultrapassar esta fase em que estamos encerrados em casa por causa desta pandemia chamada COVID-19.
Qualificações para o emprego
Está a ser uma fase de muito trabalho na minha vida, mas igualmente desafiante abrindo-me, assim, outras possibilidades de crescimento, de independência ao longo da vida já que, anteriormente, eu sabia que não tinha qualificações suficientes para arranjar, sequer, um emprego e dar uma vida estável às minhas filhas.
Voltar a acreditar
Numa fase da minha vida em que tudo eram obstáculos e o dia de amanhã era sempre mais difícil que o dia de hoje, o RVCC, o trabalho desenvolvido com o Centro Qualifica Arrábida, contribuiu muito para eu voltar a acreditar que ainda era possível mudar a minha vida e dar-lhe o rumo que eu realmente quero. Permite-me encarar o Futuro com novas perspetivas junto com as minhas filhas.
Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 3 de Abril 2020 , com Catarina Paulos
Esta função pivot dos Centros Qualifica está a ser interpelada pelas novas condições de funcionamento impostas pelo COVID-19. Muitas das actividades agora realizadas a distância mantêm o mesmo sentido de relação-comunicação. Mas há outras que estão a ser desenvolvidas a um ritmo diferente e são mais exigentes em termos de acompanhamento.
É a experiência recente destas profissionais dedicados e entusiastas que queremos divulgar e debater na Comunidade Epale- Infonet. Falámos com Catarina Paulos a quem pedimos que nos acompanhe e nos apoie nesta conversa informal entre TORVC.
Afinal já estamos a construir o perfil do TORVC de amanhã. O que é idêntico ao que já era concretizado no Gabinete, atrás da secretária? O que é idêntico, mas agora realizado de forma diferente, com outros meios? O que é levado a efeito, agora nas condições a distância, que antes não constava nas tarefas do TORVC e que agora se tornou absolutamente indispensável?
A Educação de Adultos não pode parar…
Catarina Paulos | TORVC num Centro Qualifica
É isso mesmo, a Educação de Adultos não pode parar… e nem mesmo o coronavírus a trava. Com os recursos tecnológicos que atualmente existem, é possível continuar a desenvolver trabalho com os adultos que se encontram em percursos de educação/formação; o ritmo de trabalho pode não ser o mesmo, é certo, as sessões terão de ser à distância, mas as atividades vão sendo desenvolvidas, ajustando ritmos e diferentes níveis de literacia digital.
Trabalho desafiante
Nestas últimas duas semanas em regime de teletrabalho, é com agrado que noto uma boa adesão por parte dos adultos. O trabalho continua a ser desenvolvido e o acompanhamento pedagógico tem sido feito através de email e de plataformas tecnológicas como é o caso do Moodle e do Zoom. Este é um trabalho desafiante, tanto para os adultos como para os educadores de adultos; sem dúvida, estão a ser momentos de grande aprendizagem: por um lado, os educadores de adultos têm que se atualizar em termos de educação à distância, recursos tecnológicos existentes e selecionar os que melhor respondem às necessidades dos adultos que acompanham; por outro, os adultos têm que aprender a utilizar plataformas digitais que muitos desconheciam, e as dúvidas passam a ser esclarecidas não presencialmente, partilhando o mesmo espaço, mas em salas virtuais.
Estratégias educativas criativas
Se é verdade que a pandemia da Covid-19 está a ter, infelizmente, efeitos devastadores, também está a potenciar a utilização de novas tecnologias e de estratégias educativas criativas, tanto por parte dos educadores de adultos como dos adultos em percursos de educação/formação formal e não formal, desenvolvendo competências diversas, nomeadamente a literacia digital.
Catarina Paulos, APCEP – Associação Portuguesa para a Cultura e Educação Permanente, Técnica de Orientação, Reconhecimento e Validação de Competências (TORVC) num Centro Qualifica.
Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 2 de Abril de 2020. Texto de balanço do Centro Qualifica Henriques Nogueira editado (subtítulos e palavras-chave) CR.
O Centro Qualifica Henriques Nogueira de Torres Vedras, desde o início desta fase crítica provocada pelo COVID-19, agarrou as inúmeras tarefas de adaptação no funcionamento daquele dispositivo com entusiasmo e optimismo. Mas, tudo o indica, a atitude face às adversidades sendo fundamental representa apenas uma das facetas deste quadro de complexidade que exige mais, muito mais, da parte da Equipa e de cada um dos seus elementos.
O recente exercício realizado colectivamente de avaliação da actividade desenvolvida e de sitematização das experiências vividas constitui uma excelente demonstração de vitalidade e de mobilização da inteligência colectiva.
Se tivermos em conta o percurso que nos é proposto para o balanço que abaixo se transcreve com edição nossa, podemos destacar alguns tópicos fundamentais que podem servir de referência para olhares futuros sobre as práticas ocorridas:
1º A coesão da equipa: sem este ponto de partida, nada pode ser programado e projectado, se se quiser ter êxito;
2º Uma cultura participativa: as dinâmicas de participação são essenciais para o envolvimento de todos.
3º Uma estratégia de co-construção das soluções: ou seja, uma participação activa e comprometida de todos os interessados visando a resolução dos problemas;
4º Uma abordagem inclusiva: ninguém ficar para trás nomeadamente nas condições logísticas de participação nas actividades;
5º Uma opção de discriminação positiva face a potenciais riscos de desigualdade: a conciliação da vida familiar, pessoal e profissional no actual contexto de confinamento ou de desequilíbrio nos compromissos profissionais no seio da família;
6º A auscultação dos utilizadores finais: a recolha de opiniões e de propostas junto dos adultos que se encontram em novas condições de participação;
7º Uma liderança criativa e em permanente autorregulação: o assumir de riscos face ao desconhecido e a capacidade de partilhar com todos os membros da equipa os desafios e simultaneamente encontrar soluções em cima do acontecimento, reforçando sempre o espírito de equipa.
A Equipa do Centro Qualifica realizou um balanço a partir de dois tópicos centrais. Em primeiro lugar os processos de RVCC escolar e de seguida os relativos ao RVCC Pro que de seguida se transcrevem.
I – Os processos de RVCC escolar em curso
As mudanças provocadas pelo COVID-19 implicam pensar em novas formas de trabalho e a equipa do Centro Qualifica tem vindo a refletir sobre o assunto, não em presença, como era habitual, mas à distância.
1. Novas ferramentas
No nosso caso, utilizando a plataforma Teams, associado ao Office 365, onde temos os nossos emails institucionais alojados. É uma ferramenta de trabalho nova, que temos vindo a explorar e que nos tem permitido manter vivo o espírito de equipa, tão importante também no contexto atual.
Plataforma Teams – Office 365 | Mails alojados | Espírito de equipa
2. Autobiografias e “meios parados”
No caso específico dos processos de RVCC escolares iniciados antes desta crise, consideramos que o importante é não abrandar na produção das autobiografias ou, no caso dos candidatos que têm estado “meio parados”, aproveitar este período para imprimir novo ritmo e retomar a construção dos portefólios. Isto caso o contexto profissional e/ou familiar de cada um o permita, obviamente.
Não abrandar| autobiografias | imprimir novo ritmo | atender às condições
3. Cuidar dos meios técnicos
Os canais de comunicação, os interlocutores e a estratégias de trabalho há muito que estão definidos, pelo que não estamos perante grandes mudanças a esse nível. Sabemos, todavia, que, ao nível dos meios técnicos (computador / internet), há alguns candidatos com problemas, o que estava a ser colmatado com mais trabalho presencial no Centro Qualifica, pelo que estão a ser pensadas novas estratégias de apoio para esses casos específicos.
Estratégias de trabalho | Computador |Internet | Apoios
4. Sessão de validação
No que diz respeito aos candidatos que ainda têm ainda horas de formação complementar por realizar, as orientações relativas à sua continuidade e formas de trabalho a adotar estão a ser construídas pela equipa e serão remetidas aos visados pelos interlocutores (TORVC e /ou formadores) e canais habituais. No que se refere à etapa de validação de competências, que ocorre após conclusão dos portefólios, a equipa não vê dificuldades na sua realização pois dispõe dos meios técnicos necessários para tal. Ou seja, desde que haja portefólios concluídos, a sessão de validação nunca será um problema para a continuidade dos processos.
Formação | Validação de competências | Portefólios
5. Desafio para todos
Após essa etapa, avançaremos para a preparação das provas de certificação e para a realização das mesmas, pelo que veremos com cada um dos candidatos e com os elementos que integrarão o júri de certificação quais os meios a que iremos recorrer. É uma etapa que tem de ser bem pensada, mas também não consideramos que possa constituir um obstáculo à conclusão dos processos de RVCC em causa. Será, sim, um desafio para todos nós, mas estamos cá para o enfrentar e, em conjunto, construirmos as soluções necessárias.
Preparação | Júri | Provas de certificação
Os processos de RVCC Profissional Técn. Ação Educativa
Partilhamos o que temos estado a construir com vista à continuidade dos processos de RVCC Profissional Técnico de Ação Educativa, nos quais estão envolvidas 17 assistentes operacionais de diversos agrupamentos. Todas são detentoras do 12º ano e visam o reconhecimento, validação e certificação de competências profissionais na sua área de intervenção.
RVCC Profissional | Assistentes operacionais |
1. Produzir vídeos
Considerando que se estava em plena formação complementar quando esta crise começou, a primeira preocupação da equipa foi encontrar soluções para manter o grupo coeso e dar continuidade à formação. Após rápida reflexão, e auscultadas as destinatárias, decidiu a equipa avançar para a produção de vídeos por unidade de competência, os quais passam a ser o elemento central da sessão de formação, sendo estes complementados pelos ficheiros de apresentação das unidades em causa, também eles produzido pelas formadoras deste grupo.
Continuidade | Auscultação | Vídeos | Ficheiros técnicos | Produção pelas formadoras
2. Um novo modelo de sessão de formação
A fim de se manter as lógicas de discussão e partilha que já estavam a ser construídas, foi decidido também criar-se um grupo no WhatsApp. Assim, neste momento, o conceito de sessão de formação complementar integra o visionamento de um vídeo (partilhado no grupo do WhatsApp), a leitura da documentação remetida via email e a participação na discussão dos mesmos, em momentos a predefinir, no grupo do WhatsApp, que passou a ser o ponto de encontro / “sala de formação”.
Discussão | Grupos WhatsApp | Visualização de vídeo | Leitura documentação | WhatsApp sala de formação
3. Exercícios viram “desafios”
Até à data, já foram construídos e partilhados os primeiros vídeos, enviados os ficheiros informativos correspondentes, estando a ser definido o primeiro momento de debate no grupo. Também foi reapreciado o cronograma, tendo o mesmo sofrido alterações ao nível da aplicação dos instrumentos de validação, prevendo-se a realização, a curto prazo, do primeiro exercício prático, denominado “Desafio1”, cujo produto, a remeter à equipa pelas candidatas, permitirá a validação da UC 1 e 2.
Debate de grupo | Cronograma | Exercício prático | Validação
4. Otimismo
Estas novas estratégias de trabalho estão a ser bem acolhidas pelas formandas, pois permiti-lhes realizar os momentos de formação à hora mais conveniente, facilitando a conciliação com a vida familiar e profissional, nos casos em que ela se mantém ativa, havendo somente que consensualizar os horários para discussão/ debate no WhatSapp. A equipa está, assim, a encarar com otimismo os desafios com que está a ser confrontada e espera conseguir concretizar o que estava projetado: realizar provas de certificação profissional em julho.
Vida familiar e profissional | Hora mais conveniente | Provas em Julho
Carlos Ribeiro | Praça das Redes | Com a colaboração de Ana Cacho |31 de Março de 2020
Sonia Lopes desenvolve o seu processo RVCC Escolar de nível básico no Centro Qualifica Arrábida e revela-nos que relacionar-se com outras pessoas neste quadro marcado pelo isolamento e pelo distanciamento social é particularmente importante para o seu equilíbrio. E a sua actividade no Centro Qualifica, apesar de decorrer a distância, fá-la sentir-se “normal”. Ana Isabel Miguel, coordenadora do Centro Qualifica Henriques Nogueira de Torres Vedras, afirmava no início desta situação provocada pelo COFID-19, “o importante é manter as pessoas ligadas” e tinha toda a razão.
As palavras iniciais de Sonia são motivadoras “Nesta fase tão complicada e inesperada da minha/nossa vida(s) é importante continuar, olhar em frente e sobretudo não desistir!”
Normalidade
“Continuo com força e incentivo para avançar neste processo que tenho como objetivo e sinto que é uma maneira de sentir-me “normal” dentro de toda esta “anormalidade” que vivemos” revela, convicta, quanto é indispensável para ela própria continuar e persistir na sua entrega ao processo.
Garantias acabaram
“Dávamos tudo como garantido e hoje vemos que as coisas mais simples da vida, como ir ao café da esquina ou cumprimentar um amigo foi-nos roubado. Mas este trabalho pode continuar, temos uma alternativa. Eu vou agarrá-la, e tu?” lança em tom de desafio.