MADEIRA | Navegar na realidade bipolar

@ Praça das Redes | 10 de agosto 2020 | Histórias de Navegadores Confinados | João Pinto | Teresa Cardoso

Na Madeira o mundo também mudou e foi preciso aprender a reviver! Na verdade a notícia acaba por não o ser. O acontecimento ocorreu nos diversos espaços continentais e, de um forma geral, também nas ilhas Mas o João e a Teresa não nos relatam histórias e situações banais. Levam-nos de mão dada pelos carreiros da esperança e da angústia de todo um território. Falam-nos de sobrevivência sem papas na língua e recordam-nos que “ela depende da capacidade que cada um tem de aprender a aprender. Em suma, de aprender a reviver” | CR | Praça das Redes

O REviver na Rede navegava calmamente. Os espaços web do projeto, através do qual se presta apoio às pessoas em situação de desemprego na utilização das redes sociais, com foco no Facebook, refletiam a baixa taxa de desemprego e a grande oferta de emprego. Na Madeira, região onde o projeto está implementado desde 2015, assistíamos a uma escassez de mão-de-obra com os empresários a testemunharem dificuldades no recrutamento. 

Mas, em março, a nossa vida mudou… aliás, parou! Março fez-nos acordar para a dura realidade do COVID-19, que trouxe o lay-off, muitos desempregados de longa duração, anónimos, e um sem número de outras mudanças silenciosas. A economia parava e a vida de muitos fechava as portas… até um dia – um dia num futuro, tão incerto como longínquo.

Espaços de oferta vazios como as ruas

Nas redes sociais, assistimos a estas transformações na primeira fila… lugar bizarro para ver uma pandemia a crescer, mas privilegiado para por em prática novas formas de cidadania. Os espaços do REviver na Rede, até então cheios de ofertas de emprego, ficaram tão vazios como as ruas. Começaram a REsurgir publicações no grupo do Facebook de pessoas a disponibilizarem-se para trabalhar, o que tinha perdido relevância nos últimos tempos. Uma após outra formaram uma multidão ruidosa a pedir trabalho.

A heresia do trabalho

Hoje, olhando para trás na tentativa de ilustrar estas manifestações, recuperamos da memória da cronologia do Grupo REviver na Rede uma publicação de um membro a oferecer-se para trabalhar em restaurantes, num texto em que transparecia aflição. Outros dos membros comentavam como se tal fosse uma heresia, porque era preciso ficar em casa, e sair para trabalhar parecia ser um novo pecado capital. Tornou-se difícil moderar os espaços online do projeto… aliás, pensamos nós, não iria ser fácil moderar a sociedade nestes tempos!

Emprego, missão impossível

As hashtags #VaiFicarTudoBem e #EstamosJuntos chegaram tão depressa como o próprio COVID-19. As redes sociais vibraram com a sua utilização e o confinamento de cada um era o novo desafio social a partilhar. A realidade era que #NãoEstavaTudoBem com muitos de nós. A falta de emprego inviabilizava qualquer hipótese de um confinamento condigno e a sua procura tornou-se uma missão impossível, mas, mesmo assim, a ser tentada para manter viva a esperança. Afinal, na verdade, também #NãoEstavamosJuntos!

Conteúdos de aprendizagem

É esta a realidade bipolar das redes sociais. O bom e o mau coabitam lado a lado, envolvendo o comum dos utilizadores, competindo por likes e visualizações… e, ao contrário das histórias da nossa infância, nem sempre vence o melhor.

Foi então que nos ficou clara a necessidade de investir em conteúdos de aprendizagem a partilhar nos espaços do projeto. Selecionámos os temas da segurança, privacidade, literacia da informação e cordialidade nas redes sociais, porque emergiram como motivos de preocupação. Implementamos ainda novas estratégias para combater as fakenews, falsos anúncios de emprego, perfis falsos, participações de caráter ofensivo e muitos outros tipos de atividade maligna.

Aprendizagem informal

Assim, em tempos de confinamento, reforçámo-nos com os princípios da educação aberta online como forma de incutir a aprendizagem informal na vida de cada pessoa que nos segue.

Agora, mais do que nunca, aprender ao longo da vida é saber viver com os outros, REconstruindo-nos através das redes que tecemos quotidianamente. Nestes tempos inesperados a nossa sobrevivência depende da capacidade que cada um tem de aprender a aprender… em suma, de aprender a REviver.

João Pinto | Teresa Cardoso

© foto cedida por João Pinto e Teresa Cardoso

A dançarina que foge à polícia

@ Praça das Redes | 30 de julho 2020 | Clara Costa Oliveira | Histórias de Navegadores Confinados

Respirem fundo. Pode ser a respiração de yoga. E agora agarrem-se às cadeiras porque vão andar por terras baldias e caminhos de terra a velocidades pouco recomendáveis. Atrás, no encalço, vem a polícia que não liga a quem vai de muletas. Milagrosamente o Skype, o Messenger, o chat, os vídeos abrem as portas da escapatória para outra dimensão. Vamos atrás da Clara que nos transporta do campus da Universidade do Minho para a eira da aldeia das danças. CR | Praça das Redes

Clara Costa Correia

Trabalhar numa instituição é o meu hobby; faço-o por necessidade económica, mas também por gostar de dar aulas a adultos universitários, a única educação formal que exerço. As outras dimensões académicas deixei-as para os outros. A minha instituição foi a primeira a fechar no país aquando da pandemia, numa quinta feira, em fevereiro. No dia seguinte, com álcool, fui fazer algum do meu serviço comunitário: dar aulas de yoga e de danças circulares a população menos abonada financeiramente. Entre cada dança passámos as mãos por água antes de as darmos umas às outras. Na semana seguinte o espaço da junta da freguesia que utilizávamos fechou, até hoje.

Ficar em casa

A minha primeira preocupação foi minha mãe e meu marido, pessoas ditas de risco por causa da idade; minha mãe com 88 anos com bloqueio aórtico, assintomática, em grande perigo, mulher citadina, obrigada a viver na aldeia onde vivemos por impossibilidade motora em viver sozinha. Foi difícil convencer ambos que tinham que ficar em casa. Aprendi a negociar com ambos.

Caminhadas de muletas

Defini com minha mãe um percurso diário de caminhada na aldeia, ela com duas muletas acompanhada por mim; quando chovia, ia passear com ela de carro a uma vila ou a uma cidade, sem sairmos do carro. Mesmo quando não pudemos mudar de concelho, valeu-me conhecer caminhos de terra batida para fugir à polícia e conseguir passear com ela. A saúde mental deles, além da física, foi a minha prioridade.

Vídeos a horas estranhas

Minha segunda prioridade foram os meus alunos. Sem rede de wifi que me possibilitasse entrar na blackboard, comecei a utiliza vídeos em directo no facebook, no meu imenso quintal, quando tinha rede nacional suficiente. Fiz vídeos a horas estranhas, e à chuva, por vezes; fiz tutorias no meio das árvores via Messenger e Skype. Criei chat com uma turma e lecionava aulas desta forma com uma turma; com outra, valeu-me a representante da turma que se disponibilizou para colocar vídeos na net na plataforma; depois eu esclarecia dúvidas por mail ou por Messenger. A compreensão destas duas turmas e o esforço mútuo de adaptação foi notável, em confinamento com pais, filhos em tele escola, alguns em teletrabalho.

Geração do HIV

Ouvi desabafos, angústias e tentei acalmar. Falei-lhes da minha geração, da adaptação ao HIV, às medidas para controle internacional de terrorismo nas viagens, assegurei-lhes que íamos conseguir. Ensinei-lhes que era preciso respirar fundo, em respiração de yoga. Trabalhei a auto-estima de duas delas já medicadas para depressão. Pedi a ex-alunos vídeos de seu trabalho de terreno, dado uma das turmas ter uma dimensão prática que eles não podiam realizar por ordem do reitor, numa primeira fase, e por isolamento das próprias instituições, mais tarde (como instituições de apoio a idosos e bairros sociais).

Online com mais presenças

Amigos, foi o que mais me custou, a sua ausência física que continua, em grande parte. Percebi que tinha que tratar de mim e das pessoas de quem mais sentia falta, o grupo de danças e yoga.. Gravei danças passo a passo, fiz sessões de yoga e meditação, on line. De 12 pessoas que, no máximo, faziam essas ualas presenciais, alcancei por vezes mais de uma centena de pessoas de todo o mundo. Isso surpreendeu-me e animou-me.

A brasileira e a paz

 Uma brasileira deixou um comentário numa sessão de dança: «vejo as suas sessões por me dar paz». Fiquei boquiaberta, como alguém on line identificava algo que pessoas que me conhecem há 30 anos (na academia) não identificavam: sou uma pessoa de paz. Dei-me conta que ao dançar perdia as defesas. Pensei muito nisso. Sei que não as posso perder na academia, excepto com alunos. Expor-me foi sempre algo que fiz nas aulas, não sei leccionar de modo diferente. Mas isso assusta sempre algumas pessoas. On line, sem as conhecer, assustava bastantes. Disse-lhes que para mim era muito estranho expor-me a quem não conhecia, e que pedi desculpa se lhes parecia intrusiva, mas que era assim que sabia comunicar.

O balanço final é bom, quanto às aulas; acho que fomos todos perturbados uns pelos outros com a minha franqueza e exigência de aprendizagem, mas resultou.

O condutor de caminetes

@ Praça das Redes | 23 de julho 2020 | Histórias de Navegadores Confinados | Bravo Nico – S. Miguel de Machede | Évora

Há muito que as caminetes daquelas terras transportam artistas. Verdadeiros artistas sociais, como oportunamente Etienne Wenger e Beverly Trainer denominaram os agentes de desenvolvimento que, nos territórios, colocam a partilha, as redes e a cooperação no centro da sua ação. Mas em S. Miguel de Machede ainda há mais. Aqui a educação popular e comunitária é uma arte na qual todos participam, dos mais jovens aos de idade mais avançada. Por isso a caminete, gira, gira, sem parar.

A ESCOLA FOI A CASA | por Bravo Nico

Com o desenvolvimento da pandemia, de um momento para o outro, a Escola Comunitária de São Miguel de Machede teve que suspender a sua atividade presencial e, com isso, os nossos estudantes (quase todas senhoras) ficaram confinadas em suas casas e impedidas de continuarem a manter ativas as suas redes de socialização, tão importantes num contexto rural de baixa densidade como é o nosso território.

De um dia para o outro, a nossa Escola Comunitária, que tinha atividades educativas diárias, ficou encerrada, durante cerca de um mês, com as nossas colaboradoras e o grupo de voluntários em regime de trabalho a distância.

Escola Comunitária em Casa

No entanto, com todos estes constrangimentos, pensámos em como poderíamos contrariar a tendência instalada e pensámos em criar uma nova dinâmica. Criou-se a Escola Comunitária em Casa.

Em pouco mais de quinze dias, criámos um conjunto de atividades que tentaram colocar, no domicílio de cada um dos nossos estudantes, um ambiente estimulante de aprendizagem que mantivesse uma dinâmica de aprendizagem e permitisse a interação possível entre todos os participantes.

Jornais e desafios

Em primeiro lugar, começámos a produzir edições semanais do nosso jornal comunitário «O Menino da Bica», com entregas no domicílio, todas as quintas-feiras. As notícias foram sempre sobre o que ia acontecendo na nossa terra e sobre a situação sanitária. Depois, criámos uma rede social local, através da entrega, semanal, de atividades educativas em casa de cada participante, no âmbito das quais se encontrava a oportunidade de cada pessoa propor atividades a um/a colega. Esse desafio era entregue na semana seguinte na casa do colega e vice-versa. Desta forma, cada participante foi construindo um portefólio de atividades e um repositório de contactos e interações com os seus colegas. Tudo isto mediado por jovens voluntários que se organizaram e percorreram, semanalmente, as ruas da nossa freguesia.

Caminete do Artista Micaelense

Finalmente e para que as nossas Festas do Verão não ficassem, esquecidas, uma vez que não se podem realizar, criámos a «Caminete do Artista Micaelense», projeto que proporcionou a oportunidade de os jovens artistas da nossa terra organizarem um pequeno espetáculo ambulante que, em Julho, percorreu as ruas da nossa vila e que voltará ao terreno, em Setembro. As pessoas assistiram ao concerto, das suas janelas e portas ou sentadas ao fresco, na rua ou na praça.

Agora, vêm as férias do Verão, em Agosto. Depois, em Setembro/Outubro, logo veremos o que será a nossa vida, no pressuposto de que a Escola Comunitária seguirá o seu caminho.

Marias da Candelária

@ Praça das Redes | 20 julho 2020 | Histórias de Navegadores Confinados | com Maria Raimundo – Candelária, Açores

São muitas que andam, para cá e para lá, a puxar pela freguesia, sendo que aqui se dá voz à Raimunda. Os jovens da terra, agarram-se ao Terra Jovem e procuram outros rumos ligados ao desenvolvimento rural. No terreno agrícola experimentam e partilham, aprendem uns com os outros e constroem novas propostas de produção e de venda com olhos postos no agroalimentar e nas produções de escala maior como é o caso dos morangos.

Maria Raimunda avisa logo no início “Com a chegada da pandemia do COVID-19 tivemos que ficar em casa para não ficarmos contaminados e para prevenir a propagação da doença”.

Outros terrenos

E logo de seguida “No projeto Terra Jovem tivemos que fazer teletrabalho pois não podíamos ir trabalhar para o terreno”.

E a mudança de contexto forçou a uma nova operacionalização das atividades “Enquanto que estávamos em casa tivemos que fazer desafios”, ou seja, a comunicação entre os próprios jovens e até com a população local fazia-se agora em várias frentes sendo objetivo não-explicitado manter os contatos e as ligações ativas. Vários temas foram lançados “por exemplo os óleos essenciais para o corpo e para o cabelo e o desenvolvimento de talentos”.

Desafios para comunicar

Adianta ainda Maria “fizemos um desafio para ganhar um cabaz de uma frutaria e tivemos que tirar uma foto das paisagens da janela/ porta da nossa casa”. Enfim, confinados, mas envolvidos em inúmeras atividades locais.

“Tivemos a ideia de fazer caixas solidárias para colocar alimentos para pessoas que passavam necessidades durante a pandemia” conclui com o orgulho que a juventude da Candelária ostenta quando se trata de solidariedade social.

© fotos cedidas pot Maria Raimundo

Dragões lançam chamas no RVCC

@ Praça das Redes | 17 de julho | com Miguel Ângelo Soares Alves Lopes da Silva | Histórias de Navegadores Confinados

Miguel Ângelo realizou o seu processo RVCC – Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências no Centro Qualifica do Agrupamentos de Escolas Henriques Nogueira em Torres Vedras. A sua abordagem às competências esteve diretamente relacionada com um projeto: lançar a primeira pedra da Casa do Futebol Clube do Porto em Torres Vedras.

Miguel Ângelo não se deixou intimidar pelo rosnar do leão que se sente em cada rotunda e esquina da cidade. Fala em “nova esperança no concelho” e não hesita em validar a sua iniciativa com o argumento de ser “portista de alma e coração, agora presidente da casa do FC Porto, Dragões de Torres Vedras”, sendo seu fundador honorário.

Uma Casa com 200

“Esta casa que ainda está em formação rapidamente se tornou bastante falada, tanto no nosso concelho como noutros concelhos mais distantes”.O sucesso da iniciativa teve a ver com a capacidade de intervir nas Redes Sociais e em especial no “Facebook que na fase do lançamento contou de imediato com mais de 200 seguidores”.

Gente trabalhadora

Miguel Ângelo tem noção da importância do trabalho em equipa neste projeto e relata que “contamos igualmente com uma direção e assembleia geral sólida e bastante trabalhadora que está a formar os alicerces desta que irá ser a nova casa de Torres Vedras.

Estamos a preparar-nos para formar associação, para posteriormente termos sócios que nos ajudem a manter e construir novos objetivos e novas esperanças”.

COVID-19 provoca standby

Para finalizar os apontamentos sobre este projeto que é também um resultado da sua maior autonomia e da sua auto-estima reajustada pela positiva adianta “o momento em que nos encontramos não é o melhor, derivado ao Covid 19, muitas actividades ficam em standby, mas com a chama que todos trazem no coração e no orgulho que é pertencer a uma casa do FC do Porto, tudo se torna possível, basta acreditar”.

As convicções clubísticas e a noção de projeto acabaram por construir um sentido operacional para o RVCC que não quer apenas significar “possuir um certificado” .

Shin , a formosa navegadora

@ Praça das Redes | Histórias de Navegadores Confinados | Shin Izabella | CQ Henriques Nogueira, Torres Vedras

Olá sou Shin Izabela, participei em atividades de educação-formação no Centro Qualifica da Escola Henrique Nogueira onde conclui o meu 12º ano através do Processo RVCC.

Sou filha de pai chinês, mãe brasileira e casada com um português. Neste artigo você vai encontrar o meu testemunho sobre o meu percurso no RVCC. O meu percurso, inicialmente, foi de entusiasmo e de receio, pois não tinha a certeza se conseguiria finalizar este processo.

Por onde começar?

Com as mudanças de países do Brasil a Taiwan, de Taiwan ao Brasil, do Brasil a Portugal, contatei com culturas tão distintas que perguntei-me a mim própria, por onde iria começar. Sem falar do desafio de estudar e trabalhar num horário rotativo, ser mãe e dona de casa.

A educação que tive em Taiwan tem por base o Confucionismo, a doutrina oficial da China, que preserva a importância do princípio da ética, do respeito, da educação, do conhecimento, da bondade, da obediência, da responsabilidade e da justiça.

Estufar sem apoios

Depois encontro a educação no Brasil o Supletivo, com falta de meios nas escolas publicas. Tive que realizar os meus estudos de forma totalmente autónoma sem grandes apoios, mas com a total liberdade de poder me expressar e opinar.

O chá da Catarina

Em Portugal tive o privilégio de ter uma família que me apoiou de forma incondicional, foi com eles que aperfeiçoei a língua portuguesa, conheci a História de Portugal, país que teve uma grande importância na História da China. Por exemplo, foram os portugueses que descobriram Taiwan “A Ilha Formosa” e  foi a Rainha Catarina de Bragança que iniciou o consumo do chá, isto sem falar da ocupação do território de Macau.

A forma educacional de Taiwan e de Portugal não é muito diferente, onde preservam a responsabilidade, a importância da educação e do conhecimento, capacitar os profissionais com mais qualificação. Porém a maior dificuldade que encontrei foi sem dúvida a língua portuguesa, que para mim é a língua mais difícil no mundo pela sua complexidade de conjugações gramaticais.

Há muitas maneiras de estudar

Este processo reforçou ainda mais a vontade de concluir os estudos, vontade  que estava um pouco escondida. De facto, consegui compreender cada passo do processo de aprendizagem: há sempre maneira de estudar, aprender, evoluir, ensinar e compartilhar.

Na minha sessão de Júri, apesar de estar muito nervosa, senti-me confiante e consciente que tinha realizado o necessário para concluir o meu processo.

Um grande equipa

Mas sem dúvida alguma de que fiquei feliz e orgulhosa de mim mesma por ter conseguido atingir o meu objetivo, e para o alcançar tive um grande apoio da equipa e professores do Centro Qualifica da Escola Henrique Nogueira que foram incansáveis para me orientar em cada etapa do trabalho.

É necessário saber quanto é importante adquirir conhecimentos e qualificar as competências para um futuro com mais e melhores oportunidades.

A educação não tem idade, para estudar, nunca é tarde. Obrigada.

©Foto, cedida por Shin Izabella

A flautista andragógica

@Praça das Redes | 22 de junho | Com Dina Soeiro | Editado CR

Se a cruzarem numa das entradas da ESEC, Escola Superior da Educação de Coimbra, certamente não a verão a tocar flauta. Mas para navegar em tempos de COVID-19 o instrumento musical pode da jeito. E é com música que, com a Dina Soeiro, vamos explorar mais uma História de Navegadores Confinados.

A atividades formativas visando a alfabetização de adultos quando programadas na base de metodologias ativas põem os participantes a mexer, a interagir e a construir em conjunto, segundo Dina Soeiro. Estas abordagens, no entanto, implicam espaço e uma logística adequada.  A biblioteca da Escola Técnico Profissional de Cantanhede onde foram realizadas as primeiras sessões, apesar da inspiradora companhia dos livros, tornou-se demasiado pequena. Os anfitriões e parceiros locais do projeto Letras para a Vida, arranjaram rapidamente alternativa.

Covid-19 anula o bar

Vamos para o bar! Assim foi divulgada a solução encontrada, um espaço que encaixava muito bem com o perfil de outras atividades do projeto como as Oficinas de Letras, as Teclas e Músicas Prá Vida para além dos próprios Copos Prá Vida! Mas o COVID-19 chegou a Portugal e a formação foi suspensa. 

A saúde está primeiro

“As oficinas foram suspensas! E agora? E agora? Não acredito! Estávamos tão entusiasmados por iniciar a edição de primavera do Letras! Mas o importante é a saúde” lamentou-se na ocasião de forma responsável Dina Soeiro. E, consequentemente, foram todos para casa.

O telefone, toca

“Começámos a ligar para saber se os participantes das oficinas estavam bem. Como está? O que precisar, já sabe, é só dizer.  E não é que, passados alguns dias, os telefonemas foram no sentido inverso” recordou a Coordenadora do Letras.

Os netos aos quadradinhos

“Era só para dizer que está tudo bem! Estou um bocado aborrecida, os meus netos dizem que não podem cá vir, mas não se preocupe comigo. Valeu bem a pena ter aprendido a vê-los no telemóvel. Agora até os vejo mais! Vejo-os todos os dias no quadradinho!” confirmando assim, a autora do telefonema, que o distanciamento físico era uma realidade, mas o social, nem por isso!

Abraços no Zoom, só na imaginação

Mas para Dina Soeiro as surpresas estavam apenas no início. “Na aula da noite, as trabalhadoras-estudantes estavam de rastos. Conciliar os estudos e o trabalho nos lares, se já era difícil no passado, ficou agora quase impossível. Mesmo a distância, senti o peso esmagador da sua carga emocional e física.  Se estivesse numa aula presencial, tinha-lhes dado um abraço. Não é coisa que ponha no sumário, mas é coisa essencial. A zoomar não consegui. Pedi a uma delas, flautista, que nos oferecesse um momento bonito, com a sua música. Ela, generosa, fez com que a distância, nessa noite, fosse menos distante”.

Um equilíbrio desequilibrado

“É a gestão possível, muito para além de pedagógica ou andragógica, de um equilíbrio muito delicado entre medo, exaustão, esperança e desejo de continuar a viver, a estudar e, para algumas delas, cumprir o sonho de tirar o curso superior que tanto querem.

Está a terminar o semestre, o sonho destas mulheres vai-se cumprir, a formação vai continuar, talvez só em setembro, talvez só a distância, as oficinas vão voltar, não sabemos quando, mas vamos voltar” concluiu Dina com o otimismo que a carateriza.

O milagre dos quinze da Unesco

Etelberto Costa, junho 2020 | EU LLLPlatform pool of experts | Editado Carlos Ribeiro

Na Comunidade de Prática que estruturámos para nos apoiarmos uns aos outros, na área da educação de adultos, fomos conversando sobre situações insólitas e exigentes que tivemos de ultrapassar. Vamos dar voz a quem as viveu na rubrica Histórias de Navegadores Confinados hoje com o Etelberto Costa, Embaixador EPALE e ativista da aprendizagem ao Longo da Vida apoiada nas soluções digitais| CR @praçadasredes

“As escolas vão fechar!Foi logo a 12 de março que se percebeu que o movimento premonitório de muitos pais, professores, formadores e outros agentes do conhecimento ia acelerar e ganhar força.  Prolongou-se afinal por mais de 60 dias e ainda hoje, chegados a junho, se está numa de sim, mas talvez. É minha convicção que agora cada um deve assumir o patamar de risco em que quer estar. Numa iniciativa de massas ou numa reunião de 6 pessoas. Há para todos os gostos!

Abrir canais de comunicação

O primeiro passo foi bem percebido por todos e todas: abrir canais de comunicação entre alunos, formandos, professores e formadores. Naquele movimento procurei ser prestável no grupo ad-hoc criado no facebook E-Learning apoio que conta hoje com 29.000 membros e, naquela situação inicial,  apoiar a partilha de pensamentos e de experiências no #eagoraead promovido pelos Professores da Universidade Aberta António Teixeira e José Mota.

Produzir opinião, apontar experiências, sublinhar práticas com resultados, indicar produtos e casos, colaborar nas tomadas de posição e na missão da plataforma europeia da Aprendizagem ao Longo da Vida, foram as preocupações centrais daquela fase.   .

Traduzir Unesco em grupo

Nesta dinâmica colaborativa animei a criação de um grupo ad-hoc para se traduzir o primeiro manual editado pela Unesco sobre a experiência chinesa de Ensino a Distância já em situação de pandemia. Podem encontrá-lo na Praça das Redes com a denominação Manual de apoio à aprendizagem flexível. Um trabalho colaborativo que juntou, num objetivo comum, mais de 15 profissionais do conhecimento que vão desde os que trabalham com a infância, aos de ensino superior, passando pela educação de adultos. Uma comunidade que continua a funcionar e reunir trocando práticas e ideias. Podem ler sobre isto o artigo A necessidade aguça o engenho, o trabalho em rede faz o resto. Quando o trabalho é feito a várias mãos e resulta, fica-se muito mais feliz.

Guardar as sementes

E ler, ler muito e partilhar ideias. Olhem esta que me chegou no dia em que escrevo, um comentário de Stephen Downes ao artigo Reopening school: what it might look like cuja  autora é Jennifer Gonzalez publicado na Cult of Pedagogy em maio 2020 “a autora aflora a questão óbvia: o que se produziu em emergência Covid19 não é de deitar fora, porque representa muito de trabalho, suor e aprendizagem feita de fazer. Não! É semente que fica e que serve como backup mas também para fazer o caminho inverso de se colocar ao serviço do ensino presencial num percurso que tem sido feito de paralelas e que muito ganhará se for feito de confluência e colaboração!”.

Foto ©etelbertocosta