Projectos de desenvolvimento local nas aldeias

Desde 1986, com a adesão de Portugal à CEE, que dinamizo (e aprendo sempre em contrapartida) projectos em aldeias e em espaços rurais. Em 1987-88 com as ILEs – Iniciativas Locais de Emprego, a ELISE o sistema de informação para as inicitivas locais, as experiências da Wallonie em defesa do mundo rural, o desenho de modelos participados no Desenvolvimento Rural e Local começaram a surgir. Foi a formação dos JADE – Jovens Agentes de Desenvolvimento, com uma CCDRNorte criativa e uma AIP colaborativa e postrioremente a formação dos Assessores, que introduziram ferramentas técnicas muito poderosas para a intervenção local. Entretanto,e mais tarde, os programas de aldeias (Aldeias vinhateiras, Aldeias Vivas, Aldeias das Terras Transmontanas…) e de apoio à economia social nas aldeias (CAPACITAR no âmbito da Animar) foram directamente aos pequenos projectos locais de cada pessoa em concreto e, algumas vezes, associando-os a uma estratégia de desenvolvimento da própria aldeia. Foi numa desta incursões, na zona de S. Pedro do Sul que tirei esta fotografia, que para mim representa o cenário de trabalho com as pessoas ao longo destes anos todos no mundo rural. A senhora acolhia-me dizendo: abra a porta, abra, e deixe passar o sol….

Carlos Ribeiro, 11 de Novembro 2018

REDE EPALE – HISTÓRIAS PARA CONTAR “O andarilho dos afetos”

Alfabetizar é um retornar das letras à casa do afeto.

O andarilho marca a sua passada ritmada, a dificuldade em andar não a impede de vir semana após semana à oficina de alfabetização Letras Prá Vida. A sua participação na oficina é tão rica em histórias e lenga lengas, ditas de memória e escritas nas páginas do caderno, sessão após sessão. Sabe escrever, mas a sua vinda para a Oficina é antes demais um ato de resistência à rotina dos dias na sua atual casa, um lar de idosos. Sabe – diz – tratam-me bem, não tenho razão de queixa, são todos muito queridos no lar. Mas meus amores, os dias são todos iguais, as mesmas coisas feitas da mesma maneira, dia após dia, semana após semana, mês após mês, ano após ano. Vir aqui à oficina é arejar a cabeça, aprender coisas novas e é uma alegria para mim. Vocês são uns amores, fazem-me muito bem. A alfabetização também é um ato de resistência à rotina dos dias.

Porque não me esqueço do que aconteceu

Porque envelhecer deveria ser a arte de aprender a morrer, enfim a morte física faz parte do nosso percurso, aprender a lidar com a morte só é possível com muito amor.

Que lição tiro dessa experiência

Alfabetizar também é uma forma de resistência à burocratização dos dias

 

História contada por Vera Carvalho, animadora de processos de alfabetização na Oficina Letras Prá Vida

 

REDE EPALE – HISTÓRIAS PARA CONTAR “Saudades do mar”

Estávamos em Junho de 2017 num dia que foi especial para todos os participantes da Oficina de Alfabetização Letras Prá Vida. Fomos à praia concretizar um desejo manifestado por muitos adultos no início da Oficina. Não foi bem uma bela manhã de sol, mas não deixámos de aproveitá-la! A Dona Deolinda e eu resolvemos meter os pés na areia e caminhar até à água. Ao chegarmos junto ao mar sentimos o seu cheiro e apreciámos e revisitámos as memórias que este nos trazia. Então, conversámos sobre sentir saudades do mar. A minha saudade de viver perto do mar na cidade de Natal no Brasil, de onde venho, e as saudades da Dona Deolinda, na sua infância, junto ao mar na Figueira da Foz. Relembrámos e comparámos as brincadeiras que fazíamos na praia, o que comíamos e o estar em família e olha, tínhamos tanto em comum! Sorrimos! De saída, tal como na infância, levámos um pouco de areia nos pés para a casa.

Tatiana Andrade

Animadora de processos de albabetização

Vila Nova de Poiares – Oficina de Alfabetização Letras Prá Vida

REDE EPALE – Histórias para contar “O nome do filho”

Na  Oficina Letras Prá Vida, em Condeixa-a-Nova. Em 2015. História contada por Dina Soeiro.

“O Sr. Mário escreveu pela primeira vez o nome do filho. Emocionou-se. Estava ansioso por chegar a casa e mostrar ao seu filho. Chegou na sessão seguinte, feliz porque o seu filho ficou muito orgulhoso!

Alguns participantes gostam de mostrar o que fazem nas oficinas aos seus filhos e/ou netos. Gostam de escrever em casa, muitas vezes com ajuda, promovendo a aprendizagem intergeracional, e trazer para os animadores da sessão corrigirem e, claro, poderem elogiar o seu esforço e resultado”.

Dina Soeiro não se esquece desta situação: porque o Sr. Mário e o filho também não se vão esquecer desse feito importante e significativo para eles.

Que lição tiro dessa experiência: A importância do significado afectivo das palavras geradoras.

REDE EPALE – Histórias para contar | O Livro da 3ª Classe

Aconteceu em 2016-17 em Condeixa-a-Nova com os participantes e dinamizadores da Oficina Letras Prá Vida.

No primeiro dia, disse-me que estava ali para aprender o que ficou pelo caminho quando não chegou a fazer 3.ª classe. Perguntou-me se íamos trabalhar com livros escolares. Respondi-lhe que não e justifiquei de forma breve, dizendo que os livros escolares para crianças não seriam adequados. Mostrou-me então umas folhas, soltas, que denunciavam terem sido manipuladas muitas vezes. Eram fotocópias do seu livro da 3.ª classe. Faltavam algumas páginas, mas ela queria terminar de estudar o livro, em criança não teve oportunidade. Perguntou-me se arranjava maneira de encadernar aquelas folhas, para que não se perdessem ou estragassem. Disse-lhe que iria resolver isso. Procurei uma reedição recente desses livros, aparentemente esgotada em todo o lado. Deixei pedidos em várias livrarias. Durante meses, nada! Na manhã do último dia das nossas oficinas, ligam-me a dizer que tinham conseguido o livro da terceira classe. Não almocei nesse dia para o ir buscar, mas valeu bem a pena, quando vi a cara dela se iluminar ao receber o livro.

Agradeceu-me feliz. Na edição seguinte da oficina, lá estava ela, motivada.

Porque não me esqueço do que aconteceu:

Porque esta senhora voltou para a edição seguinte.

Que lição tiro dessa experiência:

Devemos promover um processo andragógico a partir dos objectivos que a/o aprendente tem.

História escrita por Dina Soeiro