Aprender na ação
Júlia Bentes | TORVC no Centro Qualifica da Escola Secundária José Saramago – Mafra | Editado CR
O ser humano aprendeu a dominar e a utilizar os recursos da natureza para seu proveito, muitas vezes de forma irresponsável, mas essa é outra reflexão. No meu percurso de vida, tenho sempre presente a admiração e entusiasmo com que me cruzava com moinhos de vento, em criança, a sul, no lugar onde cresci, pela magia daquele movimento e hoje em adulta, no oeste, reconheço a capacidade engenhosa do aproveitamento deste recurso, a energia do vento.
É esta capacidade de engenho e arte que hoje, perante uma necessidade emergente, se coloca nas nossas vidas/profissões. A educação e formação de adultos não é excepção.
Os obstáculos
Alguns de nós olham para estes desafios como “gigantes” (obstáculos) mas nem tudo são obstáculos, eles existem, é um facto, e por estes dias já os conseguimos nomear, no domínio físico: equipamentos obsoletos/pouco funcionais; dificuldade de acesso à internet; poucos conhecimentos no domínio das TIC (plataformas LMS, apps e software de recursos diversificados, entre outros). Também no domínio das relações sociais e humanas podemos nomear a dificuldade em quebrar a barreira da distância de modo a criar proximidade, confiança, espaço de abertura, empatia, competências fundamentais para a orientação e acompanhamento.
Empurrados à força
Uma das expressões mais ouvidas que se aplica a quase tudo atualmente é “não estávamos preparados!”. No entanto, na educação e formação, há muito tempo que alguns recursos/ferramentas (aplicações, software diversificado/open Source e LMS) já foram criadas, faltou a sua apropriação e aplicação, passo a passo. Agora, somos empurrados à força para aprender em ação.
É um exercício exigente mas também um daqueles fantásticos moinhos (oportunidade), na minha opinião, que pode permitir repensar a minha/nossa prática e melhorar o futuro desta profissão.
Repensar os materiais
Por estes dias, revisitamos materiais que temos aplicado e olhamos para eles de outro jeito. Estes materiais, pensados para trabalharmos com adultos numa dinâmica presencial, preparados para gerar interação, questionamento e provocar comunicação verbal e não verbal precisam ser repensados/adequados (com mais legibilidade, dinamismo e interatividade) a dinâmicas assíncronas e também a momentos síncronos. Refiro-me sobretudo a materiais de apoio aos processos de RVCC: orientações para o processo RVCC, apoio à construção da narrativa autobiográfica, apoio à descodificação de referenciais de competências e atividades de formação complementar.
Manter a ponte com os adultos
Questiono/questionamos que “novas” práticas de trabalho? Da intranet à drive/à cloud. Das reuniões presenciais a videoconferências. De documentos que se entregavam em mão a documentos partilhados.
Questiono/questionamos como manter aberta a ponte criada com os adultos, olhos nos olhos, antes do confinamento? Das sessões presenciais, individuais ou em grupo ao recurso a plataformas LMS, videoconferências, mensagens, telefonemas e claro, ao velho e bom e-mail.
Ainda estamos a aprender em ação mas acredito que alguns destes gigantes, por agora, vão transformar-se em moinhos e no futuro vamos manter alguns deles ativos.