Confinamento, inclusão ou exclusão digital?
David LOPEZ Embaixador da EPALE em França “Educação Popular”, editado e traduzido por Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 21 de Abri l2020
Desde 16 de março de 2020, quando todos os centros de formação escolas, escolas secundárias, universidades e espaços abertos ao público foram fechados, muito rapidamente os operadores de formação e os responsáveis pela educação reorganizaram-se para divulgar através de meios digitais cursos, webinars e outras propostas nestes domínios.
1) ENCONTRAR SOLUÇÕES DIGITAIS IMEDIATAS… PARA MANTER AS PESSOAS LIGADAS
a) Educação formal
A ideia inicial era manter o contato, assegurar uma continuidade educativa. Não vou falar sobre escolas e do sistema de educação formal. Os professores tiveram que manter uma ligação ativa com os alunos para que eles “não perdessem” o contato com os programas. Esta situação revelou o que todos já sabiam. Há uma fratura entre vários setores da sociedade. As áreas rurais ou subúrbios desfavorecidos têm dificuldades de acesso a ferramentas digitais (problemas financeiros, culturais, espaço na habitação, cobertura da Internet, formação do utilizador). O próprio Ministro da Educação Nacional disse que entre 5 a 8% dos alunos “ficaram perdidos”. Sindicatos e profissionais acham que é muito mais.
b) Formação profissional e aprendizagem
Interessa-me particularmente a área da formação profissional e da Aprendizagem, o Ministério do Trabalho reagiu na semana seguinte criando uma página em seu site nacional.
O objetivo era fornecer ferramentas e recursos educativos para centros de formação e de Aprendizagem (centros dirigidos às pessoas que estão desempregadas, em reorientação vocacional ou na formação profissional inicial ou contínua). Três tipos de ferramentas foram disponibilizados “gratuitamente”, enquanto anteriormente alguns sites tinham acesso pago: a) soluções técnicas que permitem a disseminação de conteúdos e de atividades, (realizar cursos de formação e garantir as relações pedagógicas a distância), b) recursos de ensino à distância acessíveis para os dispositivos de formação e c) recursos para centros de Aprendizagem.
Essas propostas surgiram como resposta para que os objetivos de transformar a formação presencial em formação a distância, tanto quanto possível, de adiar os cursos que não podem ser realizados a distância, de acabar com o acolhimento presencial do público e de limitar reuniões com presença física evitando as deslocações dos funcionários das suas empresas, fossem atingidos.
c) educação popular
Todas as associações que atuam com um público de jovens ou adultos, sejam culturais, de interesse geral, educação ou formação ao longo da vida reagiram muito rapidamente, a fim de disponibilizar informações e ferramentas relacionadas com o seu setor. As associações culturais pediram a seus membros que criassem imagens, textos, podcasts. Outros distribuíram recursos para aprender, para reagir. O acesso gratuito foi um elemento importante para o acesso mais aberto possível. Alguns exemplos:
Guide de survie des associations
Commenta parler du COVID-19 avec les enfants et les jeunes
2) INCLUSÃO DIGITAL OU EXCLUSÃO?
Essa nova situação sem precedentes coloca várias questões. Fazemos como se todos estivessem conectados atrás dos écrãs e com um domínio perfeito das ferramentas. No entanto, sabemos que nesses períodos difíceis em que o encontro físico com o outro é quase impossível, uma exclusão de fato vai acontecer (territórios, classes sociais, diferenças de idade). A primeira pergunta é, portanto: “Como não deixar de fora uma grande parte dos franceses?” O acesso é uma resposta, mas também a formação para o domínio das ferramentas como utilizadores.
A segunda questão relaciona-se com as pedagogias que foram implementadas. Desde março de 2020, as várias organizações estão a adaptar os conteúdos e os métodos para fazer a transição da formação presencial para o digital. No entanto, será necessário repensar as ferramentas digitais para formar e apoiar as pessoas de uma maneira diferente. Será necessário pensar em termos de conteúdo (eles serão os mesmos que os presenciais?), em termos de metodologias (duração das conexões, interação entre alunos e formadores), em termos de apoio (como encontrar uma resposta ativa e disponível para tratar perguntas deixadas em aberto? On-line? Off-line?)
CONCLUSÕES MUITO PROVISÓRIAS
A França, ao contrário de outros países, não está muito avançada nas aprendizagens em base digital, longe disso. Muitas vezes somos constrangidos por um modelo bastante padronizado de aprendizagem e de formação, focado no conteúdo e não no “aprender a aprender”. Se as novas pedagogias, que elas venham da educação formal, lazer educacional ou da formação profissional, têm mais de 150 anos em França, a sua tradução para a prática, em grande escala, praticamente não existe. Surgem aqui e ali experiências, maneiras de fazer as coisas e metodologias postas em prática.
O confinamento relacionado com o Coronavírus pode impulsionar um caminho para uma aprendizagem e formação digital. Mas isso deve ser feito de maneira inclusiva, para não criar novas pessoas excluídas: já havia territórios abandonados sem acesso ao digital, não devemos pois ter cidadãos abandonados e excluídos do digital.
Para fazer isso, na minha opinião, é necessário desmembrar os setores de educação e formação para aprender uns com os outros e criar juntos.
David LOPEZ Embaixador da EPALE em França “Educação Popular”, Presidente da Plataforma de Aprendizagem ao Longo da Vida (rede europeia) de 2011 a 2018, eleito para a Liga de Ensino Ille et Vilaine (França)