A necessidade aguça o engenho, o trabalho em rede faz o resto

Carlos Ribeiro | Praça das Redes 29 de abr. de 20

Quantas vezes não acontece? Uma necessidade emergir no campo da ação mas os recursos para a superar com rapidez e eficácia serem dramaticamente escassos. E quando o desnível entre ambos surge como insuperável, as consequências são óbvias: desiste-se e encolhe-se os ombros. Afinal não somos nem super-homens nem super-mulheres. Mas alto! Alto aí. Nem sempre é assim. Nem todos encolhem os ombros. Se a satisfação da necessidade em causa constituir um benefício para todos, então ir procura de soluções torna-se um imperativo. Querem saber como é que se faz? Então leiam esta história de combinação criativa entre voluntarismo e acão colaborativa, porque vale a pena.

Texto em baixo de Etelberto Costa | Editado CR

Muitos por dever de profissão e de amor aos seus alunos reagiram nos primeiros dias da quarentena, ainda com aulas e serviços a decorrer, buscando solucionar o essencial: manter a comunicação ininterrupta e garantir que a aprendizagem continuasse.

Como nas Descobertas

Esse movimento, que não sei se seremos capazes de registar para a posteridade, contou com dois enormes fatores reconhecidamente. o voluntarismo nato e sem barreiras que nos impele a fazer o que tem de ser feito, mesmo não o sabendo fazer, como os nossos antepassados das Descobertas fizeram, aprendendo fazendo. E a ação colaborativa. Que mesmo quando não se sabe, encontra-se sempre quem saiba e ensine, porque existe a vontade firme e determinada de aprender. Existindo uma razão ou causa tudo é possível quando as pessoas se juntam em torno dum objetivo comum.

Traduzir e adaptar um manual

A história da tradução e adaptação para a língua portuguesa do  manual produzido pelo Beijing: Smart Learning Institute of Beijing Normal University, a pedido da Unesco é, na prática, o resultado desse encontro de vontades para alcançar um objetivo comum. Editado pela UNESCO em 20 março 2020, mostra como a China conseguiu manter o seu ensino em funcionamento com os condicionalismos da pandemia. 

Sendo um conjunto de lições e de boas práticas que podem ser úteis à nossa comunidade de ensino e formação, dos jardins de infância ao ensino superior, as pessoas que aderiram espontaneamente a este “voluntarios4learning” perceberam, de imediato, o seu alcance.

Uma equipa guerreira

Uns convidados porque são guerreiros de causas comuns, outros porque o movimento que se gerou nas redes sociais lhes levou informação para, voluntariamente, estar com ele e participarem. Evidentemente que são tudo pessoas com competências reconhecidas para um trabalho desta natureza e que, muito relevante, asseguravam diversidade do universo educativo e formativo. É que, apesar das ferramentas de tradução estarem disponíveis online há que observar princípios de coerência a cada capítulo. Cada capítulo ou setor foi escolhido pelo próprio ou por sugestão do coordenador. Sem hesitações.

Uma comunidade informal

Quem organiza e lança o desafio tem que ter em conta as necessidades para que o trabalho seja bem-sucedido e a comunidade informal, assim constituída, sinta refletido o seu esforço e dedicação. Neste caso, não basta ter competência para traduzir.

As três condições para o sucesso

Três condições são chave para que o empreendimento tenha sucesso:

A primeira, obviamente, é ter o apoio e autorização do editor e promotor, neste caso da Unesco. Foi o menos difícil.

A segunda, consiste em assegurar que a harmonização e coerência do texto traduzido sofra, no processo de revisão, as adaptações ao léxico que é usado em Portugal e aceite pela comunidade de profissionais   do setor. Uma tarefa muito difícil e, talvez, impossível.  Sendo este manual de apoio à aprendizagem flexível durante a Interrupção do ensino regular: – a experiência chinesa na manutenção da aprendizagem durante o surto de COVID-19 – abrangente no sentido de aprendizagem ao longo da vida “do berço ao túmulo”, essa harmonização e coerência tem que assentar em decisões que, algumas vezes, vão chocar com o léxico comum e vulgar em uso. O que ficou é de nossa responsabilidade e o erro foi aceite de persistir.

Por fim a terceira, não menos despicienda condição, é cuidar da paginação, grafismo e imagem mantendo a qualidade da origem e da fonte. Completar um trabalho desta natureza surge como uma tarefa bem difícil, apenas realizável através da competência aliada à dedicação. Fomos felizes na opção!

Adamastor em Tomar

Felizmente que o grupo encontrou, para as duas últimas condições – chave acima enunciadas, uma equipa dedicada e bem resiliente no Laboratório de Inovação Pedagógica e Educação a Distância do Instituto Politécnico de Tomar que contou com o apoio da Unidade de I&D Techn&Art do mesmo Instituto. Resistiram à adversidade das duas últimas semanas quando, perante um exercício muito superior (qual Adamastor!) ao inicialmente pensado o resolveram redobrando o esforço e o tempo, que deveria ser, familiar e de descanso em ambiente de confinamento decretado no quadro do estado de emergência.

Reconhecimento e agradecimento

Desde o início que se contou com a APDSI para a Localização e disseminação do manual traduzido. Essa força de promoção foi altamente reforçada quando a rede de bibliotecas escolares se juntou ao projeto.

Na hora de devolver à Unesco o trabalho realizado encontrámos reconhecimento e agradecimento.

E, na hora de disseminar e divulgar sentiu-se a força do trabalho em rede, com cada um a explorar os seus canais de comunicação.

Histórias deste tempo que passa

Ação colaborativa bem-sucedida, conclui-se. O que fica de mais importante é o gesto voluntário de estar e partilhar. Juntar-se num esforço coletivo que, tendo as suas dificuldades é altamente recompensador e pode fazer perdurar um sentido comum, em torno de um objetivo comum. Talvez uma “estória” que fica, deste tempo que passa, sob uma nunca até agora vivida experiência de confinamento da Humanidade, sustentada e capacitada na tecnologia e no conhecimento que hoje detém.

Etelberto Costa, coordenador do agrupamento “voluntários4learning”, LLLPlatform-poolexperts// Epale(PTAmbassador)//GM-apdsi-CQE //Futuraliastrategist

Nota à Versão Portuguesa

Manual de Apoio à Aprendizagem Flexível durante a Interrupção do Ensino Regular:

A Experiência Chinesa na Manutenção da Aprendizagem durante o Surto de COVID-19.

Esta versão foi produzida com o apoio da UNESCO numa ação colaborativa coletiva e voluntária de um grupo de portugueses ligados ao meio académico, ainda durante a vigência do Estado de Emergência Nacional, por força da pandemia causada pelo COVID-19.

Apesar de todo o empenho, profissionalismo e rigor das pessoas envolvidas, o trabalho não está livre de erros dada a necessidade de disponibilizar rapidamente o manual e o facto da tradução e adaptação terem sido realizadas por voluntários e não por profissionais da tradução.

A versão portuguesa contou com a coordenação de Etelberto Costa (Lifelong Learning Platform) e do Laboratório de Inovação Pedagógica e Educação a Distância do Instituto Politécnico de Tomar. De salientar o apoio da Unidade de I&D Techn&Art do Instituto Politécnico de Tomar na paginação do manual e da Rede de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação e da APDSI (Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação) na sua disseminação.

Tradução e Adaptação

Ana Paula Afonso, LE@D, Universidade Aberta 

Anícia Trindade, independente

Célio Gonçalo Marques, Instituto Politécnico de Tomar 

Daniela Vieira dos Santos, independente

Dora Cristina Santos, independente

Etelberto Lopes da Costa, EU LLL Platform – Pool of Experts 

João Correia de Freitas, Universidade Nova / FCT

Maria Ester Ramos, Onoma Lda

Maria José Sousa, ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa 

Paula Tomás, Paula Tomás Consultores

Pedro Cabral, FCCN, FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia 

Tânia Avelino, ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade

Revisão

Laboratório de Inovação Pedagógica e Educação a Distância do Instituto Politécnico de Tomar (Célio Gonçalo Marques, Ana Marta Rodrigues, António Manso, Hélder Pestana e Margarida Oliveira)

Rede de Bibliotecas Escolares, Ministério da Educação (Ana Paula Ferreira)

InovLabs (Cristina Charneca e Nuno Charneca)

Paginação Regina Delfino (Techn&Art, Instituto Politécnico de Tomar)

Divulgação

APDSI – Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação 

Rede de Bibliotecas Escolares, Ministério da Educação 

E porque não terminar o 12º ano?

Cármen Costa, Centro Qualifica Arrábida. Editado Carlos Ribeiro| Praça das Redes 27 de Abril 2020

Meu nome é Cármen Costa tenho 52 anos e é, com muito gosto, que vos conto a história do meu 12º ano que por sinal está a terminar.Quando eu tinha 16 anos terminei o meu 11ª ano e ingressei no mundo do trabalho.

Completar a escolaridade

A vida foi passando e com o tempo os meus estudos foram ficando para trás, até que quando trabalhava na Escola Secundária Lima de Freitas, em Setúbal, como auxiliar de educação tive conhecimento do Centro Qualifica Arrábida e das condições que ofereciam aos adultos para que pudessem completar a escolaridade.

Realizada também culturalmente

Na altura pensei, e porque não terminar o 12º ano? Propus-me a tal, afinal só me poderia trazer enriquecimento a todo o nível, foi o que fiz.

Nos dias de hoje estou muito contente com a minha decisão, pois sinto-me muito mais realizada pessoal e profissionalmente, até posso acrescentar culturalmente. O Centro Qualifica Arrábida deu-me a oportunidade de concretizar a minha escolaridade com todas as condições necessárias.

Bem-hajam

Falando agora dos professores, todas as palavras são poucas para lhes agradecer a atenção dispensada, o esforço deles para connosco, o seu profissionalismo, até me atrevo a dizer que se não fosse por vezes a força dispensada por eles eu talvez tivesse desistido, por tudo isto o meu muito obrigada a todos eles, bem-hajam.

Cármen Costa | RVCC Secundário

Aguero, do Manchester City, na equipa de professores da telescola da BBC

O EDULOG DA SEMANA | FUNDAÇÃO BELMIRO DE AZEVEDO | 24 de Abril 2020

Como correm as aulas à distância? 
Os professores de educação especial dizem que não existe “plano específico” para apoiar os alunos com necessidades educativas especiais. Existem, ainda assim, propostas concretas dos pais que sugerem que algumas escolas possam acolher neste período alunos com dificuldades e patologias mais severas, tal como se faz para os filhos dos profissionais considerados essenciais. “Isso ajudava-os a manter rotinas de socialização que são muito importantes para eles”, argumenta uma mãe ao jornal Público.

O Centro de Economia da Educação da Nova SBE inquiriu mais de 1500 professores do ensino básico e secundário sobre a transição para o ensino à distância. 77% dos professores dizem não estar a usar os recursos do Ministério da Educação; cerca de 19% dizem não estar a recolher qualquer instrumento de avaliação, a maioria (71%) está a fazê-lo através dos trabalhos de casa. O Jornal Económico mostra os resultados destes inquéritos realizados entre 25 de março e 8 de abril.

A nova telescola estreou-se na segunda-feira com uma aula de Português. Por estes dias, cerca de 850 mil alunos podem assistir às aulas na televisão, divididas em sessões de 30 minutos. Na RTP2 passam os conteúdos para o pré-escolar; na RTP Memória, as aulas dirigem-se ao ensino básico. O Jornal de Notícias assistiu à estreia em direto da casa de uma das muitas famílias que cumprem o isolamento social com os filhos.

Riscos online
A divulgação de várias aulas lecionadas através da plataforma Zoom – por um youtuber, entretanto identificado – resultou de “comportamentos humanos mal-intencionados” e não de uma falha no sistema, garante o Centro Nacional de Cibersegurança. Ao Jornal de Notícias fonte da Polícia Judiciária explicou que, à partida, “não haverá crime”, uma vez que os autores da intromissão possuíam a identificação e a palavra-passe das reuniões. A Federação Nacional dos Professores denuncia que “há alunos a receber dinheiro em troca de passwords”.

Aulas virtuais e conversas mediadas por ecrãs. Enquanto a vida das crianças e dos jovens acontece mais na Internet, a UNICEF alerta para os riscos desta nova exposição: o aumento de contactos de predadores sexuais, acesso a desinformação online e comportamento de risco entre adolescentes. Por outro lado, diz a organização, é importante garantir aos jovens a possibilidade de conversar em privado com os amigos. O debate sobre a mediação parental no Público.

Previsões para maio, junho e setembro
A maioria dos alunos portugueses poderá retomar as aulas presenciais em setembro. Os alunos do 11.º e 12.º anos talvez regressem em maio, com aulas a começar mais tarde para não se cruzarem com outras pessoas nos transportes públicos. Será um total de 22 disciplinas presenciais, lecionadas em horários desencontrados. As crianças dos zero aos três anos poderão voltar às creches em maio, já as do pré-escolar, em junho. O uso de máscara comunitária será obrigatório nas escolas e transportes públicos. Expectativas do primeiro-ministro, António Costa, em entrevista ao Expresso, na edição de 18 de abril.

Os professores que voltem a lecionar de forma presencial vão poder deixar os filhos em escolas de acolhimento. No passado domingo, o Governo incluiu novas profissões na portaria que define quais as crianças que podem ser acolhidas nas escolas devido à profissão dos pais, escreve o jornal Público. A medida não se aplica quando um dos membros do agregado familiar poder cuidar dos filhos.

As matrículas no pré-escolar e ensino básico decorrem entre o dia 4 de maio e 30 de junho e devem ser feitas pela internet. Detalhes sobre o calendário escolar constam no Decreto-Lei nº 14-G/2020, publicado em Diário da República.

Avaliação e propinas 
Na Universidade do Porto, cada unidade orgânica da instituição terá autonomia para decidir que atividades se mantêm à distância ou presencialmente e quais os métodos de avaliação no segundo semestre. A reitoria recomenda que a época de conclusão do ciclo de estudos se mantenha em setembro, ainda que possa ser razoável o adiamento justificado da entrega das dissertações de mestrado até à primeira semana de novembro, noticia a Lusa.  

As universidades estão a garantir o ensino à distância a todos os alunos, por isso não haverá suspensão no pagamento das propinas, diz o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, António Fontainhas Fernandes, admitindo um reajustamento da propina em caso de falhas. Há alunos e professores a viver em zonas de difícil acesso à Internet, mas as operadoras já foram contactadas para reforçar os dados. Haverá ainda um reforço na ação social, avança o Jornal de Negócios.

Nos politécnicos só um número “residual” de estudantes retomará as aulas presenciais em junho: os que estão no último ano do curso e os que têm cadeiras “práticas”, sobretudo as laboratoriais. As turmas serão divididas em turnos e haverá circuitos nos corredores para reduzir o contacto. Cada instituição é responsável por avaliar o total de estudantes que terão mesmo que retomar as aulas, explica o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, Pedro Dominguinhos, ao jornal Público.

Atualidade de outros mundos educativos
Mitigar o impacto da pandemia covid-19 no ensino pré-escolar, básico e secundário público custará 5 mil milhões de euros em Espanha. O valor inclui escolas de verão (250 milhões), programas de reforço (3 milhões), extensões no número de horas de ensino no próximo ano (1.675 milhões) e planos de empréstimos para dispositivos tecnológicos a estudantes que não os possuem (entre 125 e 250 milhões). Os cálculos são da Fundação Cotec e leem-se no El País. O estudo alerta ainda que se 75% dos professores do ensino privado dominam as ferramentas online, no público a percentagem cai para 45%.

A educação à distância no terceiro período é “impraticável”, diz o presidente do Sindicato Nacional dos Professores cabo-verdianos. “Mesmo os países muito mais desenvolvidos não conseguem chegar a todos os alunos, pior será em Cabo Verde, que não tem as mínimas condições”, sustentou Nicolau Furtado à agência Lusa, considerando que este sistema não terá resultado nenhum, que é uma “brincadeira” do Ministério da Educação apenas “para animar a malta”. Para Furtado, o melhor será esperar pela normalização da situação da pandemia no país.

Em Macau, os alunos do ensino secundário regressam à escola nos dias 04 e 11 de maio, depois de mais de dois meses sem aulas devido à pandemia. A medição da temperatura ao entrar nos estabelecimentos de ensino e o uso de máscara serão obrigatórios para os mais de 25 mil alunos. Passar de ano será mais flexível, o mesmo sucede com a justificação de faltas. Pré-escolar e ensino básico e especial continuam com as aulas suspensas. Decisões do governo do território para ler na Lusa.

Na Alemanha, a vida escolar retoma alguma normalidade. A Reuters captou imagens dos preparativos nos estabelecimentos de ensino para o regresso dos alunos às aulas presenciais. A chanceler federal Angela Merkel tinha já avisado que haveria “muito trabalho logístico” com a criação de novos conceitos de organização dentro das escolas e novos planos de transporte. Tudo para garantir os cuidados necessários de distanciamento entre alunos e professores. Notícia da Deutsche Welle.

O jogador de futebol Sergio Aguero, do Manchester City, juntou-se à equipa de 200 professores da telescola da BBC e vai ensinar as crianças a contar em espanhol, escreve o The Guardian. O canal britânico está a disponibilizar conteúdos educativos para crianças e jovens (dos três a maiores de 16 anos), enquanto as escolas se mantêm fechadas devido ao covid-19, e contratou várias estrelas do desporto, da televisão e da música para se tornarem professores do Bitesize Daily.

Nova porta de acesso para os trabalhadores-estudantes

Isabel Moio, TORVC Centro Qualifica do Agrupamento de Escolas de Pombal, Investigadora Doutorada Integrada do CEIS20-UC | GRUPOEDE | Editado CR|Praça das Redes | 22 de abril 2020

Os habituais pequenos grandes luxos da rotina foram-nos subtraídos num ápice. Sem nos dar tempo para estruturarmos adaptações que ainda não adivinhávamos. Estava instalada a incerteza, a insegurança, a dúvida. Ainda está. Enquanto trabalhadora-estudante, estava ciente de que também aqui seriam trilhados novos caminhos, para os quais a nossa cultura (ainda) não está formatada (nem preparada).

Alternativas de ensino-aprendizagem

Na Universidade de Coimbra, o despacho reitoral de 9 de março a informar a comunidade académica sobre a suspensão de todas as atividades letivas presenciais foi o passaporte para a edificação de alternativas de ensino-aprendizagem. Foi ainda, o anúncio para estudantes estrangeiros pegarem no seu passaporte real e nas suas malas para regressarem aos seus países de origem, onde também encontrariam uma novo dia-a-dia. As dinâmicas de vida estavam a sofrer mutações e o tempo estava desarrumado. Também ainda está.

Liberdade para conciliar as tarefas

Devido a horários e compromissos profissionais, mas também ao tempo das viagens (os contornos do Estatuto não são compatíveis com o tempo despendido em viagens, pois só nelas esgotar-se-iam as horas por lei permitidas para assistir a aulas), nunca me foi possível marcar presença nem em um quarto da componente letiva presencial. Nos novos moldes, tornou-se possível assistir a vídeos das aulas em horários que nos são mais favoráveis e temos uma maior liberdade para conciliar as tarefas académicas com as profissionais, sem que nenhuma seja prejudicada. Tal como ocorre nas espécies animais que estabelecem uma relação de mutualismo.

Relações interpessoais que se estreitam e fortalecem

Aulas que decorrem com naturalidade. Estudantes que têm intervenções pertinentes. Fóruns que provocam o sentido crítico. Solidariedade entre estudantes. Indiscutível (e ímpar) flexibilidade de um corpo docente que se desdobra em emails, vídeos, Zoom e aulas de dúvidas (que não constavam do horário académico, mas que atendem às necessidades de tod@s). Não foi do nada que se chegou a este patamar. Foram horas, dias e semanas de autoaprendizagem de ambas as partes: docentes e estudantes. Nunca foi tão fácil entrar em casas alheias e apesar do sabor agridoce disso, há relações interpessoais que se estreitam e fortalecem. Há palavras de solidariedade que chegam pela mesma via em que se reportam dúvidas e há retorno. Não, não estamos sós nem sozinhos.

Saldo positivo

Volvido um mês e meio, o saldo é(-me) francamente positivo, embora consciente de que o ensino-aprendizagem através de meios digitais não é equiparável à riqueza do contacto presencial (nem se poderiam comparar grandezas diferentes), por toda a experiência educativa transversal que proporciona.

Novas portas de acesso

Ao longo dos anos, tem aumentado o número de estudantes adultos não tradicionais no ensino superior. No entanto, não é importante apenas proporcionar-lhes uma porta de acesso, mas garantir também oportunidades de (maior) sucesso. Por isso, talvez esta seja uma das lições: a capacidade de, enquanto seres aprendentes, reinventarmo-nos e moldarmo-nos às condições que não está ao nosso alcance contrariar. E depois de a tempestade passar, quem sabe se esta não poderá precisamente ser uma das alternativas a considerar: garantir um regime não presencial que permita a trabalhadores-estudantes ter acesso à matéria-prima direta das aulas. Talvez seja o momento de também as Universidades se reinventarem.

Isabel Moio, TORVC Centro Qualifica do Agrupamento de Escolas de Pombal, Investigadora Doutorada Integrada do CEIS20-UC | GRUPOEDE

Confinamento, inclusão ou exclusão digital?

David LOPEZ Embaixador da EPALE em França “Educação Popular”, editado e traduzido por Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 21 de Abri l2020

Desde 16 de março de 2020, quando todos os centros de formação escolas, escolas secundárias, universidades e espaços abertos ao público foram fechados, muito rapidamente os operadores de formação e os responsáveis ​​pela educação reorganizaram-se para divulgar através de meios digitais cursos, webinars e outras propostas nestes domínios.

1) ENCONTRAR SOLUÇÕES DIGITAIS IMEDIATAS… PARA MANTER AS PESSOAS LIGADAS

a) Educação formal

A ideia inicial era manter o contato, assegurar uma continuidade educativa. Não vou falar sobre escolas e do sistema de educação formal. Os professores tiveram que manter uma ligação ativa com os alunos para que eles “não perdessem” o contato com os programas. Esta situação revelou o que todos já sabiam. Há uma fratura entre vários setores da sociedade. As áreas rurais ou subúrbios desfavorecidos têm dificuldades de acesso a ferramentas digitais (problemas financeiros, culturais, espaço na habitação, cobertura da Internet, formação do utilizador). O próprio Ministro da Educação Nacional disse que entre 5 a 8% dos alunos “ficaram perdidos”. Sindicatos e profissionais acham que é muito mais.

b) Formação profissional e aprendizagem

Interessa-me particularmente a área da formação profissional e da Aprendizagem, o Ministério do Trabalho reagiu na semana seguinte criando uma página em seu site nacional.

O objetivo era fornecer ferramentas e recursos educativos para centros de formação e de Aprendizagem (centros dirigidos às pessoas que estão desempregadas, em reorientação vocacional ou na formação profissional inicial ou contínua). Três tipos de ferramentas foram disponibilizados “gratuitamente”, enquanto anteriormente alguns sites tinham acesso pago: a) soluções técnicas que permitem a disseminação de conteúdos e de atividades, (realizar cursos de formação e garantir as  relações pedagógicas a distância), b) recursos de ensino à distância acessíveis para os dispositivos de formação e c) recursos para centros de Aprendizagem.

Essas propostas surgiram como resposta para que  os objetivos de transformar a formação  presencial em formação a distância, tanto quanto possível, de adiar os cursos que não podem ser realizados a distância, de acabar com o acolhimento presencial do público e de limitar reuniões com presença física evitando as deslocações dos funcionários das suas empresas, fossem atingidos.

c) educação popular

Todas as associações que atuam com um público de jovens ou adultos, sejam culturais, de interesse geral, educação ou formação ao longo da vida reagiram muito rapidamente, a fim de disponibilizar informações e ferramentas relacionadas com o seu setor. As associações culturais pediram a seus membros que criassem imagens, textos, podcasts. Outros distribuíram recursos para aprender, para reagir. O acesso gratuito foi um elemento importante para o acesso mais aberto possível. Alguns exemplos:

Guide de survie des associations

Commenta parler du COVID-19 avec les enfants et les jeunes

Centre du graphisme

2) INCLUSÃO DIGITAL OU EXCLUSÃO?

Essa nova situação sem precedentes coloca várias questões. Fazemos como se todos estivessem conectados atrás dos écrãs e com um domínio perfeito das ferramentas. No entanto, sabemos que nesses períodos difíceis em que o encontro físico com o outro é quase impossível, uma exclusão de fato vai acontecer (territórios, classes sociais, diferenças de idade). A primeira pergunta é, portanto: “Como não deixar de fora uma grande parte dos franceses?” O acesso é uma resposta, mas também a formação para o domínio das ferramentas como utilizadores.

A segunda questão relaciona-se com as  pedagogias que foram implementadas. Desde março de 2020, as várias organizações estão a adaptar os conteúdos e os métodos para fazer a transição da formação presencial para o digital. No entanto, será necessário repensar as ferramentas digitais para formar e apoiar as pessoas de uma maneira diferente. Será necessário pensar em termos de conteúdo (eles serão os mesmos que os presenciais?), em termos de metodologias (duração das conexões, interação entre alunos e formadores), em termos de apoio (como encontrar uma resposta ativa e disponível para tratar perguntas deixadas em aberto? On-line? Off-line?)

CONCLUSÕES MUITO PROVISÓRIAS

A França, ao contrário de outros países, não está muito avançada nas aprendizagens em base digital, longe disso. Muitas vezes somos constrangidos por um modelo bastante padronizado de aprendizagem e de formação, focado no conteúdo e não no “aprender a aprender”. Se as novas pedagogias, que elas venham da educação formal, lazer educacional ou da formação profissional, têm mais de 150 anos em França, a sua tradução para a prática, em grande escala, praticamente não existe. Surgem aqui e ali experiências, maneiras de fazer as coisas e metodologias postas em prática.

O confinamento relacionado com o Coronavírus pode impulsionar um caminho para uma aprendizagem e formação digital. Mas isso deve ser feito de maneira inclusiva, para não criar novas pessoas excluídas: já havia territórios abandonados sem acesso ao digital, não devemos pois ter cidadãos abandonados e excluídos do digital.

Para fazer isso, na minha opinião, é necessário desmembrar os setores de educação e formação para aprender uns com os outros e criar juntos.

David LOPEZ Embaixador da EPALE em França “Educação Popular”, Presidente da Plataforma de Aprendizagem ao Longo da Vida (rede europeia) de 2011 a 2018, eleito para a Liga de Ensino Ille et Vilaine (França)

Metam a tecnologia na Eira

Carlos Ribeiro | Praça das Redes | Coordenador e dinamizador da Caixa de Mitos – Agência para a Inovação Social

Leio com alguma apreensão as propostas que estão a surgir de vários quadrantes, sobre a compra de tablets e computadores em grande escala para os alunos mais carenciados do sistema de ensino. Não porque discorde da sua aquisição e da necessidade de intervir face ao agravamento das desigualdades, mas antes porque constato que em vez de se aproveitar as actuais circunstâncias facilitadoras da  reformulação dos modelos dominantes de educação, pouco eficazes e eficientes e tendencialmente orientados para a descriminação social, está-se a dar cobertura voluntária ou involuntariamente ao que vai na cabeça dos educotayloristas que pretendem modernizar as cadeias de produção recorrendo à tecnologia para tornar a escola mais produtiva e mais competitiva.

Novos espaços de aprendizagem

Os novos espaços de aprendizagem, que estão a emergir em formatos muito diversificados nos diversos cantos do globo, são uma clara contra-corrente ao paradigma industrial dominante na educação e constituem uma fonte de esperança para libertar os processos educativos da sua relação castradora, porque unidireccionada, com a economia e o mundo dos negócios.

Uma educação para a liberdade

As abordagens flexíveis na utilização dos espaços e sobretudo nas metodologias de aprendizagem não constituem por si só um quadro de mudança do paradigma mas são um bom ponto de partida quando se tem uma perspectiva reformista dos sistemas. Devem pois coabitar e interagir com experiências inovadoras que oferecem de forma estrutural o que deve prevalecer na educação: a liberdade e a construção de um sentido individual e colectivo de vida.

Espaço-eira como pivot

Exemplificando, hoje os espaços comunitários e de partilha denominados de tiers-lieux ou third places noutras linguagens, que eu gosto de referir como sendo espaços-eira, combinam em áreas amplas e auto-organizadas pelas comunidades locais, trabalho, formação, iniciativas culturais, cinema, biblioteca, educação de adultos, hortas e produção artesanal, recriando ambientes colaborativos e de vida comunitária de proximidade. Estes espaços não se podem tornar nos polos agregadores de toda a vida comunitária local. Mas devem ser tão relevantes para a vida em comum como o são os Centros de Saúde, a Biblioteca, os espaços desportivos, as escola e todas as restantes infraestruturas centrais da vida local.

Cenários

Podemos imaginar num futuro próximo dois cenários para esta matéria da relação da tecnologia com a educação, não me debruçando especificamente sobre as actuais atribulações relacionadas com a aprendizagem acelerada das soluções tecnológicas que também estamos a acompanhar com especial interesse:

Cenário digital: escolas e salas de aula dominadas pelo digital, com uma intensificação dos processos de aprendizagem baseados nos conteúdos, nas disciplinas, nos saberes enciclopédicos, um intensificação dos TPC, estes agora realizados em computadores e tablets modernaços e híper acessíveis. Novos quadros electrónicos nas salas de aula, motivo para inaugurações e discursos dos autarcas locais, programas de intercâmbio Erasmus+ através do Zoom intensificando-se, a internet segura como tema para milhares de workshops dirigidos a professores, tests através do Google Forms ou do Survey Monkey tratados por aplicações baseadas na Inteligência artificial , enfim certificações que dão garantias às empresas do excelente domínio das ferramentas digitais…..

Cenário territórios capacitantes: uma nova relação com os espaços de aprendizagem, por princípio diversificados e relacionados com a vida nos territórios, mas também com uma visão global do mundo; uma abordagem integrada dos saberes, em grande medida tendo por ponto de partida as questões que se colocam a cada um, aos diversos grupos e às comunidades. A emergência de uma figura central dos processos pedagógicos e andragógicos, os facilitadores de aprendizagem. Uma reutilização e reapropriação do conceito de competência, na sua combinação criativa entres os diversos saberes, estruturando sentidos de vida e competências colectivas. Um assumir da incerteza, da dúvida, da interrogação permanente para aprender a viver o seu tempo, fomentar espírito crítico e produção colaborativa através de processos de inteligência colectiva. Uma clarificação, óbvia, do papel das tecnologias ligadas ao digital: serem apenas e só, apesar de muito importantes, uma ferramenta, entre outras, para educação focada na liberdade e no desenvolvimento sustentável dos territórios.

Concluindo, apoiar a aquisição de ferramentas tecnológicas que contrariem o fosso digital torna-se um imperativo, mas a sua valorização plena deve estar associada às iniciativas que farão do seu uso algo que dificulte ou até impeça que a reprodução e intensificação dos modelos educativos proto-tayloristas mais uma vez triunfem, se consolidem e com isso se perca mais uma oportunidade de não matar o futuro.

Carlos Ribeiro | 17 de Abril 2020

Escolas e creches, abrir ou manter fechadas

O EDULOG DA SEMANA 16 |

Começa o 3.º período 
Os alunos retomaram as aulas esta terça-feira, mas sem regressar à escola. O 3.º período será lecionado à distância, com recurso às metodologias digitais e à transmissão televisiva de conteúdos pedagógicos.

As aulas na televisão começam a 20 de abril. Durante a manhã serão transmitidos conteúdos educativos para os alunos do 1.º ao 6.º ano de escolaridade e durante tarde para os alunos do 7.º ao 9.º ano. O tempo de emissão de cada disciplina, com conteúdos de dois anos letivos, será de meia hora.

Seja como for, o telensino não assumirá o papel principal na transmissão de conhecimentos, escreve o Jornal de Notícias. “Os professores mantêm a função fundamental de planear e promover as aprendizagens, recomendando os conteúdos mais ajustados aos seus alunos, indicando trabalhos a realizar, esclarecendo dúvidas e avaliando”, informa o Ministério da Educação na página covid19estamoson.gov.pt.

Ensino à distância real
Nas duas semanas após o fecho das escolas, um quarto dos alunos não fez os trabalhos de casa enviados pelos professores. A “falta de tempo” foi a principal razão, mas também houve quem não tivesse percebido o que os professores pediram. 62% dos alunos precisaram de ajuda a Português e 70,4% a Matemática. O inquérito online feito pelo Observatório de Políticas de Educação e Formação mostra como o ensino à distância está a pôr em causa a equidade na educação. Lê-se no Público

“As dúvidas da vida real do novo ensino à distância” são retratadas no Jornal de Notícias, que ouviu uma professora de Português e Inglês pronta para usar computador, Internet e telefone para dar aulas, um professor de História preocupado se os seus alunos têm computador e duas famílias sem tecnologia e com muito receio de que os filhos possam “ficar para trás”.

Avaliação e melhoria de notas
O Ministério da Educação ainda não definiu critérios de avaliação para o 3.º período. Mas, escreve o Jornal de Notícias, ainda não afasta a hipótese de o vir a fazer. A recomendação do Conselho das Escolas sobre as aulas não presenciais é que as notas do 3.º período não sejam inferiores às do 2.º período, que foi a “última avaliação suportada em elementos fiáveis”, diz José Eduardo Lemos, presidente deste órgão.

Os alunos que esperavam subir as notas e melhorar a média para entrar no ensino superior são prejudicados com as novas regras, avança o Público. É que este ano os exames nacionais não servem para aumentar as notas internas do ensino secundário. Ou seja, valem apenas como específicas para o ingresso no ensino superior e só nessas condições podem ajudar a subir a média.

Eficiência no privado
Os alunos dos colégios, do 1.º ao 12.º ano, “vão cumprir o horário completo” definido desde o início do ano letivo. Algumas aulas acontecem por videoconferência, outras serão lecionadas através de trabalhos a entregar pelos alunos num determinado momento. O presidente da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, Rodrigo Queiroz e Melo, garantiu à Lusa que “o 3.º período vai agora decorrer com muito mais eficiência”.

Pagar por creches fechadas
Creches e pré-escolar continuam sem resposta sobre a cobrança das mensalidades. Na ausência de orientações comuns, as reduções variam de escola para escola, escreve o Expresso. Nas declarações de quinta-feira da semana passada, o primeiro-ministro, António Costa, disse ser prematuro definir uma data para a reabertura dos jardins-de-infância, uma vez que, entre crianças, seria impossível cumprir as atuais regras de distanciamento.

Há cada vez mais pais a exigir descontos de 50% e a cancelar matrículas em creches e jardins-de-infância. O lay-off parcial não chega para evitar a “falência em massa”, alerta a Associação de Creches e Pequenos Estabelecimentos de Ensino, que pede um apoio de 150 euros por criança para “salvar os estabelecimentos”, lê-se no Jornal de Notícias.

Formação para lecionar online
Arrancou esta semana a primeira edição da formação Docência Digital e em Rede, promovida pela Direção-Geral da Educação e a Universidade Aberta. São 25 horas teórico-práticas sobre os temas: Educação e Comunicação Online e Modelos Pedagógicos Virtuais, Plataformas e Tecnologias Digitais Online e Atividades de Aprendizagem e Avaliação Digital.

Atualidade de outros sistemas educativos
A comissária europeia da Educação, Mariya Gabriel, diz-se “impressionada” pela forma célere como os Estados-membros adotaram modelos de aprendizagem online. Mas existe um problema, cuja resposta terá de surgir em articulação com a União Europeia, alerta a comissária: nem todos os professores e alunos estão igualmente apetrechados para o ensino através de ferramentas digitais. Notícia da Lusa.

Em Espanha, 40 organizações não-governamentais pedem que os alunos sem recursos tecnológicos em casa possam retomar as aulas presenciais durante o verão de forma a não serem prejudicados, escreve o El País. Isto, se as condições sanitárias o permitirem.

Muitos sistemas educativos têm antecipado a dificuldade dos alunos mais desfavorecidos para se adaptarem à nova realidade. Mas o encerramento das escolas pode representar uma oportunidade para combater a falta de equidade, diz o diretor do departamento de Educação e Competências da OCDE, Andreas Schleicher. Para ler no EDULOG.

Entre os 27 países da União Europeia, apenas Portugal e Malta tomaram, até agora, a decisão de manter as escolas fechadas até ao final do ano letivo. Na Dinamarca, creches e escolas primárias abriram esta quarta-feira, os restantes níveis de ensino abrem a 10 de maio.

Na Noruega, os estabelecimentos de ensino, inclusive as universidades, abrem a 27 de abril. A Suíça pondera a reabertura das escolas no final deste mês.

Em Pequim, as escolas secundárias reabrem a 27 de abril para preparar os alunos para os exames de acesso ao ensino superior. O ensino básico reabre a 11 de maio. Jardins-de-infância, universidades e escolas de ensino profissional continuam fechados. Notícia da TSF.

Transcrição do EDULOG Express – Fundação Belmiro de Azevedo | Serviço público de informação

Foto_ fonte: Jornal de Notícias

Haverá sempre um antes e um depois

Jorge Diogo Oliveira, Coordenador do Centro Qualifica da Profisousa, 15 de Abril 2020 | Edição Carlos Ribeiro | Praça das Redes.

O Centro Qualifica da Profisousa, em Paços de Ferreira, que desenvolve a sua intervenção territorial em todo o Tâmega Sousa, já interagia com os adultos da região através de meios de comunicação muito diversificados. Mas, como afirmou Jorge Oliveira recentemente a uma televisão local, “nessa fase tudo começava com uma relação presencial, só posteriormente realizávamos o acompanhamento a distância em várias modalidades. O nosso problema não é tanto dar continuidade aos adultos que já estão em processo ou formação, as dificuldades irão surgir com os novos participantes”.  E aqui está uma excelente problematização de um novo quadro de relacionamento que o Coordenador do Centro aqui nos apresenta.

Haverá sempre “um antes e um depois” do Covid-19 – é o que me ocorre quando reflito acerca das vicissitudes que vivemos hoje. Assim será também com o Centro Qualifica que coordeno e com todos os outros, com as nossas equipas, com o trabalho que desenvolvemos antes, durante e depois desta crise. Assim será com os formandos e formandas, que apostam, ou pretendem vir a apostar, no aumento das suas qualificações.

Experiência com emigrante

O Centro Qualifica da Profisousa procurou desde o início dar continuidade ao acompanhamento dos candidatos em processos de RVCC neste formato a distância, com o mesmo rigor e empenho com que sempre trabalhou. A transição fluiu com alguma naturalidade, pois já era habitual a troca de documentos, orientações e informações por via eletrónica. Também já estávamos a experienciar o acompanhamento a distância com uma candidata que emigrou. Contudo, era apenas uma experiência, que não tinha em vista a substituição de todo um processo.

Uma realidade diferente

Até então não havia algo que nos fizesse crer que seria assim do início até ao fim. Haveria de chegar sempre o dia em que nos reuniríamos, presencialmente, sem “tropeções” pela falta de sinal de internet, pela câmara que não funciona, pelo facto de o filho precisar do computador à mesma hora que a mãe, porque tem uma aula síncrona… Hoje, a realidade é diferente! Vivemos cada vez mais o momento presente, pois o futuro é incerto, prevalecendo a esperança que em breve tudo voltará ao “normal”.

Maior autonomia e responsabilização

Não obstante as dificuldades que a formação a distância possa apresentar, e embora surja para muitos apenas como uma resposta em tempos crise, o seu potencial é inegável e não estamos a fazer nada de novo: “a roda já foi inventada!” Esta experiência forçada poderá levar a uma mudança de paradigma e justificar ser uma alternativa a manter, para quem não tem tanta disponibilidade para se deslocar às entidades promotoras de formação, pois confere uma maior autonomia aos participantes, por um lado, e uma maior responsabilização sobre os processos que abraçam, por outro.

Complementaridade

É preciso, pois, muita disciplina de ambas as partes: do técnico/do formador e do formando. Na minha opinião, mas é só a minha opinião (a opinião de quem prefere o contexto de sala de formação), o espaço virtual não substitui nem pode substituir o espaço físico. Porém, convivo plenamente com a sua complementaridade, se de alguma forma for possível.

Trabalhar com a diversidade

Do ponto de vista de Isabel Amorim, TORVC no CQ da Profisousa, “o papel do técnico sempre se caracterizou por uma flexibilidade e plasticidade notáveis. Sabemos que trabalhamos com pessoas com pontos de partida, recursos, rotinas, disponibilidades e aspirações diversas. Como já vem sendo habitual, temos de adaptar e redirecionar a nossa ação e orientação no sentido de melhor correspondermos à situação que o momento exige, assim como às projeções de futuro dos nossos candidatos. A intervenção do TORVC deve, obviamente, manter a proximidade, a disponibilidade e a empatia para com o candidato que orienta”.

Isabel Amorim – TORVC

Empoderamento

E Isabel Amorim destaca “O empoderamento do candidato é muito importante, daí que devamos reforçar sempre a sua autonomia, para que possa aceder às ferramentas necessárias e se apropriar de forma significativa da construção do seu trabalho e da(s) mudança(s) que pretende para si. Estas premissas são mantidas, agora, obrigatoriamente, mediadas por outros meios e recursos mais tecnológicos.”

Acreditamos que neste esforço conjunto continuaremos a assegurar um trabalho de confiança, consistente e fidedigno no que toca à educação e formação de adultos.

Jorge Diogo de Oliveira

Coordenador do Centro Qualifica da Profisousa

15 de Abril de 2020

Caderno Epale-Infonet trata da função TORVC em tempo de COVID-19

Carlos Ribeiro | Praça das Redes | Ana Cacho, Júlia Bentes e Catarina Paulos e Sandro Caleira – TORVC

Lançado o primeiro Caderno da Comunidade EPALE-INFONET um documento aberto e em progressão que incorpora, nesta versão inicial, os contributos de Técnicos de Orientação, Reconhecimento e Validação de Competências. De uma forma muito espontânea os quatro exprimem a sua primeira abordagem às mudanças que a adaptação a um novo funcionamento baseado no teletrabalho e nas interacções com os adultos realizadas a distância, estão a introduzir na prática quotidiana.

Genericamente esta reflexão resulta da experiência própria e da dinâmica mais geral das equipas dos Centros Qualifica que procuram adaptar-se às novas condicionantes melhorando as práticas dos dispositivos de educação-formação e de RVCC para co-construir localmente territórios capacitantes

I – A ADAPTAÇÃO ÀS NOVAS CONDIÇÕES

Questionámos os profissionais que desempenham funções TORVC na seguinte base:

  O que é idêntico ao que já era concretizado no Gabinete, atrás da secretária?  
  O que é idêntico, mas agora realizado de forma diferente, com outros meios?  
  O que é levado a efeito, agora nas condições a distância, que antes não constava nas tarefas do TORVC e que agora se tornou absolutamente indispensável?  

II – OPINIÕES – TESTEMUNHOS

As respostas obtidas foram as seguintes:

JÚLIA BENTES Técnica de Orientação, Reconhecimento e Validação de Competências Idêntico ao que fazia atrás da secretária: e-mails, registos no SIGO, telefonemas (excepto que uso o telefone pessoal).   Idêntico, mas realizado de forma diferente: o acompanhamento de grupos e de candidatos individualmente na construção da narrativa autobiográfica e preparação para júri (por Hangouts, Hangouts meeting…).   3. Novidades: organização de materiais e atividades para permitir/potenciar participações por intermédio de videoconferência e Google classroom    
Julia Bentes | MAFRA
CATARINA PAULOS Técnica de Orientação, Reconhecimento e Validação de Competências   Não há assim tantas diferenças, uma vez que o trabalho de proximidade tem de continuar a existir, agora mediado por plataformas digitais. Mas as soft skills têm que continuar a existir: empatia, escuta ativa, disponibilidade, reforço, empoderamento…   Eu já antes utilizava o Moodle nos processos de RVCC e contacto por email desde sempre. Isto, em termos de acompanhamento de adultos em processos de RVCC.   Já em termos de orientação ao longo da vida (OLV) não sei responder, pois no CQ onde trabalho, este eixo de intervenção encontra-se em stand-by, em virtude de não estarmos a receber inscrições.  
Catarina Paulos | LISBOA
SANDRO CALEIRA Técnico de Orientação, Reconhecimento e Validação de Competências   O acompanhamento (motivacional) dos utentes em processo, A gestão interna de processos, quer de novos utentes quer de utentes que integram processos ou formações complementares ao mesmo (SIRV, Bases dados Excel, Emails, Tlmv são as “ferramentas” desta tarefa). A leitura de PRA`S.   As sessões de preparação de júri, as inscrições na rede valorizar (serão neste período realizadas on-line ou por envio de dados via email), o acolhimento (entendendo-se diagnóstico) será feito à distância e por meio de uma entrevista telefónica ou por vídeo conferência, a utilização de assinatura digital passa a ser frequente.   A utilização de plataformas digitais enquanto ferramenta de trabalho entre equipa de RVCC e formando. A transformação e criação de materiais ajustados a esta (distante) realidade que obriga a uma reformulação de muitos dos materiais já existentes. A necessidade de criar materiais que sejam apelativos ao utente do ponto de vista da sua consulta, interpretação e do seu papel orientador. A preocupação em operacionalizar a validação de competências à distância de uma forma que possibilite ao técnico ter a (maior) certeza possível que de facto foi o utente que desenvolveu o seu PRA e que permita, por outro lado, ao utente ver reconhecidas todas as competências que trabalhou por parte dos seus orientadores.  
Sandro Caleira | FAIAL
ANA CACHO Técnica de Orientação, Reconhecimento e Validação de Competências   O que é idêntico ao que já era concretizado no gabinete, atrás da secretária:Inscrições “à distância”: e-mail nós enviamos a ficha de inscrição, que é devolvida preenchida com cópia do Certificado de Habilitações. No dia de “Acolhimento” trazem os originais (C.H. e C.C.) e confirmamos as informações.Dúvida: neste momento em que não existem as sessões presenciais de “Acolhimento”, apenasconseguimos confirmar a informação via e-mail…Acompanhamento RVCC: e-mail (envio e receção de informação); leituras, esclarecimentos;Organização do Portefólio: e-mail (envio e receção de informação – Portefólio Digital).   O que é idêntico, mas agora realizado de forma diferente com outros meios:Acolhimento: sessão de grupo em plataforma digitalOLV: sessão de grupo em plataforma digitalRVCC: sessão de grupo em plataforma digital; sessões individuais com e-mail e em plataforma digital;Validações: Sessões de Grupo – Equipa em plataforma digital;Certificações: sessões de Grupo/Equipa-candidato em plataforma digital.Dúvida: neste momento estamos ainda a estabilizar/sistematizar quais as plataformas digitais que usaremos. A única que estamos a utilizar de forma oficial enquanto equipa é a Microsoft Teams.   O que é levado a efeito agora nas condições à distância, que antes não constava nas tarefas do TORVC e que agora se tornou absolutamente indispensável:Sessões de esclarecimentos/acompanhamento:Sessões de Grupo – Acolhimento, OLV, Descodificações;Sessões de Validação;Sessões de Certificação;Formação Complementar (interna e externa). Tudo isto com recurso a plataformas digitais.  
Ana Cacho | SETÚBAL

 

 

Da Nuvem e de Juno (e dos seus indesejados frutos…)

Artur José Vieira, 9 de abril de 2020

(Coordenador do Centro Qualifica do Agrupamento de Escolas Damião de Goes, Alenquer)

Trata-se de um texto de opinião; o seu conteúdo não vincula o Centro Qualifica nem, muito menos, a sua entidade promotora…

Conta a lenda grega – que chegou até hoje através dos romanos – que Íxion (o primeiro humano a assassinar um familiar, gente fina, já se vê…), após matar o sogro, foi acolhido no Olimpo pelo próprio Zeus e aí pretendeu conquistar a esposa do Pai dos deuses, Hera (rebatizada pelos romanos de Juno). Conta a tradição que Zeus lhe enviou uma nuvem, com a exata aparência de Hera, pela qual Íxion se perdeu de amores…

Um sol salvador

A analogia surgiu-me como evidente, ao acompanhar com entusiasmo e franco otimismo, os testemunhos de tanta gente, da rede Qualifica e da Educação de Adultos ao ensino formal de jovens e crianças: de repente, no meio da tragédia, mais do que a Luz ao fundo do túnel, um novo Sol que tudo cura e tudo salva: o Ensino a distância e as tecnologias e plataformas digitais. Eu incluído, claro está…

Desenrrascanço ou a sério?

Não estamos todos a «descobrir» o Ensino a distância (E@D): nem as Escolas, nem as Universidades, nem os Centros Qualifica. Estamos, muito lusamente, a «desenrascar», a usar procedimentos e meios de comunicação e interação a distância, contornando o isolamento forçado. Mas o ensino a distância não é exatamente isto que vemos agora: quando existe, e existe em alguns lados e muito bem feito, ele é um Modelo Pedagógico Integrado, com coerência entre objetivos e finalidades, currículos, metodologias, dispositivos de avaliação, organização de tempos, adequação aos públicos-alvo, enfim um modo coerente de organização do Ensino para um tipo específico de Aprendizagem. No caso dos processos de RVCC no quadro do Programa Qualifica, há ainda especificidades que tornam tudo um pouco mais complexo.

Na Ágora de Atenas

Algumas delas: na verdade, de um certo ponto de vista mais rigoroso, o RVCC não é, tipicamente, um processo de ensino-aprendizagem. É-o também, e deverá sê-lo: mas na verdade, em muitos aspetos, é quase o seu oposto. É um encontro entre dois mestres e, em simultâneo, dois discípulos. O processo de Reconhecimento é, por natureza, um diálogo entre «quase iguais»; mais adequado à intimidade e proximidade de um Sócrates (o Antigo: que irritação, a necessidade de esclarecer…), a subtileza da Ironia e da Maiêutica, fazendo nascer o caminho para a desocultação do aprendido (ao longo da Vida). Mais do que a simples tradução da linguagem de Um para a linguagem de Outro. Que seja este diálogo nos pórticos da Ágora de Atenas, aproveitando a frescura da sombra, ou à velocidade da luz, no mais updated gadget, é irrelevante. A nuvem é um simulacro. 

Mestre ourives ou formador turbinado

O mesmo da construção da narrativa (auto)biográfica: o trabalho meticuloso de alargar, aprofundar e enriquecer o seu conteúdo e construir o sentido (evidência da competência) requer muito mais da minúcia, paciência e precisão de um mestre ourives, adoçando e moldando o metal para produzir uma filigrana de sentidos e coerência, do que a elevada performance de um formador turbinado em inúmeras plataformas, ambientes e recursos digitais. O objeto do amor é Juno. A nuvem é bela, sedutora e, afinal, obra divina. Mas a amada é Hera.

Centauros, os frutos indesejados

Deixemo-nos, pois, seduzir, encantar, até mesmo apaixonar pela nuvem. Mas o nosso amor deverá ser todo para Juno. Senti um arrepio quando li: «A qualificação à distância de um clique!» – já passámos por isso.

Voltando à lenda: Íxion copulou com a nuvem e dessa união resultaram frutos indesejados, os Centauros, metade homens, metade cavalos. Símbolos da força bruta, insensata e cega. Nestes tempos de isolamentos e tragédias, tratemos de continuar a ser sensatos e clarividentes. E ativos, como felizmente estamos.

Editado, subtítulos, Carlos Ribeiro – Praça das Redes