A necessidade aguça o engenho, o trabalho em rede faz o resto
Carlos Ribeiro | Praça das Redes 29 de abr. de 20
Quantas vezes não acontece? Uma necessidade emergir no campo da ação mas os recursos para a superar com rapidez e eficácia serem dramaticamente escassos. E quando o desnível entre ambos surge como insuperável, as consequências são óbvias: desiste-se e encolhe-se os ombros. Afinal não somos nem super-homens nem super-mulheres. Mas alto! Alto aí. Nem sempre é assim. Nem todos encolhem os ombros. Se a satisfação da necessidade em causa constituir um benefício para todos, então ir procura de soluções torna-se um imperativo. Querem saber como é que se faz? Então leiam esta história de combinação criativa entre voluntarismo e acão colaborativa, porque vale a pena.
Texto em baixo de Etelberto Costa | Editado CR
Muitos por dever de profissão e de amor aos seus alunos reagiram nos primeiros dias da quarentena, ainda com aulas e serviços a decorrer, buscando solucionar o essencial: manter a comunicação ininterrupta e garantir que a aprendizagem continuasse.
Como nas Descobertas
Esse movimento, que não sei se seremos capazes de registar para a posteridade, contou com dois enormes fatores reconhecidamente. o voluntarismo nato e sem barreiras que nos impele a fazer o que tem de ser feito, mesmo não o sabendo fazer, como os nossos antepassados das Descobertas fizeram, aprendendo fazendo. E a ação colaborativa. Que mesmo quando não se sabe, encontra-se sempre quem saiba e ensine, porque existe a vontade firme e determinada de aprender. Existindo uma razão ou causa tudo é possível quando as pessoas se juntam em torno dum objetivo comum.
Traduzir e adaptar um manual
A história da tradução e adaptação para a língua portuguesa do manual produzido pelo Beijing: Smart Learning Institute of Beijing Normal University, a pedido da Unesco é, na prática, o resultado desse encontro de vontades para alcançar um objetivo comum. Editado pela UNESCO em 20 março 2020, mostra como a China conseguiu manter o seu ensino em funcionamento com os condicionalismos da pandemia.
Sendo um conjunto de lições e de boas práticas que podem ser úteis à nossa comunidade de ensino e formação, dos jardins de infância ao ensino superior, as pessoas que aderiram espontaneamente a este “voluntarios4learning” perceberam, de imediato, o seu alcance.
Uma equipa guerreira
Uns convidados porque são guerreiros de causas comuns, outros porque o movimento que se gerou nas redes sociais lhes levou informação para, voluntariamente, estar com ele e participarem. Evidentemente que são tudo pessoas com competências reconhecidas para um trabalho desta natureza e que, muito relevante, asseguravam diversidade do universo educativo e formativo. É que, apesar das ferramentas de tradução estarem disponíveis online há que observar princípios de coerência a cada capítulo. Cada capítulo ou setor foi escolhido pelo próprio ou por sugestão do coordenador. Sem hesitações.
Uma comunidade informal
Quem organiza e lança o desafio tem que ter em conta as necessidades para que o trabalho seja bem-sucedido e a comunidade informal, assim constituída, sinta refletido o seu esforço e dedicação. Neste caso, não basta ter competência para traduzir.
As três condições para o sucesso
Três condições são chave para que o empreendimento tenha sucesso:
A primeira, obviamente, é ter o apoio e autorização do editor e promotor, neste caso da Unesco. Foi o menos difícil.
A segunda, consiste em assegurar que a harmonização e coerência do texto traduzido sofra, no processo de revisão, as adaptações ao léxico que é usado em Portugal e aceite pela comunidade de profissionais do setor. Uma tarefa muito difícil e, talvez, impossível. Sendo este manual de apoio à aprendizagem flexível durante a Interrupção do ensino regular: – a experiência chinesa na manutenção da aprendizagem durante o surto de COVID-19 – abrangente no sentido de aprendizagem ao longo da vida “do berço ao túmulo”, essa harmonização e coerência tem que assentar em decisões que, algumas vezes, vão chocar com o léxico comum e vulgar em uso. O que ficou é de nossa responsabilidade e o erro foi aceite de persistir.
Por fim a terceira, não menos despicienda condição, é cuidar da paginação, grafismo e imagem mantendo a qualidade da origem e da fonte. Completar um trabalho desta natureza surge como uma tarefa bem difícil, apenas realizável através da competência aliada à dedicação. Fomos felizes na opção!
Adamastor em Tomar
Felizmente que o grupo encontrou, para as duas últimas condições – chave acima enunciadas, uma equipa dedicada e bem resiliente no Laboratório de Inovação Pedagógica e Educação a Distância do Instituto Politécnico de Tomar que contou com o apoio da Unidade de I&D Techn&Art do mesmo Instituto. Resistiram à adversidade das duas últimas semanas quando, perante um exercício muito superior (qual Adamastor!) ao inicialmente pensado o resolveram redobrando o esforço e o tempo, que deveria ser, familiar e de descanso em ambiente de confinamento decretado no quadro do estado de emergência.
Reconhecimento e agradecimento
Desde o início que se contou com a APDSI para a Localização e disseminação do manual traduzido. Essa força de promoção foi altamente reforçada quando a rede de bibliotecas escolares se juntou ao projeto.
Na hora de devolver à Unesco o trabalho realizado encontrámos reconhecimento e agradecimento.
E, na hora de disseminar e divulgar sentiu-se a força do trabalho em rede, com cada um a explorar os seus canais de comunicação.
Histórias deste tempo que passa
Ação colaborativa bem-sucedida, conclui-se. O que fica de mais importante é o gesto voluntário de estar e partilhar. Juntar-se num esforço coletivo que, tendo as suas dificuldades é altamente recompensador e pode fazer perdurar um sentido comum, em torno de um objetivo comum. Talvez uma “estória” que fica, deste tempo que passa, sob uma nunca até agora vivida experiência de confinamento da Humanidade, sustentada e capacitada na tecnologia e no conhecimento que hoje detém.
Etelberto Costa, coordenador do agrupamento “voluntários4learning”, LLLPlatform-poolexperts// Epale(PTAmbassador)//GM-apdsi-CQE //Futuraliastrategist
Nota à Versão Portuguesa
Manual de Apoio à Aprendizagem Flexível durante a Interrupção do Ensino Regular:
A Experiência Chinesa na Manutenção da Aprendizagem durante o Surto de COVID-19.
Esta versão foi produzida com o apoio da UNESCO numa ação colaborativa coletiva e voluntária de um grupo de portugueses ligados ao meio académico, ainda durante a vigência do Estado de Emergência Nacional, por força da pandemia causada pelo COVID-19.
Apesar de todo o empenho, profissionalismo e rigor das pessoas envolvidas, o trabalho não está livre de erros dada a necessidade de disponibilizar rapidamente o manual e o facto da tradução e adaptação terem sido realizadas por voluntários e não por profissionais da tradução.
A versão portuguesa contou com a coordenação de Etelberto Costa (Lifelong Learning Platform) e do Laboratório de Inovação Pedagógica e Educação a Distância do Instituto Politécnico de Tomar. De salientar o apoio da Unidade de I&D Techn&Art do Instituto Politécnico de Tomar na paginação do manual e da Rede de Bibliotecas Escolares do Ministério da Educação e da APDSI (Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação) na sua disseminação.
Tradução e Adaptação
Ana Paula Afonso, LE@D, Universidade Aberta
Anícia Trindade, independente
Célio Gonçalo Marques, Instituto Politécnico de Tomar
Daniela Vieira dos Santos, independente
Dora Cristina Santos, independente
Etelberto Lopes da Costa, EU LLL Platform – Pool of Experts
João Correia de Freitas, Universidade Nova / FCT
Maria Ester Ramos, Onoma Lda
Maria José Sousa, ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa
Paula Tomás, Paula Tomás Consultores
Pedro Cabral, FCCN, FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
Tânia Avelino, ISQ – Instituto de Soldadura e Qualidade
Revisão
Laboratório de Inovação Pedagógica e Educação a Distância do Instituto Politécnico de Tomar (Célio Gonçalo Marques, Ana Marta Rodrigues, António Manso, Hélder Pestana e Margarida Oliveira)
Rede de Bibliotecas Escolares, Ministério da Educação (Ana Paula Ferreira)
InovLabs (Cristina Charneca e Nuno Charneca)
Paginação Regina Delfino (Techn&Art, Instituto Politécnico de Tomar)
Divulgação
APDSI – Associação para a Promoção e Desenvolvimento da Sociedade da Informação
Rede de Bibliotecas Escolares, Ministério da Educação