A Torre de Babel, teatro na A Barraca

Hélder Mateus da Costa | Texto e foto A Barraca | divulgação

Segundo a Bíblia, a Humanidade era uniforme a seguir ao Grande Dilúvio, e falavam um único idioma.Foram para o Oriente e decidiram construir uma cidade e uma torre muito alta para alcançar o céu.

Deus não gostou, misturou as suas vozes para que não se pudessem entender e dispersou-os por todo o mundo.

Surpreendidos e temerosos, os povos acobardaram-se e submeteram-se durante séculos à Fúria Divina.

Sem um ai, sem um queixume.

E aconteceu Portugal.

Invocando Deus, Deuses e implorando milagres, desfraldando bandeiras e brandindo a Cruz e a Espada, unimos o Oriente e o Ocidente.

Mas as catástrofes continuaram e perante o actual cataclismo, os países organizaram Abrigos para se defenderem e garantiram o Futuro.

Decidimos tratar esta tragédia em tom de sátira, linguagem que nos parece apropriada para o desvario humano e civilizacional que atravessamos.

Sucedem-se vários tipos de animação teatral e musical, o HUMOR é dominante, mas a comunicação internacional vai desaparecendo e o desespero instala-se.

Nesta distopia, o símbolo do ABRIGO- SALVADOR não funciona e termina em implosão.

Mas… renasce um forte sinal de esperança…

TEXTO E ENCENAÇÃO

Hélder Mateus da Costa

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Utilizar mais e melhor as TIC na educação de adultos

É já no dia 18 de Julho que se realiza no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa o seminário de divulgação dos resultados do projecto StepUp que decorreu nos últimos anos com o apoio do Erasmus+. Um conjunto de soluções apoiadas em ferramentas de fácil utilização foram organizadas e desenvolvidas por um grupo alargado de parceiros europeus entre os quais consta o IEUL que tem investido em iniciativas inovadoras neste campo particularmente desafiante das TIC na Educação de Adultos.

Fernando Costa que nas suas funções de Embaixador EPALE tem vindo a sensibilizar os diversos actores da educação de adultos para a importância das novas formas de aprendizagem integra a Equipa de Projecto com Paula Guimarães e Joana Viana, todos do IEUL com fortes ligações ao e-learning e á literária digital de adultos.

O projecto que é apresentado no site da iniciativa nos termos abaixo descritos, assume objectivos estruturantes na educação e formação de adultos ao eleger os objectivos fundamentais de “fazer uma melhor utilização das TIC para permitir o acesso a mais pessoas, explorar novas oportunidades para o ensino e a formação a distância e, em última instância, melhorar a qualidade da formação que é proporcionada“.

“Uma educação e uma formação de qualidade são fatores importantes para promover um desenvolvimento inteligente, sustentável e inclusivo. A educação de adultos pode contribuir significativamente para atingir esse objetivo. Sendo já uma referência explícita na agenda da UE desde 2006, a qualidade da aprendizagem dos adultos é sublinhada, em 2011, na Renewed European Agenda for Adult Learning, apontando em particular para a importância de fazer uma melhor utilização das TIC para permitir o acesso a mais pessoas, explorar novas oportunidades para o ensino e a formação a distância e, em última instância, melhorar a qualidade da formação que é proporcionada.

O desenvolvimento profissional e a qualidade dos educadores e formadores são, nesse contexto, vetores importantes para melhorar a qualidade da aprendizagem dos adultos, contribuindo de forma significativa para a aquisição e o desenvolvimento de conhecimentos, capacidades e valores. Assumindo cada vez mais o papel de estimular e facilitar as aprendizagens de cada um, é necessário que os formadores adquiram novas competências profissionais para trabalhar em novos ambientes de aprendizagem on-line, para incluir estratégias de aprendizagem baseadas nas tecnologias de informação e comunicação (e-learning ou sistemas híbridos) e para orientar e apoiar os alunos adultos ao longo do seu processo de aprendizagem e de desenvolvimento.

Algo que é especialmente desafiador uma vez que muitos contextos de educação de adultos não dispõem ainda de formadores de adultos qualificados, isto é, formalmente preparados, sendo muitas vezes assegurados por profissionais, ainda que motivados, sem grande experiência com alunos adultos ou sem uma preparação específica adequada, principalmente para o uso do potencial pedagógico das tecnologias digitais hoje disponíveis.

O grupo-alvo do projeto AAA-StepUp2-ICT são todos aqueles profissionais que de alguma forma lidam com adultos e que, por isso, podem ter um impacto direto sobre as suas aprendizagens e o seu desenvolvimento pessoal e social. O projeto AAA-StepUp2-ICT centra-se precisamente no fortalecimento da dimensão pedagógica do uso das tecnologias digitais dos educadores de adultos nos seus contextos ocupacionais específicos”.

Fernando Costa | Foto IEUL
Mérito dá fama e Alberto Melo vai estar no Hall of Fame

Figura central da Educação de Adultos e da Educação Permanente em Portugal, Alberto Melo não será apenas um representante do país neste dispositivo de valorização do mérito e dos percursos relevantes ao serviço da Educação que é o IACE Hall of Fame, Alberto Melo representará toda uma corrente europeia e internacional pelo facto de ser uma referência teórica e prática em muitos países nos quais os actores da educação permanente não conseguem desligar as dinâmicas educativas da mudança social e da cidadania activa.

É natural que os portugueses sintam nesta distinção internacional atribuída ao actual Presidente da Comissão Directiva da APCEP – Associação Portuguesa para a Cultura e Educação Permanente, cuja formalização terá lugar em Belgrado já no próximo mês de Setembro, uma valorização das orientações e das experiências que Portugal colocou em prática, com sucesso, particularmente desde a entrada em funcionamento do Grupo de Missão para o Desenvolvimento da Educação e Formação de Adultos que Alberto Melo liderou. Mas os méritos de Alberto Melo vão para além das políticas e das estruturas que coordenou como a ANEFA* e a Direcção Geral Educação Permanente e estendem-se a outras dimensões mais universais tais como a transformação social e territorial espelhada nas ações relacionadas com o desenvolvimento local e com a Associação IN LOCO em particular.

  • SOBRE A ANEFA

«Uma política de educação de adultos que visa, em simultâneo, corrigir um passado marcado pelo atraso neste domínio e preparar o futuro deve assegurar respostas eficazes e adequadas que garantam a igualdade de oportunidades, permitam lutar contra a exclusão social através do reforço das condições de acesso a todos os níveis e tipos de aprendizagem, ao mesmo tempo que asseguram a transição para a sociedade do conhecimento. »

Os elementos mais precisos desta distinção foram noticiados na página da APCEP nos seguintes termos:

“O HALL OF FAME da Educação Permanente e de Adultos (International Adult and Continuing Education HALL OF FAME) foi fundado em 1996 “para homenagear líderes nos campos da educação permanente e da educação de adultos e para servir como registo e inspiração para a próxima geração de protagonistas da Educação Permanente”. Assim, todos os anos, várias figuras da Educação Permanente e de Adultos são selecionadas para inclusão no IACE Hall of Fame.O HALL OF FAME está sediado na Universidade de Oklahoma, Centro de Educação Permanente (OCCE) e, de início, estava centrado nos Estados-Unidos da América; passou mais tarde a incluir cada vez mais membros de outros países. A primeira cerimónia de tomada de posse fora dos EUA ocorreu em 2006, em Bamberg, Alemanha. Académicos, educadores e políticos constituem a gama de profissionais distinguidos pelo HALL OF FAME. Desde 1996, foram já agraciados 250 membros de 27 países, entre os quais, Paulo Freire, Julius Nyerere, Adam Ouane, Budd Hall, Peter Jarvis, Roby Kidd, Malcolm Knowles, Han Knox, Ekkehard Nuissl, , Alan Tuckett, André Schlaefli, Sturla Bjerkaker…A próxima cerimónia de tomada de posse terá lugar na Faculdade de Andragogia da Universidade de Belgrado, Sérvia, a 19 de Setembro, estando nomeado para futuro membro Alberto Melo, Presidente da Comissão Directiva da APCEP (Associação Portuguesa para a Cultura e Educação Permanente)”.

Elementos Curriculares

Alberto Melo

Alberto Eduardo da Silva e Melo nasceu em Lisboa, em 1941. Licenciou-se em Direito (1963), na Universidade de Lisboa, e concluiu, em 1971, na Universidade de Manchester, uma Pós-graduação em Educação de Adultos. Integrou a Comissão Instaladora da Escola Superior de Educação de Faro, em Dezembro de 1983, ficando desde então ligado ao Instituto Politécnico de Faro e à Universidade do Algarve, onde leccionou e, entre 2000 e 2007, coordenou o Gabinete do Programa Europeu SÓCRATES.

Entre 1986 e 1998, dirigiu uma associação de desenvolvimento local – In Loco – com intervenção no interior rural do Algarve.Antes disso, tinha trabalhado em França: primeiro, como Consultor na OCDE, em seguida, como Conselheiro na Delegação Permanente de Portugal junto da UNESCO e, por fim, como Professor na Universidade de Paris IX. Também residiu em Inglaterra, onde foi docente na Open University e na Universidade de Southampton.

Foi responsável por diversas missões, nacionais e internacionais, em áreas como desenvolvimento local integrado, cidadania activa, democracia participativa, educação e formação de adultos. Relativamente a este último sector, foi por duas vezes responsável pela elaboração e implementação da política pública, no interior do Ministério da Educação, primeiro como Director-Geral de Educação Permanente (1975-76) e, mais tarde, como Encarregado de Missão do Grupo responsável pela implementação do Projecto de Sociedade SABER+ (1997-99), que esteve na origem nas actuais medidas Cursos de Educação e Formação de Adultos e Centros Novas Oportunidades, entre outras.

Em finais de Junho de 2007, foi nomeado, em comissão de serviço, Delegado Regional do IEFP, I.P., no Algarve, cargo que ocupou até Setembro de 2010, tendo em seguida regressado à Universidade, como Assessor do Reitor, passando à aposentação por limite de idade em finais de Janeiro de 2011. É actualmente Presidente da Comissão Directiva da APCEP.

Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos – 10 de Julho de 2019, com recurso a: Página de Facobook da APCEP; Sítio do Livro.pt; CES – UC e FotoIE da UMinho.

Europa: eres cómplice de Bolsonaro

Eliane Brum*

Jul 3 2019

Los líderes han desechado el futuro para obtener beneficios a corto plazo

El tratado firmado el 28 de junio entre la Unión Europea y el Mercosur señala el día internacional del cinismo. O el día en que los líderes europeos desecharon la Amazonia para vender más coches y vinos en un mercado de 260 millones de personas. Al menos que la población sea consciente: comerá buey proveniente de la deforestación y pondrá en el estómago de los niños productos contaminados con pesticidas, varios prohibidos en Europa.

El Ministerio de Agricultura lo dirige Tereza Cristina, una ganadera conocida en Brasil como la “musa del veneno” por sus servicios prestados a las corporaciones de pesticidas. Desde la investidura del ultraderechista Jair Bolsonaro, la media de aprobación de venenos ha sido de más de uno al día. Por lo que las agencias de periodismo de investigación Repórter Brasil y Agência Pública decidieron crear el @Robotox, un robot que tuitea a cada autorización: desde enero, ya son 239 pesticidas nuevos.

La ganadería es la principal causa de deforestación de la selva amazónica. Matadero del mundo, Brasil exportó 1,64 millones de toneladas de carne en 2018. El mismo año, se registró el mayor índice de destrucción de la Amazonia de la década. En 2019, el mes de mayo mostró un aumento del 34% con relación al de 2018: en solo un mes, desaparecieron 739 kilómetros cuadrados de selva, el equivalente a dos campos de fútbol por minuto. La principal meta de Bolsonaro es liberar la explotación agropecuaria y minera en las tierras protegidas de los pueblos indígenas. Para ello, cuenta con el ministro contra el medio ambiente, Ricardo Salles, condenado por crimen ambiental, que se ha dedicado con éxito a desmontar todo el sistema de protección.

Poco antes de la reunión del G20, Emmanuel Macron afirmó que no firmaría ningún tratado si Brasil dejaba el Acuerdo de París. Angela Merkel dijo que estaba “muy preocupada por la Amazonia” y que tendría una “conversación clara” con el colega brasileño. Bolsonaro braveó: “[Los alemanes] tienen mucho que aprender de nosotros. No he venido aquí a que otros países me amonesten”. El ministro del Gabinete de Seguridad Institucional, el general Augusto Heleno, fue más maleducado: “¿Quién tiene moral para hablar de la conservación del medio ambiente de Brasil? Que vayan con los de su calaña”.

Todo para engañar a los tontos. El discurso de que Brasil tendrá que comportarse es una solemne bobada. El acuerdo entre la Unión Europea y el Mercosur lo hilvanaron los Gobiernos anteriores. Aprobarlo ahora, cuando Brasil destruye con método y objetivo la mayor selva tropical del planeta y Bolsonaro encima reacciona como un cowboy ante la emergencia climática, es humillante. Como dijo Carlos Rittl, ambientalista conocido por su moderación: a partir de ahora, la Unión Europea comparte con Bolsonaro la responsabilidad de lo que le suceda a la selva y a sus pueblos. 3 JUL 2019.

*Eliane Brum (Río Grande do Sul, 23 de mayo de 1966) es una periodista, escritora y documentalista brasileña. Se formó en la Pontificia Universidad Católica de Río Grande do  Sul (PUCRS) en 1988 y ganó más de 40 premios nacionales e internacionales de reportaje.En El País, 03.07.19. Traducción de Meritxell Almarza.
Zé do telhado em Lousada

Helder Costa, dramaturgo. Foto ACERT

Assisti ontem a um espectáculo de rua, muito especial.Mais 70 actores e figurantes e mais de 500 pessoas convenientemente sentadas e outras muitas de pé.
O tema era a vida do Zé do Telhado, o bandoleiro social que terá sempre uma eterna fama de justiceiro enquanto a sociedade continuar neste imobilismo anti -partilha e totalmente classista.
O espectáculo é magnifico, recheado de situações de verdadeiro risco artistico , com humor, inteligente e até sábio!
Parabens a toda esta produção – verdadeiro exemplo da necessria geminação entre a Arte e a acção Social.
Caminho justo porque se a Cultura não se interessa pela Sociedade, é natural que a Sociedade vire cotas à Cultura,
Parabens aos grupos Jangada e Trigo Limpo, com destaque para o encenador José Rui e Xico Alves, verdadeiro mestre de cerimonias no final apoteótico.
Neste tipo de espectáculos não é normal destacar actores.
Mas quero referir o Leite e a sua máscara de louco de bom senso, o que ficou muito bem ao actor em questão. .  

TEXTO TRIGO LIMPO – ACERT sobre a peça.

Ficha Técnica. Textos do autor e encenador

Coprodução Jangada Teatro com Trigo Limpo teatro ACERT

O texto teatral “Zé do Telhado” de Hélder Costa, criado pelo dramaturgo para o Teatro A Barraca em 1978, vai ser recriado num espetáculo teatral de rua que, desde o início do ano, está em preparação. Os ensaios estão a decorrer em Lousada, sendo a construção do engenho cénico e cenografia realizada na Oficina das Artes Criativas de Tondela.

Uma narrativa inovada para se adequar às características próprias de um espetáculo de rua. Uma viagem pela vida do herói popular Zé do Telhado e por um período conturbado da História de Portugal. As Guerras Liberais que, no século XIX, opuseram os dois irmãos, Pedro e Miguel, enquadram historicamente as aventuras do bando de Zé do Telhado, sendo a narrativa marcada pela interação constante entre os feitos do bando comandado por o nosso herói e uma corte corrupta que seguia cegamente as instruções de alemães, franceses e ingleses, enfim, duma certa Europa da época.

Camilo Castelo Branco conviveu de perto e foi amigo de Zé do Telhado quando, ambos, estiveram presos na Cadeia da Relação, no Porto. Os seus testemunhos no livro “Memória do Cárcere”, tal como outros factos históricos, representam uma visão fantástica sobre Portugal num período igualmente marcado pela Revolução da Maria da Fonte. Uma revisitação histórica conduzida pela linguagem teatral, comprovando paralelismos surpreendentes com a atualidade.

Uma produção teatral propiciadora de mais uma aventura criativa que se adapta à arquitetura dos locais públicos, envolvendo dezenas de criadores das duas companhias e de intérpretes teatrais e musicais convidados.

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA

Coprodução: Jangada Teatro e Trigo Limpo teatro ACERT
Texto: Hélder Costa
Versão Cénica e Encenação: José Rui Martins

Interpretação: António Leite, Bel Viana, Carla Campos, Daniel Silva, Diogo Freitas, Filipe Gouveia, Luiz Oliveira, Pedro Dias, Sónia Ribeiro, Vítor Fernandes e Xico Alves
Atores amadores: Ângela Mota, Albina Ribeiro, Américo Magalhães, Américo Pinto, Ana Peixoto, Antonina Neto, António Filipe Pinto, Bino Borges, Luís Falcão, Luís Peixoto, Manuela Teixeira, Nazaré Sousa, Ricardo Moreira, Rosa Magalhães, Samuel Pinto, Sandra Paiva, Tatiana Ferreira e Teresa Oliveira

Música: José Afonso
Direção Musical: Romeu Silva (Orquestra) e Tiago Sami Pereira (Precursões)
Músicos: Banda Musical de Lousada (1) e Lousad’arrufar (2)
Participação Especial: João Afonso (Voz)

Assistência de Encenação:  Pedro Sousa, Sónia Ribeiro, Xico Alves

Figurinos: Cláudia Ribeiro
Assistente de Figurinos e Aderecista: Filipe Pereira
Mestre Costureira: Alexandra Barbosa, Marlene Rodrigues
Assistente Aderecista: Cláudia Gomes

Cenografia: Sofia Silva e Zétavares
Execução de Cenografia: Oficina das Artes Criativas – ACERT

Assistência de Cena: Pedro Sousa
Desenho de Luz: Fernando Oliveira e Paulo Neto
Operação de Som: Fred Meireles Luís Viegas
Produção e Secretariado: Alejandrina Romero, Fred Meireles, Marta Costa e Susana Morais
Desenho Gráfico: Zétavares
Fotografia: Rui Coimbra
Vídeo: Maria Nunes
Serralharia: Araufer, António Viana, Filipe Lopes, Francisco Viana, Nuno Rodrigues, Samuel Ferreira
Carpintaria: Carmoserra
Equipamento Som e Luz: Audio Globo

(1) Carlos Carvalho, Cristina Baptista, Fábio Mota, Fábio Ribeiro, Gabriel Lopes, Inês Fernandes, Joana Ferreira, João Fernandes, João Neto, Paulo Mota e Sara Costa
(2) Ângela Botelho, António dos Santos, Beatriz Teixeira, Bruno Teixeira, Davide Teixeira, Eduardo Teixeira, Francisco Bragança, Guilherme Nunes, Inês Neto, João da Cunha, José da Cunha, José da Silveira, Judite Sampaio, Leandro Ribeiro, Liliana da Silva, Miguel Ribeiro, Miguel Teixeira, Tatiana Ferreira, Tiago Magalhães

Parceria e apoio especial à produção e comunicação: Câmara Municipal de Lousada

Agradecimentos
À Câmara Municipal de Tondela, Rosicar, Quinta de Lourosa e Viana & Filhos. A José Mário Carvalho, investigador de José Teixeira da Silva pela informação disponibilizada nos depoimentos publicados nos vídeos on-line e à equipa técnica da Audio Globo.

Patrocínios: Fepsa, Lameirinho, Quinta de Lourosa, Viana & Filhos Lda.


TEXTO DO AUTOR

O Regresso do Zé do Telhado

Quando existe um Herói popular – desses que era cantado nas feiras e nos mercados – célebre em papéis de cordel, histórias aos quadradinhos (hoje, diz-se banda desenhada, a BD), também em cinema e teatro, é natural que ele reapareça de vez em quando.
O meu primeiro contacto com este bandoleiro social foi através de um pequeno conto que a minha mãe me deu quando eu andava pelas primeiras letras, e tocou- me esse personagem parecido com os heróis do “Mundo de Aventuras”.
Os anos passaram e essa memória afectiva nunca desapareceu. E quando o Augusto Boal dirigia A BARRACA a seguir ao 25 de Abril, eu insistia que ele devia trabalhar com personagens portugueses…ele acabou por perder a paciência e desafiou-me a escrever a peça e depois se veria. Coisa que fiz em dois dias, aprovação e, felizmente, um grande êxito até assinalado com o grande prémio de teatro em Sitges, Barcelona.
Muitos anos depois, o grupo Jangada desafio-me para fazer a encenação desse texto e confesso que foi dos grandes prazeres que tive na minha carreira de encenador dada a qualidade, alegria e loucura do elenco.
E agora, mais uns anos e chega o desafio para esse herói popular ir abrilhantar as ruas de Lousada e Tondela! O êxito está garantido, é evidente.
E aí regressa um grande símbolo do imaginário popular, o Robin Hood português que foi militar ao serviço do Setembrista Sá da Bandeira (a quem salvou a vida e por isso conquistou a maior condecoração do Exército de Portugal), perseguido, exilado, e lutador que veio tirar aos ricos opressores miguelistas o pão que entregava ao povo.
Bem vindo, camarada Zé do Telhado!

Hélder Mateus da Costa
Junho 2019


TEXTO DO ENCENADOR

Nesta aventura criativa, o Trigo Limpo teatro ACERT percorreu afetuosamente trilhos e encontros que há muito desejava abraçar.
O primeiro deles, na companhia de Zé do Telhado, herói popular que, tal como os já visitados noutros espetáculos — João Brandão e Viriato — entram numa trilogia que tem consentido incursões dramatúrgicas pela história do imaginário português, explorando narrativas teatrais que têm o fantástico e o onírico como dialéticas imaginativas que se prestam a ter a rua como palco.

Por outro lado, um texto de Hélder Costa criado para “A Barraca” em 1978, permite um sinal de gratidão da Jangada Teatro e do Trigo Limpo teatro ACERT a um dramaturgo e a um grupo que, desde há muito, fazem parte de uma certa matriz criativa e afetiva das duas companhias que se associam para criar este espetáculo. Uma matriz que nada tem a ver com seguidismo artístico, mas que advém das referências que permitiram às duas companhias encontrar caminhos próprios desafiadores, na abordagem de dramaturgias originais. José Afonso, criou músicas originais para o espetáculo de A BARRACA. Mais de 40 anos depois, a música de cena criada pelo nosso querido músico, ganha atualidade pela “gentil” voz de João Afonso, pela mestria dos arranjos e originais do maestro Romeu Silva e a interpretação da sua distinta orquestra. Tiago Sami Pereira, o nosso “Homem do Bombo” criou com o “Lousada a Rufar”, momentos percussivos populares que, teatralmente, adquirem dimensão epopeica e humorística. Todos eles, são construtores de magias e andanças desafiantes que acarinham criativa e experimentalmente esta produção.


Uma vez mais, o Trigo Limpo teatro ACERT saboreia uma aventura comum com outro grupo com quem tem uma relação de partilha. A Jangada Teatro passa a figurar no altar teatral casamenteiro, tal como aconteceu com outras companhias, Mutumbela Gogo (Moçambique), Teatrosfera, Chévere (Galiza), Teatro de Montemuro, TAS, Theater tri-bühne (Alemanha), Fundação José Saramago, Flor de Jara (Espanha), entre outros. Este espetáculo é também um tributo aos atores Faria Martins e Xico Alves e a todos os “jangadenses”, num ano em que a companhia celebra 20 anos a resistir com paixão pelo teatro, revisitando inovadoramente um texto que marcou o seu histórico.
Por último, não pode deixar de referir-se a equipa de atrizes e atores amadores que, com ao seu profissionalismo — sim, porque profissionalismo, no teatro, não indica uma relação remuneratória, mas antes a qualidade do desempenho e dedicação —, se revelaram talentosamente na construção do espetáculo.
Este “José do Telhado”, nesta versão de teatro de rua, confirma, pela grande envolvência de artistas locais com o elenco da Jangada Teatro e as equipas do Trigo Limpo teatro ACERT que o teatro continua a ser uma arte confluente de diversas linguagens e um exercício que, para ser coerente e autêntico, deve ser resultante de uma relação coletiva de partilha.
Com assaltos e sobressaltos, com solidariedades e entreajuda permanentes, com uma intenção incessante de denúncia social, com irreverência e, sobretudo, com um desejo de que o público se reveja no sonho que juntos vivenciámos, respiramos nos trilhos nortenhos de Zé do telhado, procurando ser loucos como ele.

Sermos, enfim, todos Zé do Telhado!

José Rui Martins
Trigo Limpo teatro ACERT

Orientar-se ao longo da vida. Desafios e perspectivas

Uma série de 3 artigos de André Chauvet na EPALE. Um primeiro sobre a informação. Um segundo sobre tomada de decisão e um terceiro sobre a capacidade de se orientar. Tradução Carlos Ribeiro

As interrogações que hoje se colocam na abordagem aos temas da Orientação implicam uma reflexão mais geral sobre os efeitos do contexto atual sobre as situações e trajetórias profissionais das pessoas: multiplicação de transições ou de rupturas, não-linearidade, imprevisibilidade. Orientar-se deixou de ser um ato pontual e passou a ser acima de tudo um processo permanente que deve ser analisado em todas as suas facetas, isto para que seja possível construir os serviços e desenvolver as práticas que sejam tão pertinentes quanto possível. Este primeiro artigo diz respeito às questões de acesso a uma informação fiável e operacional sobre o mundo do trabalho.

1- As questões de acesso a informações fiáveis e operacionais sobre o mundo do trabalho. O Decreto n.º 2019-218, de 21 de março de 2019, sobre as novas competências das regiões em termos de informação sobre as profissões e a formação profissional formaliza a transferência para as regiões dessa informação, aliás prevista no âmbito da lei de 5 de setembro de 2018 “pela liberdade de escolha do futuro profissional”. Essa transferência e esse enfoco na informação levanta várias questões sobre as perspectivas e os modos de desenvolvimento dos SPROs (Serviços Públicos de Orientação de âmbito regional). Ao mesmo tempo, uma nota da France Stratégie analisa estas questões da Orientação mais na base do acesso a uma informação de qualidade sobre as saídas profissionais.

O desafio da informação

Esta questão não é nova, mas é preciso esclarecer as ligações entre as escolhas relacionadas com a orientação e a informação disponibilizada. Podemos distinguir vários registos:

  • Acesso a fontes de informação: diz respeito tanto à diversidade dos modos de acesso (físico, digital …), como também às modalidades desta informação (escrita, visual, experiencial, imersão virtual …). A este respeito, as perspectivas são numerosas em termos de possíveis variações.
  • A qualidade das fontes de informação: refere-se à necessidade de distinguir a natureza da informação; algumas referem-se a elementos objetivos, factuais e não contestáveis (elementos jurídicos, por exemplo); outras fazem parte de elementos mais estratégicos baseados numa interpretação de tendências (perspectivas de recrutamento, evolução de conteúdo …) que são valiosas, mas sujeitas a debate. Portanto, é menos o caráter objetivo no sentido estrito do termo que é central, mas sim a fiabilidade. Isso leva a reflectir sobre a qualidade das fontes, para verificar se as informações fornecidas são baseadas, em análises cruzadas de diversas fontes. Além disso, a operacionalidade da informação (ela ajuda-me nas minhas decisões?) será a base da atracção do utilizador. muito mais do que a sua qualidade científica. Daí a relutância em utilizar dados estatísticos de difícil compreensão para o não especialista e a migração para as redes sociais e para soluções de maior proximidade, proporcionando informações certamente questionáveis, muito subjectivas mas, ao mesmo tempo, facilmente acessíveis e utilizáveis. Desconfiemos dos elementos demasiado académicos, com os dados higienizados enquanto o utilizador está à procura de “histórias”; ele está mais interessado nos percursos e histórias de vidas do que nas Fichas sobre Profissões! Se o acesso a informações fiáveis constitue um fator de apoio à decisão e de equidade, temos diante de nós muitas intervenções técnicas (como facilitar o acesso a informações fiáveis e atualizadas?) e pedagógicas (como desenvolver pensamento crítico?).

A questão das representações

Mas, para reduzir a questão da orientação apenas à fiabilidade das informações disponibilizadas, quanto a nós, parece omitir que o processo de tomada de decisão das pessoas é, às vezes, muito pouco racional.
O que pensamos das profissões e do mundo profissional não é informação como as outras. É em primeiro lugar e acima de tudo uma representação do que poderia ser adequado para nós. Ora, as representações são complexas e difíceis de evoluir por pelo menos três razões.
A primeira é a natureza dessa informação. A informação que cada um possui sobre as profissões, não é uma simples cópia reproduzida. É uma construção, tanto social quanto pessoal, combinando elementos objetivos e percepções mais subjetivas, desenvolvidas por pessoas em suas interações com o meio ambiente. A segunda, é difícil de mudar essas representações sociais específicas, relativas às profissões e ao mundo do trabalho. Por quê? Porque elas são construídas muito cedo e resistem a informações dissonantes. Seleccionamos os dados que suportam e que vão no sentido daquilo que acreditamos. Por isso, critérios como atractividade (relacionado ao prestígio social) ou género (chamadas profissões femininas ou masculinas) evoluem pouco por simples campanhas de informação ou de promoção. Geram frequentemente estereótipos (que por definição geram consensos) que não é tão simples quanto isso de mudar através de meros discursos. A terceira, o fosso que está a aumentar entre a realidade do mundo do trabalho, as profissões que nele existem e que evoluem, a variedade e riqueza dos contextos ali encontrados e a hierarquia nas profissões que atraem espontaneamente o público. Para que uma atividade seja escolhida, ela deve primeiro ser visível, identificável e facilmente distinguida de outras atividades. O que põe em causa uma espécie de capital reputacional das próprias profissões.

Uma questão pedagogica

Se as questões de orientação não podem ser reduzidas a um simples processo de informação centrado na qualidade e na confiabilidade das informações disponibilizadas (deixando a cargo de cada um que delas se aproprie), então devemos pensar sobre métodos pedagógicos que permitam coligir, analisar múltiplas informações para elaborar o seu próprio ponto de vista e construir uma estratégia. Devemos então investir (e, nesse sentido, muitas iniciativas no âmbito do SPRO mostram isso), processos multimodais, mais perto dos territórios onde a informação não é apenas académica e livresca, mas antes dados vivos, que permitam a cada um de descubrir, o conteúdo, as perspectivas, mas também a dimensão humana do trabalho.

A esse respeito, o desafio não é apenas desenvolver ações de armazenamento (stocks) de informação fiáveis, mas antes a partir da capacidade dos profissionais e dos criadores de recursos, de construir e encenar uma dinâmica de apropriação onde todos os envolvidos sejam partes interessadas. É, portanto, uma questão pedagógica.

André Chauvet | Foto Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos