7 de Outubro, 2024

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Orientar-se ao longo da vida. Desafios e perspectivas

Uma série de 3 artigos de André Chauvet na EPALE. Um primeiro sobre a informação. Um segundo sobre tomada de decisão e um terceiro sobre a capacidade de se orientar. Tradução Carlos Ribeiro

As interrogações que hoje se colocam na abordagem aos temas da Orientação implicam uma reflexão mais geral sobre os efeitos do contexto atual sobre as situações e trajetórias profissionais das pessoas: multiplicação de transições ou de rupturas, não-linearidade, imprevisibilidade. Orientar-se deixou de ser um ato pontual e passou a ser acima de tudo um processo permanente que deve ser analisado em todas as suas facetas, isto para que seja possível construir os serviços e desenvolver as práticas que sejam tão pertinentes quanto possível. Este primeiro artigo diz respeito às questões de acesso a uma informação fiável e operacional sobre o mundo do trabalho.

1- As questões de acesso a informações fiáveis e operacionais sobre o mundo do trabalho. O Decreto n.º 2019-218, de 21 de março de 2019, sobre as novas competências das regiões em termos de informação sobre as profissões e a formação profissional formaliza a transferência para as regiões dessa informação, aliás prevista no âmbito da lei de 5 de setembro de 2018 “pela liberdade de escolha do futuro profissional”. Essa transferência e esse enfoco na informação levanta várias questões sobre as perspectivas e os modos de desenvolvimento dos SPROs (Serviços Públicos de Orientação de âmbito regional). Ao mesmo tempo, uma nota da France Stratégie analisa estas questões da Orientação mais na base do acesso a uma informação de qualidade sobre as saídas profissionais.

O desafio da informação

Esta questão não é nova, mas é preciso esclarecer as ligações entre as escolhas relacionadas com a orientação e a informação disponibilizada. Podemos distinguir vários registos:

  • Acesso a fontes de informação: diz respeito tanto à diversidade dos modos de acesso (físico, digital …), como também às modalidades desta informação (escrita, visual, experiencial, imersão virtual …). A este respeito, as perspectivas são numerosas em termos de possíveis variações.
  • A qualidade das fontes de informação: refere-se à necessidade de distinguir a natureza da informação; algumas referem-se a elementos objetivos, factuais e não contestáveis (elementos jurídicos, por exemplo); outras fazem parte de elementos mais estratégicos baseados numa interpretação de tendências (perspectivas de recrutamento, evolução de conteúdo …) que são valiosas, mas sujeitas a debate. Portanto, é menos o caráter objetivo no sentido estrito do termo que é central, mas sim a fiabilidade. Isso leva a reflectir sobre a qualidade das fontes, para verificar se as informações fornecidas são baseadas, em análises cruzadas de diversas fontes. Além disso, a operacionalidade da informação (ela ajuda-me nas minhas decisões?) será a base da atracção do utilizador. muito mais do que a sua qualidade científica. Daí a relutância em utilizar dados estatísticos de difícil compreensão para o não especialista e a migração para as redes sociais e para soluções de maior proximidade, proporcionando informações certamente questionáveis, muito subjectivas mas, ao mesmo tempo, facilmente acessíveis e utilizáveis. Desconfiemos dos elementos demasiado académicos, com os dados higienizados enquanto o utilizador está à procura de “histórias”; ele está mais interessado nos percursos e histórias de vidas do que nas Fichas sobre Profissões! Se o acesso a informações fiáveis constitue um fator de apoio à decisão e de equidade, temos diante de nós muitas intervenções técnicas (como facilitar o acesso a informações fiáveis e atualizadas?) e pedagógicas (como desenvolver pensamento crítico?).

A questão das representações

Mas, para reduzir a questão da orientação apenas à fiabilidade das informações disponibilizadas, quanto a nós, parece omitir que o processo de tomada de decisão das pessoas é, às vezes, muito pouco racional.
O que pensamos das profissões e do mundo profissional não é informação como as outras. É em primeiro lugar e acima de tudo uma representação do que poderia ser adequado para nós. Ora, as representações são complexas e difíceis de evoluir por pelo menos três razões.
A primeira é a natureza dessa informação. A informação que cada um possui sobre as profissões, não é uma simples cópia reproduzida. É uma construção, tanto social quanto pessoal, combinando elementos objetivos e percepções mais subjetivas, desenvolvidas por pessoas em suas interações com o meio ambiente. A segunda, é difícil de mudar essas representações sociais específicas, relativas às profissões e ao mundo do trabalho. Por quê? Porque elas são construídas muito cedo e resistem a informações dissonantes. Seleccionamos os dados que suportam e que vão no sentido daquilo que acreditamos. Por isso, critérios como atractividade (relacionado ao prestígio social) ou género (chamadas profissões femininas ou masculinas) evoluem pouco por simples campanhas de informação ou de promoção. Geram frequentemente estereótipos (que por definição geram consensos) que não é tão simples quanto isso de mudar através de meros discursos. A terceira, o fosso que está a aumentar entre a realidade do mundo do trabalho, as profissões que nele existem e que evoluem, a variedade e riqueza dos contextos ali encontrados e a hierarquia nas profissões que atraem espontaneamente o público. Para que uma atividade seja escolhida, ela deve primeiro ser visível, identificável e facilmente distinguida de outras atividades. O que põe em causa uma espécie de capital reputacional das próprias profissões.

Uma questão pedagogica

Se as questões de orientação não podem ser reduzidas a um simples processo de informação centrado na qualidade e na confiabilidade das informações disponibilizadas (deixando a cargo de cada um que delas se aproprie), então devemos pensar sobre métodos pedagógicos que permitam coligir, analisar múltiplas informações para elaborar o seu próprio ponto de vista e construir uma estratégia. Devemos então investir (e, nesse sentido, muitas iniciativas no âmbito do SPRO mostram isso), processos multimodais, mais perto dos territórios onde a informação não é apenas académica e livresca, mas antes dados vivos, que permitam a cada um de descubrir, o conteúdo, as perspectivas, mas também a dimensão humana do trabalho.

A esse respeito, o desafio não é apenas desenvolver ações de armazenamento (stocks) de informação fiáveis, mas antes a partir da capacidade dos profissionais e dos criadores de recursos, de construir e encenar uma dinâmica de apropriação onde todos os envolvidos sejam partes interessadas. É, portanto, uma questão pedagógica.

André Chauvet | Foto Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos

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