Pode haver crescimento ilimitado num planeta finito?

Graça Rojão, Directora da Coolabora, tem estado no centro dos debates sobre a evolução dos modelos de desenvolvimento a nível global e local em Portugal e em várias plataformas europeias e internecionais. Para além da participação e da dinamização de várias iniciativas toma posição sobre o Decrescimento ou o Pós-desenvolvimento e recorda o convite de Serge Latouche para passarmos de predadores a jardineiros.

Graça Rojão – Directora da CooLabora

 O crescimento económico surge no discurso corrente comoa solução inequívoca para as crises e como o caminho certeiro rumo afuturos prometidos. Esta fé é de tal forma inabalável que facilmente podemos imaginar como reagiria a generalidade das pessoas a um discurso político cujas promessas se afirmassem contra o crescimento económico. Porém, basta notarmos que o consumo é o pulmão do crescimento económico para que não o possamos dissociar do dispêndio de recursos. A crença no crescimento esconde um paradoxo, pois se o planeta que habitamos é finito, os seus recursos são também finitos. Aliás, passaram já várias décadas desde que Georgescu-Roegen, através da lei da entropia aplicada aos sistemas económicos mostrou que a energia, nas suas diversas formas, se deteriora e, embora a sua quantidade possa permanecer constante, ao transformar-se em calor deixa de ser energia utilizável e dissipa-se.

O capitalismo neoliberal trouxe avanços significativos na melhoria das condições materiais de vida de uma parte considerável da humanidade, mas com desigualdades e injustiças sociais que têm vindo a agravar-se significativamente. Hoje é comumente aceite que entrámos numa nova era geológica: o Antropoceno,  um sistema à escala global que se pauta por uma relação extractiva com a natureza, com um consumo muito elevado de energias não-renováveis. Está a chegar ao fim a era do petróleo barato e de um mundo baseado na queima de combustíveis fósseis, já que o seu consumo ocorre a um ritmo completamente díspar da sua possibilidade de reposição pelos ecossistemas naturais.

Alterações climáticas e crescimento das desigualdades 

As alterações climáticas são apenas um dos sintomas da crise que enfrentamos. Embora afectem todo o planeta, têm consequências diferenciadas porque existem regiões particularmente sensíveis devido à sua geografia e porque há populações mais expostas pela sua situação de pobreza. Prevê-se que a região mediterrânica venha a ser uma das mais afectadas a nível global e assume-se que Portugal é um dos países mais vulneráveis da Europa, sendo provável a crescente ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos como ondas de calor, secas, cheias ou o aumento do nível do mar.

O crescimento das desigualdades à escala global e as alterações climáticas apelam à necessidade urgente de criarmos alternativas à sociedade do crescimento. Como muito bem sintetiza Serge Latouche é necessário passarmos de predadores a jardineiros.

Alternativas ao modelo capitalista neo-liberal

Entre as propostas alternativas que têm surgido destacamos aqui o Decrescimento. Se a designação é polémica, não deixa de ser fecunda pela capacidade que tem de abrir um novo debate. O Decrescimento ou o Pós-desenvolvimento, outra expressão adoptada por muitos autores e autoras, não significa estagnação ou crescimento negativo, nem sequer se reduz a uma dimensão ambiental. Implica sobretudo uma alteração radical e profunda na vida individual e colectiva: uma outra relação com a natureza, com o tempo e com o consumo. Propõe uma mudança civilizacional alternativa à ideologia hegemónica do crescimento e a superação da lógica produtivista-consumista.

No programa político defendido pelos movimentos partidários do Decrescimento encontramos propostas como a recuperação de uma pegada ecológica de dimensão igual ou inferior a um planeta. Estes movimentos apontam para uma diminuição de custos considerados inúteis na publicidade, embalagens e transportes, através de uma relocalização da produção e consequentemente da redução das deslocações. Defendem uma agricultura e uma alimentação de base mais local e sazonal. Sugerem ainda a transformação dos ganhos de produtividade em redução do tempo de trabalho. Tudo isto exige uma reorientação do sistema produtivo e, sobretudo, uma alteração radical de valores. O incremento da “produção” ocorreria fundamentalmente nos bens relacionais, como o cuidado dos outros, a convivialidade e o conhecimento.

Uma sociedade com futuro

Estas propostas não remetem para um retorno ao passado mas para uma sociedade com futuro, com uma vida mais simples e mais convivial. O projecto político do Decrescimento consiste em colocar os objectivos da economia na dependência daquilo que é designado por reprodução ampliada da vida: o cuidado de si, dos outros e do planeta.

Graça Rojão – Directora da CooLabora, Novembro 2108

Hiperligações e subtítulos da responsabilidade da ediçao –  CR/Caixa de Mitos

Planet Zest

Um antigo aluno meu permitiu que partilhasse aqui experiências da sua vida que me parecem úteis à reflexão a todos. Espero que sirva de aviso a quem procura emprego, de prevenção a práticas imbecis, de incentivo à denúncia de quem passa por semelhante e de informação básica para economistas, políticos e comentadores diversos, por vezes tão longe da “vida real” da larga maioria dos que têm entre 20 e 40 anos.

O Henrique Alves esteve a trabalhar num supermercado, quando fazia o mestrado em SIG na FLUP. Soube que lhe “punham os patins” se solicitasse estatuto de trabalhador-estudante, a que tinha direito, e foi confrontado com ter de fazer o que não tinham direito de lhe impor, incluindo repor stocks das 23h à 1h a quem tinha horário de caixa das 10h às 21h.

Esteve contratado depois, por uma empresa que subcontratava para uma telefónica, onde a regra era ter de aceitar um primeiro mês sem salário. Acedeu! Para saber, semanas depois, que, além disso, se desistisse do contrato antes do seu final, teria de devolver tudo o que tivesse recebido! A próxima etapa leva-o a uma empresa em Aveiro, onde as práticas eram – serão ainda? – de outros tempos: vendem documentos que são obrigados a fornecer; não pagam horas extraordinárias; têm lucro de 800% sobre o custo do trabalho; perguntam nas entrevistas às mulheres se tencionam engravidar e tratam mal mesmo os mais zelosos e há mais tempo na empresa. Nas procuras seguintes, pediram acesso ao perfil pessoal de redes sociais e exigiram informação sobre quanto ganhou nos últimos lugares onde esteve.

Louco por bicicletas, geógrafo e apaixonadamente transmontano, o Henrique abriu negócio há dias em que cruza as três coisas. Paga bem, partilha lucros e exige regras mínimas às empresas que trabalham com a sua. Boa sorte!

Autor: José Alberto Rio Fernandes. Geógrafo. Professor catedrático. Presidente da APG – Associação Portuguesa de Geógrafos. (Reprodução de crónica autorizada)

14 Novembro 2018

Projectos de desenvolvimento local nas aldeias

Desde 1986, com a adesão de Portugal à CEE, que dinamizo (e aprendo sempre em contrapartida) projectos em aldeias e em espaços rurais. Em 1987-88 com as ILEs – Iniciativas Locais de Emprego, a ELISE o sistema de informação para as inicitivas locais, as experiências da Wallonie em defesa do mundo rural, o desenho de modelos participados no Desenvolvimento Rural e Local começaram a surgir. Foi a formação dos JADE – Jovens Agentes de Desenvolvimento, com uma CCDRNorte criativa e uma AIP colaborativa e postrioremente a formação dos Assessores, que introduziram ferramentas técnicas muito poderosas para a intervenção local. Entretanto,e mais tarde, os programas de aldeias (Aldeias vinhateiras, Aldeias Vivas, Aldeias das Terras Transmontanas…) e de apoio à economia social nas aldeias (CAPACITAR no âmbito da Animar) foram directamente aos pequenos projectos locais de cada pessoa em concreto e, algumas vezes, associando-os a uma estratégia de desenvolvimento da própria aldeia. Foi numa desta incursões, na zona de S. Pedro do Sul que tirei esta fotografia, que para mim representa o cenário de trabalho com as pessoas ao longo destes anos todos no mundo rural. A senhora acolhia-me dizendo: abra a porta, abra, e deixe passar o sol….

Carlos Ribeiro, 11 de Novembro 2018

Manifesto pela Preservação da Dieta Mediterrânica em Portugal

Três especialistas, da área da saúde e da cultura, redigiram o Manifesto pela Preservação da Dieta Mediterrânica em Portugal. Pedro Graça, Jorge Queiroz e Clara Bertrand Cabral estiveram envolvidos na candidatura da Dieta Mediterrânica a património imaterial da humanidade pela UNESCO e subscrevem agora um documento com 10 ideias em defesa deste modo de comer que é reconhecidamente protetor da saúde.

Os autores reconhecem que a Dieta Mediterrânica está debaixo da pressão de uma sociedade de mudança rápida, carecendo ser repensada e recriada para sobreviver no futuro.

No preâmbulo do Manifesto, advoga a “participação transnacional dos Governos, dos setores da cultura, agricultura e saúde, e dos cidadãos, de forma a preservar a diversidade cultural, a biodiversidade, proteger a capacidade produtiva e regenerativa dos solos e a saúde das populações”

O texto do Manifesto encontra-se aqui.

Fonte Minha Terra

Encontro “Carreiras e trajetórias profissionais: desafios e novas perspectivas”

Está agendado para dia 5 de Novembro, no Centro de Congressos de Lisboa (Praça das Indústrias – à Junqueira), o ENCONTRO “Carreiras e trajetórias profissionais: desafios e novas perspectivas”organizado pela Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (na qualidade de serviço nacional de apoio da Plataforma Eletrónica para a Educação de Adultos na Europa – EPALE), numa parceria com a Fundação AIP, no âmbito da Futurália 2019, o encontro pretende ainda assinalar a abertura, em Portugal, da III Semana Europeia da Formação Profissional (de 5 a 9 de novembro).

A Caixa de Mitos (Carlos Ribeiro) dinamizará um dos workshops da tarde em dupla com a Rede Valorizar dos Açores (Acir Meireles).

Encontro “Carreiras e trajetórias profissionais: desafios e novas perspetivas”

Data:5 de novembro

Local:Centro de Congressos de Lisboa (Praça das Indústrias, Lisboa)

CONTEXTO 

O mundo do trabalho está a transformar-se profundamente e a uma velocidade vertiginosa, em razão do funcionamento integrado de uma nova geração de tecnologias digitais (internet das coisas, Big Data, realidade aumentada, robótica avançada,…), ligando o mundo físico ao espaço virtual. Muda o “tempo e o modo” como pensamos, aprendemos, trabalhamos, competimos, concebemos, distribuímos e acedemos aos bens e serviços. Acresce o desafio datransição energética associada à descarbonização das economias, onde a problemática das alterações climáticas e a forma de lhes fazer face é também um tema central. Uma parte significativa dos atuais postos de trabalho poderão estar em risco com a automação. A maioria dos que permanecem irão mudar radicalmente. Novas profissões estão a emergir e muitas outras que é difícil imaginar vão surgir nas próximas décadas.

Preparar as pessoas e as empresas para mutações profundas, porventura radicais devido à conjugação de vários fatores, como a velocidade, a escala, a imprevisibilidade da produção e uma reorientação e digitalização generalizada das cadeias de valor, é uma prioridade incontornável. Estão a emergir novos relacionamentos entre os centros de saber e as organizações, novos modelos de negócio, novas ligações entre grandes empresas e as PME, novas formas de cooperação e estratégias colaborativas entre todos os níveis de atividade económica.

Torna-se imperativo, para as empresas e para as pessoas, renovar permanente o portefólio de qualificações e competências, fomentando uma cultura que tem como lema“aprender a aprender” ao longo da vida, um processo cada vez mais intermediado por auxiliares em interação cognitiva,à luz de um novo paradigma em que o conhecimentoé o principal fator do crescimento, de competitividade e de desenvolvimento das economias e das sociedades.  A amplitude e profundidade destas transformações colocam novos desafios às carreiras e trajetórias profissionais, o tema central deste encontro.

INTERROGAÇÕES

Qual vai ser o futuro do trabalho? O que vão ser as carreiras e as novas trajetórias profissionais? E, como se perspetivam estas carreiras e trajetórias na idade adulta? Como é que se vai aprender e trabalhar num contexto de digitalização generalizada da economia? Qual vai ser o espaço de intervenção da orientação numa perspetiva de empregabilidade sustentável?Que literacias e competências poderão enriquecer as carreiras na idade adulta?Como tornar a qualificação atrativa e redesenhar/gerir carreiras para públicos mais desfavorecidos? Como conciliar o imperativo de “aprender a aprender” ao longo da vida com as novas formas de trabalho? Como fazer da aprendizagem ao longo da vida um instrumento efetivo de inclusão social para todos?

Serão estas as questões centrais que irão nortear o debate e a discussão deste encontro, especialmente destinado a profissionais e especialistas em educação e formação de adultos.

ORGANIZAÇÃO

Organizado pela Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional (na qualidade de serviço nacional de apoio da Plataforma Eletrónica para a Educação de Adultos na Europa – EPALE), numa parceria com a Fundação AIP, no âmbito da Futurália 2019, o encontro pretende ainda assinalar a abertura, em Portugal, da III Semana Europeia da Formação Profissional (de 5 a 9 de novembro), conciliando o mote desta semana, associado à descoberta que cada um de nós deve fazer do seu talento, com a temática de discussão do mês de novembro da EPALE (A educação de adultos e o desenvolvimento da carreira), num contexto inevitável de interligação da educação, do conhecimento e do património, reafirmado em 2018 a propósito das comemorações do Ano Europeu do Património, e de novos desafios e oportunidades inerentes à emergência de uma nova era – indústria 4.0 -, pautada por mudanças geradas não só pela digitalização mas também pela digitação de toda a sociedade.

 

Modelo  e temas:

O encontro assumirá um momento inicial de partilha e reflexão em plenário, seguindo-se momentos de apelo à participação de todos os participantes, organizados em workshops simultâneos subordinados aos seguintes temas:

– O futuro do trabalho, carreiras e trajetórias;

– Literacias, soft skillse competências emergentes;

– Aprendizagem ao longo da vida: compromisso para a inclusão;

– Conhecimento, património e empregabilidade.

No momento de inscrição, cada participante terá oportunidade de se inscrever também num dos workshops.

Serão ainda enviados convites a alguns profissionais/especialistas especificamente a convidá-los a participarem nos workshops,abordando alguma prática em concreto ou trabalho em curso com relevo para a discussão do tema.

Findos os trabalhos destes workshops,os participantes voltarão a encontrar-se em sessão plenária.

 

Dinamizadores e relatores dos workshops:

– O futuro do trabalho, carreiras e trajetórias – Margarida Segard (Advisorda Comissão Europeia no âmbito da Direção-Geral do Emprego) e Carla Mouro (Presidente do Conselho Nacional da Juventude)

– Literacias, soft skillse competências emergentes – Vanda Vieira (CECOA) e Fernando Albuquerque Costa (Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e embaixador nacional da EPALE)

– Aprendizagem ao longo da vida: compromisso para a inclusão – Carlos Ribeiro (Caixa de Mitos e embaixador nacional da EPALE) e Acir Meirelles (Rede Valorizar – RA Açores e embaixador nacional da EPALE)

– Conhecimento, património e empregabilidade – Etelberto Costa (Embaixador Nacional da EPALE) e André Magrinho (Fundação AIP)

 

Programa provisório

9h30 – Receção dos convidados

10h00 – Boas-Vindas

Comendador Rocha de Matos e Conselho Diretivo da ANQEP

10h30 – Sessão de abertura

11h00 – Coffee-break

11h15 – Sessões plenárias:

1º Painel – Conhecimento:o elo entre o passado e o futuro

12h15 – 2º Painel – Carreiras e trajetórias na idade adulta – desafios e oportunidades

13h30 – Almoço

14h30 – Workshops:

O futuro do trabalho, carreiras e trajetórias– Margarida Segard (Advisorda Comissão Europeia no âmbito da Direção-Geral do Emprego) e Carla Mouro (Presidente do Conselho Nacional da Juventude)

Literacias, soft skillse competências emergentes– Vanda Vieira (Centro de Formação Profissional para o Comércio e Afins – CECOA) e Fernando Albuquerque Costa (Instituto de Educação da Universidade de Lisboa e embaixador nacional da EPALE)

Aprendizagem ao longo da vida: compromisso para a inclusão– Carlos Ribeiro (Caixa de Mitos e embaixador nacional da EPALE) e Acir Meirelles (Rede Valorizar – RA Açores e embaixador nacional da EPALE)

Conhecimento, património e empregabilidade– Etelberto Costa (Embaixador nacional da EPALE) e André Magrinho (Fundação AIP)

16h30 – Sessão plenária:

Os desafios e perspetivas das carreiras e trajetórias numa visão integrada

17h00 – Sessão de encerramento