16 de Maio, 2024

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Pode haver crescimento ilimitado num planeta finito?

Graça Rojão, Directora da Coolabora, tem estado no centro dos debates sobre a evolução dos modelos de desenvolvimento a nível global e local em Portugal e em várias plataformas europeias e internecionais. Para além da participação e da dinamização de várias iniciativas toma posição sobre o Decrescimento ou o Pós-desenvolvimento e recorda o convite de Serge Latouche para passarmos de predadores a jardineiros.

Graça Rojão – Directora da CooLabora

 O crescimento económico surge no discurso corrente comoa solução inequívoca para as crises e como o caminho certeiro rumo afuturos prometidos. Esta fé é de tal forma inabalável que facilmente podemos imaginar como reagiria a generalidade das pessoas a um discurso político cujas promessas se afirmassem contra o crescimento económico. Porém, basta notarmos que o consumo é o pulmão do crescimento económico para que não o possamos dissociar do dispêndio de recursos. A crença no crescimento esconde um paradoxo, pois se o planeta que habitamos é finito, os seus recursos são também finitos. Aliás, passaram já várias décadas desde que Georgescu-Roegen, através da lei da entropia aplicada aos sistemas económicos mostrou que a energia, nas suas diversas formas, se deteriora e, embora a sua quantidade possa permanecer constante, ao transformar-se em calor deixa de ser energia utilizável e dissipa-se.

O capitalismo neoliberal trouxe avanços significativos na melhoria das condições materiais de vida de uma parte considerável da humanidade, mas com desigualdades e injustiças sociais que têm vindo a agravar-se significativamente. Hoje é comumente aceite que entrámos numa nova era geológica: o Antropoceno,  um sistema à escala global que se pauta por uma relação extractiva com a natureza, com um consumo muito elevado de energias não-renováveis. Está a chegar ao fim a era do petróleo barato e de um mundo baseado na queima de combustíveis fósseis, já que o seu consumo ocorre a um ritmo completamente díspar da sua possibilidade de reposição pelos ecossistemas naturais.

Alterações climáticas e crescimento das desigualdades 

As alterações climáticas são apenas um dos sintomas da crise que enfrentamos. Embora afectem todo o planeta, têm consequências diferenciadas porque existem regiões particularmente sensíveis devido à sua geografia e porque há populações mais expostas pela sua situação de pobreza. Prevê-se que a região mediterrânica venha a ser uma das mais afectadas a nível global e assume-se que Portugal é um dos países mais vulneráveis da Europa, sendo provável a crescente ocorrência de fenómenos meteorológicos extremos como ondas de calor, secas, cheias ou o aumento do nível do mar.

O crescimento das desigualdades à escala global e as alterações climáticas apelam à necessidade urgente de criarmos alternativas à sociedade do crescimento. Como muito bem sintetiza Serge Latouche é necessário passarmos de predadores a jardineiros.

Alternativas ao modelo capitalista neo-liberal

Entre as propostas alternativas que têm surgido destacamos aqui o Decrescimento. Se a designação é polémica, não deixa de ser fecunda pela capacidade que tem de abrir um novo debate. O Decrescimento ou o Pós-desenvolvimento, outra expressão adoptada por muitos autores e autoras, não significa estagnação ou crescimento negativo, nem sequer se reduz a uma dimensão ambiental. Implica sobretudo uma alteração radical e profunda na vida individual e colectiva: uma outra relação com a natureza, com o tempo e com o consumo. Propõe uma mudança civilizacional alternativa à ideologia hegemónica do crescimento e a superação da lógica produtivista-consumista.

No programa político defendido pelos movimentos partidários do Decrescimento encontramos propostas como a recuperação de uma pegada ecológica de dimensão igual ou inferior a um planeta. Estes movimentos apontam para uma diminuição de custos considerados inúteis na publicidade, embalagens e transportes, através de uma relocalização da produção e consequentemente da redução das deslocações. Defendem uma agricultura e uma alimentação de base mais local e sazonal. Sugerem ainda a transformação dos ganhos de produtividade em redução do tempo de trabalho. Tudo isto exige uma reorientação do sistema produtivo e, sobretudo, uma alteração radical de valores. O incremento da “produção” ocorreria fundamentalmente nos bens relacionais, como o cuidado dos outros, a convivialidade e o conhecimento.

Uma sociedade com futuro

Estas propostas não remetem para um retorno ao passado mas para uma sociedade com futuro, com uma vida mais simples e mais convivial. O projecto político do Decrescimento consiste em colocar os objectivos da economia na dependência daquilo que é designado por reprodução ampliada da vida: o cuidado de si, dos outros e do planeta.

Graça Rojão – Directora da CooLabora, Novembro 2108

Hiperligações e subtítulos da responsabilidade da ediçao –  CR/Caixa de Mitos

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