À generosidade só podemos responder com gratidão

A propósito da COP Comunidade de Prática – Educação de Adultos

por Carlos Ribeiro

Sentimos, uns mais do que outros, mas apesar de tudo de uma forma generalizada, que o sistema no qual realizamos a nossa ação profissional não assegura um acompanhamento técnico nem garante as bases mínimas para um desenvolvimento profissional que nos permita estabelecer uma ligação dinâmica com a progressão das nossas competências e, consequentemente, sentirmos alguma realização profissional.

Constatámos esta grave lacuna de forma mais dramática por ocasião da pandemia de COVID-19 e foi essa a razão que nos levou a impulsionar a COMUNIDADE DE PRÁTICA que hoje procuramos que tenha a mesma utilidade de sempre: realizar com os adultos que participam no sistema processos que tenham qualidade e que sirvam o seu desenvolvimento, viabilizando simultaneamente o nosso que, como adultos, apesar das funções que desempenhamos, somos tão aprendentes quanto eles.

Está claro para todos nós que a abordagem que é realizada no sistema sobre os processos que procuramos implementar é burocrática ou seja não tem ligações intrínsecas com o desenvolvimento das pessoas, dos grupos, das comunidades e dos territórios.

Apesar de termos consciência desta realidade fomos decidindo trabalhar nas margens possíveis. Somos realistas nas tarefas principais que se relacionam com as metas, mas não deitamos a toalha ao chão em matéria de desenvolvimento profissional. Naquilo que for possível e compatível com as responsabilidades das equipas, procuraremos ajudar-nos mutuamente, tentaremos inovar e partilhar soluções e iniciativas que comprovadamente resultam.

Nesses termos torna-se imprescindível que o relacionamento neste quadro da COP seja considerado num plano totalmente horizontal, sem hierarquia e sobretudo com uma clara opção de interagir entre pares com uma finalidade única: o apoio mútuo em processos de desenvolvimento profissionais totalmente informais.

Todos podem avançar com iniciativas baseadas em problemas reais que possam ser reconhecidos por terceiros dentro da Comunidade e consequentemente realizarem-se tentativas de resolução / evolução.  

Todos os intervenientes nesta dinâmica de cooperação realizam as suas ações de forma totalmente voluntária. Aqueles e aquelas que procuram dinamizar e todas e todos aqueles que têm dado contributos nas várias iniciativas que foram levadas a cabo.

A participação neste quadro colaborativo deverá antes de mais partir da interrogação inicial: como posso, com a minha experiência concreta, contribuir para que sejam encontradas soluções?

Quando outros partilham experiências e ideias trata-se de generosidade pura. E, à generosidade só podemos responder com gratidão.

Aprender línguas a partir de metodologias de educação não-formal

À descoberta de projetos e experiências inspiradoras

Aprender línguas a partir de metodologias de educação não-formal

As experiências e os projetos neste domínio da aprendizagem das línguas estrangeiras na base de metodologias e estratégias de educação não-formal são muitas e diversas. O que poderá ter interesse é estabelecer relações operacionais entre essas referências positivas e o contexto específico dos Centros Qualifica na sua relação com os adultos e e com os processos de Reconhecimento e Validação de Competências.

Na prática sabemos que estaremos no campo da formação e não no do RVCC. Isto significa que os objetivos situam-se principalmente em novas aprendizagens e não na descoberta e valorização de competências desenvolvidas nos percursos de vida pessoal, profissional ou social.

O esforço poderá consistir em dinamizar processos formativos que se inscrevam em experiências vividas pelos adultos em situação de aprendizagens diversas, no caso focando as metas nas capacidade de comunicação em línguas estrangeiras.

Ir à procura de boas referências neste domínio da educação-formação não-formal, para apoiar estratégias de desenvolvimento, eis a meta deste Bloco À descoberta de projetos e experiências inspiradoras.

Comecemos pelo Teatro e pela experiência dinamizada por uma parceria europeia na qual o Grupo de Teatro ASTA, da Covilhã, teve um papel relevante,

Uma primeira base documental o MANUAL que foi produzido no quadro do projeto TELL ME.

Voltaremos ao assunto, muito brevemente.

Carlos Ribeiro

O que fizemos na COP em 2022?

É preciso resistir à pressão burocrática e procurar, na margem possível, soluções compatíveis com o desenvolvimento

O que fizemos na COP em 2022?

2022 está a terminar. Fecha-se um ciclo de atividades e com ele regressa a interrogação que no ano transato já tínhamos colocado em cima da mesa: terá sentido continuarmos a impulsionar formas de cooperação informais entre atores da educação de adultos e consequentemente mantermos viva a atividade na COP – Comunidade de Prática no próximo ano?

O contexto de lançamento e dinamização da COP mudou. Quando arrancámos, logo em março 2020 com o surgimento da pandemia, a nossa preocupação foi criar um espaço de entreajuda e de apoio mútuo face às novas dificuldades que surgiram com muitas das atividades a serem realizadas online. Fomos aprendendo juntos. Tínhamos nessa fase uma ligação à EPALE – Plataforma Eletrónica para a Educação de Adultos e procurávamos nos contactos europeus fontes de inspiração e de resolução de problemas.

O contexto agora é outro

Hoje as necessidades de cooperação são outras, já não se encontram principalmente no enfrentar de novas situações e a relação com a EPALE desapareceu por decisão liquidatária da ANQEP que considera esta ferramenta de cooperação europeia como absolutamente inútil e consequentemente “despediu” os embaixadores por mail à boa maneira Tusk no seu Twitter.

Temos noção que a decisão de mantermos este espaço de cooperação situou-se em primeiro lugar no campo afetivo.  Tínhamos experimentado durante um largo período processos de partilha e de criação coletiva que criou laços. No fundo precisávamos de estar juntos porque sabíamos que valia a pena, nem que fosse para conversar sobre pequenas coisas, coisas banais mas importantes para quem os enunciava.

Cúmplices voluntários

Importa aqui mencionar os nossos cúmplices. Todos os nossos convidados que de forma totalmente voluntária vieram disponibilizar a sua visão e as suas abordagens, científicas, técnicas e práticas de forma totalmente aberta, foram centrais na co-produção realizada na Comunidade.

Tínhamos noção que aprendíamos todos nestes percursos erráticos (a Aprendência) que, por vezes, até eram audazes. Chegámos a admitir que poderíamos inverter radicalmente a dinâmica dos Júris de Certificação (Júri Invertido) e apontámos como central na atividade de trabalho com os adultos a Criação de Contextos de Aprendizagem (Paulo Dias, José Lagarto), com os adultos e não para os adultos.

Para que servem os Centros Qualifica?

No último ano demos um passo em frente e assumimos que a nossa partilha também deveria ir para campos mais reflexivos sobre o sistema e subsistemas nos quais estamos envolvidos como profissionais da Educação de Adultos.  Mas não abandonámos as abordagens mais práticas e consequentemente fomos mantendo a intenção de fornecer pistas para quem o entendesse generalizar propostas de trabalho local. Não nos esquecemos das “Meninas da Rádio”, e de outras situações operacionais que foram propostas.

No plano organizativo adotámos uma coordenação das atividades mais alargada e admitimos que a repartição do esforço que representa animar a Comunidade, agora com mais elementos, facilitará a organização de iniciativas futuras.

O silêncio dos inocentes

É sempre complicado estabelecer metas e objetivos quando os profissionais envolvidos na COP estão amarrados a programas e contratos que são de natureza comercial. O financiamento público (pagamento de um serviço) dos Centros Qualifica e de outras estruturas da Educação de Adultos impõe a vontade do cliente-pagador (a ANQEP) e dificilmente se admitirá que a relação comercial contratualizada possa ser beliscada, por ideias ou por lógicas de organização do serviço ao cliente final (o adulto) com a caraterística peculiar do ADULTO poder assumir a condução do seu próprio processo e desenvolver consequentemente uma estratégia de autonomia e de desenvolvimento , ultrapassando a mera finalidade da certificação.

Admitimos sempre que poderá existir um pequeno espaço de manobra para fazer mais e melhor em favor do desenvolvimento, mas para tal necessitamos de nos apoiar mutuamente, de reforçar as nossas bases teóricas e técnicas e de envolver, conscientemente, os adultos nas zonas de risco que podemos eventualmente desejar ocupar.

Registos de algumas atividades realizadas em 2022

por Carlos Ribeiro

Projetos locais. Navegar…é preciso!

18 de outubro, 2022

Como funcionam as caravelas?

Nós somos caravela. Há quem prefira ser patinador num ringue de 2×2. Andar às voltas, rodopiar, regressar ao ponto de partida depois de umas voltas, curtas, mas que dão o ar da sua graça. A caravela abre caminhos, faz paragens, aprovisiona-se para a meta seguinte.

Um território imaginário

Imaginemos um território com quatro instituições que desenvolvem ações para os seus utentes/utilizadores/adultos participantes, São iniciativas que estão a decorrer porque elas são úteis para quem nelas participa. Não são “projetos” inventados para “dinamizar projetos”. O apoio domiciliário em alimentação, limpezas, acompanhamento a adultos que necessitam desse serviço; a saúde comunitária, com visitas ao domicílio de diagnóstico e apoio informativo sobre as terapias, as conversas partilhadas na Casa do Povo ou na associação, as atividades de primeiros socorros / suporte à vida ; o desporto no parque com encontros regulares para caminhadas, exercícios coletivos, as partilhas com as nutricionistas; a universidade sénior e os seus cursos gerais, os seus temas sobre história local, as suas iniciativas de visitas e cooperação….A interrogação é a seguinte: neste contexto concreto, real, cujas atividades funcionam com regularidade e que dão respostas a necessidades específicas dos adultos nos territórios ONDE, COMO e QUANDO poderá ser articulada com os adultos envolvidos uma abordagem formativa que reforce o sentido de participação nas ações que já realizam e que se traduzam em mais-valias em matéria de aprendizagens relacionadas com a vida quotidiana?

Espaços Partilhados de Aprendizagem

Espaços partilhados de aprendizagem não é principalmente uma abordagem logística. Trata-se de uma co-construção entre parceiros que nos territórios desejam reforçar-se mutuamente. Nesses termos a CIRCULAÇÃO DA CARAVELA pelos diversos ESPAÇOS consiste em primeiro lugar na circulação por NOVOS CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM.

Essa é a mais-valia para as entidades locais, para os adultos e para os centros de formação e educação de adultos.

Territórios Aprendentes

No fundo é o desenvolvimento de estratégias de TERRITÓRIOS APRENDENTES. Um início tímido é verdade, mas ….um início!

E como funcionam as Caravelas? Ah! Perguntem ao Fernão Magalhães do Stefan Zweig….e a resposta está lá! Mas podemos no futuro entrar na nossa Vasco da Gama…não custa nada!

Carlos Ribeiro

Projetos locais, nem tudo o que vem à rede é peixe

As categorias coletivistas

Estamos de acordo. O projeto pelo projeto, nem pensar, não vale a pena. São muitos recursos mobilizados e energias despendidas, para pouco ou nada. Então coloca-se a questão da sua utilidade ou do seu sentido, para quem?

Se a utilidade não deve ser para a entidade promotora na ótica egoísta da mera gestão dos seus recursos, então deve ser para quem?

Os adultos em primeiro lugar

Certamente para os adultos em primeiro lugar e ainda para o sistema de educação-formação local pensado como um conjunto de atores que procuram promover e implementar estratégias de desenvolvimento sustentável nos territórios.

No segundo grupo de uma tipologia rudimentar sobre as formas de agir face aos projetos locais encontramos um segundo grupo de entidades que não tendo uma perspetiva utilitarista e até mercenária dos projetos acabam por cair na lógica do projeto pelo projeto, isto apesar de não ser a sua intenção inicial. Vejamos algumas categorias a título de exemplo:

Os parceiristas

Desde o início do século XX, e sobretudo depois das experiências em larga escala que a Iniciativa Comunitária EQUAL proporcionou em todo o país, a ação nos territórios passou a ser assumida de forma generalizada em parceria. Uma nova metodologia com um formato colaborativo passou a dominar os projetos locais. O ciclo de aprendizagem do funcionamento em parceria foi realizado em ritmos bastante diferentes e houve mesmo enriquecimento das práticas colaborativas com novas figuras como as Comunidades de Prática, as Redes de Cooperação, entre outras.

O tempo veio no entanto firmar no terreno modelos dominantes de parceria que de alguma forma se tornaram até hegemónicos. Estes modelos baseiam a sua dinâmica de funcionamento na colaboração e não na cooperação. Ou seja, estabelecem nas parcerias relações hierárquicas que no fundo acabam por colocar vários parceiros, tidos por secundários, ao serviço de um parceiro-líder que não coopera (no sentido da não-partilha de conhecimentos, da não-rotatividade nas lideranças operacionais, da não-integração das mais-valias das diferenças e das diversas culturas de intervenção, da não-inclusão das organizações tradicionalmente discriminadas, etc.). ,

As parcerias, se não forem elas próprias um processo co-construído, entre pares, em pé de igualdade, como podem ser úteis para o desenvolvimento sustentáveis dos territórios?

Os parceiristas são tradicionalmente gente de braços abertos, pena é que tenham a cabeça fechada à verdadeira cooperação e que se sintam felizes com atividades nas quais os outros “colaboram”!

“É muito difícil trazê-los para o trabalho em parceria. São muito fechados. Só com muita insistência admitem fazer uma ou outra coisa que os interesse!!!!!” assim desabafam os nossos parceiristas. “Ao menos forneceram-nos uma lista de formandos, já não foi mau! Mas agora somos nós que temos que fazer o trabalho todo!” completam com muita lamentação à mistura.

Os comunitaristas

Os comunitaristas, na sua relação com os projetos, funcionam em funil. Começam por anunciar que o projeto é de toda e para toda a comunidade local, de seguida substituem a comunidade por parcerias soit-disant alargadas, em fases mais avançadas do projeto trabalham com um núcleo restrito de entidades locais e, finalmente, concretizam os objetivos específicos do projeto em formato de parceria clássica com duas ou três entidades a realizarem as tarefas que deveriam ter sido levada a efeito “pela comunidade”.

No fundo, no mesmo estilo de afirmações esclarecedoras do Rei Sol, Luis XIV de França, sobre o Estado, assumem sem querer que “A comunidade sou eu!”. Ou seja a comunidade são aqueles que “estão á minha volta”.

Por isso as intenções de envolver as comunidades locais em processos de educação-formação coloca a exigência de uma grande objetivação do conceito de comunidade e sobretudo estabelecer relações de poder no projeto que coloquem a gestão do projeto nas mãos dos adultos e das entidades nas quais estes se enquadram. Se o projeto visa promover a leitura na comunidade local devem ser os adultos com ligações às Bibliotecas, às Livrarias, aos Clubes de poesia e leitura, a organizar as atividades e a assumir a condução das iniciativas. Não se trata pois de organizar uma “visita de cidadãos adultos à biblioteca local”. O protagonismo terá que estar do lado dos adultos que decidirão auto-organizar-se numa lógica mais restrita ou dirigir-se de forma mais ampla a toda a comunidade. Nesta matéria deve funcionar um processo democrático de decisão que deve respeitar os interesses específicos da situação. A banalização da chamada dinâmica comunitária leva muitas vezes a passar por cima das regras elementares da democracia, promovendo uma lógica de “comunidade de massas” que surge muitas vezes como plataforma de uma identidade propositadamente inventada.

Os idealistas

O grande handicap dos idealistas é a sistemática confusão entre passado, presente e futuro. Alimentam o seu quadro de referências em Educação de Adultos com as teorias e experiências mais incríveis que podem ser identificadas na literatura, nos anfiteatros das universidades, nas experiências consultáveis no Youtube.

Quando surge a oportunidade de um novo projeto afirmam com prazer e alegria “Vai ser desta!”. Recuperam o essencial da matéria escrita para candidaturas realizadas no passado. “Esta parte está com plena atualidade!” afirmam numa primeira releitura. “Mas esta também!” prosseguem de forma entusiástica. Até que chegam à conclusão que todo o projeto tem uma atualidade inquestionável.

E avança uma iniciativa, que mais uma vez, irá “mudar o paradigma” da EFA em Portugal.

O problema dos idealistas não é terem idealismo a mais. Antes pelo contrário. sem idealistas, sistemas que funcionam ao som de tambor da “competitividade da economia” e do “serviços ao emprego e às empresas” seriam plataformas normalizadoras da sociedade com tendência a consolidarem dinâmicas cada vez menos humanas e com menos preocupações sociais.

A questão que se coloca também é do lado da sociedade civil com as suas dificuldades em funcionar em bases de autonomia e incentivar processos de contaminação através das várias correntes e formas de agir face aos projetos. A simples pergunta, porque é que as entidades que têm os seus projetos aprovados não criam redes autónomas de partilha e ficam à espera que o topo centralizador tome alguma iniciativa nesse sentido, pode encontrar explicação nas relações de poder instituídas, nas velhas relações com o Estado do tempo do regime salazarista e na forma como os financiamentos comunitários são olhados, na maior parte das vezes desligando as suas origens dos impostos dos cidadãos e empresas europeias.

Afinal haverá alguma forma de dinamizar projetos locais com utilidade social?

Essa será a base do debate que iremos realizar brevemente. Da minha parte participarei com ideias e sugestões sobre uma categoria que denomino Navegadores e que se movem nos espaços dos Territórios Aprendentes e que funcionam na base dos ESPAÇOS PATILHADOS DE APRENDIZEGEM-

Mas isto é matéria para outra abordagem escrita. Muito brevemente.

Carlos Ribeiro

Para que servem os projetos locais?

publicado 14 de outubro 2022 | Carlos Ribeiro

Os promotores e o desenvolvimento (1)

Foram anunciados novos apoios para a realização de projetos locais na área da educação e qualificação de adultos que remetem para protagonistas diversos nos territórios e cuja relação com as iniciativas a dinamizar importa analisar para avaliar as condições de implementação. A intenção prioritária deverá ser o sucesso dos empreendimentos a levar a cabo colocando os adultos aprendentes no centro dos objetivos e das práticas pedagógicas.

Numa tipologia estabelecida a partir de critérios relativamente simples podemos enunciar algumas categorias e definir a lógica central das atuações que lhes podem estar associadas.

Pragmáticos da gestão

Nesta categoria encontraremos todas as entidades que irão promover candidaturas com uma finalidade central, muito terra-a-terra, que consiste no aproveitamento de mais uma fonte de recursos financeiros para alimentar a estrutura em termos de tesouraria Consequentemente o objetivo principal será, custe o que custar, a aprovação dos projetos. Quanto ao impacto que os projetos poderão ter sobre o desenvolvimento das pessoas e dos territórios, essa matéria ver-se-á se sim ou não poderá ocorrer.

Os Boa figura

Um outro lote de promotores de projetos neste âmbito serão instituições que querem dar provas de cooperação e de pleno apoio às iniciativas dos poderes públicos, procurando assegurar a continuidade dos apoios às vertentes centrais da atividade que é realizada. Procuram por esta via de solidariedade forçada (podem contar connosco!) eliminar preventivamente interpretações de desconforto ou de discordância com o quadro que é formalmente proposta no concurso, em caso de não-candidatura.

Os Vão-a-todas

Algumas entidades participarão independentemente de uma análise rigorosa das condições que estão em cima da mesa. As questões do IVA, a entrevista inquisitorial, o número pré-estabelecido de participantes independentemente da região do projeto, a ausência de garantias nos fluxos financeiros, estas e outras questões serão secundarizadas. Acredita-se que “Vale sempre a pena” e consequentemente as dificuldades que poderão surgir serão encaradas na devida altura.

Os Externalizadores

Algumas entidades têm consciência que não existem condições para realizar ações com a escala que conduza à certificação de dezenas de adultos com níveis de qualificação muito baixos. Mas depositam confiança num parceiro mercenário que já deu provas de trabalhar bem as soluções de formação realizadas em lógica de granel. Nesses termos a parceria de vantagem mútua permite uma boa mobilização de adultos “carne para canhão” que irão viver mais uma experiência de frustração depois dos pacotes formativos de jardinagem, de informática para utilizadores, de cozinheiros, etc.

Um segundo grupo na tipologia

Esta tipologia integra um segundo grupo de entidades que procuram ver se é possível estabelecer uma ligação entre os projetos locais e os objetivos dos Centros de apoio à qualificação.

Encontraremos neste grupo os Parceiristas, os Comunitaristas e os Idealistas. Mas essa abordagem fica para uma próxima peça. Muito brevemente.

Carlos Ribeiro

O que fizemos juntos durante a fase crítica da pandemia?

COMUNIDADE DE PRÁTICA | COP EPALE – INFONET

Recordam-se deste artigo que publicámos na primeira fase de trabalho colaborativo que realizámos juntos na Comunidade de Prática que entretanto constituímos. Foi, neste caso concreto, uma reflexão produzida a partir das experiências enriquecedoras do Centro Qualifica Henriques Nogueira de Torres Vedras.

As experiências que fomos vivendo, durante as fase inicial e a posterior, foram em alguns casos sistematizadas, noutros não. E se refletíssemos e partilhássemos entre nós as aprendizagens realizadas em cooperação e em percurso de descoberta permanente?

Sistematizar a experiência, uma forma de avançar e aprender

O Centro Qualifica Henriques Nogueira de Torres Vedras agarrou  desde o início desta fase crítica as inúmeras tarefas de adaptação no funcionamento daquele dispositivo com entusiasmo e optimismo. Mas, tudo o indica, a atitude face às adversidades sendo fundamental ela representa apenas uma das facetas deste quadro de complexidade que exige mais, muito mais, da parte da Equipa e de cada um seu elemento.

O recente exercício realizado colectivamente de avaliação da actividade desenvolvida e de sitematização das experiências vividas constitui uma excelente demonstração de vitalidade e de mobilização da inteligência colectiva.

Se tivermos em conta o percurso que nos é proposto para o balanço que abaixo se transcreve com edição nossa, podemos destacar alguns tópicos fundamentais que podem servir de referência para olhares futuros sobre as práticas ocorridas:

1º A coesão da equipa: sem este ponto de partida, nada será possível;

2º Uma cultura participativa: as dinâmicas de participação são essenciais para o envolvimento de todos.

3º Uma estratégia de co-construção das soluções: ou seja, uma participação activa e comprometida de todos os interessados visando a resolução dos problemas;

4º Uma abordagem inclusiva: ninguém ficar para trás nomeadamente nas condições logísticas de participação nas actividades;

5º Uma opção de discriminação positiva face a potenciais riscos de desigualdade: a conciliação da vida familiar, pessoal e profissional no actual contexto de confinamento ou de desequilíbrio nos compromissos profissionais no seio da família;

6º A auscultação dos utilizadores finais: a recolha de opiniões e de propostas junto dos adultos que se encontram em novas condições de participação;

7º Uma liderança criativa e em permanente autorregulação: o assumir de riscos face ao desconhecido e a capacidade de partilhar com todos os membros da equipa os desafios e simultaneamente encontrar soluções em cima do acontecimento, reforçando sempre o espírito de equipa.


Os processos de RVCC escolar em curso

As mudanças provocadas pelo COVID-19 implicam pensar em novas formas de trabalho e a equipa do Centro Qualifica tem vindo a refletir sobre o assunto, não em presença, como era habitual, mas à distância.

Novas ferramentas

No nosso caso, utilizando a plataforma Teams, associado ao Office 365, onde temos os nossos emails institucionais alojados. É uma ferramenta de trabalho nova, que temos vindo a explorar e que nos tem permitido manter vivo o espírito de equipa, tão importante também no contexto atual. 

Plataforma Teams – Office 365 | Mails alojados | Espírito de equipa

Autobiografias e “meios parados”

No caso específico dos processos de RVCC escolares iniciados antes desta crise, consideramos que o importante é não abrandar na produção das autobiografias ou, no caso dos candidatos que têm estado “meio parados”, aproveitar este período para imprimir novo ritmo e retomar a construção dos portefólios. Isto caso o contexto profissional e/ou familiar de cada um o permita, obviamente.

Não abrandar| autobiografias | imprimir novo ritmo | atender às condições

Cuidar dos meios técnicos

Os canais de comunicação, os interlocutores e a estratégias de trabalho há muito que estão definidos, pelo que não estamos perante grandes mudanças a esse nível. 
Sabemos, todavia, que, ao nível dos meios técnicos (computador / internet), há alguns candidatos com problemas, o que estava a ser colmatado com mais trabalho presencial no Centro Qualifica, pelo que estão a ser pensadas novas estratégias de apoio para esses casos específicos. 

Estratégias de trabalho | Computador |Internet | Apoios


Sessão de validação

No que diz respeito aos candidatos que ainda têm ainda horas de formação complementar por realizar, as orientações relativas à sua continuidade e formas de trabalho a adotar estão a ser construídas pela equipa e serão remetidas aos visados pelos interlocutores (TORVC e /ou formadores) e canais habituais. 
No que se refere à etapa de validação de competências, que ocorre após conclusão dos portefólios, a equipa não vê dificuldades na sua realização pois dispõe dos meios técnicos necessários para tal. Ou seja, desde que haja portefólios concluídos, a sessão de validação nunca será um problema para a continuidade dos processos. 
Formação | Validação de competências | Portefólios

Desafio para todos

Após essa etapa, avançaremos para a preparação das provas de certificação e para a realização das mesmas, pelo que veremos com cada um dos candidatos e com os elementos que integrarão o júri de certificação quais os meios a que iremos recorrer. 
É uma etapa que tem de ser bem pensada, mas também não consideramos que possa constituir um obstáculo à conclusão dos processos de RVCC em causa. Será, sim, um desafio para todos nós, mas estamos cá para o enfrentar e, em conjunto, construirmos as soluções necessárias.

Preparação | Júri | Provas de certificação


Os processos de RVCC Profissional Técn. Ação Educativa 

Partilhamos o que temos estado a construir com vista à continuidade dos processos de RVCC Profissional Técnico de Ação Educativa, nos quais estão envolvidas 17 assistentes operacionais de diversos agrupamentos. Todas são detentoras do 12º ano e visam o reconhecimento, validação e certificação de competências profissionais na sua área de intervenção. 

RVCC Profissional | Assistentes operacionais |


Produzir vídeos

Considerando que se estava em plena formação complementar quando esta crise começou, a primeira preocupação da equipa foi encontrar soluções para manter o grupo coeso e dar continuidade à formação. 
Após rápida reflexão, e auscultadas as destinatárias, decidiu a equipa avançar para a produção de vídeos por unidade de competência, os quais passam a ser o elemento central da sessão de formação, sendo estes complementados pelos ficheiros de apresentação das unidades em causa, também eles produzido pelas formadoras deste grupo.

Continuidade | Auscultação | Vídeos | Ficheiros técnicos | Produção pelas formadoras

Um novo modelo de sessão de formação

A fim de se manter as lógicas de discussão e partilha que já estavam a ser construídas, foi decidido também criar-se um grupo no WhatsApp.  
Assim, neste momento, o conceito de sessão de formação complementar integra o visionamento de um vídeo (partilhado no grupo do WhatsApp), a leitura da documentação remetida via email e a participação na discussão dos mesmos, em momentos a predefinir, no grupo do WhatsApp, que passou a ser o ponto de encontro / “sala de formação”. 

 Discussão | Grupos WhatsApp | Visualização de vídeo | Leitura documentação | WhatsApp sala de formação

Exercícios viram “desafios”

Até à data, já foram construídos e partilhados os primeiros vídeos, enviados os ficheiros informativos correspondentes, estando a ser definido o primeiro momento de debate no grupo. 
Também foi reapreciado o cronograma, tendo o mesmo sofrido alterações ao nível da aplicação dos instrumentos de validação, prevendo-se a realização, a curto prazo, do primeiro exercício prático, denominado “Desafio1”, cujo produto, a remeter à equipa pelas candidatas, permitirá a validação da UC 1 e 2.

Debate de grupo | Cronograma | Exercício prático | Validação 


Otimismo

Estas novas estratégias de trabalho estão a ser bem acolhidas pelas formandas, pois permiti-lhes realizar os momentos de formação à hora mais conveniente, facilitando a conciliação com a vida familiar e profissional, nos casos em que ela se mantém ativa, havendo somente que consensualizar os horários para discussão/ debate no WhatSapp. 
A equipa está, assim, a encarar com otimismo os desafios com que está a ser confrontada e espera conseguir concretizar o que estava projetado: realizar provas de certificação profissional em julho. 

Vida familiar e profissional | Hora mais conveniente | Provas em Julho

As comunidades de inovador@s na promoção da igualdade de género

INVESTIGAÇÃO-AÇÃO | Inovação social

Encontro-me numa missão de estudo operacional inserido numa equipa da Coolabora, organização de referência nos processos de inovação social com sede na Covilhã, cuja finalidade é realizar um diagnóstico sobre igualdade de género numa entidade e num território bem delimitado.

A pesquisa inicial sobre os modelos utilizados e sobre as práticas que são desenvolvidas neste domínio revelou que existem produções de grande qualidade neste terreno, sempre complexo, que remete para dimensões subterrâneas e até ocultas dos comportamentos e das atitudes dos envolvidos nestes processos de mudança.

Das experiências visitadas, em bases documentais, surgiu a dúvida, ou até a reserva, sobre a forma como as mudanças são implementadas ou como ocorrem genericamente. O que emerge claramente das dinâmicas é que o envolvimento e ao comprometimento dos destinatários das ações preconizadas ou executadas são sempre insuficientes e claramente deficitários no plano da liderança dos processos. Não se trata apenas e só dos sistemas de governança . Na realidade existem várias questões que devem ser colocadas à partida que podem ajudar a desenhar o Caderno de Encargos do processo na sua globalidade.

QUESTIONAMENTO DE PARTIDA

As principais interrogações, que de alguma forma influenciaram a leitura e análise (e sentido de pesquisa) que estiveram presentes, foram as seguintes:

A – Como comprometer os/as participantes com a mudança?

Como envolver e comprometer nos processos de mudança os/as potenciais participantes nas iniciativas e ações de um diagnóstico que se insere numa dinâmica pré-estabelecida, em termos de políticas públicas e de método de realização, e cuja finalidade consiste em ser o ponto de partida para um Plano de Ação cujas Estratégias, Medidas e Ações estão à priori esboçadas atendendo ao quadro político-programático no qual se inserem.

B – Como enfrentar as barreiras ocultas do não-benefício?

Como ultrapassar as barreiras ocultas face a situações-tipo que geralmente emergem nas atividades associadas a metodologias participativas e que de forma não-declarada assumem o caráter de resistência ou oposição antes de mais pelo fato dos assuntos não terem aparentemente benefícios para os envolvidos.

C – Como evitar o condicionamento dos formatos-padrão e tratar do essencial em vez do formal?

Como ultrapassar a lógica dos grandes documentos, estruturados a partir de formatos que visam em primeiro lugar evidenciar uma atividade soit disant profunda ou científica (que justificará os financiamentos da operação) e que tornará o resultado digno de um padrão de avaliação formal que tem em conta principalmente o percurso e menos a qualidade do conteúdo e o potencial de mudança que possa incorporar.

D –  Como gerir as relações de poder em favor da participação e da flexibilidade?

Como ultrapassar numa organização fortemente hierarquizada, com modalidades de exercício de poder e de relações de autoridade vincadas pela natureza institucional que o Estado / Administração Local impõe e abordar de forma horizontal, aberta e desprovida de receios de futuros conflitos ou tensões profissionais temas críticos e propostas alternativas ao instituído.

E – Como poderão ser asseguradas as interações, exigíveis num projeto comum, entre todos os membros da organização?

Como romper com a guetização que cada departamento, serviço ou área organizada da estrutura  da entidade e facilitar a comunicação aberta e sem condições entre funcionários e profissionais da organização estabelecendo formas comuns e convergentes de cooperação?

A procura de respostas a estas questões também pode ser realizada colaborativamente e as estratégias serem desenhadas em co-construção, eliminando à partida a divisão clássica na investigação-ação entre investigadores e participantes nos processos. É nesta abordagem que surgem como incontornáveis as COMUNIDADES DE INOVADOR@S. Voltaremos para falar da BLIMUNDA.

Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos

O  certificado é a lei, porque se quer escolarizar a educação permanente 

OS CENTROS QUALIFICA DO FUTURO OU COMO O PODER DE AGIR DOS ADULTOS PODE ACABAR COM O ESPÍRITO MEDIEVAL NA EDUCAÇÃO PERMANENTE 

O  certificado é a lei, porque se quer escolarizar a educação permanente (Postal nº1) | Carlos Ribeiro 

Os mais jovens andam angustiados com o sentido da escola. Como escreveu José Matias Alves num texto incontornável cuja leitura aconselho:  

(https://www.facebook.com/photo?fbid=10227251904662888&set=a.1270184474194

“Tenho 15 anos. De casa para a escola. Da escola para casa. Diariamente percorro o caminho de ida e volta. E vagueio à volta de mim. Ando no 10.° ano. Humanidades. Numa turma de 33 alunos. Na escola, o professor de Filosofia diz que a educação é a alavanca do progresso social, da emancipação do homem, que é o investimento certo para o futuro. E a professora de História garante que, desde a sua criação, a escola foi um instrumento de mobilidade social; que os títulos académicos democratizaram a vida e vieram substituir a estratificação de sangue. Grande invenção, a escola, disse ela. E acrescentou que o passado nos ensina que a escola é uma passagem, o tempo de preparação para a vida ativa, para o futuro risonho e feliz. E que, por isso, era necessário o sacrifício, o esforço. Nada dessas modernices da compreensão crítica. 

(….) Tenho 15 anos. Tenho 10 anos de escola. Esmagado pelo vazio da incerteza. Pelo tédio de não perceber” 

INTERROGAÇÃO  DIAGNÓSTICA 

Podem os Centros Qualifica ser forçados a IMITAR A ESCOLA, com participantes adultos, quando os mais jovens, e com razão, apresentam tantas reservas e colocam tantas dúvidas sobre este modelo de Aprendizagens e de Viver em Comunidade de Aprendentes?