O modelo Mosaico das Oportunidades

Como acompanhar jovens apoiando o desenvolvimento do seu Poder de Agir | Carlos Ribeiro – Caixa de Mitos (contacto- carlosribeiro@caixademitos.com

O enfoque é colocado nos jovens mais afastados do emprego, privilegiando-se, em consequência,  as soluções de aproximação progressiva, a gestão dos percursos e a articulação entre os dispositivos de apoio à transição.. Trata-se de uma solução para instalar um sistema permanente de apoio à melhoria das condições socioeconómicas dos jovens assente no potencial colaborativos das comunidades locais. Ou seja, promove-se uma abordagem multiactividades nas questões do emprego/trabalho, uma abordagem mais flexível que a mera relação de emprego ou de trabalho por conta própria e por isso mais adaptada, às condições de partida e às necessidades dos jovens que apresentam maiores dificuldades face às actuais exigências da empregabilidade. 

Um conjunto de princípios estruturam um paradigma de intervenção baseado na PROCURA e na CRIAÇÃO DE OPORTUNIDADES em vez da OFERTA DE SOLUÇÕES pré-estabelecidas (emprego, formação, estágios). Um modelo não – prescritivo de apoio e de acompanhamento que tem por ponto de partida as prioridades dos jovens e  que se desenvolve através de acções negociadas e co-construídas com os próprios jovens. Esta abordagem implica o recurso a metodologias de pedagogia invertida e a iniciativas focadas na acção imediata, contornando os objectivos do emprego através de um envolvimento progressivo cujo eixo central é a valorização dos recursos que os jovens dispõem em vez do enfoque nos seus défices ou insuficiências para o mundo do trabalho.

®caixademitos

A contratualização nas comunidades locais (estamos perante a mobilização de stakeholders não – tradicionais) de disponibilidades que se traduzem em OPORTUNIDADES é realizada na base do interesse mútuo, ou seja as experiências no mundo do trabalho assentam em actividades com valor económico real e todas as experiências a serem vividas pelos jovens desenvolvem-se tendo em conta um retorno efectivo para os facilitadores dessas mesmas experiências. Neste plano, do trabalho, das vivências desportivas e culturais e das iniciativas de cidadania activa, os desafios serão colocados as todos os intervenientes e de forma multilateral. Aos stakeholders locais, aos organismos que realizam o acompanhamento  e aos jovens: todos terão  que se ajustar (aprendizagem mútua) aos critérios específicos da economia solidária e às formas colaborativas e de auto-organização que decorrem das estratégias económicas, sociais e ambientais orientadas para a sustentabilidade do território.

© Caixa de Mitos
Habitação para toda a gente

Info baseada na Academia Cidadã | CR

Na defesa do direito universal de uma habitação para todos um conjunto de entidades ligadas à área, aos sindicatos e à cidadania activa lançou uma Iniciativa de Cidadania Europeia com a denominação Habitação para Toda a Gente.

“Assine aqui: https://www.housingforall.eu/…/a-habitacao-tem-de-ser-soci…/Hoje , a Academia Cidadã no lançamento da Iniciativa de Cidadania Europeia (ICE) Habitação para Toda a Gente.
O Morar em Lisboa e o Habita com a Associação de Defesa dos Serviços Públicos Austríacos, com a #PAH – Afectados pela Hipoteca de Espanha, com a #Interjovem-CGTP-IN, a #USL-União dos Sindicatos de Lisboa , a #AcademiaCidadã, a #APPA e- Associação da População e do Património de Alfama, #AIL- Associação dos Inquilinos Lisbonense e mais cidadãos”.

Fonte © Academia Cidadã
Fundão

José Alberto Rio Fernandes, Geógrafo, Presidente da Associação Portuguesa de Geografia

Podemos ser passivos e reativos, dizendo mal e de tudo e de todos, dando a nossa situação – que queríamos melhor – como responsabilidade dos outros. Durante anos a fio que ouço comerciantes criticarem hipermercados e shoppings, ou quase todos a darem por incompetentes quem gere o Estado, responsáveis por tudo o que nos falta (mais ainda se somos funcionários públicos).

Mas também podemos ser proativos e, apesar de todos os constrangimentos, fazer melhor, a partir do que somos e com o que temos.

O caso do Fundão e o exemplo do seu presidente deveriam ser mais conhecidos. Ele herdou uma Câmara em situação de falência. Tinha (e tem) à porta a autoestrada onde o quilómetro percorrido é o mais caro do país e o concelho fica bem no dito “interior”. Além disso, quando foi eleito, a taxa de desemprego era elevadíssima e a ação do governo era mais conhecida pelos cortes que pelo investimento. Esperar-se-ia dele o discurso do “coitadinho”, algum “deixa andar” e medidas de protecionismo dos “meus”: fixar pessoas (coisa terrível essa de amarrar pessoas) e proteger empresas locais e instituições da região (o que é contrário à promoção do mérito).

Mas, não. Arriscou, como fazem os proativos! Tentou fazer melhor e abriu Fundão ao mundo. De mala na mão, como lhe ouvi dizer há dias num encontro em Aljustrel, foi atrás de técnicos que quisessem criar empresas no Fundão (no domínio da informática, sobretudo), articulou com todas as universidades formação de qualidade, promoveu o ensino de programação nas escolas e deu uso ao pavilhão multiusos, onde hoje trabalham centenas de pessoas vindas de todo o mundo. Entre outras coisas que fez e faz.

Proatividade e uma estratégia ajudam muito. E paixão pelo que fazemos. Parabéns, Paulo Bernardes Fernandes.

Reprodução autorizada pelo autor da Crónica regular no JN

José Alberto Rio Fernandes.
Gillets e capabilidades

Carlos Ribeiro – Caixa de Mitos

Os nossos gillets jaunes. São “gillets” que integram uma das cadeias / redes mais importantes do país “os cuidadores de crianças e jovens”, cuidadores no conceito não-assistencialista de “criar condições para o desenvolvimento”. Nesta rede encontramos desde os voluntários em diversas actividades de apoio, os animadores desportivos, os professores que são realmente professores (e não – os papagaios de manuais escolares), as/os cozinheiros/as e nutricionistas, os mestres de artes e expressão cultural), os/as bibliotecárias/os, os intervenientes das CPCJ …e muitos outros…um conjunto alargado de pessoas, de competências e de afectos que deveriam apropriar-se do conceito de CAPABILIDADES que Amartya Sen tanto divulgou ( assim como o Manifesto KELVOA) , para fomentarmos uma dinâmica integrada de cuidar/autonomizar e apoiar estruturalmente “sentidos de vida” em vez de sistematicamente cair na tentação moralista de prescrever “a vida que os outros – e particularmente os mais jovens – devem ter”. Outros Gillets.

Foto © carlosribeiro / caixademitos
Tu és arte

Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos

O Teatro Umano desenvolveu nos últimos anos, no quadro das intervenções da CML – Câmara Municipal de Lisboa relativas à prevenção de situações de risco ( jovens com consumos elevados e excessivos de álcool), toda uma metodologia de performance e animação de espaços públicos que combina as técnicas do Teatro de Agir-Prop com o Teatro Comunitário.

Uma iniciativa cheia de vitalidade e de energia cujos impactos seria interessante serem analisados tendo em conta as especificidades atitudinais e comportamentais do segmento de jovens para o qual a iniciativa foi prioritariamente dirigida.

No fundo é toda a questão das linguagens e das percepções nos processos persuasivos, argumentativos e de transformação que, neste tema dos consumos é particularmente desafiante, sendo o campo dos ditos “comportamentos desviantes” um dos quadros mais exigentes de investigação-acção.

Descentralização e Desenvolvimento dos Interiores com Coesão Territorial Nacional

João Ferrão, Geógrafo, Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa

João Ferrão escreve sobre “descentralização e desenvolvimento dos interiores com coesão territorial nacional” sendo o seu texto um excelente ponto de partida para o debate que as Conferências Aljustrel vão promover já nos próximos dias 9 e 10 de maio naquela localidade alentejana

“Talvez já tudo tenha sido dito e escrito sobre estes temas: de forma abstrata ou com exemplos concretos, elaborando diagnósticos ou valorizando memórias e experiências, apresentando opções políticas e programas ou acenando com sonhos e utopias. Com as convergências e dissonâncias habituais, umas quanto a questões de fundo, outras quanto à melhor estratégia a prosseguir, outras ainda quanto às condições e capacidades de concretização dos caminhos a percorrer e dos objetivos visados, há em Portugal um debate de décadas sobre estes temas que não deixa de nos interpelar: por que estamos ainda a discutir estas questões?

Na verdade, há boas razões para o fazermos. Porque no nosso país estes temas persistem na agenda política e das políticas como questões por resolver, porque é necessário aprofundar aspetos que se renovam permanentemente num mundo em rápida mudança, porque, muito pragmaticamente, estamos às portas de um novo ciclo de programação financeira comunitária que deve ser preparado com antecipação. Tudo isto é correto, tudo isto é…fado!

E no entanto…talvez valha a pena olhar para a equação descentralização – desenvolvimento dos interiores – coesão territorial nacional a partir de um outro olhar, não o dos decisores políticos, académicos, técnicos da administração, agentes económicos e sociais, mas antes o dos cidadãos vulgares, os que não fazem parte das elites – nacional, regional ou local – que têm o poder e a capacidade de decidir, influenciar, concretizar. 

Mas como transformar o cidadão vulgar dos interiores do país de mero beneficiário dos processos de descentralização, de objeto passivo de programas de desenvolvimento territorial, de alvo de uma maior coesão nacional, em sujeito e ator de iniciativas e objetivos tão complexos? E mesmo que o cidadão vulgar, na sua enorme diversidade etária e socioprofissional, seja escutado, participe, colabore, coprotagonize iniciativas e soluções, em suma, se transforme de objeto em sujeito, de espectador em ator, de alvo em atirador, isso garante que iremos encontrar respostas mais adequadas, robustas e criativas para a equação descentralização – desenvolvimento dos interiores – coesão territorial nacional?

A resposta a ambas as questões é muito simples: não sabemos. E se não sabemos teremos de indagar, descobrir, experimentar. Com a crença de que o cidadão vulgar tem informação, conhecimento e sabedoria que não podemos desperdiçar.

Populismo? Sim, mas pedagógico e inclusivo: um alerta sério para o facto de os debates entre elites, sendo incompreensíveis para os cidadãos vulgares, poderem alimentar nestes últimos o sentimento de que os assuntos em discussão não lhes dizem respeito, de que são sistematicamente esquecidos, abrindo as portas para que os seus corações sejam mobilizados por outros populismos, que lhes prometem um futuro que, a concretizar-se, seria, por certo, o caminho mais direto para a sua definitiva marginalização. Comecemos, por exemplo, por os envolver no debate sobre a criação de regiões administrativas em Portugal, um assunto que, para a maioria, parecerá longínquo, enigmático e sem ligação evidente com os seus quotidianos”. 

28 de Abril de 2019.

Foto @cvribeiro / Caixa de Mitos