Qualificar a distância de um clique

Angelina Macedo, Coordenadora do Centro Qualifica Templários | editado por Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 30 de Março de 2020

No Centro Qualifica Templários o primeiro júri de certificação realizou-se com êxito na semana passada. Foi uma aventura cujos pormenores são aqui recuperados pela sua Coordenadora Angelina Macedo que faculta, por esta via aos diversos Centros do país, os primeiros apontamentos sobre a organização e funcionamento de uma das etapas centrais do processo RVCC, desta feita realizada a distância.

Um dos candidatos, cujas competências se encontravam validadas presencialmente, possuía os recursos para uma certificação de competências a distância. Foi necessário preparar, antecipar e dinamizar um processo cujos novos moldes constituíram uma verdadeira aprendizagem para todos.

Preparação

O Skype foi testado num primeiro pequeno grupo (coordenadora e TORVCs) e de seguida com alguns formadores. A TORVC também o usou com o candidato. Assim que todos se sentiram confortáveis a usar o Skype, foi marcada a sessão de Júri. 

A sessão

A sessão foi cuidadosamente planeada tendo em mente que a CMC (Comunicação Mediada por Computador) é necessariamente diferente da presencial. 

Abertura

A Coordenadora abriu a sessão 

  • explicou o motivo desta sessão a distância uma vez que estavam participantes externos ao Centro Qualifica,  
  • Informou que a sessão estava a ser gravada, 
  • apresentou os membros do júri,
  • deu as orientações de natureza prática para a gestão da CMC definindo regras claras de comunicação e netiqueta.

O candidato

De seguida, a TORVC apresentou o candidato e deu-lhe a palavra. Este fez a sua apresentação, apoiando a sua comunicação com um suportes visuais (Power Point) e audiovisuais (vídeos  principalmente do Youtube).

Os membros do júri, todos invariavelmente a distância, colocaram algumas questões e teceram algumas considerações e comentários avulsos.

Deliberação

Enquanto que o júri deliberava, foi possível manter a trocas de impressões entre alguns participantes e o candidato que continuou a responder a questões numa base muito informal.

Após deliberação do júri, o candidato viu as suas competências serem certificadas e foi incentivado a continuar a apostar na sua valorização quer pessoal quer profissional.

Balanço

Para primeira sessão, e depois de ultrapassadas as dificuldades iniciais de comunicação, a sessão correu bem e verificou-se uma grande mobilização e capacidade de adaptação da equipa para responder a estes novos desafios.

No entanto, é de salientar que temos outros/as candidatos/as que também poderiam ser certificados/as na mesma modalidade, mas que ainda não reúnem as condições para serem certificados nesta base. 

Os filhos, esses tesouros

Uma candidata, por exemplo, referiu que está sozinha com o filho pequeno sendo previsível que este acabe por interromper a videoconferência tal como acontece quando a candidata está a falar com o marido. Desta forma terá que se aguardar que seja oportuno.

Barreiras a ultrapassar

No entanto, e apesar de se continuar a trabalhar com quem tem os recursos para isso, há trabalho que não é passível de se fazer porque também existem muitos/as adultos/as que, ou não possuem os recursos (computador e internet) ou os equipamentos estão obsoletos ou ainda não são proficientes na sua utilização.

Temos a esperança que esta crise não implique uma nova descontinuidade da política pública de educação e formação de adultos em Portugal e que esta situação contribua para sua implementação incentivando a aquisição de computadores e o acesso à Internet  a baixo custo. Importa referir que existem alunos na escolaridade obrigatória sem computador nem acesso à Internet, normalmente são os filhos dos adultos que procuram os Centros Qualifica. 

No entanto, continuamos a trabalhar e a tentar chegar o mais possível aos/às nossos/as adultos/as e dar-lhes a melhor resposta possível no atual contexto.

Algumas perspetivas sobre o júri a distância

O que nos diz o então candidato? José Nunes 

Quando iniciei este processo, nunca imaginei que teria que efetuar a sessão de certificação a distância, pela plataforma Skype. Infelizmente devido à epidemia atual em que vivemos, todos temos que nos adaptar e foi isso mesmo que a equipa que me acompanhou e ajudou neste processo fez.

Após o planeamento da mesma, a equipa foi-se adaptando no decorrer da sessão, quando surgia algum impedimento. Penso que dentro do panorama atual a sessão correu bem, sem problemas de maior, que resultaram na minha certificação.

Quero agradecer a todos os participantes, Professores e membros do Júri pela disponibilidade demonstrada face a situação em que vivemos e o apoio que me deram neste processo.

Obrigado.  

O que nos diz a TORFV?   Mónica Silva 

Enquanto Técnica de Orientação, Validação e Certificação de Competências, não me foi difícil, com o José Nunes organizar e treinar a sessão de júri via Skype. Considero que rapidamente consegui absorver uma forma diferente de trabalho, aqui o que mudou foi apenas a sessão em si, isto porque é fundamental ao nosso trabalho do dia a dia com os adultos privilegiar as redes digitais para comunicar, apesar de habitualmente apenas utilizar o e-mail. 

O José também não era o adulto comum, já possuía uma licenciatura e formação avançada na área das TIC. Por norma os nossos candidatos não têm esta destreza informática, e isso é o que mais me preocupa na continuidade do nosso trabalho, claro que tudo faremos para fornecer as ferramentas informáticas de que os alunos necessitam. Mas é um facto, os nossos adultos apresentam na sua generalidade pouca literacia digital, apesar de muitos terem e-mail e conta de Facebook, a grande maioria pouco mais sabe, e o que sabe faz no telemóvel. Muitos dos nossos adultos não têm um PC deles, recorrem aos dos filhos, ou dos netos, e até mesmo à nossa sala de trabalho com os adultos, que hoje está fechada. Além da falta de um computador, outro problema é o acesso à Internet. 

Neste momento estou a acompanhar dois candidatos que me preocupam muito, apesar de muito motivados, uma tem um PC emprestado por uma das nossas professoras (será que agora não lhe faz falta a ela?), não tem acesso à Internet, o outro tem PC mas também não tem Internet, ambos estão desempregados. Acompanho outros candidatos dos quais não tenho feedback, sei que será certamente o acesso à Internet que os impossibilita de continuar, mas é a realidade que vivemos. Com os recursos que nos forem permitidos tudo faremos para continuar a motivar e a incentivar a formação de adultos.

E a avaliação do Formador? Carlos Ribeiro (formador de STC)

Da Sessão de Certificação ressaltam três aspetos importantes:

– Grande capacidade de adaptação dos professores, neste caso, às novas tecnologias;

– Os alunos, neste caso, o formando como centro do processo ensino-aprendizagem;

– Retorno/aquisição de conhecimentos e valores por parte dos professores, ou seja, os docentes mais do que transmitirem conhecimentos, de uma forma enriquecedora, assimilam outros saberes, realidades e valores a partir dos seus formandos.

Um Centro Qualifica na batalha da  adaptação

O atual contexto da pandemia COVID-19 suscitou o reforço da adoção das ferramentas digitais a que os Centro Qualifica não podem ser alheios. Neste âmbito e para continuar a dar resposta aos/às adultos/as que procuram o Centro Qualifica Agrupamento de Escolas Templários, a equipa organizou-se para explorar novas formas de comunicação, colaboração e interação mediadas por computador.

Desde o dia 16-03-2020 que a equipa técnico-pedagógica se encontra a trabalhar a partir de casa em isolamento conforme orientações emanadas pelo atual governo, dando-se continuidade a práticas já instituídas (além das presenciais), a saber:

  • os contactos entre os vários membros da equipa, a Direção do Agrupamento, os parceiros e os/as adultos/as (…) faz-se com o recurso ao telemóvel pessoal e ao email institucional;
  • As Histórias de Vida e apresentações (a apresentar durante a sessão de Júri de Certificação de Competências) são objeto de análise e de orientações através do google drive. Existe uma pasta por adulto/a que é partilhada com o/a adulto/a, a TORVC, os/as formadores/as e a coordenadora;
  • Também temos estado a testar as plataformas digitais: optamos pelo Microsoft Teams para as reuniões da equipa e o Skype para as sessões com os/as adultos/as (que possuem os recursos).

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A alegria de Melissa

Carlos Ribeiro | Praça das Redes | Com a colaboração de Ana Cacho | 30 de Março 2020

No Centro Qualifica Arrábida, em Setúbal, todos os adultos envolvidos nos diversos processos de RVCC ou de formação estão a ser mobilizados para darem continuidade às suas actividades. Melissa Alegria que participa nas iniciativas do RVCC escolar básico adianta “Num momento como este, acho que o trabalho do Centro Qualifica Arrábida é muito gratificante para todos nós. É um método diferente do qual estávamos habituados, contudo, é sentir que apesar do caos instalado podemos continuar a fazer aquilo que nos propusemos há uns meses atrás”.

Apoio diário

E o seu testemunho evidencia legítimas expectativas exprimidas forma convicta “Continuamos a ter o apoio e o empenho diário dos nossos professores para concluirmos o ensino e quiçá esta oportunidade nos venha a ajudar no mercado de trabalho quando tudo isto terminar”.

Alento

“Os tempos que se seguem não se avizinham fáceis, esta oportunidade dá-nos o alento que necessitamos. Obrigada por continuarem a fazer este trabalho connosco” conclui em tom de valorização e reconhecimento.

Há processos de acolhimento de novos utentes que estão a decorrer

Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 30 de março de 2020

Sandro Caleira, colaborador da Rede Valorizar desde 2011 no polo do Faial, exerce funções de profissional de ORVC e também de formador. Sandro confirma-nos que nos Açores as práticas de comunicação não-presencial na concretização das diversas actividades da Rede foram ganhando raízes ao longo dos últimos anos atendendo à dispersão geográfica do arquipélago.

“Toda a equipa está a funcionar em modo de teletrabalho. Júris de certificação de competências de processos de RVCC (nível secundário) realizados a distância estão a ocorrer, algo que, em parte, já acontecia mesmo antes desta pandemia devido à dispersão geográfica do arquipélago. Entretanto novos grupos de RVCC (nível secundário) que irão funcionar a distância. Estes estão a ser constituídos a partir de novas inscrições e há processos de acolhimento de novos utentes que estão a decorrer” são estas as informações do Faial que dão corpo e alma ao lema “a Rede Valorizar não vai parar!

Promoção da formação

Desde 2011 que a rede tem realizado um trabalho meritório no aumento das competências e qualificações escolares (e profissionais) dos açorianos. “Temos ajudado a promover, junto da população açoriana, a importância da formação e do ensino para as suas vidas, seja enquanto cidadãos quer enquanto encarregados de educação e profissionais que muitos são. Este desafio tem sido árduo, trabalhoso e, como em qualquer desafio, feito de (mais) altos e (poucos) baixos” afirma Sandro nas suas convicções e sentido pragmático.

Adaptação

“Na verdade, pelas razões que nenhum de nós queria, este é um momento de adaptarmo-nos a uma nova realidade de trabalho, de (re)descobrirmos (novas) ferramentas (digitais) que temos ao nosso dispor, de ajustarmos as nossas competências a uma realidade que não sabemos por quanto tempo permanecerá. É um grande desafio? É! Seremos capazes de adaptarmo-nos e continuar a trabalhar junto dos açorianos comos temos feito até aqui? Sem qualquer dúvida!” afirmou-nos de forma categórica o profissional ORVC açoriano. 

Competências digitais

E para concluir “Mas esta realidade com que todos nos estamos a confrontar é também um indicador da importância que as competências digitais têm para as nossas vidas” adiantou Sandro que reafirma a importância do combate à “infoexclusão, ou seja, a inexistência de conhecimentos de informática na ótica do utilizador, é, nos tempos que vivemos, uma barreira para a realização de qualquer tipo de formação à distância. Será importante continuar, assim que for possível, a aposta na aquisição e desenvolvimento de competências digitais”.