É uma maneira de sentir-me normal dentro de toda esta anormalidade

Carlos Ribeiro | Praça das Redes | Com a colaboração de Ana Cacho |31 de Março de 2020

Sonia Lopes desenvolve o seu processo RVCC Escolar de nível básico no Centro Qualifica Arrábida e revela-nos que relacionar-se com outras pessoas neste quadro marcado pelo isolamento e pelo distanciamento social é particularmente importante para o seu equilíbrio. E a sua actividade no Centro Qualifica, apesar de decorrer a distância, fá-la sentir-se “normal”. Ana Isabel Miguel, coordenadora do Centro Qualifica Henriques Nogueira de Torres Vedras, afirmava no início desta situação provocada pelo COFID-19, “o importante é manter as pessoas ligadas” e tinha toda a razão.

As palavras iniciais de Sonia são motivadoras “Nesta fase tão complicada e inesperada da minha/nossa vida(s) é importante continuar, olhar em frente e sobretudo não desistir!”

Normalidade

“Continuo com força e incentivo para avançar neste processo que tenho como objetivo e sinto que é uma maneira de sentir-me “normal” dentro de toda esta “anormalidade” que vivemos” revela, convicta, quanto é indispensável para ela própria continuar e persistir na sua entrega ao processo.

Garantias acabaram

“Dávamos tudo como garantido e hoje vemos que as coisas mais simples da vida, como ir ao café da esquina ou cumprimentar um amigo foi-nos roubado. Mas este trabalho pode continuar, temos uma alternativa. Eu vou agarrá-la, e tu?” lança em tom de desafio.

“Vamos continuar…vamos todos ficar bem!” conclui.

Qualificar a distância de um clique

Angelina Macedo, Coordenadora do Centro Qualifica Templários | editado por Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 30 de Março de 2020

No Centro Qualifica Templários o primeiro júri de certificação realizou-se com êxito na semana passada. Foi uma aventura cujos pormenores são aqui recuperados pela sua Coordenadora Angelina Macedo que faculta, por esta via aos diversos Centros do país, os primeiros apontamentos sobre a organização e funcionamento de uma das etapas centrais do processo RVCC, desta feita realizada a distância.

Um dos candidatos, cujas competências se encontravam validadas presencialmente, possuía os recursos para uma certificação de competências a distância. Foi necessário preparar, antecipar e dinamizar um processo cujos novos moldes constituíram uma verdadeira aprendizagem para todos.

Preparação

O Skype foi testado num primeiro pequeno grupo (coordenadora e TORVCs) e de seguida com alguns formadores. A TORVC também o usou com o candidato. Assim que todos se sentiram confortáveis a usar o Skype, foi marcada a sessão de Júri. 

A sessão

A sessão foi cuidadosamente planeada tendo em mente que a CMC (Comunicação Mediada por Computador) é necessariamente diferente da presencial. 

Abertura

A Coordenadora abriu a sessão 

  • explicou o motivo desta sessão a distância uma vez que estavam participantes externos ao Centro Qualifica,  
  • Informou que a sessão estava a ser gravada, 
  • apresentou os membros do júri,
  • deu as orientações de natureza prática para a gestão da CMC definindo regras claras de comunicação e netiqueta.

O candidato

De seguida, a TORVC apresentou o candidato e deu-lhe a palavra. Este fez a sua apresentação, apoiando a sua comunicação com um suportes visuais (Power Point) e audiovisuais (vídeos  principalmente do Youtube).

Os membros do júri, todos invariavelmente a distância, colocaram algumas questões e teceram algumas considerações e comentários avulsos.

Deliberação

Enquanto que o júri deliberava, foi possível manter a trocas de impressões entre alguns participantes e o candidato que continuou a responder a questões numa base muito informal.

Após deliberação do júri, o candidato viu as suas competências serem certificadas e foi incentivado a continuar a apostar na sua valorização quer pessoal quer profissional.

Balanço

Para primeira sessão, e depois de ultrapassadas as dificuldades iniciais de comunicação, a sessão correu bem e verificou-se uma grande mobilização e capacidade de adaptação da equipa para responder a estes novos desafios.

No entanto, é de salientar que temos outros/as candidatos/as que também poderiam ser certificados/as na mesma modalidade, mas que ainda não reúnem as condições para serem certificados nesta base. 

Os filhos, esses tesouros

Uma candidata, por exemplo, referiu que está sozinha com o filho pequeno sendo previsível que este acabe por interromper a videoconferência tal como acontece quando a candidata está a falar com o marido. Desta forma terá que se aguardar que seja oportuno.

Barreiras a ultrapassar

No entanto, e apesar de se continuar a trabalhar com quem tem os recursos para isso, há trabalho que não é passível de se fazer porque também existem muitos/as adultos/as que, ou não possuem os recursos (computador e internet) ou os equipamentos estão obsoletos ou ainda não são proficientes na sua utilização.

Temos a esperança que esta crise não implique uma nova descontinuidade da política pública de educação e formação de adultos em Portugal e que esta situação contribua para sua implementação incentivando a aquisição de computadores e o acesso à Internet  a baixo custo. Importa referir que existem alunos na escolaridade obrigatória sem computador nem acesso à Internet, normalmente são os filhos dos adultos que procuram os Centros Qualifica. 

No entanto, continuamos a trabalhar e a tentar chegar o mais possível aos/às nossos/as adultos/as e dar-lhes a melhor resposta possível no atual contexto.

Algumas perspetivas sobre o júri a distância

O que nos diz o então candidato? José Nunes 

Quando iniciei este processo, nunca imaginei que teria que efetuar a sessão de certificação a distância, pela plataforma Skype. Infelizmente devido à epidemia atual em que vivemos, todos temos que nos adaptar e foi isso mesmo que a equipa que me acompanhou e ajudou neste processo fez.

Após o planeamento da mesma, a equipa foi-se adaptando no decorrer da sessão, quando surgia algum impedimento. Penso que dentro do panorama atual a sessão correu bem, sem problemas de maior, que resultaram na minha certificação.

Quero agradecer a todos os participantes, Professores e membros do Júri pela disponibilidade demonstrada face a situação em que vivemos e o apoio que me deram neste processo.

Obrigado.  

O que nos diz a TORFV?   Mónica Silva 

Enquanto Técnica de Orientação, Validação e Certificação de Competências, não me foi difícil, com o José Nunes organizar e treinar a sessão de júri via Skype. Considero que rapidamente consegui absorver uma forma diferente de trabalho, aqui o que mudou foi apenas a sessão em si, isto porque é fundamental ao nosso trabalho do dia a dia com os adultos privilegiar as redes digitais para comunicar, apesar de habitualmente apenas utilizar o e-mail. 

O José também não era o adulto comum, já possuía uma licenciatura e formação avançada na área das TIC. Por norma os nossos candidatos não têm esta destreza informática, e isso é o que mais me preocupa na continuidade do nosso trabalho, claro que tudo faremos para fornecer as ferramentas informáticas de que os alunos necessitam. Mas é um facto, os nossos adultos apresentam na sua generalidade pouca literacia digital, apesar de muitos terem e-mail e conta de Facebook, a grande maioria pouco mais sabe, e o que sabe faz no telemóvel. Muitos dos nossos adultos não têm um PC deles, recorrem aos dos filhos, ou dos netos, e até mesmo à nossa sala de trabalho com os adultos, que hoje está fechada. Além da falta de um computador, outro problema é o acesso à Internet. 

Neste momento estou a acompanhar dois candidatos que me preocupam muito, apesar de muito motivados, uma tem um PC emprestado por uma das nossas professoras (será que agora não lhe faz falta a ela?), não tem acesso à Internet, o outro tem PC mas também não tem Internet, ambos estão desempregados. Acompanho outros candidatos dos quais não tenho feedback, sei que será certamente o acesso à Internet que os impossibilita de continuar, mas é a realidade que vivemos. Com os recursos que nos forem permitidos tudo faremos para continuar a motivar e a incentivar a formação de adultos.

E a avaliação do Formador? Carlos Ribeiro (formador de STC)

Da Sessão de Certificação ressaltam três aspetos importantes:

– Grande capacidade de adaptação dos professores, neste caso, às novas tecnologias;

– Os alunos, neste caso, o formando como centro do processo ensino-aprendizagem;

– Retorno/aquisição de conhecimentos e valores por parte dos professores, ou seja, os docentes mais do que transmitirem conhecimentos, de uma forma enriquecedora, assimilam outros saberes, realidades e valores a partir dos seus formandos.

Um Centro Qualifica na batalha da  adaptação

O atual contexto da pandemia COVID-19 suscitou o reforço da adoção das ferramentas digitais a que os Centro Qualifica não podem ser alheios. Neste âmbito e para continuar a dar resposta aos/às adultos/as que procuram o Centro Qualifica Agrupamento de Escolas Templários, a equipa organizou-se para explorar novas formas de comunicação, colaboração e interação mediadas por computador.

Desde o dia 16-03-2020 que a equipa técnico-pedagógica se encontra a trabalhar a partir de casa em isolamento conforme orientações emanadas pelo atual governo, dando-se continuidade a práticas já instituídas (além das presenciais), a saber:

  • os contactos entre os vários membros da equipa, a Direção do Agrupamento, os parceiros e os/as adultos/as (…) faz-se com o recurso ao telemóvel pessoal e ao email institucional;
  • As Histórias de Vida e apresentações (a apresentar durante a sessão de Júri de Certificação de Competências) são objeto de análise e de orientações através do google drive. Existe uma pasta por adulto/a que é partilhada com o/a adulto/a, a TORVC, os/as formadores/as e a coordenadora;
  • Também temos estado a testar as plataformas digitais: optamos pelo Microsoft Teams para as reuniões da equipa e o Skype para as sessões com os/as adultos/as (que possuem os recursos).

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A alegria de Melissa

Carlos Ribeiro | Praça das Redes | Com a colaboração de Ana Cacho | 30 de Março 2020

No Centro Qualifica Arrábida, em Setúbal, todos os adultos envolvidos nos diversos processos de RVCC ou de formação estão a ser mobilizados para darem continuidade às suas actividades. Melissa Alegria que participa nas iniciativas do RVCC escolar básico adianta “Num momento como este, acho que o trabalho do Centro Qualifica Arrábida é muito gratificante para todos nós. É um método diferente do qual estávamos habituados, contudo, é sentir que apesar do caos instalado podemos continuar a fazer aquilo que nos propusemos há uns meses atrás”.

Apoio diário

E o seu testemunho evidencia legítimas expectativas exprimidas forma convicta “Continuamos a ter o apoio e o empenho diário dos nossos professores para concluirmos o ensino e quiçá esta oportunidade nos venha a ajudar no mercado de trabalho quando tudo isto terminar”.

Alento

“Os tempos que se seguem não se avizinham fáceis, esta oportunidade dá-nos o alento que necessitamos. Obrigada por continuarem a fazer este trabalho connosco” conclui em tom de valorização e reconhecimento.

Há processos de acolhimento de novos utentes que estão a decorrer

Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 30 de março de 2020

Sandro Caleira, colaborador da Rede Valorizar desde 2011 no polo do Faial, exerce funções de profissional de ORVC e também de formador. Sandro confirma-nos que nos Açores as práticas de comunicação não-presencial na concretização das diversas actividades da Rede foram ganhando raízes ao longo dos últimos anos atendendo à dispersão geográfica do arquipélago.

“Toda a equipa está a funcionar em modo de teletrabalho. Júris de certificação de competências de processos de RVCC (nível secundário) realizados a distância estão a ocorrer, algo que, em parte, já acontecia mesmo antes desta pandemia devido à dispersão geográfica do arquipélago. Entretanto novos grupos de RVCC (nível secundário) que irão funcionar a distância. Estes estão a ser constituídos a partir de novas inscrições e há processos de acolhimento de novos utentes que estão a decorrer” são estas as informações do Faial que dão corpo e alma ao lema “a Rede Valorizar não vai parar!

Promoção da formação

Desde 2011 que a rede tem realizado um trabalho meritório no aumento das competências e qualificações escolares (e profissionais) dos açorianos. “Temos ajudado a promover, junto da população açoriana, a importância da formação e do ensino para as suas vidas, seja enquanto cidadãos quer enquanto encarregados de educação e profissionais que muitos são. Este desafio tem sido árduo, trabalhoso e, como em qualquer desafio, feito de (mais) altos e (poucos) baixos” afirma Sandro nas suas convicções e sentido pragmático.

Adaptação

“Na verdade, pelas razões que nenhum de nós queria, este é um momento de adaptarmo-nos a uma nova realidade de trabalho, de (re)descobrirmos (novas) ferramentas (digitais) que temos ao nosso dispor, de ajustarmos as nossas competências a uma realidade que não sabemos por quanto tempo permanecerá. É um grande desafio? É! Seremos capazes de adaptarmo-nos e continuar a trabalhar junto dos açorianos comos temos feito até aqui? Sem qualquer dúvida!” afirmou-nos de forma categórica o profissional ORVC açoriano. 

Competências digitais

E para concluir “Mas esta realidade com que todos nos estamos a confrontar é também um indicador da importância que as competências digitais têm para as nossas vidas” adiantou Sandro que reafirma a importância do combate à “infoexclusão, ou seja, a inexistência de conhecimentos de informática na ótica do utilizador, é, nos tempos que vivemos, uma barreira para a realização de qualquer tipo de formação à distância. Será importante continuar, assim que for possível, a aposta na aquisição e desenvolvimento de competências digitais”.

Não vamos parar!

Carlos Ribeiro | Praça das Redes | 27 de Março de 2020

Se fosse possível assinalar a cores, no espaço aéreo, todas as ligações que a comunicação a distância está a estabelecer entre as ilhas da Região Autónoma dos Açores para assegurar a continuidade das actividades de educação e formação de adultos em todos os territórios ilhéus, teríamos uma gigantesca tela colorida com 9 nove pontos capitais e inúmeros pólos dispersos correspondentes à casa dos formadores, animadores, técnicos, coordenadores e claro às casas dos próprios formandos.

Novas turmas

Meteram mãos-à-obra rapidamente e anunciam de forma clara e sem hesitações “A Rede Valorizar iniciou hoje dia 24 de março, no Faial, mais uma turma de RVCC de nível Secundário, a decorrer totalmente à distância. Não vamos parar”. Mas não é caso único, o anúncio repete-se para S. Miguel “A Rede Valorizar iniciou hoje, em São Miguel, mais uma turma de RVCC de nível Secundário, a primeira a decorrer totalmente on-line”.

Terceira

Entretanto na Terceira, aliás como ocorre nas restantes ilhas, a Profissional de ORVC Manuela Oliveira realiza uma reunião, via skype, com os utentes da Graciosa que, dentro de poucos dias, irão participar numa sessão de certificação de nível Secundário à distância.

Não vamos parar. Este é o slogan colectivo que todos os membros da equipa assumem como seu transmitem, desta forma, entusiasmo e motivação à população da Região para as tarefas da educação e da qualificação mas também para as acções a empreender para fazer face às condições adversas criadas pelo COVD-19..

Teletrabalho com crianças em casa é um mito

Carlos Ribeiro | Praça das redes | 27 de Março 2020

Sónia Fernandes não tem mãos a medir. Formadora no Centro Mais de Fafe, o Centro Qualifica que abarca as várias frentes de trabalho da AEFAFE- Associação Empresarial de Fafe, de Cabeceiras de Basto e de Celorico de Basto e de vários parceiros locais, Sónia deu-nos nota da sua atitude antecipatória face às iniciativas a promover no novo contexto de actuação do dispositivo fafense. Revelou-nos que a condição de formador na actual situação está longe de ser pera doce. Os desafios são muitos.

Gerir o tempo

“Já estamos a antecipar e a problemática do COVID-19 está a ser trabalhada pelos meus adultos em vários domínios/núcleos geradores” afirmou, logo no primeiro contacto que estabelecemos com a Equipa Qualifica há uma semana. Alguns dias passados debate-se agora com a gestão do seu tempo atendendo ao facto de estar em casa com os filhos que mobilizam permanentemente a sua atenção. 

Desmoralizar, nunca!

“Para além do meu trabalho tenho que estudar com o meu filho mais velho e necessariamente brincar com ele e com o mais novo. E, importa referi-lo, restam ainda as tarefas domésticas que é preciso realizar no dia-a-dia” desabafa, numa constatação que não a desmoraliza, nem a diminui no seu desempenho, mas a coloca numa posição de procurar as melhores soluções para enfrentar todos os desafios a que está sujeita.

Situação paradoxal

 “Não reduzi as minhas tarefas profissionais, pelo contrário, tenho que orientar os meus grupos do Qualifica, preparar materiais para a escola, realizar avaliações, participar em reuniões, orientar e acompanhar os meus alunos dos meus 2 ATL/centro de estudos, tudo online e com duas crianças. São vários campos de actuação que devo agora realizar a partir de casa. Confesso que estou a chegar à conclusão que o teletrabalho, com crianças em casa, é um mito, é um sentimento constante de que não estou a dar o apoio necessário aos meus filhos porque tenho de trabalhar e, por outro lado, que no trabalho não consigo ser produtiva porque tenho de dar atenção às crianças“ conclui, numa auto-avaliação muito em cima do acontecimento e que poderá ser aprofundada em tempos mais próximos, quando tiver algum tempo para parar, respirar e pensar.

Templários foram pioneiros na certificação a distância via Skype

Carlos Ribeiro Praça das Redes | EPALE| presente na sessão a convite da Coordenação do Centro Qualifica | 26 de Março de 2020 | editado

Uns minutos antes das 15h00, hora marcada para o início da sessão de júri com José Nunes, candidato a uma certificação de nível secundário através de um processo RVCC, já vários membros da Equipa do Centro Qualifica Templários (Tomar) trocavam entre eles mensagens preliminares e aferiam do bom funcionamento do Skype, a plataforma seleccionada para a comunicação prevista entre todos os participantes.

Júri

“Serão membros do júri de certificação do aluno José Manuel Nunes Casimiro Nunes os seguintes professores na qualidade de avaliadores: José Lopes (CLC) Margarida Manteiga (CP) e Carlos Ribeiro (STC) e eu, Mónica Silva Técnica que acompanhou este adulto que se propõe à certificação do nível secundário” foi assim que a pivot do encontro lançou as bases e os objectivos da sessão dirigindo-se, a partir da sua própria casa, ao painel de participantes na sessão que se encontravam em idêntica situação.

Apresentação

Os dados estavam lançados. A primeira experiência de realização de um júri de certificação numa sessão realizada totalmente a distância estava a ganhar corpo. Angelina Macedo, coordenadora da Equipa atenta, apoiava Mónica nesta fase de arranque. Os primeiros reparos, logo a seguir à entrada em cena de José Nunes que partilhou o ecrã e projectou uma Apresentação em Power Point,  não tardaram a aparecer: “Não vejo ninguém!”, “Continuas sem me ouvir?”, “Não tens imagem” e sucessivamente até que as afinações, finalmente, ficaram concluídas. Afinal de contas até foi rápido e tudo ficou a postos para ouvir o candidato que introduziu o tema do Tráfico de Seres Humanos.

Videos e outras ilustrações

José Nunes, que em termos profissionais está ligado à criminologia, apresentou a sua pesquisa sobre o assunto e divulgou vídeos e outras ilustrações que proporcionaram ao júri evidências de um domínio temático e de competências adquiridas no campo da sistematização de informação e de comunicação com terceiros.

Na sala virtual assistia-se a alguns movimentos de saída e de entrada, nem todas as questões logísticas estavam resolvidas. No entanto as funções de cada elemento do júri estavam bem definidas e foram eficazmente desempenhadas o que assegurou a habitual estabilidade do processo. A dinâmica final das perguntas e respostas foi curta e e não se prolongou excessivamente.

Certificação

“Só ficam os membros que vão certificar” foi esta a declaração de Mónica Silva que chamou à razão os presentes e indirectamente relembrou que a expectativa central da sessão não estava na utilização de meios tecnológicos mas antes na certificação propriamente dita do candidato.

Concluída a reunião júri propriamente dito foi anunciado que José Nunes obteve a certificação desejada e os momentos finais serviram para tecer elogios ao trabalho realizado e a enaltecer a qualidade da apresentação que José Nunes preparou com muita dedicação.

Foi positivo

Os momentos finais do encontro serviram ainda para comentar de forma muito informal os diversos pequenos incidentes ocorridos no plano logístico e para anunciar que as próximas experiências serão realizadas com outras plataformas como o Zoom e a Cisco Webex.

E os desabafos e as avaliações espontâneas continuaram mais uns minutos bem humorados, com alguém a recordar que desta vez não poderia haver o habitual petisco depois da realização do júri. Finalmente uma formadora adiantou “Não me interpretem mal. Para uma primeira experiência foi bom. Baby steps” e outro formador declarou a rematar “Como bom algarvio, direi que não correu mal”.

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Cada coisa a seu tempo, mas tem que se olhar para o horizonte

Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos | 23 de Março de 2020

Não se pode fazer tudo de uma só vez, sobretudo quando há tanta coisa para fazer. É pois razoável a implementação de estratégias gradualistas e seguras que garantam  a melhor forma possível para lidar com as mudanças em curso nos processos de aprendizagem.

Etelberto Costa, companheiro de processos de sensibilização e co construção em matéria de inovação na educação de adultos adiantava numa recente partilha de opiniões a ideia que face a pressão que se está a verificar para uma entrada em força nas soluções digitais de educação-formação que os actores desta mudança não deveriam “deixar-se enfeitiçar pelas tecnologias”. Depreendo que devam usá-las com audácia e criatividade, adaptando-as às necessidades de cada um e de cada grupo e assumindo a sua importância relativa e proporcional no processo complexo da aprendizagem.

Outro modelo

Isto porque esta mudança, se for apenas tecnológica, não resultará naquilo que é essencial, ou seja numa reformulação profunda dos sistemas de aprendizagem baseados no modelo taylorista para a educação e a formação.

Seguem-se apontamentos genéricos sobre alguns desafios que se colocam de imediato e para os quais impõe-se que exista uma aproximação gradual e consequentemente uma gestão individual adequada para os enfrentar e ultrapassar:

Aprendemos todos, uns com os outros

1º Da mesma forma que muitos professores,  formadores e outros animadores de aprendizagens estão a colocar abertamente aos seus pares, em grupos online de apoio e de entreajuda por exemplo no Facebook ou no WhatsApp, as dificuldades concretas que sentem na utilização dos meios digitais que estão a descobrir, deveriam admitir que os seus alunos ou formandos poderiam e deveriam usar o mesmo princípio da aprendizagem colaborativa e entre pares, para a matéria que irão tratar e desenvolver com os alunos. Ou seja, para além de uma abordagem pedagógica baseada nas metodologias participadas e de descoberta, fomentariam dinâmicas de inteligência colectiva e introduziriam mais-valias no processo de aprendizagem combinando abertura com regulação e sistematização das ideias e das experiências vividas por todos. Esta recente experiência do manuseamento dos novos meios tecnológicos pode favorecer uma ruptura positiva com a ideia do ensinar e favorecer uma abordagem mais integrada centrada no facilitar, no acompanhar e no sistematizar. 

Cuidar da vida comum

2º No arranque desta fase de rápida adaptação às novas modalidades de comunicação e de funcionamento foi necessário realizar uma avaliação dos recursos disponíveis e potencialmente utilizáveis por cada um dos membros do grupo de participantes. Compreende-se que numa primeira etapa a questão da continuidade das actividades fosse central. Mas agora e muito rapidamente o grupo precisa de CUIDAR das condições de participação de todos os seus membros. Quem tem computador, quem não tem, quem precisa de software, quem pode facilitar a todos a utilização de um equipamento de que dispõe. Essa deve ser uma tarefa de TODOS OS MEMBROS DO GRUPO. Cuidar de uma relação inclusiva não é matéria vaga e de frases bonitas. Trata-se de encontrar soluções, de ultrapassar barreiras e dificuldades e neste processo forjar uma cultura de SOLIDARIEDADE e de cooperação no seio do grupo. Os valores, que tantos apregoam como fundamentais nos processos educativos, não devem ser apenas matéria para aula e ou para exposição temática do professor ou professora. Devem ser o cimento da relação entre os grupos de aprendentes.

Os novos papéis na dinâmica colaborativa

3º As condições logísticas do funcionamento dos grupos de aprendizagem ou de processo de RVCC nas actuais circunstâncias obrigam a uma reformulação das interacções anteriores tendencialmente fortemente hierarquizadas e de sentido top-down por sistema.

Novos papéis podem ser assumidos nos grupos de forma partilhada e até rotativa.

A função de INFOR-HELP pode ser assumida por um formando ou um aluno com uma preparação elevada nos domínios do hardware e do software e que pode apoiar todos os outros, o formador ou professor inclusive. Se no grupo estas competências não existirem disponíveis, uma das tarefas do grupo é encontra alguém exterior ao grupo que de forma voluntária desempenhe esse papel determinante;

A função de NET-BIBLIOTECÁRIO pode ser desempenhada por alguém do grupo que organiza de forma regular toda a documentação temática associada às sessões, que a disponibiliza de forma dinâmica e que a reforça com sugestões próprias validadas pelo professor / formador;

A função REPÓRTER DIGITAL pode ser desempenhada por um pequeno grupo (dois, máximo três) que escreve e produz materiais multimédia para ilustrar as actividades formativas que são levadas a efeito. Esta informação reforça a identidade e a cultura de grupo e tem a dupla vantagem de sistematizar as principais ideias das aprendizagens em curso e em aprofundamento.

E outras funções existem e voltaremos a elas.

Por agora fazemos um caminho inverso ao copy.paste das actividades presenciais no universo digital porque pretendemos que esta nova oportunidade não seja principalmente tecnológica mas acima de tudo um reatar profundo da educação e da educação de adultos com o desenvolvimento das pessoas, das organizações e dos territórios.

Eles inventam formas mirabolantes de gravar, de enviar, de anexar documentos

Carlos Ribeiro | Praça das redes | 23 de Março de 2020

A Escola Lima de Freitas, em Setúbal, encerrou como as outras. A quarentena tornou-se palavra de ordem no Centro Qualifica Arrábida e com a Equipa Tecnico-pedagógica em casa, rapidamente o arsenal de meios de comunicação foi mobilizado. Objectivo bem concreto: continuar a trabalhar.

Anqep informou

“A Equipa do Qualifica veio logo para casa. Trabalhamos com os candidatos por e-mail, whatsApp, telefone e outros. Já recebemos orientações da ANQEP sobre como desenvolver a formação à distância e, como a Agência já percebeu que dificilmente os trabalhos regressarão ao formato anterior este ano letivo, estão a organizar a possibilidade da certificação também à distância” palavra da Ana Cacho, TORV que tem sido a ligação às iniciativas da EPALE na vertente não-formal e informal.

No básico é difícil

“Este sistema não será para todos. Os candidatos do Básico, especialmente, na sua maioria, dificilmente conseguirão desenvolver a formação à distância. Para alguns a recepção de um simples e-mail é um autêntico drama, o envio de anexos uma tragédia. Podemos imaginar agora todo o processo em modo digital, sem termos tido tempo para os preparar, e de nos preparamos também com os respectivos materiais” adianta Ana as reservas que lhe surgem como evidentes atendendo à experiência existente neste domínio do uso das tecnologias digitais.

Inventar é preciso

“O acompanhamento das Narrativas Autobiográficas até está a correr bem, mesmo com candidatos (quase) info excluidos. Eles desformatam os documentos, eles “inventam” formas mirabolantes de gravar, de enviar, de anexar documentos mas vão conseguindo. Vamos ver se o “resto” também acontece” conclui com uma nota de esperança, ou seja combinando uma análise realista das condições concretas existentes e uma crença que a criatividade e o estado de espírito dos adultos participantes nos processos.


Dez dias que abalaram os Centros Qualifica

Carlos Ribeiro | Embaixador EPALE para a educação não-formal e informal | 22 de Março de 2020

Uma viagem “epaliana” através do contacto telefónico, das redes sociais e da comunicação por mail que reforçou a necessidade das redes e da cooperação entre os Centros Qualifica do país.

A semana que passou foi particularmente intensa para os Centros Qualifica que tiveram que adaptar o seu funcionamento aos novos moldes impostos pelas circunstâncias dramáticas do COVID-19.

É nestes contextos de adversidade e de dificuldade generalizada que vale a pena falar de redes e de cooperação. E sim, a disponibilidade para interagir e colaborar é muita e nós só confirmámos aquilo que sempre dissemos no passado: as redes valem a pena quando elas são indispensáveis para resolvermos problemas que não conseguimos resolver sozinhos. E na EPALE-INFONET metemos mão à obra, com as colaborações possíveis nesta primeira fase. Desde já o Etelberto Costa como adviser dos meios digitais empenhou-se na informação e na mobilização sistemática dos actores da educação-formação. O Acir Meireles, que está focado noutras batalhas açorianas ainda teve tempo para nos indicar as iniciativas da Rede Valorizar.

Nós viajámos por Fafe, Torres Vedras, Tomar, Alenquer, Setúbal, Ponta Delgada, Loulé e conversámos principalmente com coordenadores que partilharam de forma muito espontânea as suas iniciativas, mas também as suas dúvidas e necessidades de apoio.

A palavra de ordem foi comum. Encerrámos todas as actividades presenciais nas instalações dos Centros Qualifica mas o trabalho continua. Todos os adultos envolvidos em actividades de formação ou de RVCC foram convidados a continuar a desenvolver as suas tarefas a partir de casa. Entretanto as Equipas dos Centros iniciaram um processo de auto-organização a partir de meios digitais e, admitindo que o ritmo normal poderá ter um pouco abrandado, a continuidade das diversas acções foi assegurada.

Que ideias-força podemos destacar deste primeiro périplo “epaliano”:

A gratidão da partilha e a valorização do contacto directo e pessoal como elemento de estímulo e de compensação nos momentos difíceis.

Esta sensação de “não estamos sozinhos/as” torna-se particularmente importante quando a pressão é enorme e que as decisões que é preciso tomar não são tão evidentes quanto podem aparentar.

2º A definição do objectivo “de ligar as pessoas e de as manter em contacto”  como essencial nas acções a levar a efeito nos próximos tempos demonstra que os dispositivos de formação e de educação de adultos podem e devem assumir a sua natureza humanista e cidadã acima da dimensão administrativa e tecnocrática que lhes é sistematicamente imputada. 

3º Trata-se em alguns domínios de dar continuidade ao que já era praticado pelas equipas na sua actividade quotidiana. Por exemplo o contacto regular por mail com os adultos e algumas comunicações telefónicas ou através das redes sociais são pontos de partida seguros que importa agora aprofundar.

Reunir toda equipa a distância assume de facto um caracter experimental. Escolher a plataforma ou a o meio de comunicação colectivo é o primeiro ponto a resolver. Isto porque a escolha tem que ter o consenso dos diversos membros do grupo já que as condições tecnológicas de uns e de outros são bastantes diferentes. 

5º Os desafios de novas experimentações estão lançados, desde a realização de sessões de formação complementar à organização de júris online. Várias necessidades estão a aguçar o engenho. E a suscitar curiosidade em toda a comunidade dos Centros Qualifica.

6º É preciso tratar dos aspectos administrativos, registos, actas, formalizações de actividades levadas a efeito. E cuidar dos membros das Equipas que ficaram em situação de particular vulnerabilidade remuneratória face á situação criada. Cuida r do sistema, mas em primeiro lugar cuidar das pessoas.

7º Sugestões e propostas de actividades simples e claramente exequíveis são um sinal de bom-senso e de respeito por todos. Ou seja, neste caso, cuidar que ninguém fique para trás. Pode aqui ser mencionada a indicação da actividade para os adultos em processo RVCC de “lerem um livro”. Sim, simples, com a opção de escolha pelo próprio, mas com uma orientação de acompanhamento e de aprendizagem: realizar um resumo e sistematizar a experiência de leitura.

Estes são os primeiros apontamentos da viagem EPALIANA realizada ao longo da semana com alguns dos dinamizadores da inovação no sistema de qualificação e educação de adultos. Para semana, voltaremos.