Dez dias que abalaram os Centros Qualifica
Carlos Ribeiro | Embaixador EPALE para a educação não-formal e informal | 22 de Março de 2020
Uma viagem “epaliana” através do contacto telefónico, das redes sociais e da comunicação por mail que reforçou a necessidade das redes e da cooperação entre os Centros Qualifica do país.
A semana que passou foi particularmente intensa para os Centros Qualifica que tiveram que adaptar o seu funcionamento aos novos moldes impostos pelas circunstâncias dramáticas do COVID-19.
É nestes contextos de adversidade e de dificuldade generalizada que vale a pena falar de redes e de cooperação. E sim, a disponibilidade para interagir e colaborar é muita e nós só confirmámos aquilo que sempre dissemos no passado: as redes valem a pena quando elas são indispensáveis para resolvermos problemas que não conseguimos resolver sozinhos. E na EPALE-INFONET metemos mão à obra, com as colaborações possíveis nesta primeira fase. Desde já o Etelberto Costa como adviser dos meios digitais empenhou-se na informação e na mobilização sistemática dos actores da educação-formação. O Acir Meireles, que está focado noutras batalhas açorianas ainda teve tempo para nos indicar as iniciativas da Rede Valorizar.
Nós viajámos por Fafe, Torres Vedras, Tomar, Alenquer, Setúbal, Ponta Delgada, Loulé e conversámos principalmente com coordenadores que partilharam de forma muito espontânea as suas iniciativas, mas também as suas dúvidas e necessidades de apoio.
A palavra de ordem foi comum. Encerrámos todas as actividades presenciais nas instalações dos Centros Qualifica mas o trabalho continua. Todos os adultos envolvidos em actividades de formação ou de RVCC foram convidados a continuar a desenvolver as suas tarefas a partir de casa. Entretanto as Equipas dos Centros iniciaram um processo de auto-organização a partir de meios digitais e, admitindo que o ritmo normal poderá ter um pouco abrandado, a continuidade das diversas acções foi assegurada.
Que ideias-força podemos destacar deste primeiro périplo “epaliano”:
1º A gratidão da partilha e a valorização do contacto directo e pessoal como elemento de estímulo e de compensação nos momentos difíceis.
Esta sensação de “não estamos sozinhos/as” torna-se particularmente importante quando a pressão é enorme e que as decisões que é preciso tomar não são tão evidentes quanto podem aparentar.
2º A definição do objectivo “de ligar as pessoas e de as manter em contacto” como essencial nas acções a levar a efeito nos próximos tempos demonstra que os dispositivos de formação e de educação de adultos podem e devem assumir a sua natureza humanista e cidadã acima da dimensão administrativa e tecnocrática que lhes é sistematicamente imputada.
3º Trata-se em alguns domínios de dar continuidade ao que já era praticado pelas equipas na sua actividade quotidiana. Por exemplo o contacto regular por mail com os adultos e algumas comunicações telefónicas ou através das redes sociais são pontos de partida seguros que importa agora aprofundar.
4º Reunir toda equipa a distância assume de facto um caracter experimental. Escolher a plataforma ou a o meio de comunicação colectivo é o primeiro ponto a resolver. Isto porque a escolha tem que ter o consenso dos diversos membros do grupo já que as condições tecnológicas de uns e de outros são bastantes diferentes.
5º Os desafios de novas experimentações estão lançados, desde a realização de sessões de formação complementar à organização de júris online. Várias necessidades estão a aguçar o engenho. E a suscitar curiosidade em toda a comunidade dos Centros Qualifica.
6º É preciso tratar dos aspectos administrativos, registos, actas, formalizações de actividades levadas a efeito. E cuidar dos membros das Equipas que ficaram em situação de particular vulnerabilidade remuneratória face á situação criada. Cuida r do sistema, mas em primeiro lugar cuidar das pessoas.
7º Sugestões e propostas de actividades simples e claramente exequíveis são um sinal de bom-senso e de respeito por todos. Ou seja, neste caso, cuidar que ninguém fique para trás. Pode aqui ser mencionada a indicação da actividade para os adultos em processo RVCC de “lerem um livro”. Sim, simples, com a opção de escolha pelo próprio, mas com uma orientação de acompanhamento e de aprendizagem: realizar um resumo e sistematizar a experiência de leitura.
Estes são os primeiros apontamentos da viagem EPALIANA realizada ao longo da semana com alguns dos dinamizadores da inovação no sistema de qualificação e educação de adultos. Para semana, voltaremos.