Finlandeses

Eu já o disse, outros antes de mim também e espero que muitos mais no futuro: não há nenhum problema em ser do (ou morar no) “interior”, relativamente a ser ou viver de/em áreas metropolitanas, ou nos espaços de mistura e forte presença industrial, como entre Aveiro e Coimbra ou Braga e Amarante.

Carlos Lage retratou a questão de modo sugestivo, em forma de pergunta: “Porque persiste uma estranha miopia sobre o mundo do interior, quase sempre descrito com as mesmas palavras e conceitos, num enfadonho imobilismo mental, fazendo dele um retrato passadista que acentua o lado negativo e subestima os grandes avanços conseguidos?”

Sim, porquê? Porque pensamos em velhos e agricultura de subsistência e recusamos ver o presente, onde a modernidade se mistura e tanto mudou? Alguns querem até convencer-nos que se vive pior em lugares magníficos como Vila Flor ou Trancoso, do que nalguns lugares das maiores cidades do país.

Será que o problema maior não será uma visão cascaisocêntrica ou fozocêntrica que remete os habitantes do interior a uma condição caricatural? Será disso que estes se tentam libertar, imitando, a ver se fica tudo igual? Talvez.

Penso que o que faz falta é simples, obrigando apenas a perceber que espaços diferentes precisam de políticas diferentes. Porque o fecho dum posto de correio em Mondim de Basto é muito mais grave do que na Areosa; o acesso à saúde não pode ser pensado da mesma maneira em Matosinhos e Vimioso; nem Boticas ou Pinhel podem alimentar a ambição de ter muita gente, grandes prédios e filas de turistas.

Será que, de tanto se falar em desequilíbrio territorial, se pensa que o equilíbrio é possível, por isso vendo em menos gente menos desenvolvimento? Vão contar essa aos finlandeses…

Autor: José Alberto Rio Fernandes, 25 de Julho de 2018 | Coluna de opinião do JN

Professor Universitário, geógrafo e Presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos

In-loco, associação referência do desenvolvimento local festejou 30 anos

A Direcção da In-Loco emitiu um comunicado no qual dá nota não só de agradecimentos públicos mas também de uma declaração de compromisso com o desenvolvimento de base local para futuro tendo adiantado um conjunto de orientações e desafios que valorizam esta associação como um pilar central dos processos associativos e colaborativos em Portugal. Sim! uma Escola de Cidadnia.

“Venham mais 30!Desde 1988 a trabalhar para o Desenvolvimento Local e Cidadania

Neste ano em que a Associação In Loco celebra três décadas, é da mais elementar justiça fazer um agradecimento público da dedicação das muitas dezenas de colaboradores que se empenharam ao longo destes anos muito para além do seu dever, apoiando as pessoas e as comunidades locais envolvidos em processos de desenvolvimento sustentado suportado nos recursos materiais e imateriais do seu território. Este reconhecimento profundo é extensível a todas as entidades e organizações parceiras, formais e informais, desde o nível local ao internacional e sem as quais nunca teríamos conseguido concretizar a missão que nos motiva: Promover o desenvolvimento de base local com vista à melhoria da qualidade de vida nas suas múltiplas dimensões.

Para celebrar e retribuir de uma forma singela a confiança que tantas pessoas e organizações depositam em nós, iremos realizar até Agosto de 2019 um conjunto de eventos festivos por todo o território onde a Associação In loco tem uma intervenção mais intensa e próxima da comunidade. Iniciámos estas comemorações a 11 de Julho, em Silves, com a Universidade “Pensar Global Agir Local”, dedicada à produção alimentar. Siga no site www.in-loco.pt os próximos eventos, participe ativamente na sua organização e disfrute da sua realização.

Mas muito mudou nestes últimos 30 anos. Mudou a sociedade, mudaram as ferramentas, mudaram os atores locais e institucionais, mudaram as formas de organização e de intervenção. Por isso, é fundamental que a In Loco mude também, preparando-se e adaptando-se para dar pelo menos nos próximos 30 anos uma resposta ainda mais eficaz e eficiente aos desafios do passado e do futuro e a todas as oportunidades por descobrir e aprofundar. É nesse sentido que propomos implementar algumas estratégias de sustentabilidade:

  • Alargar a base de representatividade, convidando todos os que de alguma forma já foram envolvidos nas iniciativas da In Loco – e que se revêem na nossa visão de um mundo participado, solidário e sustentável – para se proporem como sócios e contribuírem com as suas ideias e energia para o aprofundamento e sustentabilidade deste projeto coletivo;

  • Disponibilizar ao exterior as competências e experiência acumuladas ao longo dos últimos 30 anos, reforçando a prestação de serviços técnicos e científicos à comunidade e às entidades em domínios como a gestão de projetos, estudos, processos participativos, turismo sustentável, dieta mediterrânica, animação local; desenvolvimento sustentável, educação e formação, intervenção social, entre outros;

  • Otimizar as instalações necessárias para uma equipa altamente profissionalizada mas de menor dimensão (20-25 colaboradores), adquirindo instalações melhor adaptadas aos requisitos atuais de espaço e recursos tecnológicos – preferencialmente no centro do Algarve – e alienando as atuais instalações do edifício-sede. Esta operação é igualmente fundamental para diminuir os custos da dependência bancária e aumentar a autonomia financeira indispensável para a realização de investimentos nos projetos nacionais e comunitários em curso ou aprovados;

  • Consolidar a dimensão regional e nacional de muitas das estratégias em curso, assumindo os papéis de mediação institucional e de dinamização de redes de cooperação, essenciais para ganhar escala, projeção e impacte;

Queremos continuar a ser uma “escola de cidadania” e uma plataforma de cooperação onde indivíduos e parceiros institucionais podem conjugar esforços para gerar sinergias e atingir resultados que superam as capacidades individuais.

Contamos contigo para os próximos 30 anos!


Pela Associação In Loco, a Direção,

Artur Gregório, Sandra Rosário, Nelson Domingues, Carla Barros, Vânia Martins”

Portugal exportador

Entre países, vender é essencial, para se poder comprar e suportar as funções essenciais do Estado orientadas para o bem-estar de todos, desejavelmente com maior coesão social e territorial.

Há uns séculos, o essencial da riqueza saia do solo e “exportar” significava ser-se capaz de colocar longe produtos da agricultura, da extração e algumas manufaturas. Depois, a indústria ganhou importância e ainda hoje é essencial, apesar de se ter verificado um significativo aumento dos serviços.

Desde a agricultura (pouco), da indústria (no essencial) e dos serviços (também), a exportação é vital para a nossa existência como país desenvolvido. Por isso se fala muito – e bem – de algumas empresas que se afirmam no mundo (como a Critical Software ou o CEEIA), ou da atração de outras tecnologicamente avançadas (como a Google). Neste papel de criação e reforço de empresas exportadores, o Estado tem um papel importante, mais ainda alguns empresários e investigadores.

Considerando a “geografia da exportação”, realçando aqui o que é também muitas vezes o resultado do esforço de municípios que olham muito além de obras e festas, ou quase só em mais turistas, importa sublinhar que os que mais exportam são Lisboa, Palmela e Vila Nova de Famalicão, o que é compreensível face à quantidade de empresas que têm sede na capital e à relevância da Ford-Volkswagen e da Continental, respetivamente. Todavia, o registo mais interessante é o dos que aumentam mais as exportações entre 2014 e 2017, a saber: Odemira, Bragança, Beja, Braga, Tábua, Gondomar, Abrantes, Alenquer, São João da Madeira e Vila Nova de Cerveira – perto e longe do mar e em contexto metropolitano ou não, note-se –, merecendo um sublinhado especial pelo volume da variação Braga, Palmela e Maia.

Crónica de José Albero Rio Fernandes para JN

Professor Catedrático FLUP. Presidente da Piedade Portuguesa de Geografia

11 de Julho de 2018

Projecto europeu TellMe apresentado na Fundação Saramago

Theatre for Education and Literacy Learning of Migrantes in Europe (TellMe) é o título do projecto apoiado pelo Erasmus+ que pretende desenhar, testar e dissiminar uma metodologia específica para a aprendizagem de uma língua estrangeira através de técnicas teatrais. O seu público-alvo são os migrantes e os refugiados que revelam uma necessidade urgente nesta matéria já que o domínio da lingua do país de acolhimento surge como um imperativo para a inclusão social dos recém-acolhidos.

O projecto foi apresentado na Fundação Saramago pelos parceiros do projecto a ASTA (www.aasta.info), Portugal e pelo Il Nobel per i disabili (www.comitatonobelididisabili.it) Itália, tendo havido ainda apresentações de enquadramento a cargo da Câmara Municipal da Covilhã e do CPR – Conselho Português para os Refugiados. Do programa do evento constaram ainda as seguintes intervenções:

– Jacopo Fo, presidente do Nuovo Comitato Il Nobel per i disabili (por videoconferência)

– Nazzareno Vazapollo, gestor do projeto Tell Me, em Itália

– Sérgio Novo, gestor do projeto Tell Me, em Portugal

– Maria Teresa Mendes, presidente do Conselho Português de Refugiados

– Isabel Galvão, professora de português nos centros de educação do Conselho Português de Refugiados

O projecto já produziu um primeiro manual em português – Migrantes, Aprendizagem e teatro – que pode ser consultado e descarregado a partir da plataforma digitalhttps//social.tellmeproject.com.

A EPALE estve presente e participou no evento através de Carlos Ribeiro, Embaixador para a Educação informal e não – formal.

CR/junho2018