29 de Março, 2024

Praça das Redes

Jornalismo cidadão | Redes e Comunidades

O que diz Giacomo?

O tema do decrescimento não é novo. Já nos anos 70 era mencionado “en passant” por alguns pensadores críticos da evolução do capitalismo num sentido cada vez mais “selvagem”. Mas Giacomo d´Alisa não trata o assunto para se dar ares de “alternativo”. O seu discurso e as suas propostas são para orientar reflexão mas também acção. Por isso vale a pena ir ao encontro de uma abordagem que apresenta uma faceta peculiar; segundo Giacomo o conceito de decrescimento não é capturável, no plano da linguagem mas também da  visão a ele associada, pelos decisores e ideólogos do capitalismo contemporâneo. Enquanto que o “desenvolvimento sustentável” e a própria “economia circular” se apresentam como referências que foram adaptadas e inseridas no discurso mainstream e na própria agenda do crescimento, para dar credibilidade à continuição de um processo de destruição dos recursos do planeta e do aprofundamento da pobreza a nível global, o conceito de “decrescimento” está blindado a processos de captação oportunistas porque se situa no ponto oposto da estratégia de fundo dos defensores do capitalismo actual.

Alguns questionam a consistência, no plano alternativo, de uma formulação negativa para agregar visões e vontades de mudança social. André Barata na “aula aberta” de Giacomo d´Alisa na UBI ontem dia 6 de Abril adiantava uma preferência por uma denominação de pós-crescimento. Outros permanecem fiéis ao conceito amplo e global de desenvolvimento.

Uma coisa é certa, a interpelação decrescimentista que nos foi  proposta por Giacomo d´Alisa, na Coolabora primeiro e na UBI na jornada seguinte,  é muito desafiadora, sendo agora necessário, para quem quer ir mais além, ultrapassar a fase da “crítica implacável ao crescimento” e do diagnóstico mais ou menos catastrofista, para uma análise sobre todas as questões essencias da nossa vida em comum, fazendo emergir no contexto desta “crise antropológica” segundo Morin ou “crise de civilização” na versão de Serge Latouche, um imaginário suficientemente aglutinador das inúmeras iniciativas e ideias que convergem para uma mudança social radical à escala local e global.

Carlos Ribeiro/Caixa de Mitos – 7 de Abril2018


  

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.

Copyright © CAIXA MÉDIA | All rights reserved. | Newsphere by AF themes.