CBD

Centro e periferia são conceitos geográficos essenciais à compreensão do mundo. Ajudam na consideração do aumento de influência da China e da periferização da Europa, por exemplo. Na dimensão urbana, o conceito de centro está associado, regra geral, a comércios inovadores e especializados, vários tipos de serviços, monumentos e gente na rua. É o centro, “baixa” ou “downtown”, o que não deve ser confundido com o Central Business District (C.B.D.) ou “área central de negócios”, lugar de concentração de “arranha-céus” ocupados por grandes empresas, designadamente do sector financeiro. 

Todavia, há dias, em palestra a estudantes de Geografia no ensino secundário, surpreendi-me (mais uma vez!) ao verificar que estes continuam a aprender a chamar CBD ao centro da generalidade das cidades, incluindo as portuguesas. Mas, onde estão as grandes torres do setor financeiro no Porto, Braga, Vila Real ou Viana do Castelo? Lamentavelmente, são os livros escolares que reproduzem a falha, apesar de o CBD não constar das “aprendizagens essenciais” recentemente aprovadas! 

Nada disto retira pertinência ao conceito de centro e ao de periferia, nas suas várias dimensões, escalas e combinações, apesar de valorizarem uns mais que outros aspetos ligados à economia, à política, à antiguidade, à acessibilidade ou à cultura. São estes conceitos – e o de (in)justiça espacial (que não consta dos manuais) – que nos ajudam a ver melhor muito do que se passa à nossa volta, por exemplo a forma como os gondomarenses e valonguenses (da periferia), que têm de recorrer ao transporte coletivo, são desvalorizados quando há obras no (centro do) Porto. Ou porque é que se consideram prioritárias mais duas estações de metro da Baixa à Boavista.

José Alberto Rio Fernandes, geógrafo, professor universitário e Presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos

Recursos, para criar um mundo melhor

Economia local: ter os melhores recursos do mundo ou criar um mundo melhor com esses recursos?

As estratégias de promoção da economia local podem gerar efeitos positivos em três domínios: (1) justiça social, através da distribuição dos benefícios da actividade económica; (2) sustentabilidade ambiental, pela redução dos impactos, nomeadamente de consumo de recursos naturais; e (3) reforço da democracia, por via da ampliação da participação cívica na definição e acompanhamento das políticas. 

A economia e bem estar colectivo

Na sua raiz grega, a economia toma-se pelo  “governo da casa”, em alternativa às acepções mais redutoras, de cariz exclusivamente mercantil. Neste sentido alargado da economia pontuam outros valores, diversos da suposta racionalidade individualista do homo economicus, patentes, por exemplo, na economia doméstica, que se centra na maximização do bem estar colectivo. 

A dimensão local, que o pensamento económico dominante tende a remeter para um universo residual, corresponde à concretude onde a vida se materializa. Embora a globalização esteja na origem de muitos fenómenos que ocorrem à escala local, a sua expressão em cada território é diversa. 

O potencial do local

O local é simultaneamente espaço de proximidade física e relacional, indissociável da comunidade que o habita e das suas especificidades, sejam elas ambientais, culturais, ou outras. Tal foco permite fugir a armadilhas homogeneizadoras que tendem a aplanar a diversidade do país, como sucede com  a visão dual que opõe interior e litoral e que se revela pouco operativa.

A economia local oferece todo um campo de possibilidades de produção, consumo, distribuição e financiamento mais enraizadas, capazes de contrariar a concentração e a constituição de monopólios. 

Veja-se o impacto económico da promoção do comércio local, cujos benefícios são repartidos por uma vasta teia de pessoas e famílias ou, ao invés, o modo como as grandes superfícies se tornaram em sugadouros dos rendimentos localmente conseguidos. 

Partir dos recursos mais próximos

Enraizar e localizar a actividade económica é orientá-la no sentido de responder a necessidades, partindo prioritariamente dos recursos mais próximos e é também uma oportunidade para criar emprego, aumentar a autonomia e diminuir o impacte ambiental. 

Exemplo disso é o peso dos transportes associado ao consumo de alimentos: quando compramos alhos da China, bananas da Costa Rica ou maçãs do Chile devemos considerar o rol de quilómetros e o consequente consumo de energia implicado na circulação desses produtos. 

Em sentido contrário, estão as opções de abastecimento de espaços públicos colectivos, como cantinas escolares e refeitórios, recorrendo prioritariamente a produções locais, como já acontece em alguns concelhos do país, apesar dos entraves burocráticos.

Promover a economia solidária

Também as estratégias de promoção da economia solidária respondem a necessidades locais e não ao potencial de obtenção de lucro, contribuindo, para  o bem estar colectivo e para a consolidação da democracia directa, já que associam ainda uma dimensão de autogestão forte. Exemplares são ainda as experiências com moedas sociais, cuja circulação tem demonstrado potencialidades na dinamização da economia local, na valorização de outros saberes e na criação de laços comunitários. 

O reforço da economia local  permite ainda, em sentido político, questionar o imaginário hegemónico, favorável às empresas transnacionais, sempre na mira da extracção de recursos baratos (terrenos, mão-de-obra, etc.) e sempre prontas a abandonar o território em favor de uma localização mais apetecível. 

Apostar na economia local

As escolhas sobre os futuros possíveis não são neutras e só um reforço da democracia, nomeadamente ampliando os processos de consulta deliberativos, poderá explicitar as opções que são tomadas e os valores e princípios que lhes subjazem. Apostar na economia local, sem localismos, é um processo mais centrado nas possibilidades que nos limites ou nas dificuldades, isto é, naquilo que potencia a construção de dinâmicas transformadoras que criam processos de negociação tendo em vista o bem comum.

Graça Rojão, Directora da CooLabora

Nota: este artigo foi também publicado no Forum Covilhã, Janeiro 2019

Os abandonados | Les Oubliés…

Estudo em redutos populistas de direita na Alemanha e na França
 

Este estudo demonstra que muitas pessoas que vivem em regiões estruturalmente fracas, com uma alta proporção de eleitores populistas de direita, sentem-se abandonadas pela política. As 500 entrevistas de porta em porta que foram conduzidas para o estudo destacam os desafios que os entrevistados enfrentam em sua vida cotidiana e demonstram que as condições sócio-políticas atuais – e não fatores como a xenofobia – estão frequentemente na raiz de sua raiva e preocupações sobre o futuro. Este estudo usa as visões autênticas dos entrevistados para decodificar as maneiras pelas quais eles pensam. O objetivo é permitir que os pontos de vista dessa parte da população sejam empregados no desenvolvimento de recomendações de ação que ajudem a reconquistar sua confiança. O estudo foi o primeiro de seu tipo a ser realizado sobre as eleições que ocorreram em 2017 na Alemanha e na França.

The most important results from Germany and France

There is a considerable discrepancy between the issues that people view as the ‘biggest problems’ facing their country (which are immigration and the economy) and the challenges that they face in their everyday lives (precarious working conditions, worries about money and declining social infrastructure). Media and politics at the national level are criticised for not having properly adopted this ‘citizens’ agenda’. This problem also results in a sense of unfairness and disadvantage. As such, when people in these regions devalue others, especially migrants, they do so as a reaction to their own experiences of devaluation (this follows the ‘logic of comparative devaluation’). Importantly, the interviews demonstrated no intrinsic patterns of xenophobia.

The central narratives employed by the populists are far less prevalent in their strongholds than is generally assumed. When people are asked to describe political contexts in their own words, issues such as Islamisation, Euroscepticism, sweeping criticism of the media and the emphasis on national identity hardly ever crop up. Instead, more often than not the European Union, for example, tends to be viewed as part of the solution, not the problem.

Nationalist clamouring or demands that include a ‘Germany first!’ approach, are ultimately based on the view that politics sets the wrong priorities and focuses on issues that do not reflect the realities of people’s everyday lives. However, the interviewees did not necessarily view measures aimed at tackling the refugee crisis, or foreign policy commitments, as fundamentally wrong. Nevertheless, the interviewees often believed that a focus on immigration and foreign policy tended to result in less investment and fewer policy measures at the local level that would help tackle the tangible challenges that these people face in their everyday lives. This includes increased economic pressure faced by people on low incomes and the gaps in public services. Finally, many interviewees believe that politics has withdrawn from certain social and geographical areas. Importantly, this feeling has led to a strong sense of abandonment.

Conclusions

Areas now exist which are marked by ‘political abandonment’. To regain the trust of the people who live in these areas, it will be necessary to establish a local presence, provide recognition and resolve the problems that they face. This study outlines five relevant fields of action as a means of contributing towards this aim:

  • solidarity with the resident population is essential if solidarity is to be expressed with newcomers;
  • infrastructure as a means of promoting equal opportunities;
  • strengthening structures through the presence of political parties at the local level;
  • make structural change compatible with society;
  • and confidence and assertiveness in the face of right-wing populist narratives.


A film team (snice movie production) has accompanied the study process and created the short film “Les Oubliés – The politically abandoned”. The movie was supported by Alfred Herrhausen Society. English and French subtitles available via the small wheel at the bottom right.


About the study “Return to the politically abandoned”

Das Progressive Zentrum and its French partner Liegey Muller Pons conducted 500 door-to-door interviews in structurally weaker regions of Germany and France that are also characterised by a high proportion of right-wing populist voters.

In line with ‚cultural intelligence‘, the study is aimed at strengthening mutual understanding between Germany and France through social narratives as part of a pilot project. The interviews were conducted with people who are often spoken about but whose voice is rarely heard in public debates. They took place in three regions in eastern and western Germany and in northern and southern France. The respondents were asked general questions about their situation, their living and social environment and their country. This included questions such as ‘What is going well/badly in the area in which you live?’ and ‘What would you change if you went into politics?’.

This open approach enabled a discourse analysis to be undertaken of the information gathered during the interviews with the aim of identifying the ways in which people genuinely think about their own lives and their country. The results contribute to the debate about the response to the shift to the right and offer a qualitative supplement to the representative studies that have been published elsewhere in this field.

About the author

Johannes Hillje, Policy Fellow Das Progressive Zentrum_sw

Johannes Hillje is a political and communications consultant working in Berlin and Brussels. He works for institutions, political parties, companies and NGOs. In 2014, he managed the EU election campaign of the European Green Party. Previously he also worked for the UN in New York and as a journalist for ZDF. Johannes authored the book “Propaganda 4.0” (Dietz Verlag), which was published in 2017. He holds a Master’s degree in Politics and Communications from the London School of Economics.

The study project was led by Philipp Sälhoff, former Head of Programme at Das Progressive Zentrum.

Marketing dos Territórios e as lições de Lewis Carrol
Fonte – Media Storehouse, baseada no desenho de Sir John Tenniel – 1872

As cidades e os territórios do interior estão hoje confrontados com enormes riscos e desafios, não apenas de superioridade competitiva, mas inclusivamente de sobrevivência. As mudanças ocorrem a ritmos cada vez mais acelerados, sendo umas facilmente perceptíveis, mas outras escapando à simples observação e compreensão dos autarcas e de outros actores comunitários, sobretudo quando não existe capacidade ou vontade de as monitorizar e estudar atentamente. A desertificação humana das freguesias rurais, que num primeiro momento alimentou as cidades do interior, já não consegue evitar a crescente desertificação destas (ver o meu post “O Diabo da Demografia”). Com a perda de população, perdem-se serviços básicos de saúde, educação, correios, segurança, bancários e outros, e o abandono destes leva, por sua vez, à intensificação do despovoamento, alimentando um círculo vicioso que compromete a viabilidade de muitos territórios interiores, tal como os conhecemos. A passividade e o imobilismo são inaceitáveis, e a desorientação também não é boa conselheira.

O problema não se deve apenas ao baixíssimo índice de fecundidade(nº médio de filhos por mulher em idade fértil) que se alastrou na sociedade portuguesa, o qual desceu de 3,20 em 1960 para 1,37 em 2017 (tendo atingido 1,21 em 2013), não assegurando sequer a substituição de quem morre. Deve-se, também, à crescente competição entre as cidades e territórios, todos em busca de maior capacidade de atracção de visitantes, investidores e habitantes. E o modelo geral tem sido, não tanto o da inovação e diferenciação, mas o da imitação e concorrência directa, procurando “roubar clientes” a outros. Este modelo está esgotado, pois já não há gente para alimentar tanta oferta igual e repetitiva. É preciso inovar, diferenciar e comunicar com eficácia, mas também cooperar muito mais, nomeadamente a nível regional ou intermunicipal. O portal da CIMT – Comunidade Intermunicipal do Médio Tejodá conta das iniciativas desenvolvidas conjuntamente pelos treze municípios da sub-região, designadamente nas áreas da educação, saúde, transportes, justiça, turismo, cultura, ambiente, protecção civil e outras, mas fica a ideia de que, aquilo que é preciso fazer, é muito mais do que aquilo que está a ser feito.

Na estratégica área do Empreendedorismo, por exemplo, o portal da CIMT informa que foi concluído o projecto “Médio Tejo – Empreendedorismo em Rede (EM_REDE) 2011-2015” e está em desenvolvimento o projecto “Médio Tejo – Vive o Empreendedorismo”, o qual terminará no 1º semestre de 2019 (apesar do portal indicar 2017 como prazo de conclusão). O objectivo deste projecto que ascende a quase meio milhão de euros, é “estimular o ecossistema empreendedor”, “reforçar e articular os actores na promoção de um empreendedorismo qualificado e criativo”, e “disseminar uma cultura empreendedora que potencie a criação de condições para atrair potenciais empreendedores, gerar novas ideias de negócio e novas iniciativas”. Propõe-se realizar 4 concursos de ideias, ir às escolas, organizar workshopse encontros temáticos, visitar 2 regiões europeias, elaborar um guia de boas práticas e um mapa interactivo regional, abrangendo com isto 5.000 pessoas e criando 12 novas empresas dos ramos científico-tecnológico e cultural-criativo.

Fonte: autor José Rafael Nascimento

Está a CIMT a cumprir satisfatoriamente as suas responsabilidades no desenvolvimento do Médio Tejo?

Até ao momento, foi elaborado um relatório de caracterização dos elementos do ecossistema empreendedor do Médio Tejo, criado um grupo técnico de acompanhamento (GTA), promovidas actividades de empreendedorismo na escola envolvendo, nos últimos dois anos lectivos, 1500 estudantes, e realizadas quatro edições do concurso Moovideias, mobilizando 58 ideias de negócio. Será isto suficiente e o mais indicado para a vasta e carecida sub-região do Médio Tejo? Quando serão conhecidos os conteúdos e os impactos concretos destas acções na transformação económica e social dos municípios abrangidos? Além deste projecto “Médio Tejo – Vive o Empreendedorismo”, a CIMT está também a dinamizar o Sistema de Incentivos ao Empreendedorismo e ao Emprego (SI2E), tendo sido apresentadas nos últimos dois anos 225 candidaturas, das quais foram aprovadas até ao momento 54, no valor total de 2.644.483,76 euros, estando outras a ser apreciadas pela Autoridade de Gestão do PO Regional do Centro. Desconhece-se, no entanto, o objecto de investimento destes projectos, assim como o seu impacto na criação de riqueza e emprego na sub-região, o que obriga a questionar os modelos de transparência e de prestação de contas praticados na gestão destes sistemas de incentivos com fundos públicos.

Da mesma insuficiência parece padecer o programa Abrantes Invest, também designado por “campanha de desenvolvimento económico”, cujos objectivos, metas e resultados são completamente omissos no portal do município, não se sabendo ao certo que impacto teve, e se prevê que venha a ter, em matéria de investimento (origem e valor), empresas (número e dimensão), riqueza (negócios e valor acrescentado) e emprego (quantidade e qualificações). Contudo, as notícias soltas que vão chegando indiciam um balanço deveras minguado, com inquietações sobre investimentos anunciados (ex. Tectania) e receios sobre empreendimentos em dificuldades (ex. Frasam). O modelo de captação de investimento do Abrantes Invest, baseado em costumeiras reduções, isenções e subsídios financeiros, é manifestamente vulgar e obsoleto, sendo apresentado com uma mensagem ligeira da edil e um apelo tíbio no portal do município, o qual reza assim: “A Unidade de Desenvolvimento Económico do Município de Abrantes está permanentemente disponível para ouvir as necessidades dos Investidores […]. Entre em contacto connosco”. Claro que ninguém entra, pois o que é necessário fazer é aquilo que p.e. a autarquia do Fundão já faz há alguns anos, que é desenhar uma estratégia proactiva, pegar na pasta e ir ter com os potenciais investidores.

Fonte: autor José Rafael Nascimento

Que avaliação deve ser feita da política e da estratégia económica e empresarial do município de Abrantes?

O Marketing dos Territórios é a disciplina que trata da comunicação e promoção dos espaços geográficos que conformam lugares, aldeias, cidades, freguesias, municípios ou regiões, a partir de processos de inovação, qualidade, flexibilidade e diferenciação que criem valor para os consumidores e os investidores. Este valor é criado através de políticas e estratégias territoriais bem delineadas, as quais devem ter em conta todas as dimensões pessoais (p.e. talentos) e impessoais (p.e. tradições) dos territórios, desde as tangíveis e permanentes (p.e. património natural e edificado) até às intangíveis e ocasionais (p.e. eventos). E os públicos consumidores e investidores, internos e externos, devem ser segmentados de acordo com critérios geográficos, demográficos, psicográficos e comportamentais, sendo a comunicação adaptada a cada um dos segmentos. Tanto quanto possível, esta comunicação e relacionamento devem ser realizados individualmente (1:1), seja por via directa e pessoal, seja por interpostos agentes e meios de comunicação.

Os municípios do Médio Tejo não escapam à realidade da desertificação humana e da competição entre as cidades e territórios. Todavia, podem encontrar no Marketing dos Territórios a metodologia de que precisam para enfrentar os problemas do progresso e desenvolvimento. Em apenas três anos, de 2014 para 2017 (últimos dados disponíveis), a sub-região do Médio Tejo perdeu 1,91% da sua população (4.545 pessoas), com Abrantes a perder 3,48% (1.277 pessoas), Tomar 3,22% (1.230 pessoas) e Torres Novas 1,49% (530 pessoas). No domínio do Turismo, já aqui dei conta do que se passa em alguns municípios, designadamente Tomar, Torres Novas e Abrantes, com este último a revelar uma evolução muito preocupante (ver “Abrantes e o Médio Tejo: Que Estratégia para o Turismo?”). Os rankings regional e nacional do “Portugal City Brand Ranking 2018”, da consultora Bloom Consulting, confirmam esta tendência, apresentando os três municípios escolhidos para comparação (com idêntica dimensão populacional) as seguintes posições, nos últimos cinco anos:

RANKING REGIONAL (CENTRO)

Tabela 1 – Posição no Ranking da Região Centro (100 municípios considerados)

Figura 1 – Evolução da Posição no Ranking da Região Centro

RANKING NACIONAL

Tabela 2 – Posição no Ranking Nacional (308 municípios considerados)

Figura 2 – Evolução da Posição no Ranking Nacional

O “Portugal City Brand Ranking” avalia e posiciona os municípios portugueses em função de três categorias de indicadores, designadamente Negócios (dados económicos), Visitar (dados turísticos) e Viver (dados sociais). Os rankings reflectem as posições relativas dos municípios considerados, sendo estas posições determinadas, não apenas pela evolução dos indicadores de cada município per se, mas também quando comparados com a evolução dos indicadores dos outros municípios. Assim, pode dar-se o caso de um município ter melhorado os seus indicadores mas, caso outro tenha melhorado ainda mais, este outro se aproxime ou até ultrapasse aquele na posição do ranking. Verifica-se que, nos dois últimos anos e ao contrário de Tomar e Torres Novas, Abrantes cai em ambos os rankings, o regional e o nacional, tendo em 2018 sido ultrapassado por Torres Novas. O que se deve concluir deste resultado é que, apesar de algumas realizações e progressos, nomeadamente em matéria de desporto, cultura ou infraestruturas, o que foi feito revelou-se insuficiente, tanto para compensar o que se deteriorou, como para acompanhar o que outros municípios fizeram no mesmo período. O que recorda a célebre passagem de Lewis Carrol (1871) em “Alice Através do Espelho”: “Tens de correr tudo o que puderes para ficares no mesmo sítio; se queres chegar a outro lugar, terás de correr pelo menos duas vezes mais rápido”.

A tendência revelada pelos dados da Bloom Consulting é corroborada pelos “Ratings Concelhios” da Marktest, o grupo português de estudos de mercado e processamento de informação “com maior projecção nacional e internacional na sua área de actuação”. Estes Ratings “permitem dar uma notação a cada concelho em função de um conjunto de 37 indicadores base, agrupados em três dimensões: Dinamismo Demográfico (8 indicadores), Dinamismo Económico (16 indicadores) e Qualidade de Vida (13 indicadores). Segundo noticiou o mediotejo.net, de 2017 para 2018 Abrantes caiu 103 posições no Ranking da Qualidade de Vida, tendo passado da posição 50 para a 153 (no ano anterior havia subido 7 posições). Com este trambolhão, Abrantes passou a ser o quinto pior concelho em termos de Qualidade de Vida (no ano anterior fora o oitavo pior e, em 2016, o nono), só à frente de Tomar, V. N. Barquinha, Sertã e Entroncamento.

A aceitação da realidade, por mais que custe, é a primeira condição para encetar um processo de mudança. As cidades e territórios precisam, não só de se conservar, como de se desenvolver e reinventar. O Marketing dos Territórios oferece a metodologia apropriada para a definição de boas políticas e estratégias autárquicas, sabendo-se que os modelos do passado já não respondem aos desafios e necessidades do presente. O programa “Abrantes Invest” é disso um exemplo, como já se referiu, tão fracos são os resultados face à campanha realizada, pois alegar glórias passadas ou exagerar em vantagens presentes, oferecendo uma disponibilidade passiva e duvidosa aos potenciais investidores, atraídos que estes estão por outras ofertas mais interessantes e credíveis, não parece ser o melhor caminho para trazer investimento e prosperidade ao município.

Na sua singular obra “Marketing Places – Atracting Investment, Industry, and Tourism to Cities, States, and Nations”, Philip Kotler e colegas (1993) defendem que “os territórios precisam de aprender a pensar como os negócios, desenvolvendo produtos, mercados e clientes. […] Os territórios devem responder, em vez de resistir à mudança; adaptar-se, em vez de ignorar as forças do mercado. […] Uma abordagem de Marketing ao desenvolvimento dos territórios, é a resposta prioritária que estes precisam para competir eficazmente nesta nova economia. Os territórios devem oferecer produtos e serviços que os actuais e futuros consumidores precisam ou preferem. Os territórios devem vendê-los interna e externamente, a nível nacional e internacional. O Marketing dos Territórios é uma actividade contínua que deve ser ajustada para fazer face às novas condições económicas e oportunidades”. O intuito é o de realizar os sonhos, os desejos e as aspirações de toda uma comunidade, como metaforicamente se depreende do conhecido diálogo de Alice com o Gato Risonho (Cheshire), no livro de Lewis Carrol (1865) “Alice no País das Maravilhas”:

  • “Poderias dizer-me, por favor, que caminho devo tomar para me ir embora daqui?”
  • “Depende bastante de para onde queres ir”, respondeu o Gato.
  • “Não me importa muito para onde”, disse Alice.
  • “Então não importa que caminho tomes”, disse o Gato.
  • “Contanto que eu chegue a algum lugar”, acrescentou Alice à guisa de explicação.
  • “Oh, isso vais certamente conseguir”, afirmou o Gato, “desde que andes bastante”.
Fonte – Felicia Cano – www.deviantart.com

“Quando não sabes para onde queres ir, qualquer caminho serve”, disse o Gato Cheshire a Alice.

É preciso “andar bastante”, mas não para chegar a um lugar qualquer e, pior, não se sabendo onde se está nem por onde se vai. Tudo começa com uma Análise SWOT, isto é, com a identificação dos Pontos Fortes e Fracos, as Oportunidades e as Ameaças. A finalidade é chegar às linhas estratégias de acção e às medidas operacionais que lhes dêem corpo, desde logo no domínio económico-empresarial, com vista à atracção de turistas e agentes de negócios, à retenção e expansão dos negócios existentes, à criação de startups, ao crescimento das exportações e negócios no exterior, e ao aumento da população residente, trabalhadora, visitante, consumidora e investidora. Para que estes objectivos sejam alcançados, é necessário olhar para a demografia, o urbanismo, as infraestruturas, os serviços básicos comunitários e as atracções culturais e de entretenimento. Finalmente, importa definir o plano territorial de comunicação que construa uma boa imagem e atraia os públicos-alvo ao centro urbano e às periferias, designadamente através da utilização das relações públicas, publicidade, marketing directo, venda pessoal e promoções de vendas, seja pelos meios tradicionais, seja pela Internet e redes sociais.

A síntese do livro de Philip Kotler, feita pela TCI Management Consultants, é clara na definição do problema central com que se deparam hoje os territórios: as mudanças e os desafios enfrentados pelas cidades, vilas e aldeias, excedem a tradicional capacidade de reacção e adaptação das suas instituições públicas e privadas, requerendo uma metodologia que fortaleça essa capacidade de resposta e ofereça uma Visão e uma Missão para o território, prevenindo ou enfrentando as ameaças e aproveitando, de forma sustentada, as melhores oportunidades. Toda a comunidade deve ser convocada e estar envolvida neste desiderato, e ser reforçada, quando necessário, por capacidades e competências externas. O Marketing dos Territórios, pese embora as suas características técnicas e gestionárias, é antes de tudo um projecto político de natureza democrática e participativa, pois funda-se no conhecimento das necessidades e aspirações dos diversos públicos, para melhor os servir e satisfazer. Assim sendo, ele ganha com a abertura e vitalidade da vida política local, ou seja, com a dinâmica da participação cívica no processo de debate e tomada de decisão, sobre tudo o que à comunidade diz respeito.

O Marketing dos Territórios não é um instrumento desconhecido para o município de Abrantes, até porque a ESTA-IPT oferece uma pós-graduaçãoneste domínio. Em 2017, a mestranda Maria Inês Moleiro Lopes defendeu no Instituto Politécnico de Leiria (ESAD, Caldas da Rainha) a tese “Uma cidade com identidade – Desenvolvimento de uma marca gráfica para o município de Abrantes”, no âmbito do Mestrado em Design de Comunicação. Nesta tese, a autora defende que “o desenvolvimento progressivo de países, cidades e regiões, e a agressiva competitividade crescente por parte destes para captação de investimento e turismo, deu origem a um crescente recurso a estratégias de marketing por parte dos seus responsáveis”, para depois acrescentar que “estas transformações solicitam novos instrumentos de análise e novas abordagens (como o City Branding), articuladas com os diversos agentes económicos, sociais e culturais, para a construção de uma identidade geográfica consubstanciada em marcas e logótipos”. Anteriormente, em 2009, a autarquia havia encomendado à empresa de consultoria Quaternaire Portugalum Plano de Marketing Territorial, afirmando-se então que o mesmo visava “constituir um instrumento a um tempo estratégico e operativo que contribua para o reforço da atractividade e competitividade da oferta territorial da cidade de Abrantes junto dos seus diferentes segmentos de procura (actuais e potenciais)”.

Fonte – Quaternaire Portugal

Qual o conteúdo e que execução teve o Plano de Marketing de Abrantes? Qual a relação custo-benefício?

Este Plano foi posteriormente analisado por um estagiário que o município acolheu, no âmbito do Mestrado em Gestão do Território e Urbanismo da Universidade de Lisboa (IGOT), tendo dado origem em 2012 a um Relatório intitulado “O Plano de Marketing Territorial da Cidade de Abrantes”. Neste relatório de estágio, Pedro Mendonça Lopes critica o facto de o plano não ter sido implementado (quanto terá custado o plano, mas também a sua não concretização?) e de ter como limitação “uma estratégia direccionada para a cidade, havendo a necessidade de envolver o concelho com uma perspectiva integradora para os territórios de baixa densidade, […] e os antigos espaços industriais em desuso, os quais podem ser mais-valias para o desenvolvimento da região”. À semelhança do que já se defendeu acima, o autor conclui o seu Relatório com um apontamento ético – alertando para a natureza democrática do decisor público e o cuidado que este deve colocar nas escolhas que faz, “não estigmatizando, desconsiderando ou abandonando determinados actores” – e com uma referência à natureza democrática do Marketing Territorial, afirmando que “a complexidade e a dimensão de um Plano de Marketing Territorial implicam a existência de uma forte liderança e participação da sociedade civil”, procurando interligar o território e oferecer às pessoas “uma melhor qualidade de vida e confiança no futuro”.

As cidades e territórios que definham têm de inverter a trajectória de declínio e adoptar estratégias de recuperação e desenvolvimento. Para isso, precisam de mudar de políticas pois, como alguém terá afirmado, não se consegue resolver um problema com base no mesmo raciocínio que foi usado para criá-lo, nem se deve esperar diferentes resultados quando se repete os mesmos erros. O Marketing dos Territórios é uma ferramenta que está disponível e já provou ser eficaz para lidar com a realidade competitiva que desafia hoje as comunidades do litoral e do interior, tanto as urbanas como as rurais. A metodologia que usa é eminentemente participativa e integradora, sendo transversal a todos os sectores e buscando a coerência e a harmonia que falta às abordagens centralistas, egoístas e nepotistas. A visão é de médio e longo prazo, sem prejuízo da resolução dos problemas mais urgentes e imediatos. Neste sentido, importa alcançar amplos consensos pois, sendo a alternância política útil e saudável em democracia, não deve a mesma comprometer sistematicamente os projectos iniciados e as estratégias anteriormente definidas.

José Rafael Nascimento, formador e consultor, dinamizador de processos de participação e decisão democráticos. Abrantes-Medio Tejo.

Esta crónica foi publicada na mediotejo.net no dia 5 de janeiro de 2018 e é divulgado na PRAÇA com autorização do autor na coluna Opinião. CR/Praça das Redes

Elementos para apoiar o debate e a reflexão

Existem alguns temas que continuam a ser críticos quando se trata de definir políticas públicas e de desenhar projectos que possam de facto ter impacto positivo nas situações para as quais são desenvolvidos.

As publicações divulgadas que tratam temas relacionados com os sectores mais desfavorecidos da sociedade, dos jovens em situação NEET e da Europa social poderão servir para apoiar o debate e a reflexão colectiva sobre estas temáticas específicas e não só.

Um desses temas é o do jovens em situação NEET cuja caracterização da situação económica, social e psicossocial é particularmente difícil e complexa.

https://drive.google.com/file/d/1TXsDt8CyOfssB9
Ao6f7q-9OR4L2iN4Fn/view?usp=sharing


https://drive.google.com/file/d/1ia1vUj7Us
GlyDj9hC7mGPIv7MSRd4d4C/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/1DvtuSUOd
CqXwFp5F9feKCFNaC9UxD9K3/view?usp=sharing
https://drive.google.com/file/d/13hBtSjbS11Ufi-Fvyel6a
YWFjUuKvUer/view?usp=sharing

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Carlos Ribeiro/ 8 janeiro 2019

Novo Ano


Com Trump e Putin à frente das duas maiores potências militares, a China cada vez mais poderosa e a Europa em deriva anti-democrática, o novo ano não promete um mundo melhor. Até porque tarda a ação contra o crescimento da desigualdade, ou de contenção das alterações climáticas e minimização dos seus efeitos. 

Em Portugal, se nunca nada está bem para cada um de nós, nada está tão mal para todos como na maior parte dos lugares do mundo, nem pior do que estava há 4 ou 5 anos. Todavia, 2019 promete tensões, conflitos, greves e uma oposição mais ativa. Ano de eleições…

Para o Porto, deixo três desejos: 1. Que passe a haver preocupação com a habitação, deixando de ser prioridade os imóveis (quase sempre para venda ou aluguer turístico depois de recuperados) e a reabilitação passe a ser orientada para a habitação dos que mais precisam: como é possível viver-se em Pego Negro ou na Presa Velha (conhecem?) como se vive, estando na mesma cidade onde se abrem dezenas de hotéis de luxo com apoio de dinheiro público, ou seja, nosso? 2. Que todos ganhemos mais respeito pelos valores culturais e ambientais, deixando de ver como sinal de progresso os grandes imóveis, como os dois que emergiram junto à Ponte da Arrábida, ou o abandono de quiosque em S. Lázaro. 3. Que, por fim, se abandone a ideia de “quantos mais turistas melhor”, se promovam os lugares menos visitados (incluindo nos concelhos envolventes) e se passe a considerar que a cidade, com turistas, deve ser feita antes de mais pelos – e para – os seus habitantes permanentes.

Para si, meu leitor, os votos de Bom Ano. E que, apesar de tudo, o Novo Ano possa ser um pouco melhor que 2018 para todos, no país e no mundo, especialmente para os mais frágeis e os que mais sofrem.

Jose Alberto Rio Fernandes
Geógrafo. Professor universitário. Presidente da Associação Portuguesa de Geógrafos
Crónicas semanais no JN
VIDEO | Votos de ano novo de um presidente por um dia

MEDIAPART | Um presidente diferente para os votos de Ano Novo.

La République nous appartient, sans distinction d’origine, de condition, d’apparence, de croyance, de sexe ou de genre. Chaque année depuis 2010, Mediapart demande donc à un·e citoyen·ne de remplacer et de précéder le président en place dans l’exercice des vœux présidentiels.

« Fin du monde et fin du mois, même combat. » Cette année, c’est Vincent Verzat, 28 ans, vidéaste et activiste de la chaîne YouTube et page Facebook Partager c’est sympa, qui nous offre ses vœux de lucidité, de solidarité et de radicalité, alors que la pétition

VIDEO “Experiências Locais e Transformações Societais”

VER VIDEO COM INTERVENÇÃO DE JOÃO FERRÃO – YOUTUBE

ALTERNATIVAS | Evento e debate | João Ferrão 
Video da intervenção do Prof. João Ferrão do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (https://www.ics.ulisboa.pt/pessoa/joa…) no Encontro “Experiências Locais e Transformações Societais”. Esta intervenção foi dedicada a deixar “Questões para o futuro”.

VER MAIS ELEMENTOS SOBRE O ENCONTRO
https://www.projetoalternativas.org/memoria-encontro-exp-lo…

RESUMO Resumo dos desafios futuros apontados pelo Prof. João Ferrão

https://docs.wixstatic.com/…/dfb657_5d68ad3bb3f44d3ba90ca06…

O MITO


Um dos fenómenos mais curiosos da campanha e investidura do Bolsonaro foi o coro da multidão gritando MITO!MITO! MITO!
Será que eles sabiam o que estavam a gritar?
Em português de Portugal quando se utiliza a palavra MITO é para denunciar algo de falso, de hipócrita ,de personagem ou coisa que não são realmente verdadeiras.
O que – indo por este caminho – , transformava aquela gritaria numa manifestação do PT. dos comunistas e da pretalhada a gozar com o falso e mentiroso defensor do seu BOLSO na linha do seu papá Trump.
Para quem apreciar ir às origens Gregas da palavra e vários conceitos, eu escolhi o Mito Narcísico.
Na mitologia grega, um dos mais famosos mitos é o de Narciso, um jovem tão bonito que despertou o amor de Eco, uma bela ninfa. Narciso rejeitou esse amor, fazendo que a ninfa ficasse destruída com a rejeição. Como castigo, a deusa Nêmesis fez com que ele se apaixonasse pelo próprio reflexo no rio, de tal forma que Narciso morreu afogado.
Estejamos atentos ao percurso do Presidente capanga e militarão.
Pode ser que no fim não seja ele quem acabe por rir melhor.
Com a benção de Deus, claro!

Helder Costa, dramaturgo