19 de Abril, 2024

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Recursos, para criar um mundo melhor

Economia local: ter os melhores recursos do mundo ou criar um mundo melhor com esses recursos?

As estratégias de promoção da economia local podem gerar efeitos positivos em três domínios: (1) justiça social, através da distribuição dos benefícios da actividade económica; (2) sustentabilidade ambiental, pela redução dos impactos, nomeadamente de consumo de recursos naturais; e (3) reforço da democracia, por via da ampliação da participação cívica na definição e acompanhamento das políticas. 

A economia e bem estar colectivo

Na sua raiz grega, a economia toma-se pelo  “governo da casa”, em alternativa às acepções mais redutoras, de cariz exclusivamente mercantil. Neste sentido alargado da economia pontuam outros valores, diversos da suposta racionalidade individualista do homo economicus, patentes, por exemplo, na economia doméstica, que se centra na maximização do bem estar colectivo. 

A dimensão local, que o pensamento económico dominante tende a remeter para um universo residual, corresponde à concretude onde a vida se materializa. Embora a globalização esteja na origem de muitos fenómenos que ocorrem à escala local, a sua expressão em cada território é diversa. 

O potencial do local

O local é simultaneamente espaço de proximidade física e relacional, indissociável da comunidade que o habita e das suas especificidades, sejam elas ambientais, culturais, ou outras. Tal foco permite fugir a armadilhas homogeneizadoras que tendem a aplanar a diversidade do país, como sucede com  a visão dual que opõe interior e litoral e que se revela pouco operativa.

A economia local oferece todo um campo de possibilidades de produção, consumo, distribuição e financiamento mais enraizadas, capazes de contrariar a concentração e a constituição de monopólios. 

Veja-se o impacto económico da promoção do comércio local, cujos benefícios são repartidos por uma vasta teia de pessoas e famílias ou, ao invés, o modo como as grandes superfícies se tornaram em sugadouros dos rendimentos localmente conseguidos. 

Partir dos recursos mais próximos

Enraizar e localizar a actividade económica é orientá-la no sentido de responder a necessidades, partindo prioritariamente dos recursos mais próximos e é também uma oportunidade para criar emprego, aumentar a autonomia e diminuir o impacte ambiental. 

Exemplo disso é o peso dos transportes associado ao consumo de alimentos: quando compramos alhos da China, bananas da Costa Rica ou maçãs do Chile devemos considerar o rol de quilómetros e o consequente consumo de energia implicado na circulação desses produtos. 

Em sentido contrário, estão as opções de abastecimento de espaços públicos colectivos, como cantinas escolares e refeitórios, recorrendo prioritariamente a produções locais, como já acontece em alguns concelhos do país, apesar dos entraves burocráticos.

Promover a economia solidária

Também as estratégias de promoção da economia solidária respondem a necessidades locais e não ao potencial de obtenção de lucro, contribuindo, para  o bem estar colectivo e para a consolidação da democracia directa, já que associam ainda uma dimensão de autogestão forte. Exemplares são ainda as experiências com moedas sociais, cuja circulação tem demonstrado potencialidades na dinamização da economia local, na valorização de outros saberes e na criação de laços comunitários. 

O reforço da economia local  permite ainda, em sentido político, questionar o imaginário hegemónico, favorável às empresas transnacionais, sempre na mira da extracção de recursos baratos (terrenos, mão-de-obra, etc.) e sempre prontas a abandonar o território em favor de uma localização mais apetecível. 

Apostar na economia local

As escolhas sobre os futuros possíveis não são neutras e só um reforço da democracia, nomeadamente ampliando os processos de consulta deliberativos, poderá explicitar as opções que são tomadas e os valores e princípios que lhes subjazem. Apostar na economia local, sem localismos, é um processo mais centrado nas possibilidades que nos limites ou nas dificuldades, isto é, naquilo que potencia a construção de dinâmicas transformadoras que criam processos de negociação tendo em vista o bem comum.

Graça Rojão, Directora da CooLabora

Nota: este artigo foi também publicado no Forum Covilhã, Janeiro 2019

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