BRAVO CNE! A seguir que sejam os adultos!

EDUCAÇÃO | Conselho Nacional da Educação

Joaquim Azevedo e Luís Capucha foram os Conselheiros / Relatores que apresentaram no Conselho Nacional da Educação o projeto de Recomendação “Perspetivar o futuro do Ensino Profissional” cuja versão final foi aprovada na sessão plenária de 15 de dezembro passado. 

Trata-se de uma visão audaz e de futuro para o Ensino Profissional em Portugal. Não tivesse Joaquim Azevedo sido o fundador do novo ciclo do ensino profissional pós-25 de Abril, com a criação do GETAP e com uma liderança clarividente na Secretaria de Estado que impulsionou os seus primeiros anos e não fosse Luís Capucha um dos sociólogos mais consistentes na análise e projeção dos sistemas educativos, numa perspetiva inclusiva, e ter sido Presidente da Agência Nacional para a Qualificação. 

A Recomendação assenta em várias referências de natureza histórica, educativa e política e procura colocar o tema num patamar de mudança que vai bem para além da “procura de melhorias”.  Assume-se na proposta uma visão de mudança profunda e radical e para além da abordagem crítica ao atual sistema de financiamento pelos fundos europeus clarifica-se que o ensino profissional não deve ter por objetivo central a preparação doas alunos para postas de trabalho específicos. 

Os focos 

“Neste novo contexto, passadas já duas décadas do século XXI, este tipo de educação profissional deve ser reequacionado à luz de uma qualificação da sua missão, que pode ser declinada em torno destes focos:  

Pedagogia, assegurando uma qualificação de qualidade e com elevado sucesso, gerindo o currículo de um modo mais profissional, autónomo e flexível;  

Cidadania, promovendo a participação ativa dos alunos, na escola e na comunidade, a sua capacidade de emancipação e empreendimento e o seu bem-estar;  

Territorialização, garantindo respostas educativas atualizadas e articuladas entre os parceiros socioeconómicos e educativos de cada comunidade local;  

Empregabilidade, fornecendo uma qualificação técnica que seja não só adequada às necessidades e potencialidades das organizações sociais e das empresas, como com estas coconstruída;  

Sustentabilidade, investindo numa educação crítica e construtiva face à sociedade atual, em particular face à crise climática e ambiental;  

Inovação social, permitindo que os jovens saiam da escola preparados para os desafios da transformação digital e que as escolas promovam a digitalização como ferramenta de promoção da igualdade de oportunidades e da justiça social”. 

As competências a desenvolver 

“O leque de competências a desenvolver terá de responder, nos nossos dias, aos novos desafios, ou seja, fomentar, além da magna competência de saber pensar e ser competente, a capacidade de construção de uma identidade pessoal e de um projeto de vida, a capacidade de distanciamento crítico, mormente face aos media e aos “ecrãs”, a capacidade de resolução de problemas complexos e a capacidade criativa, a capacidade de comunicação e de cooperação com outros e a capacidade de discernimento e de tomada de decisão.  

Para que esta intencionalidade educativa impregne o quotidiano escolar e todas as atividades de ensino e aprendizagem, será necessário proceder a uma ampla revisão curricular, em equipa pedagógica, enriquecendo as “aprendizagens essenciais”, as “ações estratégicas” e as modalidades e instrumentos de avaliação de cada curso”. 

Muitas das bases de desenvolvimento propostas aplicam-se a outros setores etários que não os mais jovens o que constituirá matéria de futuras abordagens. 

O que é notório nos públicos invisíveis é que ninguém os vê.

POLÍTICAS PÚBLICAS | Carlos Ribeiro

Ao ler o artigo do meu amigo e companheiro de percursos de investigação-ação nos temas do acompanhamento a pessoas, a grupos e a comunidades, André Chauvet (fundámos juntos, em 2015 a Associação Europeia Kelvoa sobre este tema), publicado na EPALE sobre as modalidades “fora-de-portas” de acompanhamento não deixei de notar que a preocupação da abordagem da associação de Bordéus que está a dinamizar experiências neste domínio – La Forge des Compétences – é a de estabelecer um contacto sólido com os chamados públicos invisíveis.

Abandono

Trata-se de uma iniciativa com forte carga simbólica no campo das políticas públicas. De fato, importa afirmá-lo, os dispositivos dos sistemas de apoio e acompanhamento a pessoas financiados pelo erário público há muito que desistiram dessa faixa incómoda e difícil da população nos territórios. Quando adiantamos DESISTIRAM isso significa ABANDONARAM.

Recordam-se do último grande esforço de atuação nessa batalha “contra moinhos de vento” que representou a “Caça aos Jovens NEET”, em meados da década passada, quando o Programa Garantia Jovem colocou o seu foco prioritário na identificação, em concreto, dos jovens em situação de desemprego e sem quaisquer participações em ações de educação ou formação? Foram mais de 800 entidades a funcionar em rede a nível nacional, surgiram grandes campanhas no Metro de Lisboa como desafio aos mais jovens para se inscreverem, foram estabelecidas metodologias de acompanhamento personalizado com gestores de situação para cada jovem inscrito e interessado em participar no Programa, foram promovidas ligações das iniciativas do Garantia Jovem aos programas dos territórios relacionados com jovens e emprego.

La Forge des Compétences |

O caso do Garantia Jovem

O Garantia Jovem era perfeito? O seu dinamismo tinha muito de marketing e menos de apoios locais efetivos? A relação com as iniciativas de formação estandardizadas, por exemplo, dos centros de formação profissional eram formatadas para potenciais participantes, que não para estes jovens, era ambígua? Sabemos que na ocasião o debate foi vivo e as diversas abordagens acabaram por não convergir. Mas uma coisa é certa: os invisíveis estavam no centro de estratégias para os tornar tão visíveis quanto possível.

Agora, nos tempos que correm, apagou-se a luz. Já ninguém está preocupado com os subterrâneos. O que conta para as políticas públicas são, em primeiro lugar, os dados e as taxas de qualificação que são publicadas pela OCDE. Aqueles que não visitam, não contactam e mão interagem com os dispositivos técnicos de acolhimento e de apoio instalados no país relacionados com as redes do emprego, da educação e da formação ficam por conta própria ou na esfera das organizações de caridade e assistencialismo ou ainda nas garras das igrejas tipo evangelistas ou das influências de uma extrema-direita cada vez mais ativa junto des “desprezados” ou “colocados nos guetos da globalização”.

Porta-a-porta, porque não?

Por tudo isto a iniciativa da associação das terras girondinas – La Forge des Compétences – que André Chauvet menciona na sua pesquisa sobre novas soluções para o acompanhamento local, que introduz o conceito do PORTA-A-PORTA, coloca vários desafios que necessitam de ser aprofundados mas que apontam de imediato para o seguinte:

  • os recursos a serem colocados à disposição, para lidar com os “públicos invisíveis”, devem ter em conta modalidades de elevada proximidade e consequentemente o atendimento de gabinete deve ser colocado como modalidade complementar;
  • a preparação de técnicos que possam “ir a jogo” nesta abordagem mais fina e mais exigente torna-se um imperativo. A preparação dos jovens mediadores de bairro e de comunidades do Programa Escolhas surge como um excelente ponto de partida;
  • o contacto “porta-a-porta” ou outros similares devem ser pontos-de-partida para interações positivas; importa ter soluções a adiantar para fazer evoluir a linha de atuação “fazer COM os JOVENS e não PARA eles” e consequentemente organizar oportunidades que tenham leitura imediata e viabilidade concreta e sem burocracias.

São milhares de técnicos, em equipas dos inúmeros Centros existentes, centros disto e daquilo, que podem vir para rua, agir “fora-de-portas”, apesar do frio e das dificuldades dos recursos profissionais escassos, mas com uma enorme compensação: contribuirem para reverter algumas políticas públicas que estão a enfraquecer o Estado Social e a facilitar dinâmicas anti-democráticas subterrâneas que, como sabemos, preenchem os espaços vazios com a arte que a História já lhes reconheceu.

Neste tema da invisibilidade de alguns setores da população na vida em sociedade e principalmente no terreno do emprego e da conquista da felicidade podemos sempre revisitar a obra de Louis-Julien Petit, no cinema, LES INVISIBLES, vale a pena, claro!

Carlos Ribeiro 23 de novembro 2021

O que fizemos juntos durante a fase crítica da pandemia?

COMUNIDADE DE PRÁTICA | COP EPALE – INFONET

Recordam-se deste artigo que publicámos na primeira fase de trabalho colaborativo que realizámos juntos na Comunidade de Prática que entretanto constituímos. Foi, neste caso concreto, uma reflexão produzida a partir das experiências enriquecedoras do Centro Qualifica Henriques Nogueira de Torres Vedras.

As experiências que fomos vivendo, durante as fase inicial e a posterior, foram em alguns casos sistematizadas, noutros não. E se refletíssemos e partilhássemos entre nós as aprendizagens realizadas em cooperação e em percurso de descoberta permanente?

Sistematizar a experiência, uma forma de avançar e aprender

O Centro Qualifica Henriques Nogueira de Torres Vedras agarrou  desde o início desta fase crítica as inúmeras tarefas de adaptação no funcionamento daquele dispositivo com entusiasmo e optimismo. Mas, tudo o indica, a atitude face às adversidades sendo fundamental ela representa apenas uma das facetas deste quadro de complexidade que exige mais, muito mais, da parte da Equipa e de cada um seu elemento.

O recente exercício realizado colectivamente de avaliação da actividade desenvolvida e de sitematização das experiências vividas constitui uma excelente demonstração de vitalidade e de mobilização da inteligência colectiva.

Se tivermos em conta o percurso que nos é proposto para o balanço que abaixo se transcreve com edição nossa, podemos destacar alguns tópicos fundamentais que podem servir de referência para olhares futuros sobre as práticas ocorridas:

1º A coesão da equipa: sem este ponto de partida, nada será possível;

2º Uma cultura participativa: as dinâmicas de participação são essenciais para o envolvimento de todos.

3º Uma estratégia de co-construção das soluções: ou seja, uma participação activa e comprometida de todos os interessados visando a resolução dos problemas;

4º Uma abordagem inclusiva: ninguém ficar para trás nomeadamente nas condições logísticas de participação nas actividades;

5º Uma opção de discriminação positiva face a potenciais riscos de desigualdade: a conciliação da vida familiar, pessoal e profissional no actual contexto de confinamento ou de desequilíbrio nos compromissos profissionais no seio da família;

6º A auscultação dos utilizadores finais: a recolha de opiniões e de propostas junto dos adultos que se encontram em novas condições de participação;

7º Uma liderança criativa e em permanente autorregulação: o assumir de riscos face ao desconhecido e a capacidade de partilhar com todos os membros da equipa os desafios e simultaneamente encontrar soluções em cima do acontecimento, reforçando sempre o espírito de equipa.


Os processos de RVCC escolar em curso

As mudanças provocadas pelo COVID-19 implicam pensar em novas formas de trabalho e a equipa do Centro Qualifica tem vindo a refletir sobre o assunto, não em presença, como era habitual, mas à distância.

Novas ferramentas

No nosso caso, utilizando a plataforma Teams, associado ao Office 365, onde temos os nossos emails institucionais alojados. É uma ferramenta de trabalho nova, que temos vindo a explorar e que nos tem permitido manter vivo o espírito de equipa, tão importante também no contexto atual. 

Plataforma Teams – Office 365 | Mails alojados | Espírito de equipa

Autobiografias e “meios parados”

No caso específico dos processos de RVCC escolares iniciados antes desta crise, consideramos que o importante é não abrandar na produção das autobiografias ou, no caso dos candidatos que têm estado “meio parados”, aproveitar este período para imprimir novo ritmo e retomar a construção dos portefólios. Isto caso o contexto profissional e/ou familiar de cada um o permita, obviamente.

Não abrandar| autobiografias | imprimir novo ritmo | atender às condições

Cuidar dos meios técnicos

Os canais de comunicação, os interlocutores e a estratégias de trabalho há muito que estão definidos, pelo que não estamos perante grandes mudanças a esse nível. 
Sabemos, todavia, que, ao nível dos meios técnicos (computador / internet), há alguns candidatos com problemas, o que estava a ser colmatado com mais trabalho presencial no Centro Qualifica, pelo que estão a ser pensadas novas estratégias de apoio para esses casos específicos. 

Estratégias de trabalho | Computador |Internet | Apoios


Sessão de validação

No que diz respeito aos candidatos que ainda têm ainda horas de formação complementar por realizar, as orientações relativas à sua continuidade e formas de trabalho a adotar estão a ser construídas pela equipa e serão remetidas aos visados pelos interlocutores (TORVC e /ou formadores) e canais habituais. 
No que se refere à etapa de validação de competências, que ocorre após conclusão dos portefólios, a equipa não vê dificuldades na sua realização pois dispõe dos meios técnicos necessários para tal. Ou seja, desde que haja portefólios concluídos, a sessão de validação nunca será um problema para a continuidade dos processos. 
Formação | Validação de competências | Portefólios

Desafio para todos

Após essa etapa, avançaremos para a preparação das provas de certificação e para a realização das mesmas, pelo que veremos com cada um dos candidatos e com os elementos que integrarão o júri de certificação quais os meios a que iremos recorrer. 
É uma etapa que tem de ser bem pensada, mas também não consideramos que possa constituir um obstáculo à conclusão dos processos de RVCC em causa. Será, sim, um desafio para todos nós, mas estamos cá para o enfrentar e, em conjunto, construirmos as soluções necessárias.

Preparação | Júri | Provas de certificação


Os processos de RVCC Profissional Técn. Ação Educativa 

Partilhamos o que temos estado a construir com vista à continuidade dos processos de RVCC Profissional Técnico de Ação Educativa, nos quais estão envolvidas 17 assistentes operacionais de diversos agrupamentos. Todas são detentoras do 12º ano e visam o reconhecimento, validação e certificação de competências profissionais na sua área de intervenção. 

RVCC Profissional | Assistentes operacionais |


Produzir vídeos

Considerando que se estava em plena formação complementar quando esta crise começou, a primeira preocupação da equipa foi encontrar soluções para manter o grupo coeso e dar continuidade à formação. 
Após rápida reflexão, e auscultadas as destinatárias, decidiu a equipa avançar para a produção de vídeos por unidade de competência, os quais passam a ser o elemento central da sessão de formação, sendo estes complementados pelos ficheiros de apresentação das unidades em causa, também eles produzido pelas formadoras deste grupo.

Continuidade | Auscultação | Vídeos | Ficheiros técnicos | Produção pelas formadoras

Um novo modelo de sessão de formação

A fim de se manter as lógicas de discussão e partilha que já estavam a ser construídas, foi decidido também criar-se um grupo no WhatsApp.  
Assim, neste momento, o conceito de sessão de formação complementar integra o visionamento de um vídeo (partilhado no grupo do WhatsApp), a leitura da documentação remetida via email e a participação na discussão dos mesmos, em momentos a predefinir, no grupo do WhatsApp, que passou a ser o ponto de encontro / “sala de formação”. 

 Discussão | Grupos WhatsApp | Visualização de vídeo | Leitura documentação | WhatsApp sala de formação

Exercícios viram “desafios”

Até à data, já foram construídos e partilhados os primeiros vídeos, enviados os ficheiros informativos correspondentes, estando a ser definido o primeiro momento de debate no grupo. 
Também foi reapreciado o cronograma, tendo o mesmo sofrido alterações ao nível da aplicação dos instrumentos de validação, prevendo-se a realização, a curto prazo, do primeiro exercício prático, denominado “Desafio1”, cujo produto, a remeter à equipa pelas candidatas, permitirá a validação da UC 1 e 2.

Debate de grupo | Cronograma | Exercício prático | Validação 


Otimismo

Estas novas estratégias de trabalho estão a ser bem acolhidas pelas formandas, pois permiti-lhes realizar os momentos de formação à hora mais conveniente, facilitando a conciliação com a vida familiar e profissional, nos casos em que ela se mantém ativa, havendo somente que consensualizar os horários para discussão/ debate no WhatSapp. 
A equipa está, assim, a encarar com otimismo os desafios com que está a ser confrontada e espera conseguir concretizar o que estava projetado: realizar provas de certificação profissional em julho. 

Vida familiar e profissional | Hora mais conveniente | Provas em Julho

As comunidades de inovador@s na promoção da igualdade de género

INVESTIGAÇÃO-AÇÃO | Inovação social

Encontro-me numa missão de estudo operacional inserido numa equipa da Coolabora, organização de referência nos processos de inovação social com sede na Covilhã, cuja finalidade é realizar um diagnóstico sobre igualdade de género numa entidade e num território bem delimitado.

A pesquisa inicial sobre os modelos utilizados e sobre as práticas que são desenvolvidas neste domínio revelou que existem produções de grande qualidade neste terreno, sempre complexo, que remete para dimensões subterrâneas e até ocultas dos comportamentos e das atitudes dos envolvidos nestes processos de mudança.

Das experiências visitadas, em bases documentais, surgiu a dúvida, ou até a reserva, sobre a forma como as mudanças são implementadas ou como ocorrem genericamente. O que emerge claramente das dinâmicas é que o envolvimento e ao comprometimento dos destinatários das ações preconizadas ou executadas são sempre insuficientes e claramente deficitários no plano da liderança dos processos. Não se trata apenas e só dos sistemas de governança . Na realidade existem várias questões que devem ser colocadas à partida que podem ajudar a desenhar o Caderno de Encargos do processo na sua globalidade.

QUESTIONAMENTO DE PARTIDA

As principais interrogações, que de alguma forma influenciaram a leitura e análise (e sentido de pesquisa) que estiveram presentes, foram as seguintes:

A – Como comprometer os/as participantes com a mudança?

Como envolver e comprometer nos processos de mudança os/as potenciais participantes nas iniciativas e ações de um diagnóstico que se insere numa dinâmica pré-estabelecida, em termos de políticas públicas e de método de realização, e cuja finalidade consiste em ser o ponto de partida para um Plano de Ação cujas Estratégias, Medidas e Ações estão à priori esboçadas atendendo ao quadro político-programático no qual se inserem.

B – Como enfrentar as barreiras ocultas do não-benefício?

Como ultrapassar as barreiras ocultas face a situações-tipo que geralmente emergem nas atividades associadas a metodologias participativas e que de forma não-declarada assumem o caráter de resistência ou oposição antes de mais pelo fato dos assuntos não terem aparentemente benefícios para os envolvidos.

C – Como evitar o condicionamento dos formatos-padrão e tratar do essencial em vez do formal?

Como ultrapassar a lógica dos grandes documentos, estruturados a partir de formatos que visam em primeiro lugar evidenciar uma atividade soit disant profunda ou científica (que justificará os financiamentos da operação) e que tornará o resultado digno de um padrão de avaliação formal que tem em conta principalmente o percurso e menos a qualidade do conteúdo e o potencial de mudança que possa incorporar.

D –  Como gerir as relações de poder em favor da participação e da flexibilidade?

Como ultrapassar numa organização fortemente hierarquizada, com modalidades de exercício de poder e de relações de autoridade vincadas pela natureza institucional que o Estado / Administração Local impõe e abordar de forma horizontal, aberta e desprovida de receios de futuros conflitos ou tensões profissionais temas críticos e propostas alternativas ao instituído.

E – Como poderão ser asseguradas as interações, exigíveis num projeto comum, entre todos os membros da organização?

Como romper com a guetização que cada departamento, serviço ou área organizada da estrutura  da entidade e facilitar a comunicação aberta e sem condições entre funcionários e profissionais da organização estabelecendo formas comuns e convergentes de cooperação?

A procura de respostas a estas questões também pode ser realizada colaborativamente e as estratégias serem desenhadas em co-construção, eliminando à partida a divisão clássica na investigação-ação entre investigadores e participantes nos processos. É nesta abordagem que surgem como incontornáveis as COMUNIDADES DE INOVADOR@S. Voltaremos para falar da BLIMUNDA.

Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos

O  certificado é a lei, porque se quer escolarizar a educação permanente 

OS CENTROS QUALIFICA DO FUTURO OU COMO O PODER DE AGIR DOS ADULTOS PODE ACABAR COM O ESPÍRITO MEDIEVAL NA EDUCAÇÃO PERMANENTE 

O  certificado é a lei, porque se quer escolarizar a educação permanente (Postal nº1) | Carlos Ribeiro 

Os mais jovens andam angustiados com o sentido da escola. Como escreveu José Matias Alves num texto incontornável cuja leitura aconselho:  

(https://www.facebook.com/photo?fbid=10227251904662888&set=a.1270184474194

“Tenho 15 anos. De casa para a escola. Da escola para casa. Diariamente percorro o caminho de ida e volta. E vagueio à volta de mim. Ando no 10.° ano. Humanidades. Numa turma de 33 alunos. Na escola, o professor de Filosofia diz que a educação é a alavanca do progresso social, da emancipação do homem, que é o investimento certo para o futuro. E a professora de História garante que, desde a sua criação, a escola foi um instrumento de mobilidade social; que os títulos académicos democratizaram a vida e vieram substituir a estratificação de sangue. Grande invenção, a escola, disse ela. E acrescentou que o passado nos ensina que a escola é uma passagem, o tempo de preparação para a vida ativa, para o futuro risonho e feliz. E que, por isso, era necessário o sacrifício, o esforço. Nada dessas modernices da compreensão crítica. 

(….) Tenho 15 anos. Tenho 10 anos de escola. Esmagado pelo vazio da incerteza. Pelo tédio de não perceber” 

INTERROGAÇÃO  DIAGNÓSTICA 

Podem os Centros Qualifica ser forçados a IMITAR A ESCOLA, com participantes adultos, quando os mais jovens, e com razão, apresentam tantas reservas e colocam tantas dúvidas sobre este modelo de Aprendizagens e de Viver em Comunidade de Aprendentes? 

Igualdade e não-discriminação

BLOCO-NOTAS | CAIXA DE MITOS | Investigação-projetos

IGUALDADE E NÃO-DISCRIMINAÇÃO

Como valorizar a diversidade e reforçar as estratégias de desenvolvimento dos territórios e das organizações co-construindo com os “inovadores internos e locais” soluções e medidas baseadas em critérios de equidade.

Uma pesquisa em curso na Caixa de Mitos, que procura alimentar-se de outras experiências e iniciativas nestes domínios, levou hoje a visitarmos um novo projeto apoiado pelos EEA Grants “Divers@s e Ativ@s”.

A leitura, para que serve?

APONTAMENTO DO DIA| Leitura

Li muitos livros, mas esqueci a maioria deles. Mas então, qual é o propósito da leitura?


Esta foi a pergunta que um aluno fez ao seu professor. Este último não respondeu naquele momento. Porém, alguns dias depois, enquanto ele e o jovem aluno estavam sentados perto de uma fonte de água, o professor pediu à criança que trouxesse água através de um velho coador sujo que não estava muito longe deles.


O aluno ficou perplexo com o pedido, mas começou a realizar aquela tarefa absurda.
Cada vez que ele mergulhava o coador na fonte, ele não conseguia nem dar um passo em direção ao professor porque aquele esvaziava-se.


Ele tentou e tentou dezenas de vezes, correndo cada vez mais rápido, mas a água derramava-se no caminho.
Exausto, sentou-se ao lado do professor e disse-lhe: “não lhe posso trazer água com esta peneira. Perdoe-me por não ter saciado a sua sede”.
Não, respondeu o professor, sorrindo “tu não falhastes. Olha o coador, agora está limpo, está como novo. A água, que se filtrou através dos seus orifícios, limpou-o”.


“Quando lês livros, és como o coador e os livros são como a água desta fonte. Não importa se não consegues guardar na memória toda a água que eles deixam fluir em ti, porque os livros, com suas as ideias, as suas emoções, os seus sentimentos, os seus conhecimentos, as suas fugas, vão limpar a tua mente. Este é o propósito da leitura.

  • N. P. Madisson

A Carta Aberta pelo Direito ao Lugar e as políticas de valorização do interior

praça das redes | Reunião 24 de junho 2021

Realizou-se hoje uma reunião, organizada e dinamizada pela Equipa do Projeto Ligações, com responsáveis da Secretaria de Estado da Valorização do Interior cujo tema central foi a Carta Aberta pelo Direito ao Lugar.

A Caixa de Mitos que participa no projeto e é naturalmente subscritora da Carta Aberta destaca a importância destas ferramentas de intervenção pública resultantes de processos de participação e com uma orientação para soluções. Confirma-se que o trabalho colaborativo das associações e das entidades presentes nos territórios deve estar em permanente interação com o desenho das políticas públicas para dar utilidade social aos projetos e explorar caminhos de uma cidadania ativa mais efetiva.

Brevemente a Equipa do Ligações divulgará os apontamentos desta iniciativa e é previsível que o debate sobre os passos seguintes venha a ocorrer na rede de organizações e pessoas subscritoras da Carta. Mas desde já, e tendo em conta a nossa presença e participação no encontro a distância, podemos afirmar: estamos no bom caminho. Um caminho difícil, mas que vale a pena percorrer.

Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos

Valorizar a missão mediadora nos territórios, na educação de adultos

COMENTÁRIO PÓS-WEBINAR da Comunidade de Prática de 15 de junho 2021. Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos | EPALE

Não atender à diversidade de situações que existem nos territórios relacionadas com a panóplia de percursos de qualificação e com as mais variadas necessidades dos adultos em matéria de educação-formação é restringir o investimento público em dispositivos de apoio de base territorial a uma missão única e unilateral: recuperar os baixos níveis de escolaridade da população portuguesa que são consequência dos tempos do regime salazarista inimigo declarado da educação para todos e dos períodos crónicos de elevado abandono e insucesso escolar.

Educação de adultos e dinâmicas dos territórios

Para um país com recursos limitados e com profundas necessidades de ajustar as suas competências coletivas aos desafios de uma economia local mais verde, mais criativa, mais sustentável, mais relacionada com as dinâmicas do desenvolvimento local dos territórios, com temas como a comercialização de produtos locais em circuitos curtos, a ecoconstrução, o turismo sustentável, a produção local com incorporação de mais-valias de design e de bases identitárias locais, é um LUXO andar a tratar de recuperação e remediação fechando os olhos à realidade existente. Veja-se a dinâmica da Dieta Mediterrãnica no sul; as rotas turísticas naturais, a nova restauração baseada nos produtos locais; os espaços comerciais partilhados- as pop stores-, o turismo literário, a recuperação de património esquecido, as dinâmicas cidadãs locais…

Podem as políticas públicas de educação de adultos de um país alhearem-se disto tudo?

Será que isto pode continuar?

Podem os profissionais desta área de atuação sentir uma verdadeira realização profissional e viverem num sistema que não interage com as dinãmicas inovadoras e criativas dos territórios?

Podem os adultos que poderão sentir um novo impulso pelo valor das aprendizagens manterem-se afastados destas oportunidades?

Será legítimo negar ou excluir dos benefícios do financiamento publico em educação a esmagadora maioria dos adultos dos territórios em nome de uma missão que importa cumprir mas não eleger como única e até canabilizadora das energias locais para iniciativas de aprendizagem?

O financiamento e as políticas públicas

O que impede que haja equilíbrio e espírito de inclusão neste terreno de difícil gestão e de dinamização que inclui à partida as escolas, os diversos estabelecimentos de ensino , as bibliotecas?

A existência de uma estrutura cuja missão poderá ser a de uma plataforma de incentivo, de prática e de animação de processos educativos de base local que se articule com trabalho, cultura, cidadania ativa, animação digital e que estabeleça pontes com todas as entidades da educação-formação e de cultura e recreio locais, impõe-se!

Até agora foi sempre declarado pelos decisores, não há dinheiro para tudo e para esta tarefa de elevar os níveis de qualificação dos portugueses e de trabalhar fundamentalmente para a Certificação tem financiamento comunitário. Há dinheiro de Bruxelas para isto e é isso que se faz!

O que fazer?

Com o PRR e as verbas adicionais que serão colocadas à disposição de Portugal para educação-formação admitia-se que o argumento do dinheiro e de quem paga sairia enfraquecido. Mas não. O reforço orçamental é para aumentar o número de certificados!

Resta saber se as associações que existem neste campo sistematicamente secundarizado nas políticas públicas de desenvolvimento do país se vão manter silenciosas e a gerir pequenos projetos locais ou se admitem que a Grande Coligação pela Educação em Portugal terá que fazer-se com a educação de adultos e com os adultos portugueses e juntar as entidades representativas das Coletividades de Cultura e Recreio, as Universidades e Academias Seniores, o INATEL, os Clubes de Leitura, as Cooperativas Culturais, das Bibliotecas e assumir que a construção de territórios aprendentes carece de INVESTIMENTO PÚBLICO pelo menos igual ao das empresas e dos negócios

Existe um Programa de Valorização do Interior! Pois que avance um Programa de Valorização das Competências Coletivas, com Unidade de Missão, com fase-piloto, com financiamento intensivo e apoio do Conselho Nacional da Educação!

Impõe-se pois um serviço público de educação! Já não se trata de educação de adultos mas de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO PAÍS!

Carlos Ribeiro, 21 de junho 2021

Skills ou PC?

EDUCAÇÃO DE ADULTOS | Sem PC não há nada para ninguém!

por Carlos Ribeiro – Caixa de Mitos

A encomenda que é feita aos sistemas de educação-formação nos nossos tempos é clara como água: preparar os adultos para o emprego e para as necessidades das empresas embrulhando as ações a realizar ou realizadas numa espécie de grande meta coletiva denominada empregabilidade.

Empregabilidade é, recorde-se, a disponibilidade para todo e qualquer adulto ou jovem ser mobilizado pelas empresas ou outras organizações empregadoras, quando e como elas quiserem. Soit disant a vontade de empregar não dependeria dos empregadores mas antes da economia.

Estamos perante um conceito pré-militar que as organizações para -militares bem conhecem, com continência a reforçar: SEMPRE PRONTO!

O sistema de educação-formação está alinhado com o objetivo da competitividade das empresas e dos negócios e prossegue o trabalho normativo e normalizador da formação inicial enquadrando os adultos em processos de aprendizagem escolarizados que omitem as diferenças profundas e radicais que existem entre o adulto que tendo cessado uma participação escolar aprende agora a partir de experiências e tendo em conta a sua experiência peculiar.

O modelo escolar transferido para a salas de formação e de educação de adultos é profundamente discriminatório porque coloca o adulto em situação de relação com o conhecimento num quadro desfavorável e inapropriado (anti-andragógico) e ainda por cima etiqueta as abordagens nesse campo com o conceito de competências e consequentemente manipula os adultos num terreno que exige ação, mobilização de recursos e demonstração concreta de um processo combinatório visando a resolução de problemas. Ou seja vende-se gato por lebre.

O que pode ser feito para colocar a educação de adultos e a ALV ao serviço do desenvolvimento sustentável e humano e não apenas ou principalmente do mercado e das empresas?

A primeira linha de atuação é assumir que mais vale um PC na mão que muitos skills a voar!

Sendo aqui PC as iniciais de PENSAMENTO CRÍTICO e de rotura com a educação-formação normativa e controladora no plano ideológico e social.

A segunda linha de atuação passa por estruturar a participação ativa dos adultos em iniciativas e causas locais, impulsionando processos de educação-ação e de educação comunitária que facilitem as aprendizagens de cada um dos participantes em função das suas opções e preferências e prioridades na própria vida.

Duas linhas de atuação que justificam aprofundamento, em próximos capítulos.

Carlos Ribeiro | Caixa de Mitos – 10 de junho 2021